terça-feira, 14 de maio de 2024

Rafael


"Rafa foi anteontem o homem do jogo. Esta “não notícia dos últimos oito anos” assume maior relevo não só porque será a última pelo Benfica em casa, mas, e sobretudo, porque não foi só Rafa que foi o melhor em campo, foi também o cidadão Rafael Alexandre Fernandes Ferreira Silva. Desta vez, foi o homem do jogo não só porque marcou dois golos e fez uma assistência, recusou marcar penáltis e saiu quase sem falar com ninguém, mas sobretudo pelo gesto, e pelo conselho de amigo, que deixou a todos os adeptos do Benfica quando, substituído para a merecida ovação geral, dirigiu-se para um setor do estádio a pedir apoio. Neste momento, terá escrito mais um importante legado no Benfica. De poucas falas, não me recordo de uma entrevista de fundo, mas considerado por todos quantos com ele trabalharam, Rafa sempre foi mais de jogar do que de falar, de correr do que de festejar, de dar do que de receber (como não recordar um jogo europeu em que recebeu o prémio de melhor em campo e, achando injusto, chegado ao balneário “restitui-o” ao seu “dono”, o colega de equipa Gonçalo Ramos?!), mas, após um jogo em que o Benfica jogou bem, goleou uma das surpresas da época com firmeza e “nota artística”, como diria outro ex-da Luz, Rafael indicou o caminho que o Benfica precisa de percorrer para regressar às vitórias - união, compreensão e apoio de todos.…
É o que o Benfica é mesmo maior que todos! Ao Rafael, e ao Rafa, “obrigado por tudo”!

PS - Bem podem uns centímetros do peito do Rafa, seria mais uma assistência, anular o golo a Di María, mas eu vi! Ninguém me contou. Que obra de arte!"

O jeito que um Milan pode dar


"Ao endurecer o discurso perante a contestação, Schmidt reivindica posição de Rui Costa

A primeira semana de André Villas-Boas como presidente do FC Porto não trouxe grandes novidades relativamente ao futuro de Sérgio Conceição, e o tema nem sequer chegou a ser abordado na conversa pós-tomada de posse com a comunicação social. É verdade que o novo líder dos dragões está condicionado pela entrada retardada na SAD, adiada para o final do mês — para que Pinto da Costa possa sentar-se no banco na final da Taça de Portugal —, mas deixar correr o tempo parece favorável à gestão deste dossiê. O foco está colocado na decisão com o Sporting, que a ocasião pede união, mas os sinais reforçam a ideia de que o resultado no Jamor já não terá peso na decisão, aparentemente de fim de ciclo.
Até a mensagem deixada pelo braço direito, Vítor Bruno, nas redes sociais, após o último jogo caseiro, aponta para a porta de saída. O mais provável é que esse desfecho não esteja dependente do interesse do Milan, que ganhou força nos últimos dias, mas ambas as partes parecem desejar uma saída harmoniosa assim. Sérgio Conceição teria a possibilidade de sair pela porta grande, reconhecido pela capacidade de manter uma cultura vencedora no clube azul e branco, apesar dos enormes constrangimentos financeiros, e abraçar um desafio aliciante, nesse caso para um mercado onde tem valor acrescentado pela carreira de jogador, e com a possibilidade de continuar a enriquecer o palmarés.
Villas-Boas, por seu lado, evitaria o pesado ónus de iniciar o mandato com a responsabilidade de afastar o treinador que aceitou ser trunfo eleitoral, para iniciar um novo ciclo com a estrutura idealizada com Andoni Zubizarreta e Jorge Costa, possivelmente com um nome estrangeiro para ocupar o banco.
No Benfica os indicadores são de continuidade de Roger Schmidt, mas sem grande convicção aparente por parte de quem tem a responsabilidade de tomar decisões. Mesmo num contexto de goleada e despedida emotiva de Rafa, o técnico alemão voltou a ser fortemente contestado na Luz, e no final endureceu o discurso. Já admite, de resto, que possa ser problema e não solução. Schmidt não dá passos para um acordo de paz quando faz distinção entre adeptos bons e aqueles que têm demasiada atenção, mas tem razão quando diz que é impossível pensar na reconquista do título com o negativismo atual.
Ao assumir uma posição tão forte, mas totalmente adequada à realidade, Schmidt não deixa de reivindicar uma posição de Rui Costa. Se a decisão de manter o técnico fosse sólida, o presidente do Benfica já deveria ter vindo a público reiterar isso mesmo. Não conseguiria calar a contestação, perante o fracasso da temporada, mas iria enfraquecer aqueles que desejam ter voz na decisão. Ao prolongar o silêncio, Rui Costa está a deixar que a contestação ao treinador cozinhe em lume brando e passa a ideia que espera que seja o alemão a tomar a iniciativa, ou então que apareça um Milan qualquer."

