sábado, 10 de agosto de 2019

As dúvidas que ficam

"No dia em que arrancou a Liga NOS, um relatório do Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) considerou que a bancada de um dos estádios onde era suposto jogar-se amanhã não garantia a segurança dos espectadores. Não sendo – imagino eu – possível garantir com total certeza a segurança das mais de 2 mil pessoas que se esperavam naquela zona do Estádio dos Arcos, é de aceitar a decisão de adiar a partida. Mas há perguntas que ficam por responder.
A primeira de todas é: há quanto tempo havia deterioração da bancada em causa? Na recta final do campeonato do ano passado, FC Porto e Benfica jogaram em casa do Rio Ave, tendo ambos os jogos sido vistos ao vivo por mais de 7.500 pessoas, muitas delas colocadas precisamente na bancada que agora levou ao cancelamento do encontro de amanhã com o V. Guimarães. Isto aconteceu há cerca de três meses. Como não houve nenhum sismo de grande magnitude naquela região, nem sinais de condições climatéricas extremas neste período, surge a segunda pergunta: os espectadores que passaram por lá nos últimos tempos estiveram num local que poderia ter ruído?
O relatório do ISEP chegou antes da realização do jogo. Se tivesse sido apenas na segunda-feira, teria havido mais de 2 mil adeptos numa bancada em risco (mínimo ou máximo, não sei) de cair. Assustador."

Antevisão da Liga: finalmente a bola começa a rolar


"É o segundo fim-de-semana de Agosto e Portugal fervilha de vida à medida que um Verão tímido e tristonho se vai demorando a envolver no espírito habitual. O mercado inglês acaba de fechar, arrumando todas as suas idiossincrasias na gaveta e mostrando a face inovadora de um povo lógico e metódico: a pontualidade britânica é respeitada e todos os convidados têm que chegar a horas à festa, não sendo permitidos atrasos – o porteiro barra entrada a quem não se arranjar a tempo. Espanhóis, franceses, italianos, alemães, holandeses e até nós preferimos que a porta se feche com o forrobodó já em andamento, não vá algum dos convidados de maior valor ficar retido no trânsito.
É com todo este vagar e sob ameaças da chuva miudinha da incerteza que a Liga Portuguesa 2019-2020 começa uma caminhada que se espera terminar na 38ª desenvoltura encarnada. O SL Benfica, esse, já tem a casa praticamente pronta, faltando apenas expulsar (ou emprestar, leia-se) alguns dos indesejados deste ano, como Kalaica, que necessita urgentemente de outro estímulo competitivo, ou a dupla Cervi/Zivkovic, assim que Lage decida quem fica dos dois. Rui Costa, apesar disso, mantém-se na expectativa e mostra abertura a eventuais volte-faces na organização do plantel – «o mercado vai estar aberto até ao final do mês e uma coisa é certa: teremos um plantel extremamente competitivo» –, não excluindo a hipótese de alterar algumas das peças do motor que fez engrenar a máquina, «apesar de estarmos muito satisfeitos com todos os jogadores que temos», exulta. Depois dos 5-0 ao rival vizinho, a equipa está confiante e é a mais preparada para a maratona de 34 jornadas, marcando encontro no primeiro convívio com o campeão da Segunda Liga 2018-2019.
O Paços junta-se à primeira etapa na Luz depois de umas férias tranquilas, mantendo a estrutura do ano transacto praticamente inalterada, apesar das saídas de Júnior Pius ou Christian, importantes peças do xadrez de Vítor Oliveira. A luta centrar-se-á na necessidade pacense de assegurar o quanto antes a manutenção, sendo obrigatório estabilizar o clube novamente no primeiro escalão. O timoneiro da subida fez as malas para Barcelos e para o seu lugar chegou Filipe Ramos, Filó para a malta da bola, homem que subiu a pulso na carreira e colecciona bons trabalhos. Chega à capital do móvel depois de ser o mentor do grande projecto de sub-23 do Desportivo das Aves, terminando a época na Covilhã e no 6º posto da tabela.
Em caso de vitória, o Benfica começará pela 6ª vez seguida com uma vitória na ronda inaugural, um ciclo que começou em 2014 numa vitória contra o mesmo Paços, por 2-0. No entanto, o destaque tem de ir para um denominado… “arranque aos soluços” neste milénio: desde 2000, são oito empates e quatro derrotas na introdução da Liga. Um facto definitivamente dono de toda a atenção da estatística nacional, que merece sempre ser realçado, lembrado, esmiuçado. O Benfica não poderá nunca esquecer a fase negra entre 2005 e 2014, sob pena de comprometer o futuro de todas as primeiras jornadas. Se não fosse a primeira jornada de 2014-2015, provavelmente já não existiriam primeiras jornadas para serem jogadas na Luz.
É, portanto, um jogo cheio de bons prenúncios aquele se desenha para o próximo sábado, com ingredientes suficientes para justificar o preço do bilhete, apesar da hora marcada: 21h30 é realmente hora de baile e não de futebol, sendo uma afronta da Liga de clubes em relação aos seus adeptos. Apesar de ainda não ter aparecido em força, o calor é a justificação mais fácil…"


Maior a depressão que a alegria

"Não há uma 'overdose' de conquistas no Benfica mas há uma razoável dose de esperança de que ainda possa haver

