quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Vermelhão: Ketchup?!

Benfica 3 - 0 Santa Clara


Marcador mentiroso, numa partida complicada (como eu esperava), decidida nos últimos 20 minutos, com um golo maravilhoso a 'abrir o muro'... A vitória é justíssima, o Santa Clara, basicamente criou duas oportunidades durante os 90 minutos, e foram bem claras, mas no resto da partida só deu Benfica! batemos muitas vezes contra o 'muro' no meio-campo, não tivemos assim tantas oportunidades na área, mas só o Benfica quis decidir a eliminatória nos 90 minutos!

O Lage não rodou tanto como era esperado, mas mesmo assim, a equipa ficou 'desequilibrada', com o Amdouni no lugar do Di Maria, e com o Renato no lugar do Kokçu, perdemos largura sem o Angel e sem o Turco perdemos velocidade na circulação de bola...

O adversário tentou copiar o jogo do Feyenoord!!! Muita pressão no meio-campo, com muita porrada e agarrões, com a total complacência do árbitro, e anti-jogo desde do 1.º minuto, a pensar nos possíveis penalty's!!! A diferença na forma agressiva/violenta como os nossos adversários encaram os nossos jogos, comparada com os jogos dos Corruptos e dos Lagartos é gritante!!!

O golão do Di Maria deu-lhe o 'caneco' de MVP, mas o Kokçu também entrou muitíssimo bem, tal com o Pavlidis: é mais fácil jogar com 2 pontas-de-lança, ainda por cima nos minutos finais, quando existe mais espaço!!!

Apesar de tudo, gostei do Renato! Esclareço: gostei da evolução! O Renato nunca foi um jogador de jogar ao 1.º toque, sempre se agarrou um pouquinho à bola, o Kokçu é um jogador diferente, e a sua entrada foi decisiva, mas o Renato nesta partida, contra uma equipa muito agressiva, com muito contacto físico, demonstrou mais agilidade, mais reposta física nas transições defensivas, e apesar de a tomada de decisão ser ainda lenta, tentou organizar o jogo, mesmo com um 11 sem flanqueadores... Se mantiver este crescimento, sem lesões, poderá voltar a ser muito útil...!!!


Mesmo assim, se fosse eu a decidir o MVP, foi o Aursnes. Mais um grande jogo, com 90 minutos! O entrosamento com o Kokçu está a resultar. E não me parece que seja somente o facto de eles terem jogado juntos no Feyenoord! As características 'encaixam' perfeitamente: o Aursnes que no papel é o '6', acaba por jogar a maior parte do tempo, á 'frente' do Kokçu (que em teoria é o '8'!), que fica mais 'atrás', fazendo passes longos, com o Aursnes, pressionando alto e desgastando-se mais nas transições defensivas... e o Kokçu, mais fixo, não sendo assim obrigado a correr para trás, algo que ele não gosta!!!


Incrível como mais uma vez, um apitadeiro permitiu tudo aos nossos adversários! Incrível como os primeiros Amarelos do Santa Clara, foram por 'afastar' a bola, para impedir a marcação rápida das faltas, e não pelas entradas duras ou cínicas, constantes!!!
E o Aurnses foi empurrado na área... estava ligeiramente desiquilibrado, mas depois é empurrado com os dois braços... com 0-0 no marcador!


Agora só em Janeiro voltaremos a ter a Taça da Liga, provavelmente com a Final4 desejada pela Liga! Desgastando a equipa, para as duas partidas finais da Champions, que podem ser decisivas, com o Barcelona e a Juventus!!!


Sábado, em Faro, jogo importantíssimo, antes do clássico com os Corruptos (com o Bayern pelo meio). Poupámos alguns jogadores, mas o Nico, o Carreras, o Bah, e o Aursnes desgastaram-se muito... e mesmo o Akturkoglu! Portanto, chegar ao Algarve, e decidir a partida cedo, será a melhor receita! E cuidado com a disciplina, pois nas vésperas dos Clássicos acontecem sempre coisas estranhas!



Derrota na Bélgica...

Namur 76 - 75 Benfica
26-16, 12-24, 21-17, 17-18


Derrota por um ponto, mantendo assim a vantagem no confronto direto, após a vitória larga na Luz!
Tivemos um lançamento para alargar a vantagem perto do fim, e depois tivemos o último lançamento da partida, mas falhámos...

As outras duas equipas, são muito superiores... sendo assim, com dois jogos no calendário, o mais provável é ficarmos em 3.º lugar...

