quarta-feira, 10 de julho de 2024

Este vai ser despedido!

O silêncio dos cumplices!

Fé...

Cicerone especial


"Nesta edição da BNews, o destaque recai no mais recente conteúdo BPlay, desta feita protagonizado por Florentino e Leandro Barreiro, e no sucesso da renovação de Red Pass.

1. Renovação imensa
Mais de 98% dos Red Pass foram renovados, o que equivale a mais de 44 mil lugares de época que continuam com o mesmo detentor. Sobram 803 lugares, os quais estão disponíveis para os Sócios em lista de espera, a qual atinge os 17 359 pedidos.

2. Visita guiada
Formado no Benfica Campus, Florentino mostra os cantos à casa ao reforço Leandro Barreiro.

3. Intensidade e muita bola
O plantel às ordens de Roger Schmidt prossegue a preparação de pré-época.

4. Inspiradoras em campo
A equipa feminina de futebol do Benfica já trabalha no relvado e a jovem guarda-redes Thais Lima aborda a nova temporada.

5. Sub-23 começam a pré-época
Vítor Vinha, o novo treinador neste escalão, refere que "o objetivo é potenciar a identidade Benfica".

6. Hendecacampeãs nacionais
Cata Flores, em entrevista à BTV, revela os segredos de mais um título no hóquei em patins feminino e partilha a ambição por novas conquistas.
E amanhã, às 18h00, as hendecacampeãs nacionais dão uma sessão de autógrafos na Benfica Official Store do Estádio da Luz.

7. Nos Jogos Olímpicos
Miguel Sánchez, andebolista do Benfica, está convocado pela seleção espanhola para os Jogos Olímpicos.

8. Benfica 1 minuto
A atividade benfiquista dos últimos dias em 1 minuto.

9. Casa Benfica Vizela
Esta embaixada do benfiquismo celebrou o 20.º aniversário."

Bielsa e João Félix


"A rábula perdeu força quando todos percebemos que outros treinadores, que não Diego Simeone, produziram em João Félix exatamente o mesmo efeito

