domingo, 31 de julho de 2016

A partir de agora é "à séria"...!!!

Lyon 3 - 2 Benfica


Acabou a brincadeira a partir de agora é a sério!!! Finalmente...
Confesso: estou preocupado!
Primeiro, porque durante toda esta pré-época, não construímos um onze... temos opções, mas tenho a certeza que o onze titular na Supertaça, nunca jogou todo junto nesta pré-época!!!
Segundo, porque 'cheira-me' a uma entrada nos primeiros jogos oficiais da época, demasiado 'soft'!!! Já escrevi, que só um Benfica com um espírito de luta imenso, poderá ambicionar ao sucesso...
Terceiro, porque no final de cada partida, ficamos sem dois ou três jogadores por lesão... tem sido incrível!!!

Os primeiros minutos até não foram maus, mas a partir dos 15 minutos a equipa 'perdeu-se', principalmente no meio-campo, a dupla Celis/Samaris esteve muito mal... com o Colombiano a exagerar!!!!
Entrámos muito bem no 2.º tempo, o Cervi que sempre que foi para a direita, jogou muito... e o Horta, como 2.º avançado também esteve bem... Marcámos o 2.º golo, mas depois vieram as muitas substituições, e o ritmo do jogo esteve sempre a ser cortado... Com o Lyon a tentar claramente baixar o ritmo...
Parece que vamos ter problemas com o duplo/Pivot no meio-campo, pelo menos enquanto o Danilo não 'entra' na equipa!!! Com o Semedo e o Grimaldo, pode parecer lógico jogar com dois médios mais defrensivos no meio-campo (hoje por exemplo com o Almeida isso não fazia sentido...), mas muito sinceramente, eu acho que no global esta opção é negativa para o Benfica... Nem os nossos jogadores estão habituados a estas rotinas (por exemplo o Fejsa joga muito melhor quando ele é o único responsável pela cobertura...), como o Benfica na maior parte dos jogos têm que ter um médio, que saiba subir, jogar entre-linhas aproximando-se dos avançados... isto é um daqueles factos históricos irrefutáveis... No Benfica, independentemente das 'eras', dos treinadores, dos jogadores, o Benfica tem que ter uma matriz de jogo ofensiva... 2 médios de contenção dá quase sempre mau resultado!

Além do Cervi e do Horta, destaque para os primeiros minutos do Danilo, muito esforçado, com qualidade, mas ainda descoordenado no passe... algo normal, para quem está a treinar à 3 dias!

Com tanto jogador lesionado, não é fácil adivinhar o 11 para a Supertaça! Entre o 11 desejável, o 11 possível e o 11 do Rui Vitória, é impossível ter certezas!

Eu que tenho criticado tanto o Luisão, admito que hoje o Capitão fez o seu melhor jogo, mas mesmo assim jogava com o Lisandro e o Lindelof!
No meio-campo o Fejsa em condições será sempre titular... acho mesmo que no actual plantel, as possíveis ausências do nosso 'tractor' por lesão, serão o nosso maior problema durante a época!
Apesar dos bons sinais do Guedes, o Jonas é fundamental neste Benfica... ainda por cima quando o Mitro e o Raúl ainda estão longe da melhor forma!

Tacticamente, o positivo de hoje, foi a opção André Horta no lugar do Jonas! Talvez uma solução para aqueles jogos, onde o Jonas tem mais dificuldade em aparecer... Os nossos adversários apostam muitas vezes, em fazer superioridade numérica sobre o nosso meio-campo, esta pode ser a solução!

Para manter a consistência, mas um amigável muito pouco amigável, algumas entradas completamente absurdas... com jogadores a saírem tocados... e com mais uma daquelas arbitragens de pré-época, onde tudo passa... Este canto não assinalado nos descontos a favor do Benfica, foi um excelente indicador da tendência... só é curioso que na Luz, levamos com Veríssimos ou Hugos Migueis e o caseirismo transforma-se em anti-caseirismo!!!

Vi ontem o jogo do Braga com o Villarreal. Muito fraquinhos na defesa, como é costume com as equipas do Peseiro (já o ano passado o Braga defendia pouco...), o Marafona ontem, safou o Braga da goleada, agora vamos ver se o Benfica sabe aproveitar... Não sendo decisivo para o sucesso da época, este jogo pode ser uma excelente injecção de moral, para as primeiras jornadas... Tal como aconteceu o ano passado com os Lagartos... que só lá mais para a frente começaram a perder gás!!!

PS: Acabo de saber da morte do Professor Moniz Pereira. Uma das figuras que mais fizeram pelo desporto em Portugal. E sendo Sportinguista, nunca lhe conheci qualquer complexo contra os outros... O desporto em Portugal, principalmente o Atletismo, têm uma grande divida ao Professor...!

sábado, 30 de julho de 2016

Juntos

"Há 39 anos que o Benfica não conquistava o 'tri'. Esta conquista traduz o percurso do Sport Lisboa e Benfica, que nos últimos 15 anos se transformou num dos mais modernos e inovadores clubes a nível mundial.
A época que agora acaba foi difícil e exigente, mas extremamente gratificante, e fica marcada pela capacidade de todo o grupo de trabalho do Sport Lisboa e Benfica. Sem o talento dos jogadores, a capacidade da equipa técnica, nada disto seria possível. Mas sem o suporte de todos quantos trabalham diariamente aqui no estádio e sem o apoio incondicional dos adeptos não o teríamos conseguido!
Os jogadores e a equipa técnica são os rostos visíveis deste sucesso, mas por trás deles há uma gigantesca equipa 'invisível' e milhões de adeptos sem cuja dedicação e empenho dificilmente teríamos chegado aqui. Para todos vocês o meu muito obrigado.
Este foi um campeonato ganho sem olhar para trás, um triunfo claro de uma equipa de 'centenas' de pessoas que mostrou estar à altura de vestir a camisola do nosso clube.
Aos milhões de adeptos espalhados pelo mundo e que são, sem dúvida, o nosso décimo segundo jogador é imperioso manifestar a gratidão de um clube que é deles e vive para eles.
Juntos jogámos, juntos lutámos e é também juntos que festejamos um título que é de todos.
Terminado o campeonato, consumado o 'tri' que perseguíamos há quase quatro décadas, é tempo de olharmos já para os desafios da nova época, onde estaremos com o mesmo espírito ganhador que é a matriz deste clube desde 1904. E no próximo ano precisamos outra vez de cada um de vocês.
A nossa força depende da 'união' que conseguimos demonstrar no nosso trabalho e no nosso apoio diário.
É a essa união que apelo já para a nova época, mas é com um enorme obrigado que quero terminar esta mensagem. Obrigado pelo sucesso desta época e pelo 'tri' que nos permitiram alcançar!"

Luís Filipe Vieira, in Mística

Maré vermelha

"Depois de um ano em que os adeptos pediram incessantemente 'dá-me o 35', a equipa fez a vontade ao universo benfiquista. Todos os títulos sabem bem, mas este teve algumas características que o tornam especial e invulgar. Uma pré-época com resultados abaixo do desejado e um início de competição com alguns percalços fizeram duvidar deste resultado final. Quando, em Novembro, estávamos a oito pontos da liderança e a cinco do segundo lugar, parecia impossível este final. Foi a vontade indómita de ganhar e o carácter de campeões que tornou possível esta época de sonho. Em bom rigor, foi sempre o sonho que alimentou as nossas mais bonitas conquistas, o que faz sentido quando se está num 'clube do sonho'.
A nossa época desportiva foi bem mais que o 35.º título de campeão nacional - tratou-se de época fantástica, com a conquista da Taça da Liga (sete em nove edições) e a chegada aos quartos-de-final da Liga dos Campeões (nenhum clube português fez melhor nos últimos 10 anos). Nestes últimos três anos ganhámos nove dos últimos 12 títulos que se disputaram em Portugal. Três vezes mais que os adversários todos juntos. Pode ainda não ser a hegemonia, mas já é esmagador. E já só pensamos (e preparamos) nos próximos. A 7 de Agosto lá estaremos,com o Sporting de Braga, para continuar na 'maré vermelha'.
Por que há coisas que nunca faltaram no Benfica ao longo da sua história de glórias: a ambição e o sonho."

