sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Benfica-Santa Clara, 3-0 Vinte minutos de luxo após quase uma hora 'à... Schmidt'


"Bruno Lage teve de ir ao banco buscar Kokçu, Di María e Pavlidis para transformar exibição bem insípida numa ponta final brilhante

Há quem diga que não há coincidências. E não há. Bruno Lage nunca vencera um jogo da Taça da Liga e venceu. Pavlidis vinha de um jejum bem prolongado, marcou dois golos e, como cerejinha no topo de bolo bem confecionado, ainda assistira Di María para o golo de abertura. O Benfica segue para a meia-final da Taça da Liga depois de uma hora com ‘cheirinho’ à aguia de Roger Schmidt e, na última meia hora, com ‘cheirinho’ à aguia de Bruno Lage. Não à águia que jogou com o Feyenoord, claro, nem sequer à de Pevidém, antes à das goleadas a Atlético Madrid, Santa Clara, Boavista, Gil Vicente e Rio Ave.
O jogo não começou bem para o Benfica. Como já se esperava, Bruno Lage deixou no banco de suplentes alguns dos titulares dos últimos tempos, como Di María, Kokçu, Pavlidis, Florentino Luís e Tomás Araújo. Talvez por esta opção, o jogo dos encarnados não esteve oleado, também porque o Santa Clara (com oito alterações no onze!) fechou quase todos os caminhos para a baliza de Gabriel Batista. Apenas em dois lances de Beste (3’ e 16’) e num de Arthur Cabral (39’) estiveram relativamente perto de marcar.
Não foi primeira parte entusiasmante, apesar destes três lances e de um remate de Safira (39’) por cima da barra, após jogada brilhante de Klismahn na linha de fundo, ultrapassando António Silva de forma inesperada. Aqui e ali foram-se ouvindo alguns assobios, imerecidos se olharmos para modo como as águias se entregaram ao jogo, compreensíveis atendendo ao jogo demasiado mastigado apresentado pelas mesmas águias.
Sabia-se, porém, que Bruno Lage tinha demasiados trunfos importantes no banco para que o Santa Clara de Vasco Matos pudesse estar demasiado tranquilo para o que ainda faltava jogar. E assim foi quando, logo ao intervalo, Di María entrou para o lugar de Amdouni e Kokçu substituiu Renato Sanches. Se o primeiro tempo fora demasiado chocho por parte do Benfica e intenso do lado do Santa Clara, era preciso introduzir algo eletrizante no onze encarnado para que algo pudesse, por fim, mudar. Os açorianos, compreensivelmente, até porque não jogavam com qualquer autocarro na frente do seu guarda-redes, antes, apenas, um bem mexido 3x4x3 que se transformava num 5x3x2 a defender, fecharam o máximo de espaços possíveis para as progressões do Benfica.
A eletricidade necessária ao Benfica, porém, não apareceu de um momento para o outro. Só mesmo quando Pavlidis entrou para o lugar de Beste e os encarnados passaram a jogar, finalmente, com dois avançados mais fixos, digamos assim, o prato da balança se desequilibrou em definitivo. Ainda antes do primeiro golo, o Santa Clara desperdiçou belíssima oportunidade de golo, com Gabriel Silva, isolado sobre a esquerda, rematar muito por cima da barra da baliza de Trubin.
Honra e mérito ao golaço de Di María, claro que sim, com um volei fulminante de pé esquerdo, mas honra e mérito para Pavlidis, que foi à linha de fundo, como se fosse uma espécie de extremo, cruzar direitinho para a canhota de campeão do Mundo de 2022 fazer o que faltava.
Faltavam, porém, os dois golos do grego que não marcava há uma série de jogos. Pavlidis fez o primeiro de cabeça, após cruzamento de Carreras; o segundo com um pontapé fortíssimo e indefensável para Gabriel Batista. Se há quem precise de golos para viver e respirar, são os pontas de lança. Agora, com estes dois golos e uma assistência, o 14 da Luz volta a respirar a plenos pulmões e recupera, de algum modo, a alegria de jogar, que poderia estar debilitada após tão prolongado jejum."

Di María: um golo que valeu um bilhete, um bilhete que vale a final four da Taça da Liga para o Benfica


"Extremo argentino entrou na 2.ª parte para marcar um incrível golo que abriu caminho a uma vitória do Benfica sobre o Santa Clara que foi menos tranquila do que o resultado (3-0) possa parecer

Haveria pouco para dizer do Benfica - Santa Clara, um jogo quase sempre enfadonho e mastigado. Quando os jogadores das equipas mais carregadas se queixam de que a qualidade do futebol vai baixar com o calendário atulhado de jogos como está, a 1.ª parte deste jogo dos quartos de final da Taça da Liga (tal como a 1.ª parte do Sporting - Nacional da véspera), é um bom exemplo disso: sendo necessária a gestão do esforço de um plantel, não há rotinas, talvez até nem haja grande entusiasmo para jogar um encontro numa quarta-feira de chuva de uma competição menor.
Mas bem, isso são outros quinhentos.
Dizia então que haveria pouco a dizer do Benfica - Santa Clara, jogo que valia um lugar na final four da Taça da Liga. Até que algures na 2.ª parte, o espírito de Zinedine Zidane entrou no corpo de Angel Di María. Com 71 minutos no marcador e muita chatice em campo até então, o argentino, em dia de aniversário de Diego Armando, viu um cruzamento de Pavlidis e acreditou que podia estar ali uma oportunidade de enxotar o marasmo. Puxou aquele sublime pé esquerdo atrás e com um perfeito remate quixotiano, de moínho, leia-se, colocado, cheio de força, bombardeou a baliza do Santa Clara.
Por si só, aquele golo valeu o preço do bilhete. E aquele lindo bilhete abriu caminho para que o Benfica ganhasse o jogo e o direito a seguir em frente na Taça da Liga. Até as comepetições menos relevantes têm direito aos seus momentos de magia.
Aquela obra de arte premiou os mais estoicos. Na 1.ª parte, foi xaroposo o futebol do Benfica, que se entornou no campo depois de uns primeiros 20 minutos em que Gabriel Batista resolveu o pouco que a defensiva do Santa Clara não conseguia controlar. Renato Sanches, percebe-se bem, talvez nunca mais venha a ter aquele cavalgar. Amdouni entremeia bons momentos com jogos apagados - e este foi um deles.
Na 2.ª parte, não havia outro remédio para Bruno Lage que não fosse colocar a cavalaria. Com Di María, Kokçu e, mais tarde, Pavlidis, o Benfica cresceu, mas afunilou em demasia o ataque para o lado direito. Gabriel Silva assustou aos 62’ com uma tentativa de chapéu a Trubin e depois surgiu o tal momento capaz de figurar entre os mais bonitos da carreira de alguém que está carregado de highlights para mostrar. Pavlidis, em greve de golos nas últimas semanas, furou o piquete e bisou aos 76’ e aos 80’, dando um aspeto ao marcador que o marcador talvez não justificasse. Mas para a história ficará aquele remate."

Cadomblé do Vata