sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Grandes mistérios do futebol

"Este poderia ser o título de uma bela obra para lançar neste Natal, mas uma crónica bata para se desmascarar três situações estranhas naquele que ainda é considerado o desporto-rei.
Em França, há uma vedeta brasileira que, diz-se, estará arrependida de ter assinado pelo PSG. A sério? Neymar sai por dinheiro do histórico Barcelona, muda-se para um campeonato medíocre e só agora sente arrependimento? ele que até terá escolhido os colegas de equipa e quer influenciar a decisão de escolher o treinador. Lá terá de esperar pelas reformas de Messi e Cristiano para poder levar sem qualquer tipo de brilho uma Bola de Ouro para casa.
Em Portugal, o presidente de um clube de futebol que não é campeão há mais de 15 anos afirma todos os dias que é líder da maior potência desportiva nacional e que a sua agremiação é uma das maiores da Europa e do mundo. Apesar de castigado continua a insultar toda a gente a seu belo prazer e não há quem lhe ponha um espelho à frente. O mistério é continuar a ter uma legião de fãs, dentro do clube e na comunicação social.
A FIFA; depois das escandaleiras de Sepp Baltter e Michel Platini, continua a ter no seu calendário um mais que polémico campeonato do mundo no Catar para 2022. E dezenas de trabalhadores, quase escravos, vão morrendo para que o capricho (pago a peso de ouro nas votações) siga em frente.
Amam o futebol, dizem todos eles. Sabemos bem o que é que eles amam."

Ricardo Santos, in O Benfica

Serenidade

"Ao contrário de outros dirigentes desportivos que por aí vemos, Luís Filipe Vieira sempre foi um homem mais de fazer do que de falar. Não vai para o Facebook destilar ódio, não faz intervenções inflamadas dia sim, dia não, não precisa de se pôr em bicos de pés para aparecer, nem busca protagonismo pessoal. Vieira conquista títulos, realiza obra, e é sobretudo isso que fala por ele.
Há todavia momentos em que se justifica uma intervenção mais política junto da família benfiquista, e na semana passada assim aconteceu.
Numa entrevista notável (e notavelmente conduzida por um grande profissional, que, independentemente de estar numa canal de clube, perguntou tudo o que o interesse dos sócios impunha), o nosso Presidente serenou definitivamente os ânimos, quer quanto ao momento da equipa principal de futebol, quer em relação aos ataques de que o clube tem sido alvo desde há uns meses para cá. Nada ficou por dizer. E tudo foi dito com uma genuinidade quase tocante, de quem se sente completamente seguro quanto ao que está a dizer, e quanto ao que está a fazer.
Todas as opções seguidas no futebol foram explicadas cabalmente, não se escondendo que as coisas nem sempre correm como esperado. E a afirmação clara de que o Benfica é um clube sério, mesmo que não fosse necessária, ajudou a marcar uma posição firme face àquelas que cobardemente nos tentam derrubar dia após dia.
Foi uma das maiores, e seguramente também uma das melhores, entrevistas televisivas dadas alguma vez por um dirigente desportivo em Portugal. Foi tranquilizadora, aglutinadora e revitalizante. Própria de um verdadeiro líder."

Luís Fialho, in O Benfica

A entrevista

"A longa entrevista do Presidente do Sport Lisboa e Benfica à BTV tem marcado a agenda mediática dos últimos dias e merece reflexão. Frontal e sem temer abordar os temas mais explosivos da actualidade. Luís Filipe Vieira esclareceu tudo o que tinha de ser esclarecido. Quanto à corrupção, o Presidente não podia ter sido mais clarificador:
- 'Não há nem nunca haverá corrupção no Benfica'.
Eu bem sei que a estratégia dos mentirosos compulsivos é desvalorizar esta afirmação. Já todos percebemos que os autores desta campanha caluniosa irão responder no sítio próprio por todos os crimes que têm cometido. Assustados com o apuramento da verdade e percebendo que a declaração peremptória do Presidente matou todas as acusações falsas, os mesmos que nos têm difamado de forma torpe decidiram mudar de estratégia. Os caluniadores querem agora que se apure se os e-mails são ou não são verdadeiros. Conhecemos bem o estratagema dos cobardes - quando são apanhados nas mentiras que plantaram, mudam de plano. Escusam de tentar fugir, pois todos serão chamados a responder por tudo o que disseram ou escreveram. Todos sabemos quem são os autores da grande farsa que pôs em causa a honorabilidade do Maior Clube Português e da classe da arbitragem. Sporting e FC Porto têm feito dos ataques à arbitragem uma das suas principais políticas para justificar a seca extrema de resultados desportivos e financeiros.
Mais preocupado com o futuro do Clube, o Presidente pediu dedicação e união da Família Benfiquista. A aposta na formação será a principal política de quem sonha ser Campeão Europeu. Eu acredito. E você?"