Benfica reiniciou uma fase que se espera tão boa quanto a anterior


"A expectativa era grande no regresso do Benfica à Luz depois da primeira grande contrariedade europeia. Após esse jogo perdido, a sensação de poder voltar atrás, ao tempo mal passado, assaltava, imagino, a mente dos mais pessimistas. A boa, desejada e única opção era recomeçar energicamente um trajeto de recuperação pontual e mental, este sim o tema pretendido neste novo capítulo.
Grupos fortes com uma liderança inteligente ultrapassam melhor os piores dias, reagindo rápido, porque a atualidade não nos dá tempo a perder. O horizonte imediato traz novas e exigentes batalhas e são essas que agora valem.
O passo seguinte contra o Rio Ave trouxe uma entrada forte e eficaz da equipa que empurrou a visita para trás. Tal começo mobilizou desde logo os adeptos ainda mal refeitos da infeliz noite europeia, reiniciando uma fase que se espera tão boa quanto a anterior.
Lage decidiu, no rescaldo da derrota com o Feyenoord, premiar Niklas Beste pelo seu rendimento e bons serviços prestados nos últimos jogos, o que determinou a aproximação de Akturkoglu ao comandante do ataque Pavlidis.
Por outro lado, dando também força ao que tem transmitido frequentemente, o adversário seguinte poderá sempre ter influência nas escolhas do onze do Benfica para o novo desafio. Assim, a aposta em dois médios de indiscutível capacidade construtiva, Kokçu e Aursnes, foi também assumida, sendo interpretada de maneira convincente pela dupla eleita, dois dos motores da amplitude e dinâmica que a equipa conseguiu apresentar. 

Golos aos pares
Os golos obtidos nesta clara vitória identificam processos que mesmo pouco treinados refletem algumas ideias diferentes das anteriores. Assim, quatro dos cinco golos obtidos resultam de envolvimentos laterais e cruzamentos para a área, uma raridade antes da mudança de comando técnico. Do lado direito nasceram o primeiro e terceiro golos. Já do lado oposto tiveram origem os golos da segunda parte.
Esta curiosa igualdade na contribuição dos corredores, espelha o equilíbrio que a equipa, toda ela, mostrou. A maior agressividade e presença na área que a nova posição de Akturkoglu veio criar, resultou também em três golos resultantes do aproveitamento de ressaltos, na zona mais próxima da baliza onde é bom aparecer.
Neste jogo, como em muitos outros, repetiu-se o fenómeno frequente dos golos que vêm aos pares: aos 12´e 16´ e aos 79´e 81´... E como é algo que se repete, não é por acaso. É a questão mental de que tanto se fala, a ditar as suas leis.
A equipa que sofre golo naturalmente treme e muitas vezes volta a sofrer, antes de se recompor. Já a equipa que marca é empurrada pela euforia do golo para repetir a façanha e repetir o festejo. Afinal é a felicidade aquilo que todos procuramos, no campo e fora dele. 

Clássico
O jogo aéreo é um importante meio alternativo para fazer golo ainda mais quando as pernas se multiplicam na defesa das balizas. O Real Madrid é talvez o maior clube do mundo e como tal é representado por alguns dos melhores jogadores do planeta.
Mas fazer caber no mesmo onze Vinícius, Mbappé Bellingham ou Rodrygo ou ainda Endrick, não tendo nem no banco um ponta de lança, será compreensível? O cabeceamento é reconhecidamente uma das grandes armas de um ponta de lança. Imaginam algum dos talentos referidos a fazer algo parecido àquele portentoso cabeceamento de Lewandowski, que decidiu o clássico? Eu não.
Depois do grande Benzema, verdadeiro especialista da grande área, houve uma aposta tímida em Joselu, que entretanto saiu, mas ninguém entrou.
Numa fase em que jogar com os pés para um guarda redes parece ser mais importante que saber defender, será que ainda veremos, por exemplo o jovem Endrick, na baliza do Real? Era mais um talento que cabia..."

1.º

Recuperação ativa


"Recuperação ativa foi o que o Benfica fez no passado domingo. Se na quarta-feira anterior complicou uma Champions que termina com o Barça e a Juve, é bom não esquecer, exigia-se, no regresso ao campeonato, uma resposta “à Benfica”, para citar Bruno Lage. Assim o fez. Numa goleada que, com todo o respeito pelo Rio Ave, peca por escassa, Akturkoglu provou mais uma vez que é um jogador de excelência e o “banco” garantiu que rende juros altos.
Amdouni, Schjelderup, Cabral e Renato tiveram tempo para mostrar que são alternativas válidas e que também “merecem” jogar, como Lage gosta de responder sempre que questionado sobre um jogador que não entra. Numa partida em que todos brilharam, só Pavlidis parece não ter razões para sorrir, pois podia, e devia, ter acabado com a “seca” de golos. É certo que trabalha muito para a equipa, desgasta as defesas contrárias e não tem tido muitas oportunidades de golo, mas também é verdade que não pode cair tantas vezes em fora de jogo e, sobretudo, falhar oportunidades como aquela que o mágico turco lhe ofereceu a terminar a primeira parte, numa assistência fantástica.
Os aplausos que ouviu quando foi substituído comprovam a bonomia dos adeptos do Benfica para quem sua a camisola, mas a exigência de uma equipa que luta pelo título não se compadece com um avançado que tem apenas dois golos marcados em oito jogos. Neste ciclo de “três em três dias”, seguem-se Santa Clara e Farense, fora de casa, e mais uma vez a “recuperação ativa” será essencial. Quem entrou bem neste jogo, mais Rollheiser e António Silva por exemplo, terá de fazer a diferença!"