O Benfica venceu sábado a International Champions Cup e domingo aqueceu o início de época com uma Supertaça. Certo que a primeira conquista deu prestígio internacional e a segunda animou os adeptos para uma época longa. Não há uma overdose de conquistas mas há uma razoável dose de esperança que ainda possa haver.
O Sporting é um clube histórico, um rival antigo (mais sociológico do que desportivo), um emblema que prestigia qualquer vitória, ainda por cima pelos números obtidos. Não custa admitir que na primeira hora de jogo parecia haver algum equilíbrio. Mas reza a história que um Sporting com Bruno Fernandes, na máxima força, perdeu 5-0 com um Benfica limitado, sem lateral-direito, com adaptações evidentes. Este Benfica tem margem evidente de melhoria. A semana em que só se falou de Bruno Fernandes terminou no Estádio Algarve com Pizzi como MVP. Não sei quantos milhões vale Bruno Fernandes, mas imagino quantos milhões gostam do Pizzi. Numa final de grande fair play e desportivismo, os insultos (escusados) ficaram a cargo de parte dos adeptos leoninos para os seus próprios jogadores. O caminho do insulto nunca resolveu nada mas há quem não conheça outra via para aliviar as suas próprias frustrações. Foi bom ganhar, mas há que relativizar a conquista e os seus números. O Benfica foi claramente superior na segunda parte, os números foram esclarecedores e o adversário suspirou de alívio ao ouvir o apito final. Nesta fase parece maior a depressão verde e branca que a alegria encarnada. O hábito de vencer faz com que não se festeje em demasia, quando ainda não se venceu o suficiente.
A alegria da vitória ficou diminuída com a lesão de Gabriel, um dos jogadores mais influentes no jogo do Benfica. O azarado médio faz muita falta no ciclo de jogos que se aproxima, cada vez mais me parece que um plantel para disputar cinco provas tem de ter qualidade e extensão, sob pena de ficar limitado com azares e infortúnios. Já na última época a lesão de Gabriel foi muito sentida na qualidade de jogo do Benfica.
Os aperitivos foram excelentes, começa amanhã frente ao P. Ferreira o prato principal. Em casa, na Luz, repleta de apoio dos adeptos que vão encher a catedral estão reunidas as condições para afastar tradição de começar mal os campeonatos. Desejamos que depois de estar bem nos ensaios, estejamos melhores na estreia. Agora só falta tudo: 34 prestações dum objectivo colectivo, amanhã temos a primeira para cumprir."

Sílvio Cervan, in A Bola

Educação esmerada

"Já várias vezes contei esta história, mas o momento parece-me propício para contá-la novamente.
Certa manhã, andava eu ainda na 3.ª classe, o meu pai deixou-me na escola e avisou-me de que me iria buscar à hora de almoço. Estranhei, pois costumava almoçar na escola ou em casa dos meus avós. Passadas umas horas lá apareceu o meu pai, informando-me de que não iria às aulas durante a tarde. Almoçamos e fomos para o Estádio da Luz: quartos-de-final da Taça de Portugal, Benfica 5 - 0 Sporting (estádio, aquele estádio gigantesco, quase cheio num jogo às 15 horas de um dia de trabalho). Lembrei-me desde episódio nos segundos imediatos ao quarto golo da nossa equipa na Supertaça. Tinha sido precisamente em 1986 que o Benfica bateu o Sporting por 5-0 pela última vez. Graças ao meu pai, contrariando dezenas de advertências sobre a importância primordial da escola, vi o Rui Águas, o Wando (a bisar), o Álvaro (!) e o Manniche a marcarem ao Sporting, o clube que me fora ensinado - e constatei na escola - ser o maior rival do meu Benfica. Senti, ao longo dos muitos anos passados desde essa goleada, que o Benfica desperdiçou várias oportunidades de repetir a proeza (a última aconteceu na época passada, no jogo do campeonato em Alvalade). Honra seja feita ao 3-6, também no reduto leonino, em 1994. A diferença de 'escassos' três golos, por se tratar do 'jogo do título', não deslustra o feito...
Recuando a 1986, tinha eu 8 anos, aprendi, em poucas horas, três lições importantes: há prioridades na vida; há prioridades mais prioritárias que outras; e que o Benfica é mais prioritário que as teoricamente mais prioritárias das prioridades."

João Tomaz, in O Benfica

A goleada começou muito antes

"Mal começaram os treinos de pré-época deu para perceber que nada tinha mudado na mentalidade de um dos - alegados - adversários do SL Benfica na corrida pelo título de campeão nacional. Nas entrevistas que sempre acontecem nestes meses de Verão, vários jogadores do Sporting CP tiveram direito a pérolas na comunicação social como 'o nosso foco é o Benfica', 'só interessa a Supertaça', 'vamos estar prontos para o Benfica' e coisas que tais. Ou seja, em vez de treinarem mais do que o habitual para saírem da cepa torta, ao invés de se concentrarem nos métodos do treinador ou tentar criar uma mentalidade interna que os proteja de temas delicados como a invasão a Alcochete, as artimanhas do antigo presidente ou terem conquistado seis campeonatos em 50 anos, o foco foi... o Benfica. Só podia.
O antibenfiquismo primário voltou a passar um mau bocado nas bancadas do Estádio Algarve no domingo passado. Era ver as lágrimas a correr pelas faces, as palavrões em jeito de desabafo, os jogadores suplentes agarrados à cara e à cabeça. Porque pior do que perder é ser goleado. E pior do que tudo isso é ser goleado pelo SL Benfica.
Do lado de cá, o compromisso e a entrega foram totais. Desde o primeiro dia de trabalho, jogadores, dirigentes e técnicos do Glorioso concentraram-se apenas em si, nos jogos amigáveis que tinham pela frente (bela vitória na ICC) e no plano de treinos da máquina bem oleada liderada por Bruno Lage. A diferença está no trabalho e no foco. Não é preciso ser muito inteligente para o perceber, basta não ser cego, basta não estar constantemente a querer parecer maior do que realmente se é. E isto não é picardia de adepto, são factos."