Coisas que só o desporto proporciona


"Fernando Pimenta, canoísta de 34 anos de Ponte Lima, começa a esgotar adjetivos que possamos gastar para o elogiar

As últimas semanas têm sido férteis em novidades no mínimo atípicas, que só o desporto consegue realmente proporcionar. Entre situações francamente positivas e elogiáveis, outras mais desconfortáveis, que nada abonam em relação à imagem que queremos que este universo tenha (e mantenha). Fica a classificação por partes:

O mais inesperado
- A situação que ocorreu no Real FC-Brasiliense, da 4.ª Divisão Brasileira: o treinador do clube visitante, Paulo Roberto Santos, decidiu demitir-se ao intervalo do jogo, deixando a sua equipa refém de orientação para a etapa complementar. O médico do clube chegou-se à frente e desempenhou o papel de técnico principal, com resultados imediatos: a equipa ganhou mesmo, com golos marcados após o minuto 80. Quando a vontade é grande, tudo tem solução.

O nosso orgulho
- Jorge Jesus e Ricardo Sá Pinto, treinadores portugueses agora a trabalharem além-fronteiras, sagraram-se campeões nacionais de futebol nos países onde agora treinam. O primeiro na já muito competitiva Liga Saudita, na qual a sua equipa bateu recorde de vitórias consecutivas (direto para o Guinness); já o ex-jogador do Sporting venceu o duro campeonato cipriota, ao serviço do APOEL. Estão os dois de parabéns pelas conquistas desportivas e merecem a nossa gratidão e reconhecimento por elevarem bem alto a qualidade técnica dos nossos treinadores. Muito bem.

O mais caricato
- É uma notícia não confirmada, mas amplamente divulgada em vários órgãos de comunicação nacionais e internacionais: o jogador Edgar Ié está a ser acusado pelo seu próprio clube, o Dínamo Bucareste (da Roménia), de alegadamente ter trocado de lugar com o seu irmão gémeo, Edelino, em vários jogos ao longo da presente época. Já se fala na realização de testes ADN! Além de inédita (digo eu, que nunca ouvi antes semelhante coisa), a acusação é bastante grave e deve ser esclarecida de forma cabal, para defesa do bom-nome dos envolvidos. O futebol não deixa de nos surpreender com coisas absolutamente inimagináveis.

O mais preocupante
- A justiça portuguesa voltou ao norte do país, desta vez através da denominada Operação Bilhete Dourado, onde alegadamente alguns adeptos do FC Porto terão beneficiado financeiramente da venda ilegal de bilhetes para jogos nacionais e internacionais da equipa. A espaços, o futebol português continua a receber visitas pontuais das autoridades policiais, sendo que nalgumas circunstâncias as diligências efetuadas expuseram esquemas se não ilícitos, pelo menos muito pouco éticos. É preciso que uma indústria tão apelativa como esta consiga ser o mais clara e transparente possível. Só assim terá credibilidade real e, claro, perceção de credibilidade aos olhos de todos os que estão cá fora: adeptos, operadores televisivos, patrocinadores, etc...

O mais elogiável
- Desta vez foi o Portimonense (como noutras ocasiões foram outros clubes, é importante referi-lo): a equipa algarvia mobilizou-se para ajudar as vítimas da catástrofe natural que assolou o Rio Grande do Sul (no Brasil), doando uma tonelada de roupa nova para quem mais precisava. Nestes momentos de maior aperto, a capacidade de mobilização dos clubes portugueses é quase sempre impressionante, atuando com um nível de solidariedade que devia ser exemplo para outras áreas da nossa sociedade. O futebol português, quando quer, é capaz de coisas absolutamente admiráveis. Chapeau.

O mais notável
- Fernando Pimenta, canoísta de 34 anos natural de Ponte Lima, começa a esgotar adjetivos que possamos gastar para o elogiar. Desta vez venceu a Taça do Mundo de Velocidade (K5000), em prova realizada na Hungria. O atleta português já tinha vencido prata e bronze noutras etapas da competição. Fernando Pimenta é já um dos mais maiores desportistas portugueses de todos os tempos e merece esse reconhecimento por parte de quem de direito. É um profissional notável, um trabalhador incansável e dono de uma ambição inesgotável. Um campeão a sério, que por acaso ainda faz o favor de ser meu amigo. Fantástico!"