Pedro Guerra, in O Benfica

Testemunho para a História

"A exploração hoje em dia exercida pela generalidade dos media sobre a competição desportiva deixou se se auto-regular com o uso dos critérios neutrais e objectivos de outrora.
Os jornalistas tomam parte: ou, pior, são obrigados a afinar estritamente pela bitola do que melhor convenha ao editor; e este, antes daquele, já baixara a cerviz, segundo o que lhe havia determinado o chefe de redacção; o qual, por seu turno, oportunamente tinha amochado aos códigos do director da publicação que, pusilânime no topo da escala da indignidade, se sujeitara aos ditames da administração do grupo editorial, toda ela estando convenientemente alinhada conforma os seus (mais ou menos inflexíveis) interesses políticos e económicos particulares que, no tempo corrente, representam a repelente carcaça da comunicação, dita 'social'.
Mas a esta actual e generalizada traquibérnia mediática assim moldada em pirâmide já não podemos chamar 'jornalismo', nem sequer 'informação' nem - muito menos - 'comunicação social'. A cada dia, o que por aí vemos, ouvimos e lemos não é senão mais do que uma repugnante mistela de misérias repetidas até à náusea, sistematicamente tratada por indigentes sem espinha, como se todos os seus destinatários fossem indistintos consumidores desprovidos de senso crítico.
No jornal O Benfica - há quase 75 anos - escolhemos uma via bem diferente e que ainda hoje procuramos manter saudável e justa, como nos ensinaram os nossos antigos Mestres: damos as notícias, registamos os factos, narramos os acontecimentos e fixamos os protagonistas. Sem perdermos o sentido positivo da opinião crítica que sempre nobilitou as nossas páginas. fazemos o que nenhum outro jornal sabe fazer: contribuir para a evolução de um Benfica maior e mais forte do que todos o outros juntos e assegurar esse simples testemunho para a História."

José Nuno Martins, in O Benfica

Dificuldades acrescidas

"Vivemos numa sociedade de comunicação, informação, imagem, uma sociedade com novas tecnologias que permitem o acesso imediato ao outro lado do mundo. A estrutura económica está a alterar-se, os processos de gestão são influenciados por esta revolução. Mesmo em actividades no campo das ciências humanas. Hoje, quando um treinador chega ao balneário após, pode ter menos informação sobre esse mesmo jogo do que um jogador. Basta ter que marcar presença na zona de entrevistas rápidas, para que todos os restantes elementos da equipa passam ter acesso aos seus smartphones, e assim terem informação a que o treinador ainda não chegou. Os tempos são diferentes, e todos temos que perceber isso mesmo. Neste quadro, os factores que influenciaram o rendimento dos jogadores e das respectivas equipas foram alargadas a tudo o que as novas tecnologias proporcionam. E o rendimento de todos os outros intervenientes. Esta realidade ainda influencia e pressiona mais todos os que estão envolvidos num jogo de futebol.
O foco deve ser o jogo em ci, o que temos que fazer para uma boa prestação e vencer. Contudo, as condicionantes internas e externas criam obstáculos difíceis de ultrapassar. Não é fácil vencer a constante conversa sobre a credibilidade, ou falta dela, existente no futebol. Todos desconfiam uns dos outros, principalmente no que diz respeito à arbitragem. Quem dirige tem que ter sensibilidade para perceber se as suas decisões influenciam ou não a qualidade do jogo. Ou somos sérios ou não somos sérios, não há meio termo. Temos que ser e temos que o parecer, questão essencial para a credibilização. Não é, como todos, concordamos, cada um com as suas razões, o que se passa neste momento. E assim é muito difícil que o foco seja exclusivamente o que é importante, jogar futebol e, se possível, com qualidade. Mas vai ter que ser!"