Ricardo Santos, in O Benfica

5-0: táctica do SCP à lupa e uma bela tradição

"Eu sei que já lá vai quase uma semana desde o dérbi, mas só agora tenho oportunidade de partilhar com o leitor a minha análise da Supertaça. O Benfica venceu sem espinhas (5-0), e o mérito é ainda maior se considerarmos a engenhosa estratégia montada por Marcel Keizer. A táctica do fiquem-lá-atrás-e-passem-a-bola-o-mais-rápido-possível-ao-bruno-fernandes é bastante eficaz e difícil de anular.
O homem remata com perigo de qualquer lado, e eu até estava à espera de que fosse ele a bater os pontapés de baliza. Neste aspecto, de certeza que Keizer apanhou Bruno Lage desprevenido. Ainda assim, prevejo que este sistema será difícil de assimilar para os jogadores, sobretudo tendo em conta que para funcionar convém que o Bruno Fernandes faça parte dele - e o médio português parece estar de malas feitas desde o início do verão, apesar de ninguém saber muito bem para onde. Se não quiser viajar para muito longe, tem o Estádio da Luz bem próximo: convém descansar o Pizzi pelo menos nos jogos da Taça da Liga.
Fiquei naturalmente satisfeito, não só pela conquista de mais um troféu, mas também por ver conservada aquela prática do conjugar os resultados finais com a data dos jogos. 10 de Fevereiro, 10-0 ao Nacional. 2 de Março, 2-1 ao FC Porto. Diante do Sporting mantivemos a excepção de acrescentar um golo de bónus ao dia do jogo: 4-2 em 3 de Fevereiro e, agora, 5-0 em 4 de Agosto.
A temporada começou da melhor forma, contudo é muito importante ser regular. Amanhã arrancamos o campeonato com o Paços de Ferreira, e é dia 10. Há um clássico com o FC Porto já na 3.ª jornada, e o jogo deverá realizar-se em 24 ou 25 de Agosto. Rapazes, arranjem-se lá como quiserem, mas esta bonita tradição é para manter."

Pedro Soares, in O Benfica

De mão cheia

"Dificilmente se poderia imaginar uma entrada mais retumbante na época 2019-20. O primeiro troféu oficial, conquistado com nota artística e de goleada ante o 'velho rival', e ainda uma cereja chamada International Champions Cup - assegurada na véspera.
Com um plantel fortíssimo, e com o sedimentar das ideias de Bruno Lage depois de alguns meses de trabalho conjunto, este Benfica promete a terra e o céu.
No Algarve, Rafa e Pizzi foram diabos à solta, para os quais não houve qualquer Bruno Fernandes que chegasse. No meio, Gabriel encantou com perfeita visão de jogo e capacidade de passe notável. Na baliza, um gigante grego limpou aquilo que aqui ou ali escapava a uma defesa já bastante entrosada, da qual um cada vez mais maduro Rúben Dias é patrão. Mas, na verdade, todos merecem destaque, pois foi o colectivo que mais alto voou, naquele que foi o 22.º troféu oficial da era Luís Filipe Vieira.
É preciso dizer que se tratou apenas do começo. Um grande começo, é certo. Um começo à Benfica, diria. Mas um começo. Importa manter os pés no chão, e olhar para o Paços com grande humildade. A jornada de amanhã será apenas a primeira de trinta e quatro. E até Maio de 2020 muita água irá correr debaixo das pontes.
Ainda do dérbi, é de destacar o desportivismo que se viveu dentro e fora do campo, com jogadores do Benfica a confortarem os seus adversários, e estes a serem aplaudidos por adeptos encarnados aquando da entrega das medalhas. Bonito de se ver, e um exemplo para o futuro. Excepções haverá sempre, como a de um dirigente sportinguista que, sabe-se lá porquê, é agredido muitas vezes."

Luís Fialho, in O Benfica

Pelo Benfica

"Foi um fim de semana glorioso. Duas conquistas muito importantes e mais um sinal de pujança. Continuamos a viver a melhor década da história do Sport Lisboa e Benfica. Nunca se conquistou tanto em tão pouco tempo. Confesso que vibrei com a conquista da International Champions Cup (ICC). No sábado, torci pelo Milan frente ao Manchester United. Porquê? Porque a ICC é o torneio mais prestigiado da pré-época a nível global e vai projectar o SL Benfica para o patamar onde estão os melhores. A digressão pelos EUA foi um êxito rotundo - vitória nos três jogos e exemplares lições de benfiquismo. No dia seguinte, Bruno Lage serviu-nos um verdadeiro festim. A exibição do campeão nacional, no Estádio Algarve, foi de gala. Assistimos a uma das melhores exibições da história do Glorioso. Acho mesmo que a resultado peca por escasso, tais foram as oportunidades de golo. Admito que o Sporting pudesse ter marcado dois ou três golos, mas tivemos uma muralha defensiva intransponível, sempre superiormente comandada por Odysseas.
E, mais uma vez, se provou a excelência da nossa formação. Além da melhor dupla de defesas-centrais (Rúben Dias e Ferro), foi notável a exibição de Florentino Luís. E, para estreia em jogos oficiais, Nuno Tavares provou ser um dos maiores talentos da sua geração. Adaptado à posição de lateral-direito, com a exigente missão de substituir André Almeida, o jovem que na época passada brilhou nas equipas B, de sub-23 e de juniores A revelou-se um jogador maduro, sempre ligado ao jogo. Segue-se Tomás Tavares. E são já nove os jogadores da formação no plantel principal."