A reflexão mais interessante dos últimos tempos sobre o futebol moderno aconteceu na improvável cidade de Paradise, no estado do Nevada, onde a seleção do Uruguai acabara de disputar os quartos de final da Copa América, tendo levado a melhor nos penáltis. Explicou Marcelo Bielsa: «O futebol tem cada vez mais espectadores e é cada vez menos atrativo. Se não garantirmos que o jogo a que as pessoas assistem é agradável, isso beneficiará apenas o negócio. Mas ao negócio só interessa saber quantas pessoas assistem ao jogo.»
A inspiração que faltou aos jogadores, co-responsáveis por mais um jogo de futebol bastante chato entre o Uruguai e o respetivo adversário, nunca falta a Bielsa quando tem que produzir reflexões de caráter geral sobre o futebol. Há alguns anos que o Bielsa treinador é menos interessante do que o Bielsa comentador de futebol, mas as suas palavras dão gosto ouvir e contêm algumas verdades em que vale a pena pensar, mesmo que em nenhum momento Marcelo Bielsa pareça lembrar-se que foi a evolução deste mesmo modelo económico que o tornou milionário e lhe permitiu ter uma experiência pessoal e profissional, ao serviço do futebol, inalcançável pela maioria das pessoas.
Poderia dizer-se que Bielsa é um revolucionário que opera a mudança a partir de dentro, mas também não é bem verdade. As equipas de Bielsa também correspondem mais vezes ao futebol chato e uniformizado do que o próprio parece ser capaz de admitir. Não invalida, por isso, que o próprio se considere um dos culpados pelo estado atual do futebol, ainda que Bielsa não tenha reconhecido isso durante uma conferência de imprensa que levou todas as pessoas nascidas antes de 1995 a suspirarem por Romário, Ronaldinho Gaúcho, Adriano, Rivaldo, e outros que tais, e todas as pessoas nascidas desde então a perguntar de que raio está Bielsa a falar.
Enquanto membro integrante do primeiro grupo, sinto que devo usar o meu enviesamento natural para discorrer sobre João Félix, jogador agora conhecido como jovem irresponsável e grande culpado pela eliminação de Portugal no Euro-2024. O futebol que conhecemos nasceu no apaixonante Cruyff, com o objetivo de desenhar sucessivos triângulos no relvado até uma equipa marcar mais golos do que o seu adversário. Desde então, a coisa tem evoluído com múltiplos discípulos mais ou menos óbvios, de Guardiola a Klopp, e fez com que o futebol transformasse, gradualmente, jogadores como João Félix em personagens sem pátria técnico-tática, situados entre o génio e o indolente, mas sem direito a serem ambas as coisas. Essa conquista da sociedade foi perdida há algum tempo e, lamento informar, os estádios continuaram cheios e o futebol continuou a crescer. Isso acontece porque o futebol continua a preservar inúmeras formas de ser interessante, seja por via do seu atleticismo, seja por via da propaganda digital que tornou os modelos táticos rígidos da atualidade uma espécie de crescendo musical que já todos sabemos como acaba mas não nos cansamos de ver e dissecar (Guardiola sem Messi, Klopp na idade adulta, Xabi Alonso a cristalizar-se), ou ainda porque esses mesmos modelos aparentemente rígidos também produzem equipas frequentemente avassaladoras e caóticas (vale a pena ouvir os jogadores treinados por Ancelotti).
O que parece ter morrido mesmo foi a possibilidade de alguém, num jogo a sério — daqueles que estão a destruir o futebol, mas que toda a gente vê — ser apenas João Félix. Contra mim falo, que o acho genial mas também irritante. Jogadores como Félix perderam o direito a serem simultaneamente geniais e preguiçosos. A única forma de os tolerarmos é se trabalharem para o coletivo, mesmo que o coletivo nem sempre trabalhe para o indivíduos. Tornou-se hábito, nos últimos anos, falar de Diego Simeone como uma espécie de monstro que atrofiou João Félix quase ao ponto da invalidez permanente. A rábula perdeu força quando todos percebemos que outros treinadores produziram em João Félix exatamente o mesmo resultado. Os seus momentos de genialidade são frequentemente definidos como demonstrações cabais daquilo que pessoas como Bielsa dizem faltar ao futebol. Os momentos em que se desliga do jogo, porque nem sempre está para se chatear e a vida é mesmo assim, são aqueles em que sentenciamos Félix a ser só mais uma esperança que sucumbiu perante a sua própria falta de profissionalismo.
Desengane-se o leitor se acha que eu sei como é que saímos disto. Acho que não há escapatória possível, a não ser que se abdique da vontade de ganhar no futebol atual. Se o leitor tiver uma equipa ou uma seleção favorita, pensará duas vezes antes de aceitar o suicídio competitivo em prol de uma dimensão primordialmente estética. Cederá ao seu instinto mais primário, na versão atualizada, que é o de questionar por que raio João Félix não é melhor a reagir à posse, a bascular, a fazer outra coisa qualquer com nome de procedimento cirúrgico, ou, no fundo, tarefas que antes eram destinadas ao proletariado. O tipo futebol que João Félix exibe meia dúzia de vezes a cada 90 minutos foi possível enquanto tolerámos jogadores que não estavam dispostos a fazer tanto quanto os treinadores lhes pediam, mas que compensavam da única forma que sabiam, muitas vezes tornando o seu antídoto para o aborrecimento durante um jogo de futebol um poder muito superior ao do treinador. E este que se amanhasse perante as evidências. Hoje, confiamos no treinador para domesticar esse atleta até que ele dê menos toques na bola.