José Couceiro, in A Bola

PS: O cronista, é uma daquelas pessoas, que se deve tomar atenção naquilo que escreve, mas deve-se ignorar aquilo que diz nos finais das partidas, pois são quase sempre contraditórias...!!!
Ainda esta semana, a equipa treinada por este senhor, queixou-se da nomeação do Capela para o Benfica - Setúbal...!!! Com os Corruptos ou com os Lagartos, estariam calados, seguramente?! E mesmo após os jogos, se fossem roubados, ficariam na mesma calados...!!!

Insubstituíveis e cemitérios...

"A justiça do Paraguai aprovou a extradição de Nicolás Leóz, 89 anos, antigo presidente da Conmebol, para os Estados Unidos, onde deverá responder pelo alegado desvio de 25 milhões de euros entre 1986 e 2013. Tive a oportunidade de entrevistar Leóz em 1987, em Assunção, quando o dirigente paraguaio era uma das figuras mais importantes da cúpula do futebol mundial e testemunhei o real poder que detinha e a forma subserviente como era tratado por quem rodeava e dele dependia. Hoje, já na recta final da vida, Nicolas Leóz exemplifica na perfeição quem se confundiu com as funções que exercia e se sentiu maior do que a instituição que sentiu maior do que a instituição que servia. Quando assim é, quando falta a medida certa, quando as pessoas pensam que não houve nada antes delas e nada resistirá à sua saída, abrem-se as portas do abismo, porque se há algo que a vida nos ensina é que os cemitérios estão cheios de insubstituíveis.
A paragem longa da I Liga para jogos da Selecção e da Taça de Portugal deu palco a personagens que pouco ou nada adiantam à causa do futebol e permitiu a amplificação de uma lavagem de roupa suja absolutamente imprópria numa sociedade civilizada. Com o regresso do futebol - Taça primeiro e competições europeias a seguir, antes da I Liga - fica a esperança de se ver atenuado um ruído que ameaça minar os alicerces dos clubes. Oxalá a justiça seja célere na resolução dos casos que tem em mãos...

PS - É pena que a dependência que a maior parte dos restantes clubes primodivisionários tem dos três grandes os impeça de acções concertadas que fizessem realmente a diferença. Na presente conjuntura, não dá..."

José Manuel Delgado, in A Bola

Oficiais e cavalheiros

"O futebol português há muito que convive mal com a liberdade de expressão. Em primeira instância, com a externa, pois está cada vez mais na moda digital fritar no espaço internáutico quem tem uma opinião contrária à oficial - e há quem ganhe a vida só a fazer isso. Depois, em segundo lugar, os clubes têm imensas dificuldades em conviver com a liberdade de opinião dos seus jogadores. As entrevistas aos futebolistas, que não as intervenções obrigatórias, são cada vez mais raras e escrutinadas pelos respectivos departamentos de comunicação.
Bem sei que quem passa muito tempo a olhar para o seu umbigo raramente consegue ver a linha do horizonte, mas, neste caso, convinha. O exemplo veio de Itália e de dois grandes que disseram adeus à squadra azurra depois de hecatombe de não terem conseguido abrir a porta do Mundial da Rússia. Um deles, então, é um monstro: Gigi Buffon. Numa era em que olha mais para a forma e pouco para o conteúdo, muitos olharam para o choro convulsivo e não discerniram os motivos. Mas, ele, em palavras, explicou. «Não estou a chorar por mim mas por toda a gente e pelo impacto social negativo que este falhanço pode ter», disse, quem, 175 jogos depois, se despedia da selecção italiana.
Daniele De Rossi também mostrou que pensa pela sua cabeça. Primeiro, disse ao seleccionador que não fazia sentido ser ele a entrar quando ao lado estava Insigne. Era mais ou menos óbvio que a Itália precisava de ganhar o jogo e de criatividade no ataque para derrubar a muralha sueca e um médio, como ele, pouco acrescentaria. No final do jogo, foi ao autocarro dos suecos, deu-lhes os parabéns pelo apuramento e pediu-lhe desculpa pelos assobios ao seu hino.
Dois generais de campo deram o exemplo. E é só aí que se ganham as divisas. Não é fora dos relvados, com exércitos de soldados rasos televisivos ou digitais."