Pedro Guerra, in O Benfica

Férias

"Enquanto o Benfica retoma a pressão em início de época (e que início...), é ainda tempo de descomprimir e gozar o rendimento do ano lectivo passado para os nossos jovens do projecto Para Ti Se não faltares!. Os mais destacados de entre todos, seja pelo valor absoluto das suas classificações, seja pela fantástica capacidade de recuperação que demonstraram todo o ano, concentraram-se junto às respectivas escolas, de norte a sul, para apanhar o transporte mágico que os leva ao sonho de todo um ano de trabalho. É chegado o tempo da colónia de férias, das actividades extraordinárias, da amizade e da camaradagem que tornam esta semana numa memória inesquecível para a vida. A autoestima está no máximo, e a vontade há muito que foi ao rubro. Ser seleccionado de entre todos perante os colegas é uma afirmação para os jovens que, para muitos, vale tanto como gozar o merecido prémio. É prestígio afirmado perante os outros jovens e reconhecimento do seu talento, capacidades, educação e personalidade. É um momento de emoção aquele em que, nas escolas perante todo o grupo, estes vencedores veem a sua fotografia projectada e ouvem o seu nome em voz alta. Mas isso foi já há algum tempo, e hoje são a alegria contagiante do grupo e a qualidade das experiências a que diariamente têm acesso que entusiasmam os jovens e os fazem viver momentos inesquecíveis.
Divirtam-se e agarrem o tempo!
Em Setembro cá estaremos para a pressão inicial do ano lectivo que aí vem, e queremos que tenham um começo como o do Benfica, sem tirar nem pôr!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Reserva de serenidade

"Evidentemente que, depois de grande exibição do nosso futebol de elite no passado domingo, não poderia deixar de assinalar a concludente conquista de mais uma Supertaça Cândido de Oliveira. O jogo foi realmente bem disputado; os rivais deram-nos luta, mas, com o seu futebol demasiado nervoso, inconsequente e ineficaz, não só estimularam que os nossos libertassem a transbordante criatividade que define os melhores jogadores, tanto quanto propiciaram, afinal, que o modelo estratégico preparado por Bruno Lage fosse completamente aplicado com crescente exuberância táctica, espírito conjuntivo e incansável energia, até que a taça fosse agarrada e levantada. O Benfica está a jogar de novo com a alegria do grande futebol, e sem dúvida que aquela espécie de felicidade vivida pelos jogadores e pela equipa passa para as bancadas, onde os sócios e a generalidade dos adeptos do futebol competente exultam com o modo de jogar e os resultados, num indescritível ambiente de alegria, orgulho e confiança.
Em face do que se tem visto, hoje é patente para todos os Benfiquistas que dispomos de todas as condições individuais, colectivas e estruturais para podermos cumprir outra época inesquecível. Em todo o caso, tendo em conta que nunca estaremos sozinhos em campo, é importantíssimo manter presente que tudo continua, só a sempre, a depender exclusivamente de nós e que jamais poderemos baixar a guarda.
Mesmo depois de cada vitória, a viver esses momentos de euforia que nos são próprios, é essencial que saibamos preservar permanentemente aquela reserva de serenidade prudente que, por exemplo, caracteriza a postura pública do nosso treinador Bruno Lage.
Mas, de facto, não nos podemos iludir: é inegável que os nossos adversários mais directos vivem, uns por umas razões, e os outros por outras - tão diferentes e tão parecidas, afinal - sob o risco e a angústia de quem desesperadamente ainda tenta salvar a pele... Eles, os uns e os outros, estão sem tempo a perder, tanto no plano internacional como no próprio cenário exclusivamente português. E o problema deles, para eles, é o Benfica. Apenas e só, a crescente grandeza do Benfica e a segurança abundantemente exibida pelo Glorioso diante do futuro que só nós próprios definimos e escolhemos. Pelo Benfica.
Por isso, sejamos claros e guardemos o alerta: sem argumentos de jogo leal suficientes para nos vencerem os terrenos de jogo e na justiça, eles não hesitarão em prosseguir nos mesmíssimos ínvios trilhos colaterais ditados pelo despeito, pelo ressentimento e pela inveja que há anos estabeleceram como único desígnio conjunto para afrontar o Benfica. Até que, certamente tarde demais, mudem os seus regimes, interiorizem o fairplay e consigam escolher outros protagonistas..."

José Nuno Martins, in O Benfica

O favorito, os perseguidores e os cada vez menos pequenos: bem-vindos à Liga 2019/20

"A Liga NOS 2019/20 começa esta sexta-feira, com a mais forte candidatura ao título dos últimos anos, mas também com a edição em que os ‘pequenos’ apresentam mais argumentos. Conheça os desafios dos treinadores e as figuras das equipas que lutam pelos lugares cimeiros, mas também as potenciais surpresas do campeonato português