A revolução de Wenger: ​20 anos dos invencíveis


"Na semana em que se celebram os 20 anos daquele campeonato mágico do Arsenal de Henry, Bergkamp e companhia, o treinador e comentador Afonso Cabral recorda o que tanto mudou com Wenger, no campo e na ética de trabalho.

Puffer longo, até aos pés. Fechado, mas não desde o início, primeiro travava-se uma luta entre treinador e presilha. Mãos nos bolsos. Semblante fechado e cabelo grisalho sempre bem cuidado. Assim começavam os jogos do Arsenal, para quem olhasse para a linha lateral.
Durante anos, facilmente se confundiam Arsène Wenger e Arsenal. Foram 22 anos de história partilhada, num percurso que começou com o treinador francês como um absoluto desconhecido e acabou como uma das maiores figuras do futebol inglês da era moderna.
Esta semana assinalam-se 20 anos da maior conquista coletiva da Premier League. Foram 38 jogos sem conhecer a derrota, numa época em que Wenger venceu por 26 vezes, tantas quanto os golos que sofreu em todo o campeonato, e empatou 12 vezes. Venceu por margem confortável e criou o mito dos ‘invincibles’. Até aí e até hoje, mais ninguém teve o privilégio de utilizar durante toda uma temporada da Premier League o escudo de campeão dourado, representativo da época invicta.
Alguns anos antes, em 1996, Wenger chegou a Londres depois de alguns anos repartidos por Nancy, Monaco e Nagoya, no Japão. Lembro que a globalização no futebol não era a de hoje e a chegada de Arsène a Londres tornou-o apenas no segundo estrangeiro da competição, a par de Ruud Gullit. Wenger era então uma espécie de perfeito desconhecido...
O Arsenal era um dos maiores de Inglaterra, mas não vencia o título há cinco anos. Wenger chegou e reformou tudo. Primeiro internamente, com a proibição de bebidas alcoólicas e chocolates a um grupo de jogadores mal habituados, e na cantina proibiu o tão inglês ‘fish and chips’, substituindo-o por refeições mais amigas do atleta, como vegetais cozidos ou carnes brancas grelhadas. Muito habitual hoje em dia, um atentado à cultura desportiva naqueles dias.
Também no treino mudou o paradigma. Substitui o treino aeróbio descontextualizado, como as longas horas na bicicleta ou corrida, que visavam fundamentalmente aumentar a capacidade respiratória do jogador, para um treino específico, com circuitos de passe a promover algo que queria ver em campo, e introduzindo a bola na maior parte dos exercícios físicos, tornando-os específicos às necessidades do jogo.
O futebol inglês era, à data, muito fechado sobre si próprio. O ‘kick and rush’ da génese do ‘jogo inglês’ predominava e o jogo avançava a carvão em terras de sua majestade, quando no resto da Europa já se movia a gasolina.
Wenger introduziu a posse, mantendo a verticalidade. No ano dourado de 2004, o 4-2-3-1 era o sistema mais utilizado, alternado por vezes com o 4-3-3. Com bola, os laterais Lauren e Ashley Cole sobrepunham-se a Pires e Ljungberg, que partindo de extremos procuravam o seu espaço mais dentro do campo. Henry, muitas vezes descaído para a esquerda – quem não se lembra do golo clássico da esquerda para dentro a fazer a bola entrar em arco na malha lateral mais distante? – e Bergkamp a procurar bola entrelinhas, muitas vezes funcionando como terceiro médio. Se o holandês não estivesse no 11, era Edu a entrar para o meio-campo.
Patrick Vieira era um monstro. Atacava as defensivas em condução com uma passada larga assinalável, e tinha um raio de ação espetacular no momento de proteger a baliza. Permitia que os laterais se soltassem na frente sem grandes preocupações, devidamente secundado por Gilberto Silva. A linha defensiva era toda bastante rápida e tinha no guarda-redes Lehmann a experiência para a comandar.
Não será exagerado dizer que este foi dos melhores elencos da Premier League. Tinha qualidade em transição, com Henry a procurar sempre partir da esquerda, tinha mágicos como Pires e sobretudo Bergkamp, e tinha velocistas. Podia passar o jogo com a bola ou sem ela, era igual. Estava quase sempre por cima.
Os ‘Invincibles’ embelezaram o legado de Wenger mas também na competição o francês teve o seu impacto. De apenas dois estrangeiros nos bancos, passámos, de forma gradual, para uma realidade em que predomina o treinador não inglês. Temos de recuar até 1992 e Howard Wilkinson para encontrar um treinador inglês vencedor do troféu. O ego inglês sucumbiu à realização que o forasteiro pode melhorar o seu futebol.
Também na globalização de jogadores Wenger teve algum impacto. Levou para lá muitas jovens promessas francesas, por conhecer bem o mercado, e deu espaço competitivo a jogadores bastante jovens. Foram mais de 120 estreias na Premier League durante os 22 anos de Arsenal.
Mais recentemente, dos alunos do francês, Fàbregas subiu este ano à Serie A, como treinador do Como. Edu faz parte da estrutura do Arsenal, na pasta das contratações, e Henry foi adjunto de Roberto Martínez na Bélgica e treinador principal do Mónaco, ainda que sem grande sucesso, talvez por pedir coisas aos seus avançados que só ele saiba fazer. O eterno ‘14’ está agora nos sub-21 franceses.
A marca de Wenger, não tão explícita ao nível do modelo de jogo como o de um Simeone ou Guardiola, é indelével na forma como a Premier League evoluiu. Arsène roubou, que nem Lupin, o protagonismo aos ingleses e tornou a liga global nos bancos e no campo.
Passados 20 anos, ainda lembramos os ‘invincibles’, lembramos Wenger e lembramos o maior feito na história da Premier League. Alheado dos bancos, a reforma agora fá-la a partir da FIFA, em tópicos de arbitragem."