Hugo Forte, in A Bola

Coração, cabeça e estômago

"Existe um legado a defender, um legado de respeito, de elevação, de educação, que nos catapultou para uma posição ímpar.

Não, não, caro leitor. Longe de mim a ideia de me embrenhar no domínio literário nacional, em particular, na obra camiliana, muito embora tenha de reconhecer que o título da crónica de hoje me surgiu quando, há dias, dei por mim em arrumações de livros, tendo, nessa tarefa, surpreendido uma das obras mais emblemáticas de Camilo Castelo Branco (infelizmente pouco conhecida do grande público) recentemente reeditada pelo semanário Expresso e que tive oportunidade de ler na juventude. Trata-se de um livro surpreendente, cuja leitura aconselho vivamente e que, de um modo inteligente, faz o retrato, pleno de sarcasmo e ironia, do homem português.
Tenho de confessar, porém, que o título da obra em apreço, longe de conduzir unicamente às misérias e grandezas do género humano, acabou também por suscitar a minha atenção em termos do posicionamento passado, actual e futuro do Sporting Clube de Portugal, sobretudo, por força do deplorável clima em que se acha mergulhado o futebol nacional desde há algum tempo. Com efeito, pressupondo toda e qualquer actividade desportiva empenho, devoção e entusiasmo, as cores verde e branca sempre evidenciaram uma extraordinária atitude, mesmo em situações de prolongado jejum de sucesso (como vem acontecendo com o desporto-rei) sendo, pois, indesmentível o seu enorme coração que permite manter a força alcançada no panorama desportivo nacional.
Importa, no entanto, estarmos cientes de que esse querer, essa vontade de vencer não são suficientes por si só. É fundamental termos a cabeça no sítio próprio, sermos nacionais, percebermos que não estamos sozinhos no mundo e que não valerá a pena descobrir inimigos ao dobrar de cada esquina e abrir guerras um pouco por toda a parte. Existe um legado a defender, um legado de respeito, de elevação e de educação que nos catapultou para uma posição ímpar no desporto, sempre com uma identidade muito própria e especial.
Os sportinguistas - únicos e exclusivos donos do Clube - sabem-no e têm orgulho da sua história. A unidade dos sócios conquista-se, constrói-se em cada dia que passa, com firmeza mas sem ódios ou divisões, com humildade, sem bravatas ou prepotências. Se coração e cabeça não estiverem em sintonia, o estômago revolver-se-á. Mais tarde ou mais cedo. Disso não tenho dúvidas. Os sócios do Sporting Clube de Portugal também não."

Abrantes Mendes, in A Bola

A Liga das Justiça

"Andam por aí cartazes a promover a Liga da Justiça mas qualquer semelhança com o nosso futebol é pura coincidência. Esta Liga é um filme de super-heróis que combatem uma legião de demónios que ameaça a Terra. Ora, é bem verdade que o nosso futebol também está a sofrer ameaças diabólicas e se fosse possível a Fernando Gomes equipar-se à Batman, Pedro Proença vestir a pele do Flash, e a líder da comissão de instrutores, Cláudia Viana, transformar-se na Mulher Maravilha e José Manuel Meirim no Ciborgue, talvez houvesse a esperança de ser possível impor ordem e ter alguma paz.
É cada vez maior a intervenção da Justiça no futebol, sendo que esta não se reduz aos castigos sumários aplicados aos jogadores, mas dedica-se a questões mais profundas e delicadas como o tráfico de influências, a corrupção, a violência. Andamos a época inteira a ‘atacar’ os árbitros, a ouvir falar de emails e polvos, passámos a comentar o que dizem os directores de comunicação e agora foi aberta a caça ao juízes do TAD…
Neste contexto, o regresso da competição é um alívio. Deseja-se que com a bola a rolar, as atenções voltem-se mais para o rectângulo de jogo e menos para o jogo… sujo. O Sporting-Famalicão foi um bálsamo, pela seriedade leonina e pela réplica minhota. Queremos mais... disto."