Como combater isto?


"Somos de um país em que a mobilização de massas se faz e usa como protesto. Apenas e só. As pessoas não pensam na sua comunidade, em melhorar a sociedade, quanto mais pensar a fundo no Benfica. Como povo, somos egoístas, achamos sempre que há de haver alguém que faça as coisas por nós e depois, ficamos chocados e sentidos porque as coisas não acontecem como eu queria ou esperava.
A ideia que me fica neste momento, é que ao mesmo tempo que se pensa e discute o futuro do Benfica, tem de se pensar muito bem o associativismo, em como recuperá-lo e como pô-lo a funcionar em prol do clube.
As pessoas, na sua generalidade NÃO querem saber.
Quem vai às AG são dois tipos de associado. Os que querem fazer parte dos destinos do clube, que querem estar informados e ser parte ativa do seu dia a dia, e os que têm algo a perder (casas por ex.) a quem lhes foi dado um poder para bloquear qualquer tipo de mudança.
Vieira era parvo, mas de burro tem pouco, e criou ali uma barreira fortíssima contra a mudança.
Como combater isto?
Na primeira AGE conseguiu existir massa crítica para anular esse bloqueio, a proposta do Torgal foi um claro exemplo disso, mas nesse dia fiquei com a clara sensação que a maioria das pessoas não estava lá porque achava que os Estatutos estavam bem ou mal, estavam lá para ser oposição, para se fazerem ouvir, porque o futebol masculino não estava a ganhar.
Ontem, estando esta questão um pouco melhor, viu-se a afluência cair para metade.
Como combater isto, como recuperar o associativismo e a crença de que nós podemos e devemos fazer algo e pensar o nosso clube?
Em Lisboa, por exemplo, onde se junta a malta para pensar e falar Benfica, para além dos jogos? Antes existiam espaços para os sócios, no estádio ou na sede, onde era usual existirem essas conversas e pensamentos. Acabaram, não existem mais...
Como conseguir combater isto?
Ontem estive a pensar e não consegui chegar a nenhuma conclusão e, infelizmente, voltei ao meu primeiro parágrafo. Exigimos tudo de todos, mas na hora em que alguém "exige" de nós..."

Paraíso verde!!!

Rúben Amorim, visto, revisto e contado


"A questão do treinador, vista de ângulos diversos, que vão para lá do futebol, e encerram algumas lições que a vida a todos se encarrega de dar. Onde também se fala de coerência, consequência e futuro…

Tentemos então colocar algumas coisas em perspetiva relativamente ao triângulo Sporting, Manchester United, Rúben Amorim.

Comecemos pelo Sporting:
Em março de 2020, com a época a entrar em fase decisiva, estando os leões num ombro-a-ombro com os arsenalistas por um lugar no pódio, o Sporting contratou o treinador do Sporting de Braga, pagando os 10 milhões de euros da cláusula de rescisão.
Em outubro de 2024, com a época em andamento acelerado, o Manchester United, depois de despedir Ten Hag, decidiu contratar para o seu lugar o treinador do Sporting, pagando aos leões 10 milhões de euros pela cláusula de rescisão.
Como se vê, procedimentos semelhantes de Sporting e Manchester United, no que respeita a forçar, pagando e não negociando, a contratação do treinador que entendiam servir melhor os seus interesses, independentemente de tudo o mais, nomeadamente a situação precária criada no clube de origem pela saída indesejada de um técnico que estava a ter um percurso de sucesso.

