"Há muito se desvaneceu o espírito fundacional dos Jogos Olímpicos (JO). O dinheiro sem cor descaracterizou, por completo, as cinco cores dos anéis olímpicos. Mesmo assim, e enquanto competição de múltiplos desportos, as Olimpíadas ainda são um momento marcante na vida dos atletas.
Para mim, JO são, sobretudo, atletismo, o mais belo e nobre desporto associado historicamente a este evento quadrienal. Este ano com o aumento inadmissível de trânsfugas de nacionalidades a troco de dinheiro e outras prebendas, e sem a Rússia minada pela trafulhice do doping. Com este caso, podemos, de algum modo, perceber o que foi, durante décadas, a política criminosa de países do bloco soviético manipulando atletas e hegemonizando recordes através de uma política de doping de Estado. O caso da ex-RDA e da própria União Soviética foram o expoente dessa aldrabice forjada em nome de um ideologia. Outra situação que traí o espírito olímpico é a do futebol. Começou pelo artificialismo de, até à queda do muro de Berlim, terem ganho quase sempre as selecções amadoras do leste europeu (de 1950 a 1990: 9 medalhas de ouro em 10 possíveis. Depois: zero...). Com um estatuto híbrido e feito à medida, se forjam agora selecções falsas e feitas para enganar tudo e todos. Este ano, no Rio de Janeiro, talvez devesse ser uma boa oportunidade para o fim desta farsa do futebol olímpico. E, a esse propósito,coitado de Rui Jorge que se viu em palpos de aranha para construir uma representação com o mínimo de dignidade. Negas dos clubes, de jogadores, inacção federativa. Filhos e enteados, em linguagem popular..."
Bagão Félix, in A Bola
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