Realmente a surpresa do século!!!

Desabafos...

Fim do mundo!

Há quem queira fazer do Benfica o jardim lá de casa!!!


"Treinos abertos ao público havia de ser bonito. Se já lançam tochas nos jogos, imaginem só nos treinos e com as tv's a assistir!!
Tanto pedem para se reduzir a massa salarial e as gorduras. Depois querem descontos na BTV e a reativação da BTV2.
Isto merece gozo até 2075 😂😂😂😂😂"

Mister Arruaça!


"O Sérgio ‘arruaça’ Conceição pegou-se com Artur Soares Dias no final do jogo. A sua conduta personifica o clube que representa: reles, brejeiro, ordinário!"

Rafa (II)

Rafa...

Animais (II)

Animais...

El Família!!!

Entourage!!!

Adepto privilegiado!

Rafa e o mercado que aí vem


"Os sinais não têm sido nada animadores na Luz e a época nem sequer terminou

O Estádio da Luz despediu-se de Rafa, que não quis penáltis de favor, festejou mais os golos dos outros do que os seus e não chorou durante a demorada substituição, abraçado por cada um dos companheiros. Foi, para ele, mais um dia no escritório. Um dia como qualquer outro até quando foi receber o prémio de homem do jogo. Não disse uma única palavra. Infelizmente.
Abre-se para o futebolista e para o Benfica um novo ciclo. Não há, todos o sabemos, jogadores perfeitos e muito menos insubstituíveis, porém, alerto já, o seu peso tem de ser distribuído por quem fica e quem chega. Eu explico. Se o veloz avançado era fundamental num modelo com transições rápidas defesa-ataque e esse persistir, é necessário ter gente (não necessariamente tão, mas ainda assim) veloz para que estas tenham sucesso.
Não sendo o futebol atletismo, ainda assim são precisos velocistas e com uma melhor capacidade de definição e tomada de decisão em todos os metros quadrados ocupados. Ainda passaremos por um defeso longo, porém parece dado adquirido que o Benfica não pode trocar Rafa por Kokçu e esperar uma chegada rápida à baliza adversária, porque faltará sempre o que o turco não é capaz de dar. E se não é capaz outros terão de fazê-lo. Será Schjelderup?
Ao olhar para aquele que quase toda a gente considerou o melhor plantel e, como tal, condenado a ser campeão, volto a defender que não será bem assim. Se o modelo quer uma linha defensiva alta para comprimir o espaço jogável ao adversário, os centrais são lentos para cobrir o vazio nas suas costas. Se a ideia é construir a partir de trás e se Trubin acrescentou aí um pouco de proatividade – ainda assim, mostrando uma irregularidade que não se explica só com a idade – a Vlachodimos, os restantes elementos do último setor continuam com problemas em quebrar a pressão com o passe ou transporte da bola. Será preciso uma profundidade não resolvida nos últimos dois mercados, e na esquerda até para a opção principal. Com tudo o que se sabe há tanto tempo, é estranho não haver já soluções à vista para os flancos.
Em certos momentos, sentiu-se a incapacidade de roubar a posse aos adversários – algo em que Leandro Barreiro irá ajudar, sobretudo se se mantiver Florentino, já que João Neves será o alvo mais apetecível para eventuais raides de mercado na Luz – e uma linha ofensiva demasiado permeável, sem capacidade de pressão. Além disso, dos três avançados, se o potencial de Marcos Leonardo é inegável persistem dúvidas sobre Arthur Cabral e Tengstedt, e também pelo que custaram.
Com tanto para fazer num plantel tão milionário quanto inadequado, ainda é mais bizarro o que se passa no departamento de prospeção, uma sangria que não pode deixar de ter custos para o clube. Não será o momento de uma profissionalização definitiva de toda a estrutura do futebol, em vez de se continuar a tentar resolver o tema apenas com homens de confiança? O mercado terá de ser cirúrgico e parece haver cada vez menos condições para que tal seja possível."