Será possível?

"Será mesmo possível?

O que eu estranho, nesta fase, já não é a linguagem de Bruno de Carvalho. Bruno de Carvalho deixou-se escorregar para um regime de roda-livre e, agora, qualquer redução de tom, qualquer atitude de homem de Estado - no fundo, qualquer intervenção consentânea com a que deve ser a pose do presidente de um clube com dezenas de milhares de sócios e milhões de adeptos, com desafios exigentes e uma bomba nas mãos - poderia ser entendida como um recuo.
O que eu estranho é que, aparentemente, não haja ninguém no Sporting, entre titulares de órgãos sociais e funcionários de alto perfil, a quem esta linguagem incomode. Será mesmo possível que ainda não tenha havido um só a manifestar o seu desconforto por este tom? Será mesmo possível que ninguém exija ao menos que a direcção de comunicação tenha uma palavra a dizer nas intervenções do presidente, quando estas vinculam tão claramente o clube?
Onde é que isto vai parar? Essa é a pergunta seguinte. Mas, se a resposta à primeira persiste a que parece, "Sim, está tudo confortável", a segunda fica parcialmente respondida: não vai parar em bom lugar.

Surfando a onda
Tudo corre bem a Sérgio
Posso perceber que, em abstracto, Lopetegui e Sérgio Ramos estranhem a presença de Casillas no banco do FC Porto. O que já é mais difícil de perceber é que a estanhem quando, em concreto, o próprio guarda-redes elogia o treinador.
De cada vez que alguém se pronuncia, Sérgio Conceição vê reforçado o êxito da sua opção. Se o FC Porto se conseguir manter na frente da Liga, haveremos de identificar nela a semente do milagre."

O "cartel" do futebol

"Guido Infantino era suposto pôr fim a uma era de corrupção na FIFA. Vários indícios sugerem que a corrupção se mantém a vários níveis.

Neste momento, quando se fala da FIFA fala-se sobre o Mundial de 2018, os jogos de preparação, o sorteio dos grupos, os jogadores que serão escolhidos, etc.
Muito menos importante no imaginário colectivo e na atenção dos media são os problemas de ética e de governação que se mantêm no órgão máximo do desporto máximo do planeta. É pena que assim seja, pois trata-se de problemas graves.
Em Maio de 2016, o Congresso da FIFA decidiu atribuir ao Conselho da FIFA os poderes de eleger e remover os membros dos corpos de supervisão, incluindo os comités de ética e de supervisão. Domenico Scala, então chefe do Comité de Auditoria e Conformidade, demitiu-se em protesto contra uma medida que efectivamente punha a faca e o queijo na mesma mão.
A FIFA retorquiu então que Scala interpretou mal uma proposta que, diziam os dirigentes, tinha como função tratar dos períodos de transição e remover os membros acusados de qualquer contravenção.
A proposta da FIFA (que, ao que parece, não foi circulada antes do Congresso) foi aprovada por 186 votos contra 1. O tempo veio a dar razão a Scala.
Miguel Poiares Maduro, que no mesmo Congresso foi escolhido para chefe do Comité de Governação, foi despedido há alguns meses pelo Presidente da FIFA, Guido Infantino. Embora não conheçamos todos os pormenores, parece claro que o motivo para o afastamento foi a oposição de Maduro à presença nos órgãos da FIFA de Vitaly Mutko, vice-primeiro ministro russo, pois tal violaria uma regra central da FIFA: a independência política.
Infantino era suposto pôr fim a uma era de corrupção na FIFA. Vários indícios sugerem que a corrupção se mantém a vários níveis. Mais importante ainda é o facto de a governação da FIFA se manter essencialmente dominada por um grupo de "insiders".
O "cartel" do futebol mantém-se em grande força."