Sílvio Cervan, in Mística

Benfica à letra

"O músico que recentemente encheu os Coliseus é benfiquista. E não o esconde, mesmo nas suas canções.

- No futebol e na música, prefere jogar à defesa ou ao ataque?
- Sempre ao ataque! A melhor defesa é o ataque (risos)

- O nome do Benfica surge mais do que uma vez nas letras das suas canções. Este clube é uma inspiração?
- É! Bem... tem dias, mas ultimamente tem sido de facto uma grande inspiração.

- Numa alusão à letra de Zorro, qual é o 'camisola 10' dos 'encarnados' com qual mais se identifica?
- Sem dúvida o camisola 10 desta última temporada, que é um jogador fantástico: Nico Gaitán.

- E a propósito da mesma canção, na vida valem sempre todos os golos, mesmo aqueles que se marcam com a mão?
(pausa) Todos contam, portanto, partindo desse princípio, valem todos, sim.

- O que recorda quando recua ao primeiro jogo que viu do Benfica ao vivo?
- Tenho ideia que foi em Portimão e foi uma emoção enorme. Na altura jogavam ainda o Chalana, o Carlos Manuel, o Diamantino, o Humberto Coelho, o Bastos Lopes, o Bento... Recordo-me que foi um deslumbramento estar a ver os jogadores do clube ao vivo. Foi uma sensação fantástica.

- Como é que celebrou estes três últimos campeonatos do Sport Lisboa e Benfica?
- Com muita alegria e muita esperança. Espero que sejam três de muitos, todos seguidos daqui para a frente. Quero que o Benfica ganhe sempre, todos os anos.

- Como faz quando a hora de um grande jogo do Benfica coincide com a de um concerto?
- Já me aconteceu várias vezes, mas está ainda recente na memória esse dia em que perdemos 2-1 no Estádio do Dragão. Estava em Torres Vedras (n.r.: no Teatro-Cine de Torres Vedras) e quando subi ao palco o Benfica estava a ganhar 1-0, com um golo do Lima. Quando saí de palco o Benfica tinha perdido por 2-1 e, para todos os efeitos, tinha perdido o campeonato...

- Concluiu uma ronda de 17 concertos com lotação esgotada (n.r.: nos Coliseus, em Fevereiro e Março), conseguindo até bater, em número, o recorde das 11 vitórias consecutivas fora de casa que o Benfica alcançou na última temporada. Conte lá como foi...
- (risos) Foi uma experiência fantástica, uma maratona que correu bem. Vamos voltar agora, em Setembro, para continuar essa maratona, e será até que o público nos queira ouvir.


SLB em público
O Benfica é citado por mais de uma vez nos temas do músico. Como é que reage o público nos concertos? 'Com desportivismo e com graça. Há quem goste, há quem ache piada e há quem não ache assim tanta piada, mas hoje em dia, salvo raras excepções, as pessoas vêem a coisa como devem ver. Com menos fanatismo, felizmente. O futebol é uma coisa de que gostamos e com a qual nos divertimos.'

Espectacular
Dos primeiros passos na música aos espectáculos repletos nos Coliseus de Lisboa e Porto.
Natural de Beja, este benfiquista de 40 anos entrou recentemente para a história musical portuguesa com uma marca atingida com Miguel Araújo no início do ano: juntos, a dupla conseguiu esgotar 17 noites nos Coliseus de Lisboa e Porto. Terá sido, até agora, o ponto mais alto de uma carreira musical que se iniciou com o LP O Mestre do Fado. Os primeiros passos, recorda, deu-os aos oito anos, com o estudo do clarinete. Mas foi em Lisboa, e já com o primeiro lugar num concurso local de jovens fadistas no currículo, que conheceu Mário Pacheco, juntando-se ao elenco do Clube do Fado. Também na capital acabaria por subir ao palco no musical Amália, de Filipe La Féria, onde desempenhou durante quatro anos o papel de Francisco Cruz (o primeiro marido de Amália). Alguns meses depois de ter cantado para quase 50 mil pessoas, António Zambujo regressa já em Setembro aos Coliseus, novamente com Miguel Araújo, para outra ronda de concertos. Nova 'goleada' à vista?"

Entrevista de Luís Inácio, a António Zambujo, in Mística

Rumo ao 36

"Sou do Benfica desde que me lembro de ter vida. Sou adepto, quando posso, gosto de ir aos jogos, não sou (muito) tendencioso, gosto de ver apenas o meu clube a jogar bem e a ganhar títulos, mas, dentro daquilo que é um benfiquista que vibra com o clube, tento ser o mais imparcial possível e reconhecer se o Benfica não merecer ganhar um jogo ou um título. Herdei esta paixão do meu pai, tal como o meu irmão mais velho, Duarte. Lá em casa brincamos e dizemos que quem gosta de futebol é do Benfica e quem não liga é do Sporting (a minha mãe e o meu irmão Tomás), o que no nosso caso é mesmo verdade. Muitas vezes abdico de ir ao estádio para ver um jogo em família. Nos dias de jogo, o jantar é limitado aos 15 minutos do intervalo, conta a vontade de quem não liga a futebol. Sempre foi assim, nunca mudou, e nunca irá mudar.
Como, por exemplo, esta noite, que cheguei de Zurique e fui directo a casa dos meus pais ver o Benfica, e o jantar foi à pressa. Grande vitória a jogar fora contra o Marítimo, com 10 jogadores desde os 37 minutos. O Benfica é mesmo isso. Como nós, milhares de famílias 'interrompem o jantar' para ver um jogo do Benfica. Milhares de famílias e amigos se juntam em dia de jogo, vibram, festejam e, quando não ganhamos, sofrem. O Benfica é mais do que um clube de futebol - é uma família gigante! E é bom fazer parte dela.
O Benfica foi tricampeão. Festejei, gritei até ficar rouco, usei a camisola do Benfica no trabalho, sorri até não conseguir mais. No próximo ano vou continuar a assistir aos jogos, a sofrer mais um bocadinho e a vibrar com este clube que amo. E, como no próximo, cá estarei nos anos que me restam viver.
Viva o Benfica!"

Lourenço Ortigão, in Mística

O guardador de memórias

"Joaquim Macarrão dedicou uma vida inteira ao Benfica. O seu contributo para a preservação e comunicação da nossa memória orgulha-nos a todos.

Possuía uma voz encorpada, de fazer inveja aos locutores de rádio. Fogoso na têmpera, sobressaía-lhe com frequência a rispidez na defesa do clube e das suas causas, uma qualidade tão própria do desportista aguerrido que orgulhosamente também foi. Durante mais de seis décadas personificou como poucos a dedicação a um intuito colectivo - o da protecção da nossa história -, antes da reforma e a saúde o terem levado, já bem para lá dos 80. Joaquim Macarrão foi, sem sombra de dúvida, o maior e mais respeitoso guardador de memórias que conheci. Homem de baixa estatura, mas demasiado grande para ser esquecido, sobretudo num tempo em que a bandeira do património cultural é no Benfica mais visível que nunca.
Joaquim habitava com uma alma única o seu posto de trabalho no velho Estádio da Luz, rodeado de memórias de todo o feitio, numa dependência do museu para lá da porta dos fundos, onde só entravam os da casa, incluindo os xilófagos e os ratos. Nesse espaço restrito, consultei várias vezes o arquivo de periódicos, o que me permitiu receber de Joaquim, e de outros ases que o visitavam, inolvidáveis lições de história. Julinho, Rosário e Francisco Calado eram algumas das aparições de carne e osso.
Joquim tinha a secretária marejada de escritos. Pedaços soltos de papel onde anotava tudo o que mexia com os factos do seu tempo. Lembrando um arqueólogo no seu trabalho minucioso, era comum irmos surpreendê-lo a vasculhar os calhamaços da Stadium, do semanário O Benfica ou de A Bola, entre outros.
Mergulhado neles, varria memórias de um ponta à outra, sem nunca se cansar. Fui descobri-lo, certo dia, na companhia de Julinho, a rever num jornal de 1943 o mirabolante 12-2 ao FC Porto. 'Do outro mundo!', declarou com um dedo indicador a martelar a notícia e o outro estendido na direcção do antigo artilheiro. 'Só este senhor meteu quatro!'
Fiquei ali a contemplá-lo longamente enquanto desfiava o resto da história na presença do herói. As palavras e os gestos. Os sorrisos e as rugas. Tudo nele semeava respeito e admiração. Porque o Benfica que havia nele era uma árvore nodosa e grande.

