terça-feira, 25 de junho de 2024

Sinal dos tempos


"Churchill disse um dia que o democracia era o pior sistema... à excepção de todos os outros. O mesmo poderia aplicar-se às Assembleias Gerais dos clubes. Num Benfica com tantos pergaminhos democráticos, confesso que não vejo alternativa. Mas a verdade é que este modelo de AG potencia hoje mais e arruaça do que o esclarecimento sereno, e favorece a preponderância de pequenas minorias inflamadas com elevada capacidade de mobilização, face à larga maioria dos quase trezentos mil sócios espalhados pelo país e pelo mundo - sem falar de protagonismo pessoais em busca de holofote.
Ali, aprovam-se ou reprovam-se contas sem que se perceba, ou sequer leia, os documentos em causa. Ali, grita-se 'demissão' e este presidente, como se gritaria e outro qualquer que não vencesse o campeonato.
Esta realidade é também produto de um tempo em que existe muito mais informação disponível sem que exista naturalmente muito mais inteligência para a filtrar, o que a transforma em simples ruído. E não é lugar exclusividade do Benfica, nem do desporto, nem sequer do país. É de um mundo em que a sensatez e a prudência deram lugar à gritaria, ao insulto, à intolerância e por vezes até mesmo à violência. Tudo o que interessa é, a coberto de uma obtusa noção de 'exigência', contestar, condenar, insultar e deitar abaixo. Depois? Logo se vê.
No meio de tudo isto torna-se difícil ser optimista quanto ao futuro próximo. Se o Benfica não voltar a ganhar rapidamente, o barulho vai recrudescer, para gáudio dos rivais e de um comunicação social ávida de sangue. E fatalmente irá afectar o rendimento desportivo das nossas equipas.
Ora, os problemas do Benfica são sobretudo futebolístico e esgotam-se na temporada que agora terminou. Nessa medida, o que precisamos não é de um novo presidente, é de um novo ponta-de-lança."

Luís Fialho, in O Benfica

Casa comum


"É o que é, e não há como escapar: o planeta Terra é mesmo a nossa casa comum, e não é mesmo possível poluir de um lado e beber água pura e cristalina de outro. Parece que é, mas não é! Não sei porquê, as sociedades mais evoluídas, que são aquelas em que há mais acesso à educação e é informação, parecem ser as que têm maior dificuldades em aceitar que o seu estilo de vida tem mesmo de mudar. Anos houve, para não dizer que ainda há, em que os países mais ricos transferiam para países pobres lixos tóxicos, plásticas, têxteis e outros a troco de compensações financeiras, tornando os seus territórios 'limpos' e brilhando nos indicadores e rankings internacionais da qualidade ambiental. O princípio do poluidor-pagador tão em voga até há pouco acabou por ter esse efeito pernicioso. O planeta lá foi aguentando até não poder mais e devolver tudo nas marés de praias paradisíacas e destinos turísticos de excelência, ou aquecendo o clima à custa das emissões de carbono a níveis capazes de provocar alterações climáticas em consequências cataclísmicas. Agora já nenhum país, rico ou pobre, pode ignorar o assunto, e todos perceberam finalmente que a Terra é redonda e uma só, e que não há mais como esconder o lixo 'debaixo do tapete' sem envenenar chão, tapete e tudo. Como sempre os pobres são os mais vulneráveis em países sem infraestruturas e sem capacidade de prevenção ou reação às crescentes catástrofes climáticas, mas os ricos também já sentem na pele este fenómeno, e todos, finalmente, entenderam que é preciso agir. Agora, que temos entendimento, já só falta passar das palavras aos atos, o que parece tardar. Daí a importância das iniciativas da ONU para alterar o mundo!"

