"Existe um legado a defender, um legado de respeito, de elevação, de educação, que nos catapultou para uma posição ímpar.
Não, não, caro leitor. Longe de mim a ideia de me embrenhar no domínio literário nacional, em particular, na obra camiliana, muito embora tenha de reconhecer que o título da crónica de hoje me surgiu quando, há dias, dei por mim em arrumações de livros, tendo, nessa tarefa, surpreendido uma das obras mais emblemáticas de Camilo Castelo Branco (infelizmente pouco conhecida do grande público) recentemente reeditada pelo semanário Expresso e que tive oportunidade de ler na juventude. Trata-se de um livro surpreendente, cuja leitura aconselho vivamente e que, de um modo inteligente, faz o retrato, pleno de sarcasmo e ironia, do homem português.
Tenho de confessar, porém, que o título da obra em apreço, longe de conduzir unicamente às misérias e grandezas do género humano, acabou também por suscitar a minha atenção em termos do posicionamento passado, actual e futuro do Sporting Clube de Portugal, sobretudo, por força do deplorável clima em que se acha mergulhado o futebol nacional desde há algum tempo. Com efeito, pressupondo toda e qualquer actividade desportiva empenho, devoção e entusiasmo, as cores verde e branca sempre evidenciaram uma extraordinária atitude, mesmo em situações de prolongado jejum de sucesso (como vem acontecendo com o desporto-rei) sendo, pois, indesmentível o seu enorme coração que permite manter a força alcançada no panorama desportivo nacional.
Importa, no entanto, estarmos cientes de que esse querer, essa vontade de vencer não são suficientes por si só. É fundamental termos a cabeça no sítio próprio, sermos nacionais, percebermos que não estamos sozinhos no mundo e que não valerá a pena descobrir inimigos ao dobrar de cada esquina e abrir guerras um pouco por toda a parte. Existe um legado a defender, um legado de respeito, de elevação e de educação que nos catapultou para uma posição ímpar no desporto, sempre com uma identidade muito própria e especial.
Os sportinguistas - únicos e exclusivos donos do Clube - sabem-no e têm orgulho da sua história. A unidade dos sócios conquista-se, constrói-se em cada dia que passa, com firmeza mas sem ódios ou divisões, com humildade, sem bravatas ou prepotências. Se coração e cabeça não estiverem em sintonia, o estômago revolver-se-á. Mais tarde ou mais cedo. Disso não tenho dúvidas. Os sócios do Sporting Clube de Portugal também não."
Abrantes Mendes, in A Bola
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