Mas, ao contrário do que diz Bielsa, quase ninguém se afastou do jogo por causa disto. A ideia feita de que as pessoas se estão a afastar da modalidade não tem adesão à realidade. Podem consumi-lo de forma diferente, sim, como Bielsa também afirma. Cientes de que um jogo de futebol tem muitos mais momentos chatos do que emocionantes, optam por ver resumos. E quem somos nós para lhes impor outra experiência, se até nós mais velhos nos aborrecemos de morte com tantos jogos? O que acontece é que aprendemos a ver uma modalidade um pouco diferente, ditada hierarquicamente pelos treinadores que, ao longo das últimas décadas, passaram mais tempo a pensar nisto, a pensar fundamentalmente como maximizar o seu ganho desportivo e dar alegrias aos adeptos do clube que lhes paga. São pessoas com uma inteligência prática e teórica acima da média que, munidas da muita informação disponível, chegaram à conclusão de que só conseguiriam ganhar mais vezes se tornassem o futebol menos dependente do génio e mais da realização de uma série de tarefas com maior ou menor qualidade estética. São também os indivíduos responsáveis pelos melhores jogos de futebol dos últimos muitos anos, dos que nos fazem querer ver o seguinte, até darmos por nós a questionar as nossas escolhas de vida num jogo da Liga portuguesa numa segunda-feira à noite.
Bielsa argumenta também que, neste processo, se perdeu uma dimensão de identificação de uma nação ou de um clube de futebol. Acho que há múltiplas dimensões que permitem fazê-lo e muitos clubes cujas identidades se renovaram em função de treinadores modernos, mas consigo sentir a sua dor. Só há um pequeno problema. Não conheço Benfiquistas nem portugueses suficientes que estejam dispostos a participar numa experiência social em que, ao longo de um ou mais anos, testamos a hipótese de jogarmos sempre mais bonito, mas perdermos quase sempre. Essa vitória moral pode ser boa em alguns manifestos de redes sociais e conferências de imprensa, mas do comunicado enviado à CMVM para informar da rescisão do contrato não rezará a mesma história. E, por muito que custe aos líricos, todos convivemos alegremente com esse jogo.
Em suma: se o futebol moderno pudesse ser tão lírico como Bielsa o imagina, o selecionador do Uruguai não teria abordado o jogo com um cinismo eficaz que agora lhe permite disputar as meias-finais. Talvez o cinismo seja um traço definidor dos uruguaios e o jogo pelo qual ficou acordado madrugada dentro seja um hino à essência de ser uruguaio com uma bola nos pés, mas tenho as minhas dúvidas. O facto é que até Bielsa sabe que o futebol romântico pelo qual ele suspira é avistado cada vez menos vezes, inclusivamente nas suas equipas, e se tornou uma nota de rodapé. A Geórgia não quer ser uma seleção caótica e fofinha no meio de outras 23 com boa organização e grandes transições defensivas. A Geórgia quer competir, e é na medição rigorosa desse esforço que ganhará o respeito dos seus cidadãos. Os Camarões não voltarão a jogar em 2x3x4x1 com Roger Milla a dançar lá à frente.
Sei que é um exercício cruel, porque falo do país e de alguns dos jogadores que mais tempo passei a ver jogar, mas até a Holanda de Cruyff, que em 1974 parou o mundo para mostrar a todos o seu futebol total, perdeu a final como tantos outros antes e depois. A influência produzida por essa ideia de jogo perdurou e perdura, com a ligeira nuance de ter sido apurado para garantir o máximo de vitórias possíveis, que ainda são a melhor razão para nos embebedarmos.
Só sairemos daqui se o futebol encontrar algo que hoje me parece impossível: uma forma de monetizar a identificação cultural por via da bola no pé, ao estilo de uma Eurovisão em que o último classificado olha sorridente para a câmara, incapaz de ficar triste porque perdeu, mas antes sorridente porque aconteceu. Ou talvez todos protestemos até o futebol se tornar outra coisa qualquer, ou talvez voltemos a apoiar a equipa da nossa aldeia, porque o importante é somente estar com os amigos. Enquanto nada disso acontece, oremos pela evolução da espécie para que permita o aparecimento de uma próxima geração de génios, ao dispor de todos os clubes e treinadores, tão brilhantes que serão capazes de reagir à posse como um operário e encantar como um João Félix. Temos tempo e vamos esperar, naturalmente, sentados — numa bancada qualquer, a exigir menos conversa e que o jogo prossiga."