Passemos ao Manchester United:
Em Old Trafford, o dinheiro nunca terá sido problema, e querer resolver os problemas encharcando-os em libras, terá sido o principal erro dos ‘red devils’. Quando saiu, pela segunda vez, do Manchester United, Cristiano Ronaldo, entre outras coisas, invocou a falta de evolução do clube, que continuava a oferecer aos jogadores as mesmas condições que tinha quando o astro madeirense rumou ao Real Madrid, em 2009. Enquanto esse ‘gap’ não for preenchido, os ‘red devils’ estarão sempre em desvantagem face à concorrência. No pós-Ferguson, exceção feita a um período em que José Mourinho meteu o clube nos eixos – vitórias na Taça da Liga, na Supertaça e na Liga Europa, além de um segundo lugar na Premier League – o desnorte de contratações (que também contaminou a era-Mourinho), foi o prato do dia, faltando ao Manchester United aquilo que projetou os vizinhos do City: uma ideia de jogo, levada a cabo com dinheiro, obviamente, mas também com convicção, competência e paciência. É isso que Rúben Amorim pode dar a Old Trafford: saber o que quer (e provavelmente será algo de base 3x4x3 com as múltiplas variantes que vimos evoluírem em quatro anos e meio no Sporting), e contratar cirurgicamente, ao contrário do que tem sido a prática dos ‘red devils’, que por norma atiram a tudo o que mexe, umas vezes servindo de cemitério de elefantes, outras de infantário à espera do desenvolvimento do potencial, outras ainda indo ao sabor da maré de meia dúzia de jogos mais bem conseguidos por determinado jogador, olhando para a árvore sem ver a floresta. É um trabalho hercúleo, o que espera Rúben Amorim no Manchester United, mas o treinador português, que tem sido sempre muito assertivo nas opções, mostrando saber exatamente o que quer e o que não quer, executando, de forma fria e cerebral, o que entende ser a maior conveniência do clube, parece estar à altura da ocasião.

Terminemos em Rúben Amorim:
Comecemos por analisar a cláusula de rescisão de Rúben Amorim com o Sporting, que num primeiro olhar, mais descuidado, até pode parecer contra-natura. Mas não o é. Quando ficou estabelecido que a saída para um clube nacional faria entrar nos cofres de Alvalade 30 milhões de euros, disse-se que essa era uma hipótese de que o Sporting nem queria ouvir falar; quando foi estabelecido que a saída para um clube estrangeiro, de nível médio, custaria a esse emblema 20 milhões de euros, tanto Rúben como Sporting aceitaram que essa seria uma via sempre muito improvável, porque nem um clube desse pagaria tal verba, nem Rúben Amorim desejaria passar de cavalo a burro, trocando um clube com a projeção do Sporting por outro de menor gabarito, independentemente da geografia; finalmente, a cláusula em apreço, de 10 milhões de euros, a serem pagos por um clube de dimensão mundial: claramente, esta foi uma exigência de Amorim para renovar com os leões, porque lhe manteria aberta a porta de um dos tubarões do futebol mundial, como aquilo a que temos assistido comprova. Estes dez milhões ressarciriam o Sporting daquilo que pagou ao SC Braga, ficando os leões, no pós-Amorim, não apenas com os títulos e uma equipa bem arrumada, mas também com uma via que podem prosseguir, assim encontrem comandante à altura para a nau.
Rúben Amorim, quando exigiu esta cláusula, sabia bem que há comboios que não param duas vezes na mesma estação. E é normal que, ainda com 39 anos, deseje dar o salto para outro patamar, passando de um grandíssimo clube para outro ainda maior. Como para Amorim esta não é uma situação nova – em Braga os adeptos, os jogadores e o presidente não gostaram que ele se tivesse transferido para Alvalade – o jovem treinador sabe bem o que o espera, no universo sportinguista, caso troque o verde dos leões pelo vermelho de Old Trafford, e parece preparado para conviver bem com a situação. Porque, suceda o que suceder, a verdade é que toda a gente já percebeu que Amorim quer ir para o Manchester United.
Mas imagine-se que as exigência que o Sporting está a fazer, quanto aos adjuntos e ao momento da libertação do treinador, fazem abortar a contratação, e Rúben Amorim fica, a contragosto (embora nunca o diga), em Alvalade. Nesse caso, a relação do treinador com o presidente ficaria, se não ferida de morte, pelo menos em estado comatoso, e Amorim, mesmo em relação aos jogadores, ficaria numa posição periclitante caso viesse a aconselhar algum dos pesos-pesados a recusar uma transferência e continuar no clube. Aconteça o que acontecer, a partir da comunicação do Sporting à CMVM, entrámos noutro patamar de relacionamento entre clube e treinador, e isso é algo que deve ser levado muito em conta.