Um dos pilares do jornalismo: porquê?


"Para lá das palavras politicamente corretas e das demonstrações públicas de urbanidade, como classificar a transição no FC Porto?

Há coisas que não são fáceis de entender; outras que são mesmo muito difíceis de compreender; e, finalmente, existe um terceiro nível, que engloba o que é impossível de assimilar, independentemente do prisma por que seja observado. A decisão da SAD cessante do FC Porto de se agarrar à letra da lei, mantendo-se em funções até ao último dia, prejudicando a preparação da nova temporada por quem irá suceder-lhes, entra, claramente, neste último compartimento. Por um lado porque a equipa de André Villas-Boas não tem, até assumir a SAD, legitimidade formal para fazer ou desfazer contratos; por outro, sem acesso às contas, sem saber exatamente com que poderá contar, torna-se impossível estabelecer metas e objetivos, que podem cair por falta de meios para executá-los.
Numa altura do ano futebolístico em que o tempo corre a velocidade da luz, o mês que os novos dirigentes do FC Porto vão perder em função da colagem às cadeiras dos administradores que estão de saída, poderá causar danos irreparáveis à execução dos planos que têm para o clube. Dito tudo isto, que parece absolutamente óbvio, resta a pergunta fundamental, decisiva e dramática: porquê? Nenhuma das respostas que podem ser encontradas é satisfatória, muito menos abonatória para a equipa de Pinto da Costa, e qualquer uma delas abre as portas a especulações, todas elas desaguando no estuário do prejuízo imediato e mediato do FC Porto. Depois do ato eleitoral de 27 de abril, concluído com a demonstração esmagadora do desejo de mudança dos sócios portistas, esta transição, por mais palavras politicamente corretas e demonstrações públicas de urbanidade que possam acontecer, mais do que tumultuosa está a ser simplesmente vergonhosa.

O jornalismo, como o conhecemos ao longo de décadas, acabou, dando lugar a uma nova forma de comunicar, mais distante dos acontecimentos e dos protagonistas, mas de consumo mais alargado e imediato. Num mundo em mudança, há que não tentar parar o vento com as mãos, e aceitar, com um esforço de adaptação, a nova realidade. Com o desaparecimento de Fernando Emílio foi-se uma peça importante do antigo edifício da comunicação social, repórter excelentíssimo e self made man, que teria muito para ensinar sobre jornalismo às novas gerações."

Sistema tácito: o enigma Conceição


"As posições do treinador durante a campanha eleitoral do FC Porto podem ter peso decisivo na conversa com Villas-Boas após a final da Taça de Portugal; as duas partes vão medir os prós e os contras...