Liberté, Égalité, Mbappé


"Jogadores franceses tomaram posição sobre as eleições e ‘ganharam’ ao ódio

O resultado das eleições em França - em que um bloco de partidos de esquerda relegou a extrema-direita de Le Pen para o 3.º lugar - diz muito a uma Europa que se debate com ideias de regressão e sentimentos de medo e ódio que numa História não demasiado distante conduziram este continente e o Mundo para guerras e extermínios em massa. O alívio dos defensores da democracia e dos franceses que acreditam nesta como o melhor caminho possível para a liberdade, igualdade e fraternidade foi muito além do campo da política e sentiu-se também no relvado.
É que enquanto este país aqui tão perto - e com quem partilhamos tanto - refletia sobre tudo isto, houve um conjunto de jogadores da seleção francesa que não teve receio de tomar posição. Mbappé foi o que teve mais impacto, mas Thuram, Koundé, Dembélé, Konaté e Tchouaméni foram outros dos que se posicionaram pela diversidade, tolerância e respeito numa França que tanto ganha no futebol com a multiculturalidade e com esses mesmos valores.
Na passada sexta-feira, Portugal chorou com Pepe e Cristiano com a eliminação do Euro 2024, outra vez pelos franceses, que marcaram cada penálti com pouca diversidade - todos foram excelentes - e que só em 2016 tiveram tolerância com os portugueses (com um golo marcado por um português de Bissau e um cigano a entrar para o lugar de Ronaldo, tão bom!). Desse jogo já muito se disse e escreveu, mas, dois dias depois, até nós, as vítimas de tanta qualidade em campo, podemos e devemos assinalar com todo o respeito a atitude destes jogadores, contra até a própria federação, que foi tentando mostrar nada mais do que neutralidade («Se és neutro em situações de injustiça, escolheste o lado do opressor» - Desmond Tutu).
Num futebol moderno cada vez mais distante das massas, em que os jogadores vivem em redomas de vidro desde muito jovens e os adeptos são cada vez mais vistos como clientes, e em que defender os direitos mais básicos da Humanidade pode parecer uma opinião que pode afastar patrocinadores, prémios e direitos televisivos, as palavras de Mbappé e outros não são só um exemplo de cidadania e do uso de uma plataforma que é a mais importante dentro das coisas menos importantes da vida. Foram um ato de coragem.
Portugal, infelizmente, não está assim tão distante do cenário político que agora vemos em França. Mas tenho dúvidas que os jogadores portugueses ainda pensem e falem como cidadãos preocupados com o que se passa à volta. Recentemente, Miguel Maga, do Penafiel, ousou dizer «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!» - e foi a intervenção política mais marcante do futebol nacional em muito tempo. Entretanto, uma deputada portuguesa publicou uma fotografia do nariz ensanguentado de Mbappé no Euro com a citação «A França aos franceses!». A melhor resposta chegou pelo voto (a beleza da democracia!): Mbappé está do lado certo, ganhou e a França é de todos! Touché!"

Prueba superada, señor Martínez


"Roberto Martínez disse logo, desde o início, que contava com Ronaldo. Mas o que se pensava que fosse uma nova era de gestão equilibrada do avançado português revelou-se um exercício de obediência cega ao mais penoso dos ditames: não toques no Ronaldo

Imagino Roberto Martínez, numa noite fria de Bruxelas, a receber uma cassete (sim, uma cassete) com uma proposta irrecusável: saltar de uma das melhores seleções europeias diretamente para outra, com um ordenado faraónico e num país com melhores condições meteorológicas e gastronómicas. Futebolisticamente era quase o mesmo que treinar a Bélgica: um grupo de jogadores talentosíssimos em quase todos os setores. Ao nível da qualidade de vida, nem se compara, pelo menos para alguém com os rendimentos de Martínez.
Havia uma ressalva, aliás exposta na tal mensagem imaginária: “a sua missão, caro Roberto Martínez, é a de trazer de regresso à seleção portuguesa o capitão Cristiano Ronaldo e voltar a fazer dele o Alfa e o Ómega da equipa de todos nós (menos dos que acham que o Ronaldo de vez em quando devia ir para o banco)”. Não era uma missão sem espinhos. Martínez, homem inteligente, deve ter olhado para as costas dos vizinhos, dos seus antecessores, e percebido que, mesmo aos 38 anos e a jogar na fortíssima liga saudita, Cristiano Ronaldo não é uma força que se enfrente sem pagar o derradeiro preço.
O espanhol lá fez as contas e terá concluído que havia trabalhos piores no mundo. Nunca enganou ninguém. Disse logo que contava com Ronaldo. Mas o que se pensava que fosse uma nova era de gestão equilibrada do avançado português revelou-se um exercício de obediência cega ao mais penoso dos ditames: não toques no Ronaldo. O que antes, atendendo ao extraordinário desempenho do jogador, era uma dança difícil entre as suas características e as necessidades da equipa tornou-se durante este Europeu num dogma surreal: mesmo contra todas as evidências, com os números que tantas vezes foram usados para exaltar Ronaldo a demonstrarem a sua absoluta ineficácia, ele jogou sempre, cada minuto (exceção a uma meia-hora contra a Geórgia) de cada jogo, sempre com aquela esperança, cada vez mais desligada dos factos, de marcar o golo redentor.
Confirmada a eliminação, ainda houve quem tivesse tido o descaramento de apresentar Cristiano como mártir de uma seleção de apóstolos que não o souberam servir: afinal, a culpa de CR7 não ter marcado um único golo – a primeira vez que lhe aconteceu na carreira – de ter passado os jogos perdido no Vietname dos centrais, não é dele, nem da diminuição absolutamente normal das suas faculdades, nem de estar habituado a enfrentar defesas de areia na Arábia e agora ter de lidar com defesas de betão. Não, a culpa é dos seus companheiros, esses coxos, que não lhe oferecem os golos em bandejas de prata.
Como todas as seitas, não é possível argumentar com os cristiano-ronaldistas. Nem é essa a minha intenção. O que queria era fazer uma avaliação de Roberto Martínez. Sendo o mais isento possível, a nota só pode ser positiva. A participação portuguesa não foi um desastre, chegou aos quartos de final, o mínimo dos mínimos, com a atenuante de ter calhado no lado mais difícil do quadro e de ter caído frente a uma equipa muito sólida, e cumpriu a missão que lhe propuseram e que ele aceitou: voltar a fazer da seleção a equipa de Cristiano Ronaldo sem nunca deixar cair o capitão, sem revelar a mínima hesitação, sem nunca fazer pairar sobre o jogador a mais pequena nuvem de desconfiança. Por tudo isto, parabéns, señor Martínez. Como se dizia no Juego de la Oca: prueba superada!"