Finalmente:
O futebol é momento, e por vezes dá-se demasiada importância à espuma dos tempos. Veja-se o caso de André Villas-Boas que em 2011 trocou a sua cadeira de sonho no FC Porto pelo banco do Chelsea, recebendo os dragões 15 milhões de euros. Por um lado, a equipa azul-e-branca, com o adjunto de Villas-Boas na liderança (Vítor Pereira), foi bicampeã nacional; por outro, depois de ter sido apelidado de traidor e mercenário pelos apparatchiks portistas, acabou por receber uma bênção papal que lhe permitiu a reentrada no universo do Dragão e, há pouco meses foi eleito, com 80 por cento dos votos, presidente do clube. Adaptando Oscar Wild, o ódio é eterno apenas enquanto durar.
Quer isto dizer que estas situações devem ser desdramatizadas, fazem parte da vida, e é da vida que cada um procure um futuro melhor. Que cada um se coloque nos sapatos de Rúben Amorim, e pense no faria, profissionalmente, se lhe surgisse uma oportunidade não só financeira, mas de trabalho, como a que o Manchester United lhe propõe. Sem querer ser arauto de um pensamento cínico, muitos dos que rasgam agora as vestes, clamando contra a saída de Rúben Amorim do Sporting, estariam, por certo, na primeira linha dos que exigiriam a cabeça do treinador se se verificassem uma série de maus resultados. Calma, isto é só futebol e, na vida, para todos (para Amorim também), há coisas mais importantes, destinos que, desde que se permaneça dentro da legalidade jurídica, ética e moral, devem ser cumpridos."

O peso da identidade e o Flick-flack em Barcelona


"Benfica e FC Porto estão bem na Liga, mas os adeptos dos dois clubes duvidam que a época acabe bem. O problema é só um: o Sporting está melhor. No Dragão, a instabilidade que vem de fora acentua o nervoso miudinho no estádio, mas a equipa encarreirou na Europa e na Liga só dista da liderança os três pontos que deixou em Alvalade.
O resto é tudo vitórias, pelo menos até ao jogo de hoje nas Aves. Na Luz, desde que Bruno Lage substituiu Schmidt, a equipa também só sabe ganhar na Liga doméstica. E da imensa dificuldade em criar até lances de perigo, passou a golear com facilidade.
Repito: FC Porto e Benfica estão bem, melhor do que na época passada por esta altura. O problema é que o Sporting está melhor, até do que na época passada. E não dá sinais de vacilar.
E por que razão parece imune a oscilações o líder da Liga? Essencialmente por ser hoje uma equipa completa, inteira, que sabe para onde vai e por onde vai em cada momento do jogo. E a que velocidade, já agora. É porventura a maior diferença para os rivais: Benfica e FC Porto aceleram quase sempre, o Porto porque agora tem Samu e já tinha Pepê e Galeno, o Benfica porque tem Di María e Akturkoglu e mesmo o médio mais organizador – Kokçu – talhado para verticalizar depressa o jogo.
Os leões não, até no terço ofensivo sabem conjugar pausa e aceleração, por via de terem Pote e Trincão, mas também da inclusão mais regular de Bragança. E sobretudo porque treina para jogar assim. E treina bem, que nenhuma equipa joga assim sem isso.
Rúben Amorim evoluiu como treinador e com ele fez crescer o Sporting. O maior elogio que se lhe deve fazer é mesmo esse, o de ter chegado cedo ao sucesso, mas não ter cristalizado numa ideia, o de ter percebido que não era repetindo as primeiras receitas que iria dobrar as tormentas dos anos que correram pior.
À competência na organização defensiva de que sempre cuidou, acrescentou uma variedade de soluções com bola como antes não tinha, explorando a largura como a profundidade, melhorando o critério entre passe curto ou longo, numa dinâmica difícil de travar. Claro que ter Gyokeres ajuda muito – como não admiti-lo numa semana com mais dois golos de compêndio? – mas também é preciso saber aproveitar Gyokeres.
Como para encontrar o espaço de fazer explodir Trincão. Ou lançar Quenda e aproveitar Bragança. Há uma ideia que precede os homens, uma ideia cada vez melhor, que os jogadores entendem, mas que, antes disso, entende os jogadores, os que tem e os que procura. Começa tudo aí. Chama-se identidade. Pode ser mais do que uma forma de jogar, vai decerto além da tática, mas é no terreno de jogo que se concretiza.
O Barcelona agarrou-se à identidade para juntar os cacos de uma gestão ruinosa e face à enorme fragilidade para atuar no mercado. Hansi Flick, o alemão que o futebol devia valorizar muito mais (em ano e meio apenas, como treinador do Bayern, juntou duas Bundesligas, uma Champions, uma Supertaça Europeia e um Mundial de Clubes), disse agora ao que vinha quando anunciou que se ia basear em quem conhecesse «de cor a maneira de jogar à Barcelona».
Pensava nos meninos únicos que crescem em La Masía, e assim, a Lamal, Pedri e Baldé, juntou mais uns quantos, não se queixando das lesões, e tantas foram. Sem ter De Jong e Gavi, afirmou um maravilhoso Casadó no lugar que foi de Busquets, com Dani Olmo de fora, aproveitou para deixar crescer Fermín e dar minutos a Pablo Torre.
E ainda mais eloquente foi assumir um jogo de risco em cima do que parecia um eixo defensivo inseguro, com dois médios-centro pouco «intensos», centrais que não seriam primeiras escolhas e o guarda-redes suplente. Sem Ter Stegen, apostou em Iñaki Peña, sem Araujo e Christensen montou a ousadia de uma defesa bem subida sobre os ombros de Cubarsí (o adolescente veterano) e Iñigo Martínez (o veterano rejuvenescido).
E foi com eles que desafiou Bayern e Real, as setas dos alemães – Gnabry e Oliseh, depois também Sané e Coman – e a seguir Mbappé e Vini Jr, as flechas douradas do maior rival. Explicou-nos no fim da vitória em Madrid que defender assim parece mais arriscado, mas não é. Claro que correu o risco de sofrer golos, mas vistos os resultados não há como negar que correu sempre mais risco… de marcar.
Se juntarmos os 5-1 ao Sevilla, foram 13 golos em sete dias apenas, e três goleadas claras sobre emblemas históricos. É o efeito Flick, um Flick-flack à retaguarda, por ter ido à história resgatar o melhor que o Barça deu ao futebol: uma ideia sedutora onde o talento reina. Assim volta a ser. E já encanta."