Jorge Miranda, in O Benfica

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"1
A equipa feminina do Benfica de minitrampolim sagrou-se campeã nacional;

3
O canoísta Fernando Pimenta conseguiu 3 medalhas no Campeonato da Europa de Velocidade. De Bronze em k1 1000 metros, de prata em K1 500 metros e de ouro em K1 5000 metros;
Agate Sousa ganhou a medalha de bronze do salto em comprimento no Campeonato da Europa de atletismo, juntando-se a Pedro Pichardo entre os atletas do Benfica medalhados (prata no triplo salto);

4
O Campeão é tetracampeão nacional de futsal sub-17;
Catarina Santos foi 4.º classificada no escalão júnior do Europeu de duatlo;

6
São 6 os jogadores do Benfica no Campeonato da Europa de Futebol: Trubin (Ucrânia), Bah (Dinamrca), António Silva e João Neves (Portugal), Jurásek (Chéquia) e Kokcu (Turquia);

13
Há 13 jogadores associados ao Benfica Campus (formação e equipa B) no Campeonato da Europa: a seleção portuguesa conta com 10 jogadores: José Sá, Nélson Semedo, João Cancelo, Rúben Dias, António Silva, Danilo, João Neves, Bernardo Silva, João Félix e Gonçalo Ramos. Na seleção polaca consta Pawel Dawidowicz. Na seleção eslovena Oblak (apenas 2 jogos pela B). Na seleção sérvia, está, ainda, Jovic;

50
A nova camisola principal do futebol benfiquista é inspirada na usada há 50 anos, em 1974/75, a dos primeiros campeões nacionais em democracia. Na apresentação, António Bastos Lopes, Cavungi, Diamantino Costa, José Henrique, Shéu Han e Toni foram os representantes desse plantel campeão;

1992
Na Assembleia Geral Ordinária do Sport Lisboa e Benfica, para apreciar e deliberar sobre o orçamento ordinário de exploração, o orçamento de investimentos e o plano de actividades para o exercício 2024/25, votaram 1992 sócios do Clube."

João Tomás, in O Benfica

PS: Acontece poucas vezes, mas o João 'esqueceu-se' do Kevin Csboth...!

Parabéns, senhores árbitros


"Euro está a correr bem aos árbitros e quem beneficia é o futebol. Que assim continue

A Escócia terminou a participação no Euro 2024 com duas derrotas e um empate e, como manda a tradição, o selecionador aproveitou a última conferência de imprensa para se queixar do árbitro. O lance na área húngara em causa envolveu Stuart Armstrong e Willi Orban e é daqueles vídeos que podemos ver muitas vezes e ir mudando de opinião: por vezes parece penálti claro, por derrube do escocês, noutras parece que este deixou a perna à espera do contacto e que até puxa o adversário para se embrulharem um no outro.
Nestes casos, aquilo que o Comité de Arbitragem da UEFA determinou para este Campeonato da Europa é que o VAR só deve recomendar ao árbitro principal a revisão do lance se a falta for clara e evidente - o que me parece uma evolução muito positiva, para que a tecnologia deixe de continuar a estar associada à subjetividade. Ora, por muito que custe aos escoceses (e até a mim, que acompanhei com agrado a festa destes adeptos desde dia 14 de junho), o VAR fez bem o seu trabalho.
E esta tem sido, aliás, a tónica durante o Euro 2024. Os jogos têm sido interessantes, muitos intensos e, com a chegada da hora das decisões, sempre emocionantes. E, para isso, também têm contribuído os árbitros. São bons e, assim, não receiam as suas decisões (são mais respeitados pelos atletas por isso), não param o jogo em demasia, distribuem cartões com moderação (mas sendo implacáveis quando está em causa a integridade física dos jogadores, como na entrada duríssima de Porteous sobre Gundogan no jogo inaugural), não precisam de se impor com discussões (só o capitão tem autorização para falar com o árbitro, os restantes correm o risco de ver um cartão) e têm a ajuda da tecnologia para tornar a partida mais justa, mas sem paragens excessivas de tempo que tiram ritmo e interesse e sem decisões subjetivas que só aumentam a desconfiança - e os respetivos queixumes.
Por isso, parabéns aos árbitros e às recomendações que melhoraram o espetáculo e que têm assegurado que o Europeu continue a ser incrível de acompanhar, com três jogos durante o dia ou dois ecrãs em simultâneo para ver como acaba cada grupo (vamos ter saudades!). Que Artur Soares Dias e a restante comitiva portuguesa da arbitragem possam estar entre os melhores nestes momentos também é motivo de orgulho, ainda que eu não seja nada dada a nacionalismos.
Mas claro que tudo isto só é válido até Portugal ter uma razão de queixa. Não façamos de conta que de repente estamos todos muito evoluídos desportivamente. O Euro 2024 pode não ter rivalidades e azia ou gozo com o colega de trabalho no dia seguinte, mas isto só é tudo muito bonito enquanto se ganha e não há chatices. No fundo, percebemos bem Steve Clarke: quando precisamos mesmo de um penálti para nos salvarmos, é natural que todos os duelos na área adversária pareçam falta. Não é subjetivo, é humano. Como os árbitros, já agora."