Ronaldo, hora de colocar o dedo na ferida


"Esse tempo em que foi rei e senhor dos relvados porém acabou. Na Europa do futebol, onde se encontram as maiores equipas e os melhores jogadores, já há muito que havia perdido o gás.

Parece-me claro que é hora de colocar o dedo na ferida e um ponto final no assunto. Mas vamos ao início. Portugal estará por certo, sempre agradecido ao jogador madeirense. Isso nem se põe em causa, nem tão pouco o que representa à escala global. Cristiano marcou uma época e gerações de jogadores, numa batalha brutal com Lionel Messi. Umas vezes ganhou, outras perdeu. Inspirou muitos jovens através da sua força de vontade, da finta estonteante e do remate letal. Esse tempo em que foi rei e senhor dos relvados porém acabou. Na Europa do futebol, onde se encontram as maiores equipas e os melhores jogadores, já há muito que havia perdido o gás. Foi por isso, por não encontrar equipa nenhuma de topo que o quisesse, que se despediu do agente Jorge Mendes (como se a culpa fosse dele…) e viajou até à Arábia Saudita para tentar prolongar um pouco a sua carreira e encaixar mais uns valentes milhões.
O facto de ter baixado a exigência e de ter ido para uma liga de terceira categoria, fez com que voltasse a marcar golos, que se sagrasse o melhor marcador e lhe subissem novamente os níveis de confiança ao ponto de achar que podia ser preponderante na seleção. A verdade é que por muito que Cristiano nos tente fazer crer do contrário, a liga do Médio Oriente está a anos luz do que se pratica no continente europeu. Não tem comparação possível, aliás o futuro Mundial de Clubes será ótimo para colocar tudo em pratos limpos, embora já no último tenhamos ficado com a certeza da falta de andamento.
Não duvido que Ronaldo goste muito da seleção, nem que lhe custe admitir que o seu tempo já passou. Mas acho que muitas vezes coloca os seus interesses pessoais, os seus recordes e o seu ego à frente dos interesses do país. Com isso tem-se ressentido a nossa equipa. Não é preciso ser-se um génio para perceber que a melhor fase dos últimos anos, aquela em que praticámos melhor futebol e fomos um verdadeiro conjunto foi na Liga das Nações de 2019 que Portugal venceu, curiosamente sem a sua presença. Mas a culpa disto tudo é muito da Federação Portuguesa de Futebol e do selecionador. Ninguém consegue meter ordem na mesa e ninguém sequer tem “tomates” para o substituir. Parece que tem que jogar os jogos todos e quando sai faz birra. Vê-lo barafustar cada vez que não lhe passam uma bola faz com que muitos jogadores joguem pior com a sua presença em campo porque se sentem na obrigação de jogar para ele.
É por isso tempo de ir para a prateleira dourada onde figuram nomes como Eusébio ou Fernando Gomes que nunca deixarão de ser nossos ídolos. Já o podia, aliás, ter feito e teria deixado uma marca de maior unanimidade do que a que tem agora. Isto não se trata de ser mal agradecido ou anti-Ronaldo. São factos. Que continue na Arábia o tempo que lhe apetecer mas na Seleção Nacional chegou a hora de dizer adeus."