Já se pode falar em Flicki-Flacka?


"A forma como os meninos do Barça se adaptaram ao alemão confirma que La Masia forma jogadores que entendem o futebol numa visão 360.º

Ainda estamos no final de outubro e muita coisa pode acontecer, mas não será exagerado afirmar que a transformação do Barcelona às mãos de Hans-Dieter Flick ameaça ser o grande acontecimento do futebol europeu em 2024. A linha ascensional já estava em marcha, mas as goleadas ao Bayern e ao Real Madrid formaram uma poeira dourada para fazer brilhar o trabalho de autor de um treinador alemão que ousou enterrar de vez o tiki-taka moribundo dos tempos de Xavi e aplicar uma nova forma de pensar e executar o jogo.
Não sei quantos puristas culés ficam abespinhados ao observar a verticalidade do futebol da equipa, mas não acredito que haja um adepto do clube que não tenha gritado de alegria com os quatro golos sem resposta no Santiago Bernabéu e a demonstração de superioridade que não é apenas circunstancial – em 2022 os catalães também golearam por 4-0 em casa do grande rival mas perderam o campeonato para os merengues.
A obra de Flick salta ainda mais à vista se recordarmos o contexto de início de época: um clube que só conseguiu fazer uma contratação sonante (Dani Olmo) e mesmo assim sem poder inscrevê-lo de imediato devido ao incumprimento do fair play financeiro da Liga espanhola; um namoro não correspondido a Nico Williams (Athletic Bilbao e campeão da Europa) e a consequente desvalorização do papel de Raphinha, jogador que fora agenciado pelo atual diretor desportivo Deco; uma equipa de muitos meninos; a lesão gravíssima de Ter Stegen, o único guarda-redes de renome do plantel e que iria ser, finalmente, o titular da seleção da Alemanha depois da despedida de Manuel Neuer.
A tudo isto reagiu Flick com uma calma olímpica e frieza germânica, aliado a novos métodos e regras que não seriam notícia noutros clubes (nos três grandes de Portugal, por exemplo) e cujo grau de novidade diz mais sobre o que não era feito no tempo de Xavi – como, por exemplo, obrigar à pesagem diária ou aos pequenos-almoços no centro de treinos e outros cuidados ao nível nutricional e das rotinas do dia a dia.
Mas se há algo no novo Barcelona que merece ser caso de estudo é a forma como jovens formatados pela escola La Masia conseguiram adaptar-se tão rapidamente a uma construção de jogo bem diferente daquilo que aprenderam em todas as suas etapas de crescimento. Basta pensar por momentos no seguinte: não é raro ver a equipa criar oportunidades de golo em jogadas com menos de 10 passes – no papel o Barça apresenta-se no mesmo 4x3x3 do passado, mas é tudo muito diferente. O que nos permite concluir (ou melhor, confirmar) que a riqueza da formação do FC Barcelona não consiste apenas na sistematização de uma ideia futebolística, mas na compreensão futebol em todas as suas variantes. O futebol total que há 50 anos encontrou em Camp Nou a casa certa para crescer.
Jogar futebol, melhor ou pior, todos sabem a este nível. Entendê-lo numa visão de 360 graus é outra coisa. E assim, por incrível que pareça, será mais fácil a Cubarsí, Casadó, Eric García, Bernal, Pedri, Gavi ou Fermín Lopez (refiro-me mais a estes porque são os que pensam o jogo, Lamine Yamal decide-o) interpretarem mais facilmente as ideias de Flick do que muitos alemães. Só na Catalunha podia nascer o Flicki-Flacka."