Aumento do preço dos Red Pass


"Temos lido algumas críticas sobre o aumento dos preços dos Red Pass, como tal, decidimos fazer esta publicação para esclarecer os motivos por trás desses ajustes, influenciados pela inflação e pelos custos crescentes, e para destacar as melhorias oferecidas.

1. Aumento Médio: O aumento médio para quem possui Red Pass e frequenta os jogos é de cerca de 10%. Este aumento inclui dois jogos de pré-época e um jogo extra da Liga dos Campeões, devido ao novo formato.

2. Red Pass Mais Económico: No Red Pass + Vantagens Piso 3 (atrás da baliza), o custo médio por jogo (Campeonato, Taça da Liga, Liga dos Campeões e Taça de Portugal) é inferior a 10 euros. Com um valor total de 225 euros para 27 jogos, incluindo três jogos da Taça de Portugal, esta opção é bastante acessível. Para os jogos nacionais, o custo médio é inferior a 7 euros por jogo.

3. Red Pass Intermédio: No Red Pass BTV/Emirates Piso 3 Superior, com um custo de 370 euros, o preço médio por jogo é cerca de 13 euros.

4. Red Pass Total: Quem optou pelo Red Pass Total, necessário para as áreas premium do estádio, enfrenta um aumento maior, mas agora inclui jogos da Liga dos Campeões. O custo médio por jogo nestas áreas é cerca de 20 euros. Para quem já tinha o Red Pass Total nestas zonas, o aumento é de aproximadamente 15%. Estes são os melhores lugares do estádio.

5. Facilidades de Pagamento: Existe a possibilidade de pagamento em três parcelas sem juros, além da utilização dos valores acumulados na carteira virtual.

6. Preços Acessíveis: Os Red Pass estão disponíveis a partir de 135 euros. Para aqueles que incluem jogos internacionais, os preços começam em 225 euros, resultando numa média de 8,5 euros por jogo.

Esperamos que esta explicação ajude a esclarecer as razões por trás dos aumentos nos preços dos Red Pass."

O valor do Red Pass subiu


"Consequências da oferta e procura quando o SL Benfica tem uma fila de espera a rondar os 15 mil sócios.
Para os "puros que só eles sabem o que é o Benfica", habituais frequentadores de AG's, o valor é excessivo e - dizem eles - vai ser aplicado na redução ou diminuição dos FSE's ou para pagar jogadores que foram erros de casting.
O SL Benfica fez uma nota em que explica que o aumento do valor do Red Pass se justifica devido ao incremento de mais um jogo da Champions League, no novo formato, bem como o acesso a dois jogos particulares, no caso do Red Pass Total.
Eu acrescentaria que esse aumento também irá servir para pagar as multas de lançamento de tochas e da pirotecnia, de que ele tanto gostam.
Mas isso já não interessa para nada!!"