Queremos mais


"1. Depois de uma época frustrante e, pior do que isso, fraturante regressou o Benfica à acção ainda sem os jogadores que estão envolvidos no Europeu. João Neves, António Silva e Kokçu continuam integrados nas suas respetivas seleções, sendo que uma é a nossa e a outra é a da Turquia. A estes três que estão na Alemanha desejamos as maiores felicidades, naturalmente. A melhor maneira de enterrar definitivamente a triste campanha de 2023/2024 é iniciar a campanha de 2024/2025 com os olhos postos nos títulos que o Benfica tem para conquistar.

2. Nos cinco últimos anos desportivos o Benfica apresenta um palmares pouco digno do seu nome e estatuto. Uma Supertaça conquistada em Agosto de 2019 e um título de campeão conquistado em Maio de 2023. É pouco, muito pouco. Queremos mais.

3. Vangelis Pavlidis e Leandro Barreiro foram as novidades destes primeiros dias. Ainda não os vimos jogar, mas já os ouvimos falar. 'Se o Benfica te chama, não podes dizer que não', disse o jogador grego à chegada. 'Sou adepto do Benfica desde pequeno, vejo todos os jogos e conheço as emoções dos adeptos', disse o luxemburguês. Ambos começaram bem, falta o resto.

4. Falemos do futuro. Oito jogadores formados na casa foram chamados pelo treinador da equipa principal aos trabalhos do arranque da temporada de 2024/2025. Diogo Ferreira, Arnas Voitinovicius, Diogo Spencer, Leandro Santos, Tiago Parente, Bajrami, Pedro Santos, João Rego começaram a época em pé de igualdade com os demais companheiros. Não há alegria maior para um adepto do Benfica do que ver um aluno das nossas escolas graduar-se na equipa de honra. Cá estaremos todos para os apoiar.

5. O condenado Francisco J. Marques está de saída do cargo que ocupou na direção de comunicação do FC Porto, dizem os jornais. Sairá ou não sairá, eis uma questão entre Marques e o seu patrão a que o Benfica é alheio. Ao que o Benfica não é alheio é ao facto de Marques ter de pagar ao Benfica mais de um milhão de euros a título de indemnização pela campanha infame que orquestrou. Assumirá o FC Porto os custos de ter sido ao seu serviço semelhante figurinha? Que não haja piedade.

6. A seleção nacional de futebol vai discutir com a França a qualificação para as meias-finais do Europeu. A campanha da seleção de Roberto Martinez não tem sido empolgante. antes pelo contrário. É verdade que temos assistido a alguns empolgamentos, mas não são do género de nos fazer acreditar nas reais possibilidades de a equipa nacional portuguesa repetir a proeza de 2016. Tratando-se de futebol, no entanto, tudo pode acontecer e é nisso que se fiam os adeptos portugueses.

7. Quanto António Silva, apedrejado na praça pública depois do jogo com a Geórgia, não haverá benfiquista que não lhe queira dar um grande abraço. Carrega, Tójó!"

Leonor Pinhão, in O Benfica

"Uma certa robustez" na salvaguarda da natação


"Manuel Pancada da Silveira (1904-1911) foi fundamental nos primórdios e na manutenção das modalidades aquáticas no Clube

