sábado, 15 de julho de 2017

Os políticos, os clubes e o futebol

"Muitos políticos entendem que o futebol é demasiado importante para ser entregue à insanidade de alguns dirigentes desportivos

No final da segunda guerra mundial, quando já não havia dúvidas para que lado iria pender a vitória, a oposição portuguesa, dispersa e pouco respeitada pela lembrança viva da desorganização da Primeira República, acreditava que os aliados não iriam deixar que Salazar continuasse no poder em Portugal e que Franco continuasse no poder, em Espanha. Assim, a ideia quase generalizada era a de que Portugal e Espanha beneficiariam da oferta de um regime democrático, com eleições livres e escolha popular.
A verdade é que, como bem se sabe, tal não aconteceu. Salazar e Franco continuariam, segundo alguns testemunhos históricos, precisamente porque, em Portugal, ausência de uma oposição organizada, que não fosse a do Partido Comunista Português, tal, como em Espanha, o medo de vingança de um republicanismo esquerdista levaram os aliados, em especial os ingleses, a tomarem a decisão estratégica de deixar sobreviver as duas ditaduras, porque poderia ser o mal menor para a Europa.
Também em Portugal, já depois da certeza de que o regime unipartidário iria resistir, Salazar achou por bem justificá-lo em pequenas e confiáveis audiências. Para o chefe do governo da ditadura nacional, as democracias só faziam sentido nos países onde os povos estavam preparados para ela, como era o caso da Inglaterra. Porém, na Europa do Sul, seria demasiado arriscado pedir a um povo inculto e ignorante que decidisse sobre si e sobre os seus países.
Vem esta pequena revisão histórica a propósito da ideia que passou (e passa) por boa parte dos partidos que compõem a nossa Assembleia da República, que passa por propor uma intervenção directa no supostamente autónomo movimento associativo, mudando regras e alterando responsabilidades estatutárias dos organismos que dirigem e organizam o futebol nacional, a Federação e a Liga.
O amplo movimento de deputados que defende uma intervenção directa na regulação do futebol profissional, impondo a passagem das áreas disciplinares e de arbitragem da Liga, ou seja, dos clubes, para a Federação, tem como ideia central que os clubes não sabem autorregular-se. Pensam, mesmo, que não só não se regulam, como desregulam o futebol profissional.
Entende, assim, um número muito significativo de políticos com funções e responsabilidades legislativas que o futebol é demasiado importante para ser entregue à insanidade que alguns dirigentes de clubes têm vindo a exibir.
A questão, porém, é melindrosa. Na verdade, será muito difícil, para não dizer, mesmo, impossível que haja qualquer regulação do futebol nacional sem os clubes profissionais ou, o que vem dar ao mesmo, contra os clubes de futebol profissional.
Podemos, no entanto, estar perante um daqueles impasses em que o país, na sua parte medíocre e mesquinha, é fértil, porque, de facto, e pelo que demonstraram com exuberante desfaçatez, os clubes, como diziam os romanos dos lusitanos, não se regulam nem se deixam regular.
Entre as fórmulas da imposição política e a da bagunça das assembleias da Liga, tem de haver um modo mais inteligente e racional de resolver o futuro do futebol em Portugal. Como sempre, em matérias sensíveis e de dimensão nacional, a melhor solução passa pela responsabilidade política do Estado, que deve trabalhar no sentido de encontrar pontos de convergência para consensos essenciais e por isso deve encontrar um eficaz modelo de discussão, ouvindo e discutindo primeiro, para decidir depois. Uma solução como essa obriga, naturalmente, clubes e outra entidades e assumirem responsabilidades. Coisa a que, aliás, não estão habituados.

Ninguém quer comprar o Luisão?
O Benfica está perto de vender toda a sua defesa. Sejamos rigorosos, toda a sua defesa, menos Luisão. É injusto para o elogiável capitão do Benfica. Luisão tem tantos anos como o Benfica tem títulos de campeão nacional. Pode parecer antigo, mas a longevidade de hoje, não é a mesma de há cinquenta anos. É um jogador experiente e isso tem um valor. Se não em Bayern, ou Barcelona, num clube da China ou das arábias. Assim, o Benfica ficaria no Guiness como o clube que, num ano, vendeu toda a sua defesa. Guarda-redes incluído.

(...)"


Vítor Serpa, in A Bola

PS: Tanta conversa, e bastava recordar a última intervenção directa do Governo nos regulamentos: a redução da I Liga para 16 clubes!
O que aconteceu depois?! Até se criou a Taça da Liga, para 'esticar' a época, mas pouco depois, aproveitando o 'caso Boavista', a I Liga voltou aos 18 clubes, com a promessa que mais tarde iria 'regressar' aos 16, mas isso nunca aconteceu... bem pelo contrário, com o 'caso Gil Vicente' ainda vamos ter a I Liga com 20 clubes!!!
Por estas, e por outras, é que os clubes não tem 'competência' para se auto-regularem...!!!

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