O futebol destaca-se das outras modalidades pela imprevisibilidade que lhe está inerente. Por isso nunca é fácil realizar previsões, sobretudo quando muitas equipas ainda não cumpriram jogos oficiais e o mercado vai continuar aberto por quase mais um mês – o que na verdade é um problema, que de resto até já foi resolvido em Inglaterra, onde o mercado fechou antes da 1.ª jornada da Premier League.
No entanto, ao olhar para os plantéis e respectivos treinadores, as pré-épocas realizadas e o passado recente dos clubes, é possível perceber, entre outras coisas, que o SL Benfica é favorito como há anos não existe nenhum em Portugal.
É verdade que os encarnados perderam João Félix e Jonas, mas também o é que reforçaram o sector ofensivo com jogadores de qualidade como Raúl de Tomás e Carlos Vinícius, além de Chiquinho. O desafio de Bruno Lage não passa por reeditar a dupla de Seferovic com Félix, mas antes formar uma outra igualmente bem-sucedida, ainda que com dinâmicas algo diferentes provavelmente entre o suíço e Raúl de Tomás.
Os dois são compatíveis, como se viu na Supertaça, e o único problema poderia ser exigir ao espanhol que fosse... quem ele não é – João Félix. De resto, as águias tornaram-se mais fortes naquilo em que eram menos: a primeira fase de construção.
Comparando esta com a equipa que começava a época 18/19 há um ano, podemos ver que Ferro substituiu Jardel no eixo da defesa e Florentino ocupa o lugar que era de Fejsa. Tanto um como o outro oferecem bem mais qualidade com bola e o SL Benfica será mais resistente a adversários que os pressionem alto.
Desta forma, trata-se de uma equipa mais completa, com mais soluções (Nuno Tavares surge como alternativa que não existia a Grimaldo, por exemplo) e mais madura, fruto do trabalho já desenvolvido com o seu treinador. É difícil identificar uma figura da equipa, mas Pizzi e Raúl de Tomás são fortes candidatos.
O grande favoritismo encarnado não é justificável apenas pelo crescimento dos actuais campeões nacionais, mas também pela fase algo instável dos seus dois rivais. O FC Porto perdeu, por razões distintas, três titulares a custo zero: o capitão Herrera, o desequilibrador Brahimi e o guarda-redes Casillas.
Do 11 saiu também Felipe e a equipa está a ser reconstruída. O objectivo e por isso também o desafio de Conceição é mudar o necessário para conseguir manter a equipa o mais semelhante possível àquilo que é desde a sua chegada e foi nesse sentido que vieram jogadores como Uribe, médio com semelhanças a Herrera, Marcano, que já foi orientado pelo técnico português, ou Nakajima, extremo de perfil parecido a Brahimi.
O outro desafio é também integrar o talento dos jovens vencedores da UEFA Youth League, nomeadamente o de Tomás Esteves, Diogo Leite, Romario Baró e Fábio Silva, que parecem francamente preparados para adicionar valor… no imediato.
A figura poderá ser Alex Telles, ele que é peça fundamental nas bolas paradas ofensivas, que constituem uma das principais armas dos azuis e brancos.
Já o Sporting CP continua a tentar reerguer-se do rombo que a equipa sofreu pós-Alcochete, quando vários jogadores importantes rescindiram com o clube e deixaram os leões a custo 0, e tem um caminho mais longo pela frente.
Em termos individuais, o plantel tem menos qualidade sobretudo do que o SL Benfica (o que se agrava se Bruno Fernandes vier a sair, mas é verdade mesmo com a permanência do capitão leonino), apresentando lacunas no meio-campo, onde nem Doumbia nem Eduardo garantem a qualidade exigida a um 6 de equipa grande.
Na baliza, Renan destacou-se na conquista das duas Taças em 18/19, mas continua a ser algo irregular e o lote de extremos, à partida, também parece curto qualitativamente para um candidato ao título. Até pelos pontos fracos identificados, faz pouco sentido a não aposta em jovens com qualidade como Daniel Bragança ou Matheus Pereira. Para Keizer, o desafio será sobretudo o de melhorar os comportamentos sem bola, quer em organização, quer em transição. A equipa é um caos defensivamente e terá dificuldades para competir caso assim continue. Se Bruno Fernandes sair, também será curioso ver como os leões o conseguem substituir. Se ficar, será certamente a figura da equipa; caso contrário, os centrais serão os esteios do grupo, mas Wendel pode ter o seu ano de explosão.
Com dois 4.º lugares consecutivos, o SC Braga surpreendeu ao escolher Ricardo Sá Pinto para suceder a Abel Ferreira e surge, em 19/20, como a maior incógnita da Liga NOS.
O potencial da equipa é tremendo pela qualidade e profundidade do plantel, mas o técnico português ainda não estabilizou em qualquer clube desde a saída do Sporting CP em 2012. Se conseguir rentabilizar os seus melhores jogadores e tornar a equipa organizada e competente sem bola, Sá Pinto pode intrometer-se na luta pelo pódio e quiçá pelo acesso à Liga dos Campeões, uma vez que tem armas no ataque capazes de desequilibrar qualquer defesa.
Paulinho e Hassan oferecem poucas dúvidas, Galeno foi um óptimo reforço, Francisco Trincão é um dos jovens de maior potencial da Liga NOS, Wilson Eduardo é garantia de golos e Murillo e Xadas também têm qualidade.
As figuras, contudo, serão os irmãos Horta, com destaque especial para André, que tem tudo para se afirmar como o melhor jogador do campeonato fora dos grandes. O desafio do treinador bracarense será potenciar ao máximo todo este valor individual e fazê-lo servir um colectivo forte.
No entanto, se o SC Braga não se apresentar na sua plenitude ao longo da época, esta será a temporada em que mais facilmente poderá ficar aquém do 4.º lugar. O Vitória de Guimarães, seu eterno rival, apostou em Ivo Vieira, que realizou um espectacular trabalho ao serviço do Moreirense, e o técnico português conta com um bom plantel, adequado ao seu estilo de jogo positivo.
Os vimaranenses perderam Tozé e Osorio, mas reforçaram o centro do ataque (a sua posição mais carenciada) com André Pereira e subiram à equipa A alguns jogadores de muito potencial.
Tapsoba, central de 20 anos, é imponente fisicamente e igualmente tranquilo com bola e pode ser a surpresa da equipa ao agarrar o lugar de Osorio. André Almeida, também da formação do Vitória, não deverá ser já titular, mas também é certamente um dos nomes dos quais se vai ouvir falar no futuro.
Lado a lado com o Vit. Guimarães surge o Rio Ave, que apostou forte em Carlos Carvalhal, e quererá ficar entre os seis primeiros, tendo uma palavra a dizer face aos dois clubes minhotos.
Além do experiente treinador português, os vila condenses garantiram Carlos Mané e Mehdi Taremi, dois reforços de peso para o ataque que devem ter a companhia de Nuno Santos na frente.
No primeiro jogo, na Taça da Liga, golearam por 6-1 a UD Oliveirense e agora vão enfrentar a equipa de Ivo Vieira naquele que será o jogo mais interessante da 1.ª jornada desta Liga NOS.
Entre as restantes equipas há realidades distintas, mas todas elas procurarão em primeiro lugar assegurar a manutenção o mais cedo possível. O Belenenses SAD de Silas viveu um ano tranquilo dentro das quatro linhas e em 19/20 não deve ser diferente; o Portimonense juntou Marlos Moreno, um dos mais sonantes reforços além dos grandes, a Jackson Martinez, Bruno Tabata e Paulinho, e tem um poder ofensivo de assinalar; e o Boavista acaba há três anos na metade de cima da tabela e por aí é previsível que continue.
Noutro patamar, clubes como o Moreirense e o Santa Clara viveram uma época acima das expectativas e por isso é normal que haja uma quebra em relação à temporada anterior, mas há que ter atenção ao jovem e muito talentoso Filipe Soares (Moreirense) e ao reforço Lincoln (Santa Clara) que chegou aos Açores após ser uma promessa no Brasil. No Marítimo, se Nuno Manta Santos tiver estabilidade também deve evitar que o emblema madeirense viva momentos de aflição no final da época, à medida que o Famalicão, recém-promovido à Liga NOS, realizou várias boas contratações com Fábio Martins à cabeça, mas também Rúben Lameiras e os jovens Diogo Gonçalves, Nico Schiappacasse e Alex Centelles – é provável que a equipa demore a chegar ao seu melhor, dado tratar-se de um plantel praticamente todo construído de raiz, mas há potencial para ser trabalho por João Pedro Sousa, também ele um estreante como treinador principal.
Por fim, o CD Aves (onde se deve ter atenção ao reforço Mahmoud Kahraba), o Vitória de Setúbal, o Tondela, o Paços de Ferreira (que tem em Bernardo Martins e Dadashov duas das possíveis surpresas da época) e o Gil Vicente deverão ser os principais candidatos à descida, com destaque para o conjunto gilista que subiu directamente do Campeonato de Portugal e cujo plantel tem somente cinco jogadores com experiência na Liga NOS, mas também um búlgaro de 22 anos com boas referências: Bozhidar Kraev destacou-se no Levski Sofia, chegou do Midtjylland e já deu a vitória frente ao CD Aves na Taça da Liga.
Seja como for, este ano a tendência é clara – os ‘pequenos’ alargaram horizontes no mercado, contrataram estrangeiros que outrora se achariam inacessíveis e vão estar mais fortes. Ganham os próprios, a Liga, mas sobretudo aqueles que gostam do jogo: os adeptos."