A culpa é do Benfica - ep. 6448999


Ionnidis já não será jogador do Sporting.
E de quem é a culpa!?
Invariavelmente do Benfica, está claro!! 😏
Aí Altis para que vos quero!! 🤦🏼‍♂️

Gimnáguia com recorde


"A 42.ª edição da Gimnáguia foi a que contou com mais participantes. Este é o tema em destaque na BNews.

1. 42.ª Gimnáguia
630 participantes, dos quais mais de meio milhar eram atletas do Benfica, tornaram histórica a edição deste ano da Gimnáguia, realizada no Pavilhão Fidelidade, repleto de público e com transmissão em direto na BTV.

2. Red Pass
Já se iniciou o período de renovação dos Red Pass para a temporada 2024/25.

3. Campeonato da Europa de futebol
António Silva e João Neves estrearam-se na fase final da prova.

4. Apoiar o Benfica
O jogo 4 da final do Campeonato Nacional de hóquei em patins, entre Benfica e FC Porto, é na quarta-feira, na Luz, às 18h00. A equipa benfiquista tem o objetivo de ganhar e levar a final para a negra.

5. Na final
A equipa feminina de hóquei em patins do Benfica garantiu a presença na final do Campeonato Nacional, onde pretende conquistar o 11.º título nacional consecutivo.

6. Campeões
Os Sub-19 de hóquei em patins do Benfica sagraram-se campeões nacionais.

7. Zona Mística
De saída do Benfica, o andebolista Paulo Moreno concede uma entrevista em que faz o balanço dos 19 anos de serviço ao Clube e aborda a condição perpétua de adepto e a relação com os Benfiquistas."

Um sonho. Cumprir esse sonho. Como?


"A partir de 1 de julho, a disciplina tática, em detrimento do talento puro, ganha outra relevância. Porque serão os detalhes a mandar...

Calma, muita calma. Nem éramos o flop por muitos anunciado depois da vitória tardia e da exibição cinzenta, frente à Chéquia, nem somos os campeões europeus anunciados, após um triunfo robusto e uma exibição convincente ante a Turquia. Já referi, e volto a fazê-lo, que nestas grandes competições há sempre tendência para o exagero, ou somos muito bons, ou muito maus, quando, realmente, só há uma forma, parafraseando Paulo Bento, de encarar um Campeonato da Europa: jogo a jogo.
E devemos ter consciência de que num Europeu ou num Mundial, há, afinal, dois: aquele que se joga na fase de grupos, e o outro, muito mais calculista, que entra em campo nos duelos de mata-mata.
Para Portugal, que se sente desconfortável quando tem de desmontar autocarros, como sucedeu com a Chéquia (bloco baixo, defesa a cinco, linhas juntas e boa qualidade no jogo aéreo), e está muito mais à- vontade quando o adversário decide, como a Turquia, jogar olhos nos olhos, os oitavos de final não são uma má notícia, porque torna-se menos provável defrontar equipas radicalmente defensivas. Porém, a partir dessa fase, o erro paga-se com língua de palmo, e os jogos são definidos, ou nos detalhes, ou dos onze metros (é só lembrar os sinais diferentes do Polónia-Portugal, de Marselha, em 2016, ou do Portugal-Espanha, de Donetsk, em 2012).
Para já, segue-se a Geórgia, depois de amanhã, e não seria mau se Roberto Martínez perguntasse a Humberto Coelho o que fez em 2000, numa situação similar, em que após dois jogos já tínhamos ganho um grupo onde só estavam Alemanha, Inglaterra, e a melhor Roménia de sempre, de Gica Hagi. O atual vice-presidente da FPF, à altura selecionador nacional, mandou a segunda linha para o encontro com a Alemanha, e venceu com um hat trick de Sérgio Conceição, que ainda hoje deve fazer parte dos pesadelos de Oliver Kahn.