As primeiras braçadas da natação no Benfica foram em 1914, mas a modalidade só se evidenciou no final da década seguinte. Nesse período, Manuel Pancada da Silveira, alenquerense empregado no Banco Nacional Ultramarino, iniciou a sua curta carreira de nadador de competição no Clube, entre 1925 e 1932. Estreou-se na prestigiada Travessia do Tejo, em 1925, com um 11.º lugar, e destacou-se com algumas participações em festas de beneficência.
Enquanto atleta, teve maior expressão no polo aquático, alinhando em 47 jogos entre 1925 e 1933, com 10 golos marcador. Foi duas vezes campeão de Lisboa de terceiras categorias e bicampeão de segundas.
Pancada da Silveira defendia que a natação exigia 'uma certa robustez' e que o estilo de bruços era 'a melhor e mais racional ginástica para o corpo humano (e) o seu desenvolvimento pela harmonia no esforço dos membros'.
Enquanto dirigente, assumiu cargos em instituições desportivas relacionadas com a natação e nos órgãos sociais do Benfica. Cedo se ligou à secção de natação encarnada, da qual foi presidente entre 1931 e 1933.
A sua 'fé e trabalho inexcedíveis', enquanto seccionista, foram 'a força dinâmica' da modalidade encarnada, a braços com problemas como a falta de espaço para o ensino e treino, num terreno alugado na Doca. Projetou-se lançar uma jangada ao Tejo, mas foi impedida pela Administração do Porto de Lisboa. A 'falta de comodidades' dos rudimentares balneários, segundo Pancada da Silveira, motivavam a ausência de natação feminina no Benfica.
No inverno, os benfiquistas tinham de treinar nas piscinas cobertas de Algés, numa época em que se demorava mais de hora e meia e lá chegar. Não tardou a sentir-se 'a falta de novos nadadores'. Assim nasceu a Comissão Pró-Piscina para o Campo das Amoreiras, que teve na figura de Pancada da Silveira o presidente.
Houve momentos positivos, com os primeiros contactos internacionais do polo aquático, mas os negativos pesavam. Pancada da Silveira desabafou que seria 'preferível', com um golpe violento, eliminar esta secção do que vê-la morrer lentamente'. Efetivamente, o polo aquático foi extinto e a natação suspendeu a atividade antes de 1940. Ao longo do tempo, Pancada da Silveira envolveu-se na promoção da natação e não deixou de defender a sua importância no Benfica. Em 1978, aquando da inauguração da piscina do Benfica, foi um dos primeiros a entrar na água, gesto simbólico de vitória na luta pela vida das modalidades aquáticas.
Conheça outras figuras da história da natação do Benfica na área 3 - Orgulho Eclético, do Museu Benfica - Cosme Damião."

Pedro S. Amorim, in O Benfica

Sem peso, nem medida


"Escrevo esta crónica antes do jogo desta sexta-feira a contar para os quartos de final do Euro 2024 com a França. E começo por deixar já clara a minha posição quanto à presença de Cristiano Ronaldo na seleção portuguesa: por mim, joga sempre. Enquanto não pendurar as chuteiras e estiver em forma física, CR7 terá sempre lugar na equipa, seja como titular, seja a sair do banco. Ganhou esse direito por tudo o que já fez no futebol e deixa em campo. Ter a oportunidade de o continuarmos a ver em ação é um privilégio que, talvez, só iremos perceber quando se retirar do futebol profissional. Claro que Cristiano pode - e deve - jogar com mais alguém ao lado. E a equipa da Federação Portuguesa de Futebol tem lá boas opções.
Todos somos treinadores de bancada, todos temos opinião. È assim quando se fala do SL Benfica, deveria ser assim quando se trata da Seleção. Mas não é. Tivesse um qualquer treinador do Glorioso feito algo semelhante ao que Roberto Martinez operou no jogo com a Eslovénia e era crucificado em praça pública. Tirar o avançado que mais trabalho estava a dar aos adversários para colocar um brincalhão numa cabine telefónica ou substituir o médio em melhor forma da equipa por um desinspirado atacante (sim, mas ganhou uma grande penalidade...) foram só mais uns equívocos. Mas está tudo tranquilo, em prol do bem comum. Basta ver as tristes reações à exibição de António Silva com a Geórgia para perceber que é o vermelho que continua a toldar a visão a muita gente. Nada de novo, só uma constatação.
E agora, a França... com erros de casting ou não, é ir à luta. Uma vitória pode ajudar a mostrar o valor conjunto de tantas individualidades de excepção. Uma derrota, de positivo, só terá o descanso de António Silva e João Neves, a pensar na pré-época que agora começou."

Ricardo Santos, in O Benfica

De voz recuperada!