Futebol, outra vez

"Suspeito que o país vai depressa arrumar na gaveta do esquecimento a greve dos camionistas, as inaugurações eleitoralistas e os questionários divisionistas à Função Pública.

Até um verão de faz-de-conta passará para segundo plano. Pausa nos lamentos pela falta de sol, o Campeonato começa hoje. Não é que fique tudo resolvido, longe disso, mas o futebol permite estas interrupções suaves na urgência dos temas importantes, até por ser a coisa menos séria entre todas as coisas sérias. Entendo, porém, que os adeptos merecem todo o crédito e respeito, uma vez que sem eles a sobrevivência dos clubes seria impossível. Mas esta Liga, versão 2019/20, começa com vícios antigos que denunciam algum desprezo pelos que, no limite, sustentam salários e transferências rechonchudas. Nesta jornada, sem que nada, aparentemente, o justifique, lá regressam os jogos à sexta-feira e à segunda-feira à noite e, pior ainda, as partidas com arranque agendado para as 21.30 horas. Mas nem tudo é mau. Com o fecho do mercado em Inglaterra, cresce um bocadinho a esperança de continuarmos a ver Bruno Fernandes nos relvados portugueses. Ficam satisfeitos os sportinguistas e todos os que se focam mais nas fintas, nos passes teleguiados, nos remates ao ângulo do que no desempenho dos árbitros que, como os jogadores, também não acertam sempre. Naturalmente, não devemos esquecer, neste arranque de aventura, que há casos a envolver actores da arbitragem e dirigentes de clubes tão congelados nos tribunais que às vezes até dá a sensação de que nunca aconteceram. E, embora exterior à esfera desportiva, também seria bom que a Justiça desse sinais de que os processos não ficam no banco dos suplentes à espera de acabar a carreira por prescrição. Há nódoas no círculo do futebol. Se não são limpas de dentro para fora, terão de ser os tribunais a fazê-lo, de fora para dentro. Pode rolar a bola. E a cabeça dos criminosos, se os houver, também."

Hoje começa a Liga, sabia?