Numa competição de fim de época, que, se tudo correr bem, terá sete jogos num mês, há que racionalizar os efetivos, por um lado poupando-os a esforços desnecessários, e por outro apostando num modelo de jogo tanto quanto possível económico, coisa que parecemos habilitados a fazer. A equipa de Roberto Martínez dá sinais de estar a crescer, o que é interessante neste tipo de competições. Porém, a partir de 1 de julho, talvez não seja pior o selecionador valorizar mais a disciplina tática, em detrimento do talento puro..."

Cristiano Ronaldo não fez nada de extraordinário, fez o correto


"A Seleção de futebol é uma raridade, capaz de aproximar indivíduos desavindos em tantas outras coisas

Cristiano Ronaldo não fez nada de extraordinário, apenas fez o correto. Se o passe para Bruno Fernandes no 3-0 foi tão valorizado terá sido porque, antes na carreira, Ronaldo não terá tomado sempre aquela decisão. Se foi tão surpreendente, terá sido porque naquela situação, antes na carreira, Ronaldo terá tomado a decisão de ser ele a rematar.
Cristiano vai continuar a procurar o golo. Aliás, de tudo o que de positivo veio à seleção do jogo frente à Turquia um golo do capitão foi a única coisa que faltou. Porque Cristiano Ronaldo vai continuar a procurá-lo insistentemente, muitas vezes com opções que, se calhar, podiam ser outras, mas que em grande parte, antes na sua carreira, terminaram com a bola no fundo das redes. Esse é o seu o jogo, é a sua natureza competitiva e não se pode negá-la a um homem que tem quase 900 golos na carreira. Seria o mesmo, por exemplo, que dizer a Stephen Curry para não lançar de três pontos ou a Max Verstappen para abrandar.
Ainda assim, aproveitemos o altruísmo do capitão para nos «embebedar» numa esperança maior. A seleção foi boa frente à Turquia. Aliás, foi muito boa e deixou grandes sensações em quem viveu o duelo de Dortmund.
Há exatos três meses, escrevi aqui que ainda sentia falta dessa embriaguez coletiva em torno da equipa, mas o que veio da Alemanha foi, desde o campo, à cor e ao som de algo a celebrar-se.
Ser português não me define, ou melhor, é uma noção demasiado estreita para aquilo que sou. Mas está claro que partilho convosco, compatriotas, uma série de manias, características, gostos ou afeições, para além, claro está, desta versão da língua portuguesa em que comunicamos. O que se tem em comum raramente se manifesta entre nós, embora saiamos todos à rua nos Santos, para logo a seguir dizer que o São João é melhor que o Santo António ou vice-versa e meter o São Pedro ao barulho. Isso, claro está, é também muito nosso. Mas afasta-nos.
Pela sua dimensão, a Seleção de futebol é, portanto, uma raridade, capaz de aproximar indivíduos desavindos em tantas outras coisas. Fá-lo quando vence da maneira que venceu a Turquia.
Ouviu-se um cântico português em Dortmund - «Sou, de Portugal eu sou, a todo o lado eu vou, só para te ver ganhar...» - que já se tinha ouvido, em menor força, em Leipzig. Talvez tenha pronúncia do Norte na origem, mas parece estar a ganhar força orgânica, seja com variantes de Lisboa, Viseu, ilhas, dos PALOP ou do Brasil.
Nós, portugueses, somos de todos estes lados e estamos representados numa Seleção que, de acordo com o que cantamos, seguiremos a apoiar independentemente das raízes de quem está em campo.
Lá chegará o dia também em que tenhamos portugueses de Bombaim, Jacarta ou Tegucigalpa na equipa das Quinas.
Não será preciso fazer nada de extraordinário, é só preciso fazer o correto. Como dar uma assistência a quem está ao lado e por vezes fingimos não ver. Se o maior português da História o fez..."