‘Task Force’ da FIFA para o bem-estar dos jogadores


"Esta semana foi noticiado que o Conselho da FIFA decidiu criar uma task force sobre o bem-estar dos jogadores, de forma a promover o diálogo entre todas as partes interessadas sobre estas questões.
Este grupo será liderado pelo chefe de desenvolvimento global do futebol da FIFA, Arsène Wenger, e inclui representantes das federações nacionais, das confederações, da FIFPRO, da Associação Europeia de Clubes e da Associação Mundial das Ligas.
O objetivo é examinar quais as medidas mais adequadas e eficazes para os jogadores que podem ser implementadas, tendo em conta as perspetivas operacional, médica, regulatória e jurídica, apresentando, no final, recomendações baseadas nos mais recentes estudos científicos sobre o tema do bem-estar físico e mental dos jogadores.
O estabelecimento desta task force vem na sequência de diálogos anteriores com representantes dos jogadores profissionais de uma multiplicidade de associações e ligas, incluindo a English Premier League e a Women's Super League, bem como de iniciativas implementadas pela FIFA para melhorar o bem-estar dos jogadores.
A contemporaneidade da criação deste grupo de trabalho com o anúncio público da queixa à Comissão Europeia relativamente ao calendário internacional e à sobrecarga física e mental que tal representa para os atletas na semana passada, por um conjunto significativo de stakeholders, não é certamente uma coincidência.
Aguardemos para ver as conclusões que resultam deste trabalho, bem como da consulta às partes interessadas relativamente às alterações regulamentares a introduzir pela FIFA após a decisão do TJUE no ‘caso Diarra’. Esperam-se novidades até ao final deste ano."

Esports em Portugal: A necessidade de regulamentar


"O universo dos videojogos tem vindo a conquistar cada vez mais adeptos em Portugal e no mundo, impulsionado pela crescente acessibilidade tecnológica e pelo desenvolvimento de jogos online competitivos. Muito se tem falado da importância económica do sector do gaming, dado que ultrapassa já a receita da indústria da música e cinema juntos desde há vários anos, mas o que me parece ser o factor determinante para esta realidade passa pelo facto de esta ser a principal actividade de entretenimento do século XXI, e não só das gerações mais jovens.
É crucial, no entanto, fazer uma distinção clara entre o gaming, enquanto atividade lúdica e de entretenimento, e os esports, que representam a vertente competitiva e organizada dos videojogos, com regras, equipas, jogadores profissionais e torneios com prémios monetários. Enquanto o gaming se assume como um passatempo, os esports exigem treino, dedicação e talento, assemelhando-se a qualquer outra modalidade desportiva tradicional.
Para dar um exemplo em concreto, o comediante Ricardo Araújo Pereira disse recentemente que uma actividade que ele faz sentado no seu sofá não pode ser considerada um desporto, referindo-se obviamente ao conceito de estar no seu sofá a jogar videojogos numa consola. E tem toda a razão! Da mesma forma, se o estimado RAP estiver sentado no seu sofá a jogar xadrez com um amigo ou familiar, não está a praticar nenhum desporto. No entanto, o Xadrez é uma (inquestionável) modalidade desportiva, inclusivamente desporto olímpico.
Por outro lado, se uma pessoa se regista num clube de Xadrez, treina e pratica, e compete nos campeonatos nacionais de Xadrez, e, muito natural e justamente, considerado um atleta. Logo, faz todo o sentido que uma pessoa que se regista num clube de esports, treina e pratica, e compete numa competição, seja ela nacional ou estrangeira, parece-me absolutamente lógico, e da mais elementar justiça, que seja considerado um atleta.
Assim, partindo do pressuposto que estamos perante uma actividade desportiva (ou equiparada, se preferirem) e competitiva, porque é que importa regulamentar esta actividade? Explico porquê, começando por evidenciar as consequências de não o fazer.

Consequências de uma Não-Regulamentação
A ausência de um quadro regulamentar específico para os esports em Portugal acarreta diversas consequências negativas, com impacto a nível jurídico, fiscal e social, mas não só.

Ambiguidade Jurídica
A falta de regulamentação clara resulta numa realidade em que a maioria dos clubes de esports não tem enquadramento jurídico, sendo muitas vezes empresas unipessoais, associações juvenis, ou até mesmo grupos sem personalidade jurídica alguma, que invariavelmente estabelecem contratos precários entre esses mesmos clubes e os atletas, frequentemente baseados em acordos informais e sujeitos a interpretações dúbias. Esta indefinição legal dificulta a resolução de conflitos e a proteção dos direitos de ambas as partes.
A inexistência de um enquadramento jurídico específico para os esports impede também a aplicação de legislação laboral, fiscal e desportiva, criando um vazio legal que prejudica o desenvolvimento sustentável da modalidade. Além disso, a fiscalização desta actividade é totalmente ambígua, não se sabendo quem deve fiscalizar o quê. Evasão Fiscal Como se não bastasse o anterior, a falta de regulamentação contribui para a evasão fiscal, uma vez que os rendimentos dos atletas e as receitas dos clubes podem não ser declarados na sua totalidade. E a realidade é que na esmagadora maioria das vezes não o são. Esta situação resulta em perdas significativas para o Estado, comprometendo o financiamento de serviços públicos essenciais. Para além disso, a evasão fiscal prejudica a sustentabilidade financeira dos clubes, limitando o seu crescimento e investimento em infraestruturas, formação e acompanhamento dos atletas.