Com contra, peso e medida

"Uma das características dos grandes campeões é que sabem qual é a sua verdadeira capacidade. Isso obriga a um conhecimento muito profundo de si próprio e a ter uma disciplina invulgar em tudo. O ter talento é algo muito específico, que nasce com a pessoa e que pode ser melhorado e é na conjugação destas valências que aparecem aqueles campeões que dominam anos a fio a sua modalidade.
No caso de Miguel Oliveira viu-se desde muito novo que o rapaz não se contentava em brilhar apenas nas provas nacionais. Não foi difícil descortinar a sua ambição para outros voos e se ele não sentisse que tinha essa capacidade também não iria falar de cenários utópicos. Pois bem, Miguel Oliveira só tem confirmado todas as previsões.
O piloto de Almada não foi daqueles que tivesse muitos falhanços na carreira. Nada disso, bem antes pelo contrário. Tudo foi projectado com conta, peso e medida, bem ao jeito de Miguel Oliveira. E, ao fim e ao cabo, parece que tudo se tornou tão fácil porque, na verdade, fez tudo também com muita facilidade em tão pouco tempo.
O capítulo de Miguel Oliveira em Moto2 ainda vai durar mais um ano. A seguir dar-se-á a passagem à classe rainha, o MotoGP, e aí Miguel Oliveira poderá ter uma palavra a dizer dentro de 4/5 anos. Até agora tem deslumbrado e cumprido o seu papel, mas ele tem talento e ambição para não se ficar por aqui.
E todos podem ficar a ganhar. O piloto e a KTM, que tem investido muito dinheiro e tem um projecto a longo prazo com o jovem português. Miguel Oliveira pode colocar a KTM num patamar elevado. À partida reúne todas essas condições para dentro de poucos anos ter um estatuto ímpar no motociclismo mundial."

Manuel, nem o Mundial me faz mudar de opinião

"O regresso do médio à Selecção

Manuel Fernandes conseguiu aquilo em que já nem o próprio acreditava: voltou a jogar pela Selecção, cinco anos depois, e fez duas exibições que alimentaram o debate em torno da possível convocatória para o Mundial2018.
As aspirações são legítimas, não só tendo em conta o rendimento recente do médio no Lokomotiv de Moscovo, mas também a condição actual de André Gomes, Adrien, Renato Sanches ou Pizzi.
Manuel Fernandes pode ainda conseguir um lugar na convocatória final. Já não vai é a tempo de fazer-me mudar de opinião. De convencer-me que a carreira dele não podia ter ido mais além do que foi.
É certo que ainda tem 31 anos - na altura do Mundial terá 32 -, mas a expectativa era demasiado alta para o balanço entre o que já lá vai e o que está para vir.
Isto não é pretexto para uma crítica, até porque o próprio assume responsabilidades no rumo que a carreira levou. É antes a inquietante memória daquilo que prometeu um jogador que acompanhei na formação e que até tive oportunidade de defrontar naquele que (se não me falha a memória) foi o seu último jogo pelo Benfica B antes da estreia pela equipa principal.
Um médio com uma combinação rara entre potência e técnica. Um poço de força, naquela postura “quinze-para-as-três” que lhe permite proteger a bola como poucos e entregá-la com a firmeza de quem tem duas raquetas nos pés.
Altivez no desarme, vigor no passe, poder na meia-distância. Um perfil tão completo que a carreira parece incompleta.
Manuel Fernandes andou pelos dois principais campeonatos europeus. Representou grandes clubes, como Benfica, Everton, Valência, Besiktas ou Lokomotiv. Tem construído uma carreira de fazer inveja a muitos, mas poucos são aqueles que não pensam que podia ter sido ainda mais.
A começar pelo próprio."