'Droit au but'


"Jogadores que falam de assuntos que não futebol incomodam muita gente

Quis o destino que as eleições francesas se tenham atravessado em cheio nos trabalhos da seleção gaulesa durante o Euro 2024. O destino e os jogadores, que chamaram a si as responsabilidades de cidadão que muitas vezes lhes estão retiradas por apenas falarem com os pés. Ora esta profissão permite que façam isso e muito mais, como nos recentes dias deram provas Marcus Thuram - que tem um forte exemplo no pai Lillian -, Kylian Mbappé e Aurelien Tchouaméni, que apelaram ao voto nas eleições legislativas antecipadas que o presidente Emmanuel Macron convocou depois da subida da extrema-direita nas eleições europeias (decorrerão a 30 de junho e 7 de julho). Mais, apelaram ao travão aos extremos. «Acima de tudo somos cidadãos e creio que devemos estar ligados ao mundo que nos rodeia. Espero que tomemos a decisão certa e que continuemos orgulhosos de usar esta camisola. Não tenho qualquer desejo de representar um país que não corresponde aos nossos valores», disse Mbappé. Seguramente ele e os dois companheiros já ouviram várias vezes que nem franceses deviam ser, por isso a tomada de posição ganha ainda mais força.
Recordei a participação de Cândido Costa no programa Taskmaster – estamos à espera da próxima temporada, ok? – em que muitas vezes sublinhou que queria sacudir o estereótipo do jogador burro. O que, tenho pena, por vezes é espalhado pelo próprios, como o guarda-redes espanhol Unai Simon que disse que Mbappé e companhia deviam limitar-se a falar de futebol; também Jordan Bardella, líder do partido de extrema-direita União Nacional (RN), dispensou as «lições de moral» dadas pelo «multimilionário» Mbappé a pessoas que não têm a sorte de viver em residências ultra protegidas por agentes de segurança». Claro, não lhe dá jeito que figuras tão populares apelem a um voto útil junto dos jovens a quem têm acesso todas as semanas com os pés, mas agora por casualidade também no Euro, onde se calhar falam mais para imprensa do que no resto do ano nos clubes.
Droit au but é a divisa do Marselha, um excelente jogo de palavras entre direito ao golo e direto ao assunto. Foi isso que fizeram estes jogadores. Agora que o PSG já ficou para trás, creio que Mbappé não se vai importar que a use."

A qualidade de Bernardo Silva, o inquantificável


"Talvez o eterno Pepe e os seus jovens 41 anos que se encheram de cortes certeiros, posicionamentos impecáveis e interceções espertas também merecessem, mas, além de abrir o caminho da vitória com o primeiro golo, Bernardo mostrou, durante 90 minutos, que a sua valia tem de ser vista e não caçada nos números: o pequeno grande jogador de Portugal jogou, fez jogar e pincelou o relvado com toques discretos, mas fundamentais.