Oito épocas de encarnado
Discreto mas de obra feita
Aos 15 anos, Joaquim Macarrão representava já a equipa principal do Sport Benfica e Lagos, filial benfiquista na terra onde nasceu, a 5/5/1920.
Recomendado ao clube mãe, viria em 1937 para Lisboa, acumulando desde logo as funções de futebolista e funcionário.
Mas a carreira desportista viria a encerrá-la algo prematuramente, na época de 1944/45. Um plantel recheado de bons jogadores, aliado a insistentes problemas físicos - uma clavícula, uma costela e um joelho na lista de fracturas -, impediram-no de singrar, como gostaria, na equipa de honra.
O campeonato de 1938/39, que contou com a sua participação fugaz no primeiro team, ficou-lhe especialmente 'atravessado'.  Escreveria, a propósito: 'Não fui campeão nacional por nos terem roubado o título no Porto. Seria o 4.º campeonato seguido do nosso clube.' Nessa mesma época, integrou o 11 que bateu nos quartos de final o Nacional da Madeira, por 4-0, naquela que foi a primeira edição da Taça de Portugal.
Não obstante um contributo discreto, deixou expresso nos seus escritos o orgulho pela obra feita: 'Ajudei a vencer sete campeonatos entre as diferentes categorias e obtive 86 golos para o nosso glorioso clube'.
Despediu-se onde começou, na sua terra natal, frente ao Sport Lisboa e Lagos, a 26/2/1945.

Dedicação sem par
O expediente do serviço de sócios, os currículos dos atletas, a organização desportiva, a venda de bilhetes, os relatórios anuais do clube, as assembleias gerais, as eleições, as alterações de estatutos... Tudo isto num homem só, entre 1937 e 2003.
Foi, todavia, no trabalho com a memória que Joaquim deixou marca especial. 'Há muito que fazer a respeito de toda a problemática dos troféus, taças e outros objectos que estão em nosso poder', escreveria, em 2000, em carta dirigida ao clube.
'O meu maior desejo é ver a inauguração e como irá o novo museu funcionar'. Não veria. Morreu a 25/1/2008.
Acreditamos, porém, que lhe fizemos jus.
No Sport Lisboa e Saudade deixou igualmente obra feita. Em 1973, nas comemorações do 30.º aniversário desta secção, é-lhe reconhecida a 'assiduidade e disciplina' com a atribuição de uma estatueta. O jornal do clube classificava-o assim: 'Dos grandes animadores, dos grandes obreiros e dos grandes esforçados da obra realizada'.

1911, o primeiro 'conserto'
Entre a panóplia de objectos e documentação à guarda de Macarrão, encontrava-se os livros de facturas. Entre elas a referente ao primeiro acto de restauro de que há registo.

Aconteceu em 1920
O ano de nascimento de Joaquim Macarrão
- SLB dominante
O SLB vence pela 8.ª vez o Campeonato de Lisboa. Conquista também a sua primeira Taça de Honra.
- Adeus, Cândido
Cândido de Oliveira faz o último jogo oficial pelo SLB, para se tornar fundador e futebolista do Casa Pia AC.
Referência
Vítor Gonçalves assume o cargo de capitão da equipa de honra, que manteria durante grande parte dos anos 20. Uma referência de sempre."

Luís Lapão, in Mística

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Eusébio Cup fica bem ao Torino

"A homenagem ao Grande Torino foi uma festa carregada de simbolismo. Depois do vídeo de apresentação/evocação, ver os adeptos italianos a gritar Benfica foi corolário de uma bonita amizade entre dois emblemas amigos e antigos. O troféu Eusébio Cup fica muito bem, e terá enorme destaque, nas vitrinas do museu do Torino. Os agradecimentos emotivos dos dirigentes do Torino estavam cheios de autenticidade e emoção.
O Benfica é muito mais que um clube de futebol, e isso ficou bem demonstrado na passada quarta-feia na Eusébio Cup, e disso devemos orgulharmo-nos.
Esta pré-época do Benfica segue segura. Gostei mais do jogo na Áustria contra os alemães, do que aquele fizemos contra os italianos no Estádio da Luz. A ideia de colocar Gonçalo Guedes pelo meio, atrás do avançado parece resultar. Temos muita qualidade nas alas (Salvio, Carrillo, Zivkovic, Cervi, Carcela) e assim ele terá mais oportunidades.
Não creio que esta acalmia do mercado seja para ficar. Estou certo que haverá mexidas nos adversários até ao fim do Agosto. Não é meu problema como vão os adversários pagar as contas, eu limito-me a constatar aquilo que apresentam dentro das quatro linhas. Não duvido que o FC Porto ainda se reforçará, não sei se com Moutinho e Rafa, mas estou certo que vai aparecer forte. O Sporting pode não ganhar nada na pré-época, mas vai aparecer muito próximo dos três tradicionais candidatos, e como no último ano, a lutar pelos títulos (o primeiro dos quais apenas com o Benfica).
Para vencer o tetra só um Benfica muito competente e forte, porque e concorrência vai estar a um nível alto. Veremos o ensaio geral frente ao Lyon, a caminho de Aveiro para começar a vencer."

Sílvio Cervan, in A Bola

Três apontamentos

"1. A recandidatura de Luís Filipe Vieira é uma das melhores notícias que os benfiquistas poderiam receber nesta pré-temporada. Vieira é hoje o cimento de todo um projecto grandioso e ganhador, que conseguiu as realizações que todos conhecem, que tem dado os resultados que estão à vista, mas que ainda não está inteiramente concluído. O Benfica precisa de Luís Filipe Vieira para se sedimentar no lugar a que chegou. Sabemos como o desporto é volátil, como custa chegar ao topo, e como é fácil cair de lá.
Desde 2001, o nosso Glorioso encetou uma extraordinária caminhada de encontro à sua grandeza e à sua história. Não podemos parar. E com Luís Filipe Vieira temos a garantia de que o Benfica não irá parar.
2. Os jogos da pré-época têm deixado excelentes indicações. Quer quanto aos reforços, quer quando à mecanização das movimentações colectivas. E até mesmo em relação a alguma frescura física que a equipa já evidencia. Conseguimos resistir às investidas do mercado (Jardel, Lindelof, Fejsa, Salvio, Jonas...), consigamos mais um bom médio ofensivo e teremos plantel para partir claramente na pole-position com vista ao 'Tetra'.
3. Já não me recordo com muita clareza de Artur Correia no Benfica. Lembro-me dele no Sporting, nos EUA, e na Selecção Nacional. Recordo-me, também, de não ter sido um jogador feliz com as lesões e com alguns problemas de saúde - que lhe precipitaram o fim da carreira, e talvez tenham sido prenúncio de uma morte também ela precoce. O 'Ruço' ficou na história do nosso Clube e do futebol português como um dos melhores laterais-direitos de sempre.
Paz à sua Alma."