Há uma grande incerteza em torno da continuidade (ou não) de Sérgio Conceição no comando técnico do FC Porto. O treinador renovou dois dias antes das eleições por quatro anos, um vínculo que, segundo ele e Pinto da Costa, já estava alinhavado há muito, isto depois de ter dado um abraço ao presidente cessante na cerimónia de apresentação da sua recandidatura no Coliseu do Porto.
Sérgio Conceição sempre disse publicamente que não queria ser trunfo eleitoral, mas a verdade é que acabou por ser usado como tal na antevéspera do ato eleitoral. O facto de não ter marcado presença na tomada de posse — com o argumento de que à mesma hora havia treino — não caiu bem junto do novo elenco diretivo. O primeiro frente a frente entre ambos decorreu de forma cordial, com o técnico e os próprios jogadores a mostraram-se agradados com a mensagem de ambição que passou a todos em pleno balneário do Olival.
Mas, na realidade, a verdadeira conversa que André Villas-Boas e Sérgio Conceição vão ter está agendada para depois da final da Taça de Portugal, seguramente com o novo presidente já com plenos poderes da SAD. A questão agora é perceber a sensibilidade que existe de ambos os lados para um entendimento. Por um lado, se Villas-Boas releva todas as decisões tomadas pelo técnico durante a campanha em apoio a Pinto da Costa; por outro, se o próprio Sérgio Conceição está disponível para perder todo o poder que tem nesta altura na área do futebol profissional, abrangendo não apenas a equipa principal, mas também os bês e os sub-19.
A estrutura preconizada por André Villas-Boas para um FC Porto revigorado implica mudanças profundas e importará perceber se Sérgio Conceição está imbuído do mesmo espírito de uma equipa renovada que acaba de entrar no clube, tendo como superiores hierárquicos o espanhol Zubizarreta e também Jorge Costa.
A questão do salário do treinador inspira igualmente um cuidado sensível, pois André Villas-Boas entende que um treinador do FC Porto, face às debilidades financeiras que o clube atravessa, não pode auferir 7 milhões de euros brutos anuais.
Em suma, há muita pedra por partir na dita reunião que os dois portistas terão até ao final do mês. Sérgio Conceição tem sido associado aos italianos do Milan, já terá na sua cabeça uma decisão praticamente tomada, mas só a comunicará após o final da temporada. Há muitos adeptos que anseiam ver os dois a trabalharem juntos, mas a questão é se os interesses de ambos vão ao encontro do bem comum que se chama FC Porto..."

Kane no supermercado a empurrar uma pedra


"'Furacão' quis mudar e ficou com nada na mesma, mas há sempre mais uma tentativa

«A fila do lado é sempre mais rápida. Esperas tanto tempo até te sentires incomodado, mas, logo depois de mudares, a faixa original começa a andar. E, enquanto esperas que a tua sorte mude, tudo o que consegues pensar é onde começaste.»
O início da música ‘World News’, dos Local Natives, resume aquilo por que já passámos: no supermercado, há sempre uma fila a andar mais rápido, para a qual passamos após ponderação, e sempre sem sucesso, porque o código de barras do pacote de cenouras da pessoa à frente não é lido e é preciso ligar a alguém. Acontece-me outra coisa: assim que acabo de colocar as compras no tapete, ouve-se «podem passar por ordem à caixa 4, que vai abrir». Ódio.
Não sei se Harry Kane vai às compras. No futebol, deixou o corredor do Tottenham, onde estava há 10 anos, para abraçar o do Bayern Munique, que tinha corredor prioritário para o título da Bundesliga há 11 anos. Parecia de caras. Porém, a maldição que se diz carregar por não ter nenhum título no currículo terá ido com ele para a Alemanha. Esta é a primeira vez desde 2011/12 que o Bayern termina a temporada em branco. No seu jogo de estreia perdeu logo a Supertaça para o Leipzig. Depois, o Bayern foi eliminado da taça em novembro pelo Saarbrucken, do terceiro escalão, que acabaria por chegar às meias-finais da competição, e no campeonato apanhou pela frente um grande Leverkusen. Esta semana, o Real Madrid fez jus ao estatuto de rei da Europa e eliminou os bávaros nas meias-finais da Champions.
Harry Kane – um nome tão perfeito, já agora, que soa a ‘hurricane’, um furacão – é uma espécie de Sísifo: no mito grego, este é condenado pelos deuses a rolar uma enorme pedra até ao topo de uma montanha, e forçado a vê-la rebolar montanha abaixo, obrigando-o a recomeçar eternamente. Como Sísifo, que vê significado na ação de persistir, o furacão Kane enfrenta um desafio semelhante na sua carreira, em que empurra uma pedra com esperança época acima e vê-a rebolar cheia de nada para baixo.
Na Premier League, o domínio de Manchester City ou Liverpool tornou a conquista do título difícil para o Tottenham. Por isso quis mudar. Na Champions, chegou à final em 2019, mas acabou derrotado pelo Liverpool. Pelo meio ainda perdeu, pela Inglaterra, a final do Euro-2020 para a Itália. Terá a possibilidade de vencer o Europeu deste ano, curiosamente na Alemanha. Com a seleção não pode mudar de caixa, mas deve persistir e tentar quebrar a maldição ao manter a pedra lá em cima."

