quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Caldeirada

"Um plano televisivo sem legendas mostrava-nos os presidentes do Braga, do Benfica e da Liga, firmes, hirtos e com caras de estarem sentados sobre uma almofada de punaises. No relvado, o espetáculo tinha parado por falta de corrente elétrica, enquanto nas bancadas da Pedreira energia era o que não faltava, fazendo ecoar por todo o país os sons da falta de civismo que grassa no reino.

Imaginar o que passava pelas mentes daqueles três Césares à varanda do Circus Maximus transporta-nos para o domínio do surreal, ao invés da premissa de dignificação de um espetáculo de qualidade, credibilidade e seriedade. O estádio de Souto Moura, oitava maravilha da arquitetura desportiva, entrava no anedotário das histórias mal contadas, por negligência do eletricista, com a sua caldeira topo de gama a oferecer aos visitantes o prazer de um duche frio em cima da banhada tática que lhes custara a liderança isolada do campeonato.

Os caprichos de um fusível ou de um termoacumulador não entravam no imaginário do “outro mundo” a que aludiu o guarda-redes Artur Moraes, sem menosprezar o seu conhecimento de causa, mas enfileiram agora na galeria das distrações a que um determinado sector recorre por sistema.

Porém, a falta de água quente que suscitou uma defesa da honra pela SAD minhota e um salomónico esclarecimento do chefe da Liga, testemunha da caldeira danificada, nada significa quando dois dos intervenientes no jogo acusam um adversário de insultos racistas. É uma situação extremamente grave que carece tomadas de posição firmes de cada um dos caudilhos da tribuna Axa, embora tenda a evoluir à revelia das instituições a caminho do poço sem fundo dos processos disciplinares hipócritas em que estes dirigentes normalmente expiam suas gafes e incongruências.

Liga e Federação vêm há anos encolhendo os ombros ao recrudescimento do fenómeno decorrente das manipulações em torno da famigerada Regionalização que foi colocando os genuínos em pé de guerra contra “mouros” e “espanhóis”, consoante as cores das camisolas. Os insultos contínuos, histriónicos e provocadores animaram a banda sonora daquele jogo até ao primeiro apagão, gritando seu ódio agudo para todo o país ouvir e se amedrontar.

Apesar da aposta declarada numa divisão dos portugueses em azuis e encarnados como forma de fortalecer as lideranças, ninguém, até ontem, associara tal antagonismo regionalista em sementes de racismo, perturbadores da sociedade. As hostes “organizadas” com o patrocínio dos clubes e SAD violam a lei antiviolência com assustadora frequência sem que, até hoje, esse mecanismo, dos mais avançados da Europa, tenha sido acionado por quem de direito, custando milhões ao erário público em operações de segurança pública.

Nenhum dos candidatos a presidente da Federação mostra preocupação com o perigo de explosão desta caldeira de intolerância que vem transformando as confortáveis bancadas das nossas pérolas de arquitetura desportiva em trincheiras para uma comandita alienada. A caldeirada que os desassossega é diferente, embora também vista de preto."


4 comentários:

  1. Ler um artigo isento de um jornalista é coisa (muito) rara e portanto de aplaudir.

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  2. Isento? O quê? Vai lá, vai! Repare-se como este Manha manhoso, admirador dos corruptos e criminosos da bola, vai metendo no seu texto as "farpas" contra o Benfica - banhada táctica ... etc.. Se na trinuna em vez do sr. Vieira tivesse estado o Rei do peido teria escrito o mesmo? E porque não escreveu dessa forma, com o mesmo zelo doutrinário, sobre tudo o que se tem passado no estádio dos Suínos?

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  3. É mesmo assim: a que propósito se vem falar de "banhada táctica"? Que é isso? Como se num ambiente daqueles algum treinador pudesse pôr em prática qualquer espécie de táctica! Escrever uma ideia dessas só pode ser rasteiro e desonesto.

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  4. <span><span>Esclarecimento: o Manha até é benfiquista (mais um estilo Proença...), mas a partir do momento que LVF mandou-lhe uma indirecta (bastante directa), quando este era comentador permamente num programa da TVI, estilo Domingo Desportivo, nunca mais perdoou a 'ofensa', mudando completamente o seu discurso, principalmente nas colunas de opinião, tornando-se num anti-Vieira convicto... e como o Jesus é o treinador do Vieira, 'leva' por simpatia!!!!    
    Por exemplo a 'nossa' Leonor, também nunca foi 'à bola' com o Vieira (nem o Vilarinho), mas apesar disso, as suas crónicas continuam a demonstrar o seu Benfiquismo sem complexos, e apesar de discordar de várias posições e decisões da Direcção, nunca deixa que isso sirva para atacar o Benfica publicamente... ao contrário do senhor Manha, que tem escrito provavelmente os melhores textos anti-Sistema Corruptos, mas quando é obrigado a falar do Benfica (internamente) não se consegue conter...!!!</span>  
    <span></span> 
    <span>Abraços</span></span>

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