Luís Fialho, in O Benfica

Tranquilo

"O Tri já é passado. Desde quarta-feira, e do jogo com o histórico Torino para a Eusébio Cup, os dados estão lançados para a época do Tetra. Para trás ficaram os ensaios amigáveis com boas indicações para a grande estreia - a discussão da Supertaça no início de Agosto.
O filme vai estar em exibição até Maio e os principais actores já decoraram bem os seus textos. A desempenhar os pápeis principais, os heróis, os bons da fira, os galãs, temos o plantel da equipa com mais títulos conquistados em Portugal. Na direcção dos actores está Rui Vitória, o homem que, há um ano, tinha o machado em cima da cabeça e, no fim da época, deu a bofetada de luva branca em quem não acreditava no seu valor. Na realização e produção do filme 2016/17 está o presidente que portistas e sportinguistas amam odiar. E, vá, meia dúzia de Benfiquistas que têm agora a grande oportunidade de apresentar uma candidatura à presidência do SL Benfica e mostrar o seu ponto de vista e o rumo que querem para o Clube. É assim a democracia.
Como maus da fita, os do costume. De um lado, uma equipa destroçada e sem alma, liderada por um presidente que ganhou tudo - e sabemos muitas vezes de que forma... - e agora, nada. Do outro, a dupla megalómana do Campo Grande, que encheu a boca no ano passado a dizer que o título estava no papo e está a sais de frutos desde a apresentação da factura por Mitrogolo.
Luzes, câmara, acção e tranquilo. O trabalho bem feito dá sempre frutos. Mesmo que alguns artistas principais saiam do elenco, há outros que chegam e cumprem - ou até melhoram - o papel dos antecessores. É assim o Benfica. É assim este Benfica."

Ricardo Santos, in O Benfica

Eng. Abreu Rocha

"Esta semana dedico a minha crónica a Armando Abreu Rocha, falecido na semana passada. Conheci-o há quase três décadas e cedo me apercebi se tratar de um homem que vivia intensa e apaixonadamente o Sport Lisboa e Benfica. Sempre disponível para ajudar o clube, foi testemunha privilegiada do período da história benfiquista que mais me fascina (a década de 50), a qual considero, devido à construção do estádio da Luz, ao incremento do movimento associativo e às bases lançadas na organização do futebol, ter sido fulcral para o engrandecimento ímpar da instituição. Por isso telefonei-lhe em Outubro último, com o objectivo de recolher um depoimento sobre a conquista da Taça da Latina e saber um pouco mais sobre o presidente Joaquim Ferreira Bogalho, o 'homem do estádio'.
O entusiasmo com que descreveu a epopeia da Taça Latina - 'Houve muita gente que, quando ouviu os festejos do golo do Arsénio que deu o empate no último minuto, voltou a correr para o estádio' - e traçou a personalidade e empenho de Bogalho, acicatou ainda mais a minha curiosidade, levando-me a iniciar uma sessão prolongada de perguntas que, dadas as respostas recheadas de informaçao e detalhes interessantes, resultou numa conversa que durou três horas e que muito me enriqueceu enquanto benfiquista.
A sua curta passagem pelo cargo de treinador de basquetebol, interrompida durante catorze jogos para dar o lugar a Otto Glória(!), não foi esquecida.
Contou-me que tencionava proceder a algumas alterações que poderiam não cair bem nos sócios e como Bogalho que o tratava por 'Engenheiro', o incentivou a proceder como muito bem entendesse. 
Tenho pena que essa tenha sido a nossa última conversa."

João Tomaz, in O Benfica

Benfiquismo (CLXXVI)

Redacção do jornal O Sport Lisboa
1913 a 1915

Este foi o 1.º jornal oficial do SL Benfica...
...em 1942 regressou de vez!

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Benfica continua a construir futuro

"Luís Filipe Vieira não tinha outra opção que não a recandidatura. Só isso faz sentido.

Luís Filipe Vieira: a recandidatura
1. No passado dia 3 de Julho, 7 anos depois da minha primeira eleição, como Vice-Presidente do Sport Lisboa e Benfica, tendo Luís Filipe como Presidente, escrevi isto:
'7 ANOS DEPOIS...
A 3 de Julho de 2009, fui eleito, pela primeira vez, Vice Presidente do Sport Lisboa e Benfica. Depois, haveria uma reeleição, em 2012, num mandato que acabará em Outubro deste ano. 7 anos com 4 Campeonatos, 1 Taça de Portugal e 6 Taças de Liga. E com 2 finais europeias, infelizmente perdidas. Compensadas com 3 Taças dos Campeões (1 no futsal e 2 no hóquei em patins).
Luís Filipe Vieira merece o sucesso que tem tido. E o Benfica merece que os próximos anos, com Luís Filipe Vieira, continuem na senda deste grande sucesso. Com tetra e 1 título europeu... porque... «Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce»!
À BENFICA!'
Ontem, no dia do lançamento oficial da sua candidatura para um novo mandato... apenas repeti o que, então, tinha escrito:
«Luís Filipe Vieira merece o sucesso que tem tido. E o Benfica merece que os próximos anos, com Luís Filipe Vieira, continuem na senda desse grande sucesso. Com Luís Filipe Vieira combati por aquilo em que acredito, por aquilo em que acredito, por aquilo que me ensinaram o que significa ser do Benfica. Defendi o que, na minha opinião, eram, em cada momento, os interesses do Sport Lisboa e Benfica.»
Com o mesmo fervor e com as mesmas paixão e garra que o fiz enquanto sócio.
Porque, acima de tudo, inclusivamente das minhas funções de Vice-Presidente, sou sócio e adepto. Fantástico (no que a palavra tem de paixão sem que se confunda com alienação). Não sei ser, nem viver o Benfica de outra forma.
Não consigo deixar de lado a minha personalidade e identidade benfiquistas. Porque, como diria Alex Ferguson, «É preciso que ela (personalidade) saia connosco do balneário, que entre no túnel e que suba ao relvado».
Ora, não podendo eu carregar essa personalidade do balneário, através do túnel, para o relvado... resta-me assumi-la e levá-la para todo o lado.
Tal como Luís Filipe Vieira, acredito, muito sinceramente, que o Benfica pode vir a ser o que sonhei. Porque, também como ele, só quero ganhar!
Somos, efectivamente, o que somos porque alguém, em nosso nome, no passado, ganhou muito mais do que os outros, como nós, honrando esse mesmo passado, muito recentemente, ganhámos muito mais do que os outros.
Temos de continuar a ganhar!
Fazendo uso, conforme os ventos e as condições, do que D. João II nos foi aconselhando («tempos de usar de coruja e tempos de voar como o falcão»), com a consciência de que o medo e qualquer tentativa de conciliação com quem tem como lema principal da sua existência inveja e o ódio ao Benfica, será sempre sinónimo de submissão, que só nos enfraquecerá.
Porque do outro lado - como se percebeu, nesta última época - os outros só entendem uma linguagem: a do olho por olho, dente por dente. Com a consciência, ainda, de que, como diria Ferran Soriano, o «difícil não é chegar ao topo; é manter-se lá!».
E Luís Filipe Vieira sabe disso.
Porque, também ele, quer fazer parte de um destino comum.
Sem medo!
Porque - como ele bem nos ensinou nesta última época - quem tem medo de perder não ganha.
É desses, dos que acreditam em nós e da vontade que, como eles, temos de vencer, que virá a nossa força.
Luís Filipe Vieira não tinha outra opção que não a recandidatura. Só isso faz sentido. Como afirmou António Simões, no seu discurso, aquando da oficialização da recandidatura: «são 13 anos nos quais foi devolvida ao clube a sua essência». Treze anos emque foi devolvida a credibilidade ao Benfica - talvez a sua maior vitória.
E, aí, em particular, o maior elogio é o maior agradecimento que podemos dar a Luís Filipe Vieira!
Além do meu total apoio, repetirei, aqui, apenas, aquilo que afirmei no dia do lançamento da sua candidatura para um novo mandato, onde fiz questão de estar presente, ainda que tivesse de interromper as férias: Luís Filipe Vieira merece o sucesso que tem tido.
E o Benfica merece que os próximos anos, com Luís Filipe Vieira, continuem na senda desse grande sucesso!
Com a certeza de que, no que ao futebol diz respeito, um desejo enorme a concretizar: o tetra já este ano, para, depois começarmos a pensar na conquista do tão desejado 3.º título de Campeão Europeu.
Juntos, e como diria o Presidente, unidos no essencial, ultrapassaremos, uma vez mais, todas as dificuldades, para que o caminho seja sempre o de vitória!
Pelo Benfica!