Há quem tenha alergia a que se usem termos futebolísticos nestas paragens e fujam de overlaps, da profundidade, do “jogo interior” e de underlaps normalmente enquanto acenam que não é suposto pegar nestas denominações mais técnicas que são usadas por quem trabalha no futebol, e com sentido, porque, às vezes, precisam de ser descascadas. Então: quando, aos 22 minutos e pela primeira vez no Portugal-Turquia, o embalado Nuno Mendes se desmarcou por dentro de Rafael Leão, que tinha à bola encostado à linha, ou seja, entre ele e a baliza, deu-se o underlap que chocalhou as fundações defensivas do adversário e proporcionou o acontecimento onde pretendo chegar.
O lateral esquerdo da seleção cruzou rasteiro e para trás, astuto a explorar o contra-movimento dos aflitos defesas turcos e fiel ao olhar de esguelha com que já teria visto Bernardo Silva, a chegar à área vindo da direita. A bola a que Ronaldo tentou e, felizmente, não chegou, travou conhecimento com o pé esquerdo de Bernardo para o primeiro golo e já que começámos por termos e expressões, prossigamos nesse reino onde pouco antes de a partida arrancar, no buraco negro sem fundo que são os grupos de WhatsApp, recebi uma curiosa, seguida de uma frase:
Foram “zerardo” e “um gajo com zero números em competições grandes tem é de sentar”.
Ambas visaram o marcador do golo. Salientar que a troça do autor visou Bernardo Silva enviesadamente será um eufemismo quando ele não se trata de um jogador quantificável, nenhum é, no fundo, mas há bastantes em quem os números habitam sem fim quando é um caso de proliferação de golos, quando Bernardo encostou o pé à bola já descrita um desses jogadores era traído pela relva, Cristiano tropeçou, caiu e enrolou-se na relva e ele tem 39 anos, fez o 208.º jogo pela seleção, leva 130 golos, 15 marcados em seis Europeus onde já deu sete assistências (36 ao todo), a mais recente seria neste Portugal-Turquia que o elevou também a ser o tipo que mais golos deu no torneio. E estaríamos aqui a escrever páginas se o tónico fosse versar sobre quantificação do capitão da seleção.
Mas não foi ele o luminoso farol que forneceu a calma quando Portugal a procurou nos momentos em que os turcos, esbaforidos na primeira parte, pressionaram no embalo da euforia, a caírem em referências individuais e marcações ao homem, e, na segunda, correram desnorteados atrás do prejuízo e, cedo descobririam, de várias sombras. Os espaços escancarados pela urgência da Turquia foram água para boca no jogo de Bernardo, a par de acertos posicionais na seleção nacional que como azeite nessa mesma água, o fizeram sobressair.
No hemisfério inicial, Portugal teve a sua fidelidade à romaria de João Cancelo por terrenos interiores, ele um falso lateral a ir pedir bola como um médio, ao centro, deixando Bernardo colado à faixa onde restringiu as suas receções graciosas e os toques repelentes de perdas de bola. Cruzando o equador do jogo, o canhoto estatelou-se no conforto que mais o beneficia.
Fazendo Cancelo um reset às suas definições, ficando mais na lateral direita, Bernardo Silva dedicou-se a deambular livremente, mostrando o seu pé-cola por fora, por dentro, perto de Ronaldo, longe da linha, a cutucar segredos com Bruno Fernandes, a multiplicar combinações sem pensar com o João que tinha do seu lado porque com eles dispostos assim o pensamento é acessório, a síncrona genialidade em parelha é que manda ali.
O saber dar o passe necessário no momento preciso, com a força ideal, em zonas onde os molares mastigam o jogo e os caninos dos adversários tentam cortar intenções é a dentuça predileta de Bernardo. Para o último passe a rasgar houve Bruno Fernandes, na organização dos primeiros passes para se abandonar a área existe Vitinha, quem tem o 10 estampado na camisola pisa, sem problemas, essas duas dimensões, mas é num jogo como este foi, a deixá-lo pisar todos esses terrenos quando o seu radar convier, que o seu brilho é mais reluzente.
E Bernardo lançaria Cancelo na linha de fundo, Bernardo desmarcou-se que nem punhal espetado no coração da área para quase chegar a um passe de Bruno a isolá-lo, Bernardo conduziu uma jogada depois em que fixou o adversário, soltou, correu, recebeu um singelo passe de Ronaldo que a sua movimentação pediu e quase marcou com um remate mascarado de passe à baliza, típico de quem dispensa a força por ter tanto jeito. “Zerardo” a jogar e a gerar jogo, basta que a seleção o rodeie com jogadores e lhe dê a bola.
Dizer que Bernardo Silva foi o melhor de Portugal contra a Turquia é usar um adjetivo insuficiente para o qualificar num texto que dispensou os números para vocês perceberem a ideia. O pequeno enorme futebolista, conceda-se lembrar o 2 e o 9 que tem na idade, nunca marcara ou assistira em fases finais pela seleção nacional e quem consome a bola apenas com as lunetas das estatísticas a filtrar a vista encostou-se nessa evidência após o jogo com a Chéquia. Foram precisos poucos dias passarem para Bernardo encher o campo dele próprio, sem números, porque ele não é quantificável."