Crescimento da Indústria
A regulamentação dos esports é fundamental para promover um ecossistema desportivo estável e próspero em Portugal. Um quadro legal claro e transparente atrai investimento, fomenta a criação de clubes e equipas profissionais, e incentiva a organização de torneios de maior dimensão. A regulamentação contribui ainda para a profissionalização da modalidade, beneficiando clubes, atletas, patrocinadores e todas as partes interessadas.
Mais importante ainda, a falta de regulamentação não permite o aproveitamento cabal de duas grandes vantagens de que Portugal dispõe relativamente à maioria dos outros países, e que nos permitiriam estar numa posição líder e inovadora, um hub central do investimento nos esports a nível internacional. Estas vantagens são 1) a nossa muito favorável localização geoestratégica, ligando o continente americano com a Europa, especialmente para marcas europeias que queiram aceder ao mercado de língua portuguesa do Brasil (enorme também nos esports), e ainda 2) o facto de Portugal ser um dos melhores destinos turísticos do mundo, também no particular do turismo desportivo.
A existência de regulamentação nesta área abriria também as portas ao investimento público e privado na criação de infraestruturas e eventos desportivos à escala mundial, que potenciaria as duas vantagens acima mencionadas.

Receitas Inexploradas - Apostas Desportivas
A falta de regulamentação dos esports impede a exploração de um mercado com elevado potencial económico: as apostas desportivas. A ausência de um quadro regulamentar para as apostas em esports impede a criação de um mercado legal e controlado em Portugal. Esta situação representa uma oportunidade perdida para o Estado, que deixa de arrecadar receitas fiscais significativas provenientes desta atividade. E pior do que tudo, a falta de regulamentação dificulta o combate à fraude, sem que exista qualquer forma de fiscalização e prevenção de práticas susceptíveis de alterar a verdade competitiva e à manipulação de resultados, colocando em risco a integridade das competições.
A inexistência de supervisão sobre as apostas em esports expõe os apostadores a práticas desleais e atividades fraudulentas. Sem um regulador que fiscalize as plataformas de apostas e garanta a transparência do processo, os jogadores ficam desprotegidos e sujeitos a riscos acrescidos. A falta de regulamentação promove ainda o mercado negro, com a proliferação de sites ilegais que operam sem qualquer tipo de controlo.

Bem-Estar dos Atletas
Contudo, a pior consequência é mesmo a ausência de protecção dos jogadores de esports, colocando-os numa situação vulnerável, sujeitos a longas horas de treino, pressão excessiva e condições de trabalho precárias. A falta de um enquadramento legal que defina direitos e deveres coloca os atletas em risco de exploração e tratamento injusto por parte de clubes e organizações. A inexistência de seguro desportivo obrigatório agrava ainda mais esta problemática, deixando os jogadores desprotegidos em caso de lesões ou outros problemas de saúde.
Por outro lado, os atletas de esports não têm, por exemplo, acesso a alguns direitos que os seus colegas de outras modalidades têm, como por exemplo bolsas de estudo, vistos de atletas de alto rendimento, acesso a épocas especiais de exames na universidade, etc. Parece-me um pouco triste que os nossos atletas nomeados pela Federação Portuguesa de Desportos Electrónicos para representar no Mundial de Esports que se disputa em Riade, entre 11 e 19 de Novembro próximo, tenham de utilizar os seus dias de férias laborais para poder ir representar o nosso país ao mais alto nível.

Conclusão
A regulamentação dos esports em Portugal é uma necessidade premente, que se impõe para garantir o desenvolvimento sustentável deste desporto do Séc. XXI e proteger os direitos de todos os intervenientes. A criação de um quadro legal claro e transparente irá promover o crescimento da indústria, atrair investimento, gerar receitas fiscais e contribuir para a profissionalização do sector. O investimento em infraestruturas e eventos internacionais, assim como a regulamentação das apostas em esports representa uma oportunidade única para o Estado Português explorar um mercado em expansão. É tempo de Portugal se juntar aos países que já reconheceram, de uma forma ou de outra, o potencial dos esports um pouco por toda a Europa, tais como a Dinamarca, Finlândia, Suécia, Islândia, Inglaterra, França ou Alemanha, e criar as condições necessárias para o seu desenvolvimento pleno."