Artur Correia
2. Morreu Artur Correia. Tão benfiquista quanto eu - ou eu tanto quanto ele - que, um dia, como profissional, tomou uma decisão que eu não tomaria: jogar num rival, o único que contava naqueles tempos.
Ainda assim - como sempre ouvi, porque foi, de entre os ex-jogadores, um dos com quem mais falei, nestes últimos anos -, teve o cuidado (e talvez a necessidade) de explicar o porquê dessa opção... ainda que muitos continuassem a não a entender!
Das conversas que tive, ficarão na memória as histórias, que fascinavam ainda mais quem é deslumbrado com o mundo do futebol e a amizade com que sempre brindava quem o rodeava.
Na memória ficará, ainda, apesar de não ser um «frequentador assíduo» dos jogos da Selecção Nacional fora da Luz, um jogo a que assisti, no Estádio Nacional, onde o Ruço marcou o seu único golo por Portugal. Um golo monumental, daqueles que - marcados do meio da rua - ficam nas nossas retinas para toda a nossa vida.
Artur Correia, apesar de não ter sido sempre jogador do Benfica, foi sempre jogador do Benfica, foi sempre do Benfica! Porque, por mais anos que passassem, por outras aventuras que tenha tido, nunca deixou de ser do Benfica. E à Benfica!
Também ele será, agora, no 4.º anel, um dos mais altos representantes do Sport Lisboa e Benfica, que, a par de Eusébio e Coluna, intercederá por nós, rumo ao Tetra.
Paz à sua alma!

Museu Cosme Damião
3. Ontem, o Museu Cosme Damião comemorou 3 anos de existência! 3 anos a mostrar ao mundo a grandeza de um clube... maior que Portugal. Preservando e divulgando a memória - feita de grandes conquistas, alegrias e emoções, mas, também de algumas tristezas - da história do Sport Lisboa e Benfica!
Para que os que contribuíram ou presenciaram esses momentos de glória os possam recordar e os novos neles de possam inspirar, para os repetir!
Um Museu digno da História que alberga... uma História tão rica que merece um Museu assim!
À BENFICA!!!"

Rui Gomes da Silva, in A Bola

Batotas e fingimentos olímpicos

"Há muito se desvaneceu o espírito fundacional dos Jogos Olímpicos (JO). O dinheiro sem cor descaracterizou, por completo, as cinco cores dos anéis olímpicos. Mesmo assim, e enquanto competição de múltiplos desportos, as Olimpíadas ainda são um momento marcante na vida dos atletas.
Para mim, JO são, sobretudo, atletismo, o mais belo e nobre desporto associado historicamente a este evento quadrienal. Este ano com o aumento inadmissível de trânsfugas de nacionalidades a troco de dinheiro e outras prebendas, e sem a Rússia minada pela trafulhice do doping. Com este caso, podemos, de algum modo, perceber o que foi, durante décadas, a política criminosa de países do bloco soviético manipulando atletas e hegemonizando recordes através de uma política de doping de Estado. O caso da ex-RDA e da própria União Soviética foram o expoente dessa aldrabice forjada em nome de um ideologia. Outra situação que traí o espírito olímpico é a do futebol. Começou pelo artificialismo de, até à queda do muro de Berlim, terem ganho quase sempre as selecções amadoras do leste europeu (de 1950 a 1990: 9 medalhas de ouro em 10 possíveis. Depois: zero...). Com um estatuto híbrido e feito à medida, se forjam agora selecções falsas e feitas para enganar tudo e todos. Este ano, no Rio de Janeiro, talvez devesse ser uma boa oportunidade para o fim desta farsa do futebol olímpico. E, a esse propósito,coitado de Rui Jorge que se viu em palpos de aranha para construir uma representação com o mínimo de dignidade. Negas dos clubes, de jogadores, inacção federativa. Filhos e enteados, em linguagem popular..."

Bagão Félix, in A Bola

Estes joguinhos são uma treta

"Não sou, nunca foi, nem nunca serei treinador de futebol, mas sempre tive uma certa dificuldade em entender estas pré-épocas de equipas que raramente treinam como se jogassem futebol a sério. Às vezes, até parece que o objectivo é mesmo o de provar como não vai ser, de mostrar o contrário do que será, de fazer uma aposta no erro, para garantir que se está preparado para o não repetir.
Parafraseando Jorge Jesus, embora noutra temática, a verdade é que estes joguinhos de preparação são uma treta. Podem ter troféus para atribuir, podem ter honrarias para oferecer, não deixam de ser uma treta sem grande utilidade competitiva.
Admito que sejam importantes para os treinadores que, muito acima das capacidades técnicas do comum dos mortais, são sempre capazes de vislumbrar a agulha no palheiro. Só não sei para que lhes servirá a agulha. Mas eles certamente saberão.
Tenho acompanhado jogos dos candidatos ao título. Do Benfica, do Sporting, do FC Porto. Há sinais interessantes, tal como também há sintomas preocupantes. Há indicações entusiasmantes, tal como há verificações angustiantes. No fim, os treinadores aparecem sempre contentes, dizem que o processo de evolução está a decorrer conforme o previsto e todos ficam de consciência tranquila, porque só mesmo quando entra é que vão ter necessidade de justificar alguma coisa.
Talvez esteja ultrapassada a ideia de que um profissional deve treinar-se como joga. O mesmo rigor, a mesma intensidade, a mesma exigência. Se calhar, hoje, é um disparate..."

Vítor Serpa, in A Bola

Renato Sanches e os clones

"Substituir o fenómeno mais recente do futebol europeu será complicado, principalmente se permitirem que fique a assombrar a casa

Renato Sanches passou como um raio pela primeira equipa do Benfica. Entrou num momento de viragem, ajudou a resolver uma série de problemas a Rui Vitória e, com o caminhar do tempo, foi-se transformando de potencial futuro craque em indispensável até se tornar um epifenómeno à escala planetária. Assinar pelo Bayern Munique foi a maior das jogadas, dele e de quem o guiou nas horas certas. O Europeu de todas as cambalhotas, para o qual estaria fadado a ser alternativa e acabou como estrela, ajudou a compor o ramalhete de uma época que ultrapassou todos os sonhos a uma velocidade tão vertiginosa que arriscaria multa num qualquer dos novos radares das autoestradas portuguesas.
O sonho do menino vai prosseguir na Baviera e por esses campos da Europa, mas na Luz ficou um problema sério: convencer os adeptos de que ele foi mesmo embora e Renatos não caem das árvores nem se semeiam nas academias. Mas também será de lembrar que já havia futebol antes dele e continuará a haver depois de ele partir. Ontem, Rui Vitória viu-se compelido a falar do tema. No lugar que era do Renato não vai jogar um clone, mas sim outro jogador com características próprias a quem apenas poderão pedir aquilo que for capaz de fazer. Vitória diz que o Benfica não contratou cópias e tem razão, embora Cervi seja, para já, o que de mais parecido se podia imaginar como substituto de Gaitán.
Se Renato Sanches foi uma aparição, desafio valente será não deixar que se transforme em assombração."

Danilo

Foi oficializado hoje o 'empréstimo' de Danilo, por um ano... aparentemente com uma cláusula de opção a rondar os €15 milhões.