"Hoje começa a Liga portuguesa e, não tivesse eu preocupações profissionais com o dia a dia do futebol, diria que não tinha dado por isso.
As redes da Liga Portugal divulgam um poster das camisolas à roda do patrocinador e perguntam qual é a preferida - estranha prioridade informativa. As primeiras páginas dos jornais, especializados e generalistas, ignoram totalmente ou apenas assinalam a agenda. O mercado e a vida de Bruno Fernandes estão por cima de tudo.
Quem se queixa de demasiado futebol na televisão, por exemplo, permanece indiferente e descansado pelo “low profile” deste assunto, a remeter apenas para o umbigo de cada clube.
Sim, o Benfica vai esgotar a Luz e pouco interessa o adversário. 
im, os sportinguistas pensam na viagem à Madeira como se não houvesse amanhã.
Sim, o FC Porto está em transição europeia, com a cabeça nos incentivos orçamentais. Braga e Guimarães também.
Sim, “a arbitragem está muito melhor”, garantem antigos maldizentes dos órgãos federativos.
É o futebol de verão, amigável, europeu, da taça da liga (dizem-me que já começou) ou de campeonato, com jogos para a família, reencontros, confraternizações e “olas” na bancada.
A Liga começa esta noite com um palpitante Portimonense-Belenenses, sabia?"

Cadomblé do Vata (Champions...)

"O Campeão Europeu António Simões diz poucas vezes "sim" sem necessidade e o tempo que não perde a chocalhar verticalmente o cérebro, sobra-lhe para conduzir o pensamento por carril próprio. Acontece que quem quer ser maquinista do seu próprio comboio, sujeita-se com frequência a ter que se desviar de dois tipos de calhaus: os que são colocados no caminho dos seus vagões e os que os lá colocam.
A ninguém se exige que concorde com o Magriço Campeão Europeu, porque tal como ele, também aos outros assiste o direito de seguir ao volante do seu trem, mas por se tratar de alguém Campeão Europeu e que construiu dezenas de andares do arranha céus histórico que é o Sport Lisboa e Benfica, o mínimo que se pede, é respeito pelo indivíduo Campeão Europeu e pela opinião, que convenhamos, sem acertar sempre, raramente erra.
Prometer um Benfica Campeão Europeu é vender banha da cobra, ponto. E ao contrário da ladainha que vai percorrendo com frémito as cabeças Benfiquistas, o Ajax é o maior exemplo disso. Numa temporada de completo desnorte entre os maiores europeus, os holandeses chegaram às meias finais, repito "às meias finais" e isso continua a não valer título de Campeão Europeu. Mais, terminada a temporada, perderam de chofre 2 craques e pasmem-se, semi finalistas da competição maior europeia, campeões e vencedores da taça de uma nação futebolisticamente periférica, estão em pleno Agosto a disputar com o PAOK o apuramento para o playoff da Liga Milionária.
Poderia o Glorioso sonhar com o ceptro maior inter clubes mundial? Sim, claro... partindo de um principio utópico que 120 milhões seriam uma cláusula proibitiva por qualquer predestinado com 6 meses de futebol sénior "à séria", para os grandes europeus. Como nos provou o 3º maior clube espanhol, não é. E se dúvidas houverem, dentro de um ano um qualquer Everton do Mundo vai fazer questão de as apagar com o Florentino. Mesmo que este ano não sejam atingidos os objectivos europeus de chegar aos oitavos, ou com sorteio favorável, os quartos de final da Champions. Que continuam a não valer título de Campeão Europeu... como aquele que António Simões venceu."

A propósito do (des)controlo emocional (do Sporting e não só)

"“Remontadas” como as que observámos entre o Liverpool e o Barcelona, na Liga dos Campeões, vitórias esmagadoras entre adversários equiparados, como sucedeu na Supertaça Cândido de Oliveira, no passado fim de semana, ou, ainda mais surpreendentemente, entre adversários cuja dotação em termos dos valores individuais dos plantéis, se encontra completamente desequilibrada e onde, ainda assim, a equipa notoriamente mais “frágil” acaba por se “agigantar” e vencer... sempre existiram no desporto e sempre irão acontecer.
Contudo, elas são o espelho manifesto de como um correto ajustamento motivacional e emocional de um plantel, pode vir a ser o factor desequilibrante e, por essa razão, o que determina a vitória.
Muito se falou no sobre um eventual “descontrolo emocional” da equipa do Sporting: razões foram apontadas do ponto de vista da preparação física, técnica, táctica... só faltou, de facto, explorar em profundidade as razões de natureza psico-emocional (o que não deixa de ser curioso, atendendo a que o tema central seriam as emoções).

Emoções e Alta Competição
À partida, espera-se que um atleta (poderia ser um treinador ou um árbitro), porque compete em alta competição, terá igualmente um domínio elevado das suas competências psico-emocionais - entenda-se, capacidades como: manter a atenção sustentada por um período alargado, fazer uma correta gestão da frustração, saber persistir em cenários de adversidade, saber estar em equipa, saber ser liderado ou liderar, entre tantas outras.
Espera-se.
Espera-se... como se a simples exposição ao treino e à competição, pudessem resultar numa angariação cumulativa deste tipo de competências, numa proporção simples tipo: “quanto mais joga mais exposto se encontra à experiência, quanto mais exposto, mais treina e evolui”.
A investigação não corrobora, na verdade, esta assunção até porque, da mesma forma que aprendemos gestos técnicos errados, também aprendemos a activar emoções igualmente “erradas”. 
Há, pois, muitos atletas que, actuando comportamentos e emoções desadaptativas (ex: raiva), acabam por ter sucesso pontual e imediato, contudo, dificilmente se traduzirá em sucesso consistente e contínuo, se esta emoção for activada de forma indiscriminada e contínua, pois pode conduzir, por exemplo, a situações de exaustão emocional e potencial abandono.
Não deixa de ser curioso, no entanto, esperar que aconteça algo (ex: que os atletas exibam domínio das suas competências emocionais) quando não se criam os contextos necessários para que possa ser desenvolvido treino de forma consistente e sistematizada.