A Luz despede-se do planeta Rafa com gratidão e nota artística


"No último jogo do craque na casa do Benfica, as águias bateram o Arouca por 5-0, com o velocíssimo jogador que sairá do clube a marcar dois golos e fazer uma assistência. Além da homenagem que os adeptos fizeram a Rafa e que Rafa fez ao bom futebol, a tarde foi de divisão de opiniões quanto a Schmidt nas bancadas

O percurso de Rafa Silva no Benfica foi como um daqueles corpos celestes cuja passagem pela órbita terrestre é anunciada muito antes de ser visível e a saída é, também, conhecida antes de suceder. Qual cometa com rota detetada pela NASA, a contratação de Rafa foi-se aguardando no verão de 2016, até se concluir no fecho de mercado, da mesma forma que a despedida foi sendo digerida, uma evidência científica para todos até ser oficialmente comunicada por Schmidt.
Mas, seguindo esta conexão celeste, o fim da passagem de Rafa Silva pela órbita do Benfica foi prevista, calculada, conhecida. Antes de desaparecer, teve uma despedida no Estádio da Luz, um adeus a um dos melhores jogadores portuguesa do século XXI do clube.
Na derradeira tarde de Rafa Silva, Rafa Silva foi Rafa Silva, como uma homenagem a si próprio. Velocidade e definição, golo e desequilíbrio. Bisou, fez uma assistência, foi a grande figura da goleada por 5-0.
Rafa Silva sempre pareceu viver no seu planeta, na sua dimensão. Um mundo só dele, em que só ele conduz a bola àquela velocidade, em que só ele é capaz de acelerar a realidade daquela forma, futebol em fast forward.
No planeta Rafa Silva, há a velocidade de Rafa Silva, as fintas de Rafa Silva, as três ligas, uma Taça, três Supertaças, 326 jogos, 94 golos e 67 assistências de Rafa Silva. Mas há também o mundo interior de Rafa Silva, a aparente indiferença ao contexto, o carácter por vezes frio, alheado da realidade, como se — lá está — só estivesse aqui numa passagem à velocidade a que circula a bola. Por uma última vez, o planeta Rafa Silva cruzou-se com a órbita do Estádio da Luz.
Os primeiros minutos revelaram bem que este jogo, já sem objetivos pontuais para o Benfica e com um Arouca em modo descompressão, seria mais uma homenagem a Rafa Silva do que uma disputa pelos pontos. Nos primeiros minutos, Rafa teve logo duas oportunidades para correr e marcar, mas a defesa visitante e Arruabarrena opuseram-se.
A goleada, selada na parte final do desafio, até poderia ter chegado bem mais cedo. João Neves forçou o guardião uruguaio do Arouca a duas boas defesas, João Mário acertou no poste.
Até que, aos 25', João Mário ganhou um penálti. O público, que exibia cartazes como “obrigado Rafa! Serás sempre um de nós!", cantava em uníssono o nome do número 27, pedindo-lhe que assumisse o castigo máximo. O português, no seu planeta, no seu mundo, preferiu que fosse Di María a marcar. 1-0.
O ritual repetiu-se sete minutos depois, mas com Kökçü a ganhar o penálti e a assumi-lo. O nome de Rafa voltou a ser pedido pelas bancadas, mas foi o turco a aumentar a vantagem da equipa de Schmidt.
O planeta da figura da tarde não precisou de ir para a marca de penálti para marcar. Aos 42', após passe de Aursnes, o campeão da Europa de 2016 fez o 3-0 com um remate potente. O festejo foi à Rafa, mais contido que efusivo.
Na segunda parte, a despedida prosseguiu. Nos primeiros minutos depois do descanso, Rafa Silva fez talvez a mais evidente homenagem a Rafa Silva: pegar na bola à entrada do último terço, driblar dois adversários, não cair perante a falta, picar à saída do guarda-redes. Na celebração que se seguiu ao 4-0, o craque lá esboçou alguns gestos de despedida. “Teste, teste, som, som. O planeta Rafa informa que está a sair da vista do Estádio da Luz”.
O Arouca foi uma sombra do belo coletivo que Daniel Sousa montou ao longo da campanha. Já sem Mujica, vendido para o Catar, na frente, a equipa que terminará o campeonato na sétima posição foi inofensiva no ataque e frágil na defesa.
Assim, a tarde foi de adeus suave para o Benfica, apagando as mágoas de meses difíceis. Os traumas recentes ouviram-se, a espaços, no encontro, com alguns adeptos a entoarem cânticos contra Roger Schmidt. Outros, em resposta, assobiaram os insultos ao alemão. Perante a unanimidade face ao futuro certo de Rafa, a discórdia face ao futuro incerto de Schmidt.
Aos 77', Rafa Silva ainda teria um último lance de protagonismo no jogo, assistindo Tengstedt para o 5-0 final. Seria, pouco depois, substituído pelo estreante João Rego.
E pronto, fim da visita do planeta Rafa. Tal como a órbita foi calculada à chegada, com o aviso da vinda no verão de 2016, foi, também, planeada à saída, nesta despedida há muito conhecida. O planeta supersónico, do futebol em velocidade que só cabia naquela dimensão paralela. O planeta alheio ao contexto, indiferente ao que o rodeava, parecendo só de passagem por aqui. 2016-2024: os dias do planeta Rafa Silva na Luz terminaram."