Apesar de ser um jogador do Jorge Mendes (o Braga só tem 10% do passe), fui surpreendido por esta aquisição!

Começo por confessar que a primeira impressão do Danilo foi má!!! Foi aquele jogo em Braga, apitado pelo Marco Ferreira, onde aos 15 minutos já devia estar na 'rua'!!!
Após um Mundial de sub-20, onde o Brasil fez exibições cinzentas... foi para o Valência. Em Espanha apanhou um Valência em convulsão constante, com 3 treinadores... muitos companheiros lesionados, muitas adaptações, mas mesmo assim, acabou por ser muitas vezes utilizado...

Como as primeiras impressões contam, fiquei com a ideia que seria sempre um '6', mas tanto na Selecção como no Valência foi quase sempre utilizado numa posição mais adiantada...
Não é um Rui Costa (óbvio), mas até é muito parecido com o Renato! Tem força, é bom nos duelos físicos, ofensivamente e defensivamente... é rápido, sabe driblar para a frente... portanto, pode ser uma excelente opção para '8'! Não é jogador de fazer grandes 'aberturas', mas o Renato também não fez...
No 442 que o Benfica usa, o '8' é uma das posições mais difíceis de preencher, porque é fácil 'exigir' um '10' que depois não defende... ou adaptar um '6' a '8', que depois só faz passes para trás e para o lado... parece-me que este Danilo, tem as características ideais para ser o '8' do Benfica!

Recordo que o Benfica nos melhores momentos da época anterior, jogámos com o Almeida e o Eliseu na defesa! Jogadores que 'sobem' pouco... Este ano, se tudo correr bem, vamos ter muitas vezes o Semedo e o Grimaldo em campo, provavelmente em simultâneo... neste cenário, para manter a equipa equilibrada, será necessário ter um meio-campo defensivo mais disciplinado tacticamente...

Uma nota final, tem que controlar os ímpetos agressivos, no Benfica será expulso facilmente! 

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Ainda não temos um 'onze' !!!

Benfica 1 (5) - (6) 1 Torino
Vives (a.g.) (Jiménez, Jonas, Grimaldo, Samaris, Pizzi)


Foi um dia de homenagens, de memórias, emoções, boas e más... Este confronto veio atrasado um bom par de anos! A história acabou por ligar o Benfica e o Torino, e para o bem e para o mal, as duas instituições estão eternamente interligadas...

O jogo foi morno (para menos...), a variável mais surpreendente foi mesmo alguma virilidade dos Italianos... aliás nesta pré-época do Benfica os nossos adversários jogaram sempre a 'sério', talvez o Wolfsburg tenha sido o mais meigo!!!

Se o Benfica marcou num auto-golo após um erro infantil do guarda-redes adversário, o Torino marcou um grande golo, após uma falta inventada pelo árbitro... nem na pré-época!!!!

Não me agrada voltar a este assunto, mas o regresso do Luisão ao 11, voltou a desequilibrar a equipa: na defesa e no meio-campo! As linhas de pressão que tinham ficado tão bem definidas com o Wolfsburg não existiram... isto mesmo fazendo o seu melhor jogo da pré-época!!! O Horta, num jogo onde o espaço para a saída da bola era muito reduzido, não foi capaz de pegar no jogo... A ausência do Pizzi no onze inicial, também criou problemas, já que o transmontano nos jogos com menos espaço é precioso devido às movimentações onde sai do flanco e aparece na zona do Jonas!
No inicio do 2.º tempo, com as alterações, melhorámos ligeiramente... mas sem o Fejsa permitimos alguns contra-ataques...  nos últimos minutos, fomos muito melhores, e até merecíamos ter marcado... O Carrillo ainda longe da melhor forma, terá feito os melhores minutos... e com o Jonas em campo, tudo muda na nossa organização ofensiva!

Apesar da exibição apagada, o mais negativo da partida, foram as potenciais lesões... é importante chegar a Aveiro sem muitos problemas, principalmente na defesa... já que na frente, existem muitas opções! No jogo na Áustria fiquei logo com pé atrás com aquela substituição do Jardel (confirmou-se lesão...), mas o mais azarado da pré-temporada acaba por ser um Zivkovic, que após uns minutos muito promissores com Derby County, ficou K.O. nos primeiros minutos com o Sheffield... logo o jogador que mais me encantou com a bola nos pés!!!! Vamos ser se amanhã não temos más notícias...!!!

Com a anunciada contratação do Danilo, parece que o plantel vai ficar 'fechado' (nas contratações... as movimentações até ao final de Agosto devem-se restringir às saídas...), parece-me claro que vamos ter um plantel melhor que o do ano passado... agora, falta construir um 11 melhor do que o do ano passado, algo que ainda não conseguimos nestes primeiros testes...

Já agora, eu sei que gostamos de ser hospitaleiros, mas 3 vitórias em 9 edições da Eusébio Cup, começa a ser embaraçoso...!!!

Novo mandato na liderança do SLB

"Luís Filipe Vieira decidiu recandidatar-se a um novo quadriénio como presidente do Sport Lisboa e Benfica. A grande maioria dos benfiquistas - na qual me incluo - aplaude a sua disponibilidade.
Assim se consagrá a estabilidade como valor patrimonial de um grande clube e se assegurará continuidade de um trabalho globalmente positivo.
Luís Filipe Vieira tem tido a sabedoria de, com perseverança e solidez, reconstruir um Benfica inovador, ecléctico, profissional e com forte sentido de antecipação face às alucinantes mudanças no mundo da gestão desportiva.
Fê-lo aprendendo com a humildade de reconhecer alguns erros, a ousadia de saber arriscar com fundamento, conciliando, em crescendo, a experiência, a intuição e a exigência. Conjugando, coerentemente, os projectos com a acção e o tempo da palavra com o tempo do silêncio. Soube amadurecer a forma de lidar com os decibéis de certas vozarias e de se distanciar da poluição emocional que anda por aí.
Resistiu, em pleno,a afirmação reputacional de que os benfiquistas se podem envaidecer. Fê-lo com descrição e efectividade. Foi pioneiro em aspectos estratégicos: canal televisivo, museu, direitos de transmissão e outros que, seguramente, vão surgir. Devolveu-nos a haitualidade e normalidade das vitórias e dos títulos. Fortaleceu o património e proporcionou condições invejáveis para os atletas. Investiu, com retorno humano e financeiro, na formação, aspecto de que quase já não tínhamos memória.
Assim, o Benfica continuará a ser a primeira instituição desportiva portuguesa: nas vitórias, no orgulho de pertença, nos novos desafios e projectos."

Bagão Félix, in A Bola

Remoinho de milhões

"Os dados revelados ontem pelo Transfer Matching System (TMS) são esmagadores: até ontem, dia 25 de Julho, só os clubes das cinco principais ligas da Europa, gastaram mais de mil milhões de euros em 146 contratações durante o ano de 2016. É o maior valor de sempre registado a esta data e, atenção, ainda não englobada nenhum dos negócios milionários que se perspectivam para breve: Paul Pogba da Juventus para o Manchester United e Gonzalo Higuain do Nápoles para a Juventus. Só estas duas mudanças vão acrescentar mais de 200 milhões de euros ao bolo!
Os números têm tantos algarismos que às tantas se tornam quase impossíveis de ler, mas não é preciso entendê-los na perfeição para perceber que estamos a entrar de vez num remoinho de milhões e mais milhões. Os ingleses estão de bolsos cheios com o novo acordo de televisão e, com isso, provocam o efeito dominó pelo resto do continente, distribuindo dinheiro que depois é gasto em cascata - e até algumas 'pingas', mais ou menos pesadas, acabam por chegar a Portugal.
Pagar 120 milhões de euros por Paul Pogba pode parecer uma loucura, sobretudo quando comparamos com o negócio de Cristiano Ronaldo. Mas o médio francês, cuja qualidade não pode ser posta em causa por causa de um Europeu abaixo das expectativas, será apenas fruto do contexto. Isto é: há duas ou três temporadas, ninguém pagaria tanto dinheiro por este Pogba; da mesma forma, se Cristiano Ronaldo tivesse agora 24 anos (a idade que tinha quando se mudou do Manchester United para o Real Madrid), facilmente ultrapassaria os 200 milhões de euros.
Os recordes existem para ser batidos. No futebol, não surpreende que os números cavalguem de forma tão vertiginosa, sobretudo quando já se percebeu que há muita gente interessada em fazer rodar os jogadores para ganharem comissões a cada negócio. A palavra já pouco vale e já entrámos na era em que os contratos também já valem pouco. Afinal, como dizem os norte-americanos, é o dinheiro que faz o Mundo girar."