Exercício de “Sorte Ou Azar”
Por esta razão, por não haver ainda um conhecimento científico suficientemente difundido, acerca dos processos de treino em indivíduos e equipas que visam a integração planeada de competências cada vez mais elevadas, impera ainda no meio uma máxima de “sorte ou azar” que deverá afastar-se de um futebol que se pretenda assumir, cada vez mais, como ciência.
De facto, enquanto não assistirmos à integração da Psicologia (e, já agora, da Nutrição – alavanca fundamental para a optimização não só fisiológica, mas também dos processos cognitivos e emocionais dos atletas), enquanto ciência, nas equipas multidisciplinares que assistem os plantéis (e suas equipas técnicas), naquela que é a optimização do processo desportivo, muitos resultados surgirão por aparente “mero acaso”, pela activação não planeada (logo de difícil repetição) de estados de “flow” (estados de desempenho óptimo) em 2 ou 3 atletas que consigo arrastam a confiança e desempenho de toda uma equipa.
Mero acaso... sem relação causa-efeito... sem conseguir identificar como activar ou desemcadear a emoção desejada.
Logo, sem previsibilidade, sem capacidade de repetir e sem controlo voluntário – afinal, a tal “sorte”.

Maturidade (Mestria) Psico-Emocional Precisa-se!
Naturalmente que qualquer atleta ou treinador que atue em contextos de alta competição possui, necessariamente, um conjunto de competências psico-emocionais suficientemente elevadas para justificar a sua presença nesse nível competitivo – ainda assim, uma larga maioria, não exibe um controlo voluntário sobre as mesmas, evidente quando não consegue inverter uma sucessão de erros ou comportamentos de insucesso.
Por esta razão, e se o desafio for projectar os nossos atletas de um cenário de alta competição para um de Excelência, importa agregar no seu processo desportivo, o contributo inestimável de uma série de disciplinas cientificas (a Psicologia e a Nutrição são apenas duas delas) que, integradas numa perspectiva de Treino e Optimização de Competências, contribuirão certamente para a diminuição da alietoriedade que se assiste no que respeita à actuação do potencial desportivo de atletas e equipas no decorrer de toda uma época desportiva.
Há, no entanto, diferentes “maturidades” necessárias, senão vejamos:
- Das Federações que devem espelhar o processo cientifico subjacente ao desempenho desportivo, através da criação de equipas multidisciplinares que, articuladamente, devem colaborar com os clubes (suportando em especial os mais necessitados);
- Dos Clubes, que devem assumir o seu papel formativo e, desde cedo, activar estas mesmas equipas multidisciplinares junto dos atletas mais jovens, educando-os na multidimensionalidade subjacente à prática desportiva;
- Dos Atletas (ou Treinadores), nomeadamente nos escalões seniores, que devem chamar a si a responsabilidade do seu desenvolvimento pessoal em áreas especificas onde, por alguma razão, o clube não possui recursos.
Ou não fosse esta uma área de responsabilidade partilhada.
Em boa verdade, e como em tantas outras áreas da sociedade, deve-se “esperar” menos e fazer mais."

Nas lesões temos de ouvir o corpo e desligar a mente

"Quando iniciamos qualquer modalidade, tudo parece tão fácil. Acreditamos que, no fundo, só precisamos de treinar forte - mas estamos completamente errados.
Existem vários factores que influenciam um objectivo mas o que tem maior impacto são as lesões. As lesões aparecerem quando estamos na nossa melhor forma e ninguém gosta dessa fase.
Nessas alturas aparecem os “ses”: “O que poderíamos ter feito de diferente?”; “será que vou voltar à mesma forma?”; “será que chega treinar só isto?!”; “não estarei a descansar demais?” – enfim, tudo questões que alteram por completo os nossos objectivos e nos confrontam com os nossos maiores receios.
Começamos a ter medo, de não conseguir atingir o sucesso, de errar, a ouvir críticas, passamos de vencedores a derrotados, desvalorizamos.
São horas e horas de trabalho que de um dia para o outro passam a zero...
Nessas alturas, temos de respeitar o nosso corpo e desligar a mente. A mente só quer treinar a 110%, só quer acelerar o processo de recuperação, só quer voltar a competir, só quer “tudo para ontem”. Há que respeitar a lesão e dar o tempo necessário ao corpo de voltar a 100%, mas qualquer atleta é muito competitivo, disciplinado, trabalhador, ambicioso e também impaciente. Queremos tudo para ontem e temos dificuldade em esperar pelo nosso momento.
São precisos anos de trabalho para atingirmos a consistência necessária, para chegarmos/mantermo-nos no topo mundial e quando acontecem estes contratempos temos de voltar a construir tudo o que tínhamos conseguido.
É a altura crítica de um atleta. Fica frágil emocionalmente e fisicamente, triste, revoltado e muitas vezes não consegue lidar com estes contratempos. É preciso uma grande maturidade para dar tempo e respeitar o nosso corpo. É altura de parar, pensar e deixar fluir.
É um momento menos bom da carreira que, de certeza, vai trazer aprendizagens.
Tudo passa e estas lesões também passam e em nós fica o “calo”. Olhamos para elas como uma aprendizagem e que só nos vão tornar mais fortes. Tiramos as coisas boas desse momento e tornamo-las numa motivação extra para voltarmos ainda mais fortes.
As lesões são como um “reset” ao corpo, um “reset” que nos traz mais força para conseguirmos os nossos objectivos que é superar-nos e superar é conquistar competências que nos valorizam como pessoas, sendo melhores pessoas somos melhores atletas.
Confia em ti e confia no processo!"