Goleada em despedida de Rafa e de época frustrante


"Benfica 5 - 0 Arouca

Antes de Jogo
> A despedida de Rafa dos adeptos na Luz. Quantos jogadores do seu nível aguentam 8 épocas seguidas num mesmo clube, mesmo que esse clube seja o maior de Portugal? Deu-nos grandes momentos e são esses que vou relevar no futuro. Que faça uma grande exibição hoje - há muitos jogos que não dá uma para a caixa.
> Ideia peregrina do Correio da Manhã a de noticiar que Rui Costa espera para ver a reação dos adeptos e depois decidir o futuro de Schmidt. Como é que é possível?
> Roger Schmidt diz que "sente a negatividade de parte dos adeptos e assim será difícil ir atrás dos abjetivos". É a velha questão de quem puxa por quem: a equipa pelos adeptos ou os adeptos pela equipa? O melhor será puxarem uns pelos outros, mas sem bom futebol e sem vitórias isso nunca vai acontecer. Schmidt tem a obrigação de saber isso.

Durante o Jogo
> 00 min Muito mau quando vejo a necessidade de termos um corpo policial, bem aqui nas minhas costas, para o que der e vier das reações dos adeptos com Roger Schmidt.
> 06 min Rafa na despedida, com a faceta falha-golos a vir ao de cimo: duas oportunidades perdidas em menos de nada. E já tivemos mais uma do João Neves e outra do Di María.
> 15 min Eles com a posse, nós com as oportunidades. Agora foi Kökcü.
> 21 min João Mário foi tão subtil a desviar a bola do guarda-redes que ela foi embater... na trave.
> 23 min Penalti claro! A bancada pede Rafa, mas é Di María: 1-0. Justíssimo.
> 27 min Bancadas de pé com aplausos para Rafa.
> 30 min Outro penalti indiscutível. Novo chamamento a Rafa. Desta vez Kökcü: 2-0. Já cá faltavam a merda das tochas. Outra vez. Quando é que isto acaba? Coro de assobios. Ninguém pode gostar disto.
> 37 min "E ó Schmidt vai pró car@lho" cantam os NN, mas segue-se outro coro de assobios. Conta para o teste do Correio da Manhã?
> 41 min A jogada da tarde, transição fantástica. Só faltou não terem tirado o pão da boca ao Rafa, prontinho para concluir. Mas vai já de seguida o golo do Rafa! Toda a equipa, Trubin incluído, a festejar com ele.
> 45 min 3-0, bom para o Schmidt lançar uns jovens na segunda parte, certo? Intervalo com homenagens a grandes campeões: do basquete, as tetra do futebol, as sub 21 do futebol. Carrega, Benfica!!!
> 46 min Toma lá outro do Rafa, grande jogada individual: 4-0! Se tivesse marcado os penaltis já ia num poker... Mete aí uns miúdos, Roger!!!
> 56 min Mais um: chapelão do Di María! Pro VAR anular. Mas estava fora de jogo???
> 70 min Isto entretanto virou jogo treino, uma espécie de amigável de pré época.
> 77 min Tengstedt na primeira vez que toca na bola: 5-0! Fdx mais as put@s das tochas. Divórcio no estádio. Graças aos NN, já ninguém se lembra de protestar com mais alguém.
> 83 min E é o fim de Rafa na Luz! Estádio de pé em tributo ao 27. O segundo da tarde. Ra-fa, Ra-fa, Ra-fa!
> Quase 50 mil num jogo sem qualquer interesse competitivo é obra. Fecho de uma época frustrante. Até agosto!
EU AMO O BENFICA!!!"