Roleta russa

"Podemos dizer que muitos atletas russos andaram, ao longo dos tempos, a 'brincar' com coisas sérias. Ser desportista profissional, mas fazer depender o respectivo rendimento do consumo de produtos proibidos é lamentável. E, sinceramente, nem estou a pensar nos problemas que isso acarreta para a sua saúde. Hoje, aliás, ninguém desconhece os perigos que enfrenta. Quem julga que é por aí que deve seguir... siga. A questão é que essas práticas são sinónimo de batotice. Quantos títulos e medalhas, em Europeus, Mundiais ou Jogos Olímpicos, nas mais diversas modalidades, podiam mudar de dono caso todos jogassem 'limpos'... ou 'sujos'. Assim sendo, defenso que muitos russos não compitam no Rio de Janeiro.
Mas ser contra os trapaceiros não significa, por si só, apoiar esta verdadeira 'caça às bruxas' que se está a tentar fazer no desporto russo. Como é que se pode considerar legítimo, por exemplo, que se impeça alguém que nunca teve um controlo positivo de marcar presença nos Jogos Olímpicos?
Mais interessante: quantos atletas, de outras nações, vão ao Brasil lutar por medalhas depois de, no passado, terem sido castigados exactamente por consumo de 'doping'? Vários! Mas, defendem alguns, após cumprir castigo estão aptos a competir. Pelos vistos, mais aptos do que um qualquer russo da equipa de atletismo, toda ela barrada. Este critério não se compreende e vai fazer com que Putin esteja atento aos outros batoteiros. Vai começar um jogo perigoso, uma autêntica roleta russa."


PS: Até pode ser injusto para alguns atletas, mas o 'castigo' neste caso, é contra os dirigentes Russos, que organizaram durante todos estes anos, um esquema mafioso... e quando foram descobertos (ainda não pediram desculpa...), tentaram encobrir e desvalorizar tudo!!! Este é um problema cultural, na Rússia... e se não houvesse castigo, os batoteiros seriam premiados!!!!
Haverá outos Países com esquemas idênticos?!
Claro que sim: China... os EUA na velocidade no passado... o meio-fundo Inglês neste momento é muito suspeito (a team Salazar...)... os espanhóis no passado... Outras modalidades como a Canoagem, o Halterofilismo...etc... Mas o facto de existirem outros batoteiros, não invalida, que os batoteiros que foram apanhados, não sejam penalizados!!!!

Nem o Brexit travou loucura...

"Nada trava pura loucura, pulverizando recordes, no futebolístico mercado de transferências. Nem o Brexit, que se supunha ir preocupar os clubes ingleses, face à desvalorização da libra. Mas eles são tão ricos que mais 11% por causa do novo câmbio parece ser-lhes igual.
Chegada de Guardiola ao City e do Mourinho ao United intensificou labaredas (até por implicar reacções na Premier Liga, vide Chelsea, Arsenal, Liverpool...). Guardiola sonha, por exemplo, tirar Kroos ao Real Madrid e Thiago Alcântara ao Bayern. Mourinho já conseguiu Ibrahimovic e estará pertinho de chamar a si Pogba, médio francês que nem brilhou no Europeu mas obriga a fasquia de €120 milhões, varrendo transferências de Bale e de Ronaldo!
A Juventus, toda poderosa na Itália e decidida a tudo por tudo para voltar à máxima glória europeia, nada se incomodou com cláusula de rescisão de Higuain no Nápoles: 90 milhões, já está!
Crise financeira na Europa? Nem ao de leve no futebol; acima de €1000 milhões já movimentados! E vá lá saber-se até onde irá este recorde, no final de Agosto... Os clubes portugueses procuram aproveitar. Benfica vai em 60 milhões, de Renato + Gaitán (estranho é o Atlético de Madrid pagar só 25 milhões por Gaitán e, em sentido inverso, Jiménez ter custado 22 milhões), decide saída de Talisca (20 milhões?) e hesita em arrecadar mais cerca de 60 milhões por Lindelof, Salvio e Jardel. Sporting coloca em píncaros o valor de João Mário, William, Patrício, Slimani (proeza seria nenhum sair!). FC Porto tem muito menor potencial no plantel, mas só comprar não deverá ser-lhe possível... Quer Rafa. Mas o SC Braga, até porque nem metade dos direitos económicos são seus, insiste na bitola 20 milhões."

Santos Neves, in A Bola

Benfiquismo (CLXXIV)

Grand Torino
3 de Maio de 1949
Jamor

A tarde em que a morte desceu do céu...

"Já se cumprem 67 anos sobre o desastre de Superga. Regressado de Lisboa, o avião que transportava o «Grande Torino» despenhou-se quando se aproximava de Turim. Nesse dia, o clube deu um passo definitivo para a eternidade das lendas. Agora, o Torino regressa a Lisboa.