"Viajei de Portugal até à Alemanha para assistir aos oitavos de final com a Eslovénia e, sem contar, viver uma das experiências mais incríveis da minha vida: beber um copo de água por 6,20€. Sabemos pelo testemunho de inúmeros portugueses emigrados na Alemanha que o país está muito bem desenvolvido, mas não fazia ideia que a água também estava num patamar de desenvolvimento tal, ao ponto de ter vestígios de ouro na sua composição.
À medida que o jogo de aproximava do final, mais eu me questionava acerca dos gastos que me conduziram até ao Deutsche Bank Park. Quando o Sesko se isolou a 5 minutos do fim do prolongamento, o preço daquela água pareceu-me um absurdo, mas depois do remate do Bernardo senti que valeu cada cêntimo.
Apoiar a seleção nacional em fases finais de europeus e mundiais é sempre especial. Não me faz qualquer confusão torcer para que o Diogo Costa não consiga defender penáltis no campeonato ao longo do ano, e ficar com o coração nas mãos e rezar para que nenhuma grande penalidade entre na baliza dele no europeu - até porque ao longo do ano não há assim tantas situações onde essa circunstância se dê.
Poder vibrar com o talento de jogadores de outras equipas, adversários ou não, é o que de mais maravilhoso tem a seleção nacional, para além dos golos celebrados com amigos que durante a época queremos ver infelizes ao fim de semana. O ambiente vivido antes, durante e depois do embate com a Eslovénia foi o expoente máximo daquilo que é a magia do futebol. Falar português é bonito, cantar em português é ainda mais, mas cantar em português num coro partilhado com adeptos de todas as cores é mais espectacular ainda. Diz uma das músicas que 'se jogarem como bebemos, seremos campeões', e eu acredito muito nisto. Até porque beber um copo de água por 6,20€ é mesmo de quem está disposto a qualquer esforço para manter a voz afinada. Desta vez no sofá, a minha está pronta para logo à noite voltar a festejar uma vitória contra os franceses."

Pedro Soares, in O Benfica

O homem que marcava demais


"Este texto não é sobre o Benfica. È sobre desporto, sobre respeito, sobre paixão, sobre magia, enfim, sobre tudo o que me dez gostar de futebol.
No primeiro dérbi lisboeta que recordo, Manuel Fernandes marcou. No primeiro a que assisti ao vivo, voltou a marcar. Em ambas as ocasiões o Benfica perdeu. Pelo meio, antes e depois, o temível goleador anotou 14 golos ao meu clube, ao nosso clube - quatro deles, também não esqueço, nos célebres 7-1. Como não sou do tempo de Peyroteo, Manuel Fernandes foi quem mais vi marcar ao Benfica. Foi, porventura, o jogador de futebol que mais me fez sofrer - talvez em paralelo com Fernando Gomes, infelizmente também já desaparecido.
Dentro do campo, na área encarnada Manuel Fernandes era, na minha infância, a encarnação do diabo.
O meu fascínio pelo jogo e pelos jogadores crescia. Colava os cromos dele com o mesmo zelo que os de Chalana ou de Nené. Talvez até com mais, quem sabe para evitar despertá-lo, ou para que não saltasse da caderneta e se isolasse diante do Bento. Nessa apaixonante história de heróis e vilões, Manuel Fernandes era naturalmente, um dos personagens principais. Uns estavam do seu lado, outros do lado de lá, mas todos habituavam o mesmo universo mágico, todos se sentavam naquele Olímpo de deuses, até porque o Benfica não existira sem adversários. No mundo polarizado, fragmentado e fanatizado em que vivemos, talvez estas palavras não soem bem no jornal do clube rival. Perdoem-me por isso, mas não foi assim que cresci. E a verdade é que, com Manuel Fernandes morreu também um bocadinho da minha infância. Isso, caro leitor, está para além de qualquer vitória ou qualquer derrota, está para além de qualquer clube.
Obrigado, Manuel Fernandes, por teres contribuído, ainda que do outro lado, para a minha enorme paixão pelo futebol."

Luís Fialho, in O Benfica

Community Champions


"Ser campeão é muito mais que ter resultados. É certo que sem resultados não se chega a campeão, mas é igualmente certo que a qualidade de campeão não se alcança senão pelo reconhecimento dos outros. É assim que os verdadeiros campeões, não os que apenas ganham, mas os que perduram, são admirados tanto na vitória como na derrota. Esses, legitimam-se pelo modo como se projetam nas suas atitudes, no seu comportamento, na sua aparência física e na sua estatura moral.
Quer dizer, em última análise, que nada somos uns sem os outros e até a estrela mais brilhante se apaga num firmemente que não lhe dê contraste nem lhe permita destacar-se. Ser campeão é ser capaz de inspirar os outros e de lhes transmitir generosamente que o inatingível é na verdade possível e pode ser alcançado com trabalho, superação e atitude.
Ser campeão é dar à comunidade um sentido de união e força que a todos beneficia e melhora. Foi por isso que chamámos Community Champions e este projeto de futebol comunitário, para ajudar os jovens a descobrirem e afirmarem coletiva e individualmente a sua fibra de campeões.
Mas ser campeão é também conquistar o prémio e gozar o descanso com a satisfação da conquista feita. Por isso aproveitem, jovens Community Champions!"

Jorge Miranda, in O Benfica