Quando fez o avião correr pela pista da Portela e elevar-se molemente como uma gaivota preguiçosa nos céus de Lisboa, o comandante Pier Luigi Meroni estava longe de pensar que esse poderia vir a tornar-se num voo complicado. Aliás, Meroni era um piloto com experiência e conhecida amplamente o trimotor G.212 I-ELCE que comandava, bem como o percurso que previa uma escala técnica em Barcelona.
E estava um dia bonito, ainda por cima. Tanto assim que a primeira etapa da viagem decorreu de forma agradável e absolutamente sem incidentes. É claro que os tempos eram outros. Em 1949 não se ia de Lisboa a Turim nas poucas mais de duas horas de hoje. Às 9h45, o controlador aéreo do aeroporto de Lisboa registou, muito provavelmente, a partida do aparelho da companhia Avio-Lire-Italiana com satisfação de mais um dever cumprido. A chegada a Turim estava programada para cerca das 17h15. O voo não cumpriria o seu destino.
Convenhamos que Pier Luigi Merino já não saiu de Barcelona com a mesma tranquilidade com que tinha iniciado a sua manhã portuguesa. Sobre o norte de Itália chovia há três dias. Na véspera, uma intempérie terrível abatera-se sobre a Ligúria e o Piemonte cortando estradas, danificando edifícios, deixando gente sem abrigo. Razões mais do que suficientes para um redobrar lógico de todas as atenções.
Superga dista meia dúzia de quilómetros de Turim. É um local aprazível, de passeios domingueiros em redor de uma colina onde se ergue a basílica e o cemitério onde repousam os velhos reis italianos de casa de Sabóia. Mas talvez sejam precisamente os sossegos as atracções milenares das tragédias.
Em Maio os dias já são longos. Todavia, nessa tarde escurecera cedo por causa das nuvens negras que se acautelaram nos horizontes e foram descendo do céu como um prenúncio de morte. Por volta das cinco horas da tarde um nevoeiro espesso atravessou-se no caminho da aeronave que já deixara Lisboa há tanto tempo. Pier Luigi Merino e os seus coadjuvantes, o co-piloto Cesare Banciardi, o telegrafista Antonio Tangrazi e o mecânico Caleste D'Inca, iam fazendo os possíveis e impossíveis para se orientarem dentro de um «cockpit» no qual o altímetro deixara pura e simplesmente de funcionar. Diria mais tarde o relatório do inquérito levado a cabo pelo governo italiano que as fortíssimas rajadas de vento terão provocado a deslocação do aparelho para uma rota diferente da habitual. Merino continuou a descida de aproximação ao aeroporto, tudo indica que convencido de já ter ultrapassado os montes de Superga e a colina da basílica que se ergue até praticamente setencentos metros de altura. Seria um erro terrível e irremediável. Quando os recortes da igreja surgiram, aterradores, na frente de uma tripulação ansiosa, era já demasiado tarde. A máquina choca contra a cúpula do templo e despenha-se em chamas pelo derredor.
Tudo terá sido, porventura, demasiado rápido para o drama colectivo dos pânicos, das preces e das certezas inequívocas do fim. Exactamente às 17h20 a notícia caiu, taxativa e crua, nas redacções dos jornais italianos: «O avião-especial - um trimotor da companhia Avio-Lire-Italiane - no qual viajava de regresso a equipa do Torino caiu perto de Superga. Morreram todas as pessoas que seguiam a bordo da aeronave - 31, incluindo a tripulação». Os adjectivos tinham ainda de esperar mais um pouco. Aliás, os próprios jornais sentiram na intimidade a extensão dessa noite de desgraça. Renato Casalbore, director do «Tuttosport», Renato Tosatto e Luigi Cavallero, redactores da «Gazzeta del Popolo» e do «La Stampa», eram três dos cadáveres carbonizados que se espalhavam por entre uma amálgama de ferros entortecidos. Como se o infortúnio fizesse questão de abraçar a todos.
A equipa que fez nascer a lenda
Chamavam-lhe em Itália, «Il Grande Torino». E os jornais e jornalistas, sempre dispostos a promover heróis, referiam-se-lhe como «uma das mais poderosas e maravilhosas equipas que o futebol italiano jamais soube exprimir». Falava-se, ao tempo, das extraordinárias proezas de uma «squadra» capaz de marcar 125 golos no campeonato de 1947-48 e de golear o Alessandria por 10-0 na mesma época. E ninguém punha em causa que tal obra de arquitectura futebolística tinha sido obra de um industrial turinense, Ferrucio Novo, conhecido por «commendatore Novo», chegado à presidência do Torino aos 42 anos, em 1939, com vontade de transformar o clube num exemplo de organização à... inglesa.
Ferrucio Novo rodeou-se de sábios. Sobretudo dois: Roberto Copernico e Ernst Egri-Erbstein, um trânsfuga húngaro que chegou a ser por mais de uma vez treinador da equipa. Foram eles os responsáveis pelo reforço de um conjunto que sonhava com o título italiano. E a obra foi ganhando corpo com a aquisição, a pouco e pouco, daquela que seria a sua constelação de estrelas: o médio de ataque Ossola, do Varese; o ponta-de-lança Gabetto, da Juventus; os alas Menti, da Fiorentina, e Ferraris, do Inter, Mas o passo decisivo deu-se no momento em que Novo garantiu o concurso da dupla de contro-campistas do Veneza, Ezio Loik e Valentino Mazzola. E Mazzola rapidamente se transformou na grande figura do Torino, «capitão» e símbolo de uma «squadra» que venceria nada menos de cinco «scudetos» consecutivos, embora interrompidos pelas épocas de 43/44 e 44/45 durante as quais as sequelas da II Grande Guerra impediram a disputa do campeonato italiano.
O Torino era um clube de ideias futuristas e de uma dinâmica imparável. Pretendia formar dois conjuntos de igual qualidade, um para disputar as competições internas, outro com nomes mais sonantes para viajar pelo Mundo como «Globetrotters», recebendo os «cachets» elevados que esses nomes garantiam. Seria o «Torino Esportazione». E a curiosidade do mundo para ver esta «squadra da sognare» ia-se fermentando na maneira como ela se passeava nas Taça Latina e sobretudo no «calcio» onde conseguira manter-se invencível em casa durante nada menos de 88 jogos consecutivos.
Quando a mecânica da morte, da forma brutal como geralmente funciona, pôs um fim a esta sede insaciável de vitórias do Grande Torino, a equipa então treinada pelo inglês Leslei Lievesley seguia na frente da classificação e, no domingo anterior à sua viagem a Lisboa, empatara 0-0 no campo do Inter, obtendo dois novos recordes para a época: 19 jogos seguidos sem perder no campeonato e dando 10 jogadores titulares à selecção italiana. Seria esse empate, que lhe garantia praticamente o título de 48/49, que faria o presidente Novo dar a autorização definitiva para a deslocação a Portugal onde o Torino defrontou o Benfica num jogo de homenagem a Francisco Ferreira, «capitão» dos 'encarnados' e da selecção portuguesa.
O Benfica venceria por 4-3 num confronto espectacular. Para o Torino seria a última derrota antes daqueloutro, dolorosa e irrevogável. A Federação Italiana, com o acordo expresso de todos os outros clubes, declarou o Torino campeão a título póstumo. A «squadra granata» respeitou os seus derradeiros compromissos apresentando a equipa júnior.
Os adversários, cavalheirascamente, jogaram contra eles com jogadores da mesma idade. Seriam precisos vinte e sete anos para que o Torino voltasse a ser campeão de Itália. A calamidade de Superga pusera fim ao que o «L'Equipe» chamava «orgulho do desporto latino». A morte destruíra a técnica e a beleza plástica de um grupo de futebolista extraordinária mas dera-lhes, em troca, um lugar único na lenda e no catálogo dos heróis. Porque, como toda a gente sabe, só a morte nos dá a eternidade.
No Jamor, antes de Superga
A última derrota do Torino
«A vitória do Benfica sobre o Torino foi nítida, regularíssima e teve brilho», escrevia-se em «A Bola». E logo abaixo: «Mas a categoria dos italianos em nada ficou apoucada». A equipa redactorial era de luxo: José Olímpio, Cândido de Oliveira e Alberto Valente. E, como é lógico, os elogios a uma equipa e a outra multiplicaram-se. Aos italianos porque eram... o Grande Torino; aos portugueses porque foram capazes de vencer o... Grande Torino. Por curiosidade, a ficha do jogo aqui fica: 
Estádio Nacional
Árbitro: Harry Pearce (inglês)
Benfica: Contreiras (depois, Pinto Machado); Jacinto e Fernandes; Moreira, Félix e Francisco Ferreira «cap»; Corona, Arsénio, Espírito Santo (depois, Júlio e logo Vítor Baptista por lesão deste), Melão e Rogério.
Torino: Bacigalupo; Ballarin e Martelli; Gregor, Rigamonti e Castigliano; Menti, Loik, Gabetto (depois, Bongiorni), Mazzola «cap.» e Ossola
Na primeira parte: 3-2
0-1 por Ossola; 1-1 por Melão; 2-1 por Arsénio; 2-2 por Menti; 3-2 por Melão; 4-2 por Rogério e 4-3 por Menti, de «penalty».
Resultado final:4-3.
Entre os 31 mortos
18 jogadores para a história
A catástrofe de Superga matou dezoito jogadores. A saber: os guarda-redes Bacigalupo e Ballarin II; os defesas Ballarin I, Maroso, Rigamonti e Operto; os centro campistas Grezar, Castigliano, Loik, Mazzola, Martelli e Fadini; os avançados Menti II, Gabetto, Ossola, Grava, Schubert e Bongiorni. Com eles desapareceram igualmente os técnicos Ernest Egri-Esbstein e Leslie Liesvseley; os dirigentes Agnisetta e Civalleri; o massagista Cortina; os responsáveis pelos equipamentos, um agente de viagens, três jornalistas e, logicamente, a tripulação do aeroplano. O funeral dos homens do Grande Torino foi uma terrível imagem de dor de todo um país."

Afonso de Melo, in O Benfica