"Quem não gosta de boa surpresa na Taça de Portugal? A menos que o seu próprio clube seja o surpreendido, claro… Mas, a verdade é que as proezas dos «pequenos» também expõem as debilidades dos supostos «gigantes».
É tão natural como respirar: todos sorrimos e aplaudimos quando «acontece» Taça, quando os pequenos se empertigam e agigantam, quando as diferenças entre divisões se desvanecem, quando os favoritos são apanhados na teia da sua sobranceria e não provam em campo a teórica superioridade dada pelo facto de militarem num escalão superior e acabam batidos por uma equipa «inferior».
É a magia da Taça, o fator que faz com que todos (ou quase) possam sonhar com a presença na final do Jamor, com a participação na festa do futebol, com a eventual conquista do troféu.
Não dando para chegar tão longe, há momentos de fama e glória que perduram (pelo menos) na memória de quem os vive, dos protagonistas e adeptos.
Se a surpresa incluir eliminar um dos três grandes, o feito eterniza-se. Alverca, Torreense ou Gondomar, por exemplo, ganharam lugar na história da Taça sem chegar a uma final.
Lusitano de Évora, Varzim e União de Leiria são clubes com um passado rico no futebol português. Sendo certo que já tiveram dias (bem) melhores, usaram a Taça, este domingo, para espreitar, de novo, o mediatismo dos grandes momentos.
Trocariam, provavelmente, a glória efémera destas vitórias por uma subida de divisão.
Depois, há o reverso da medalha: quem perdeu - Estoril, Boavista e Nacional - não estragou a época este domingo; as derrotas na Taça foram antes mais um sinal dos problemas que têm e terão ao longo da temporada.
Estrela da Amadora e Farense, em dificuldades na Liga, lá superaram os testes que tiveram. É verdade que já tentaram inverter o rumo negativo do início de época com mudanças de treinador, mas ainda terão muito trabalho para subir de rendimento.
Porque a tão falada falta de competitividade do futebol português corresponde a uma falta de qualidade. Sim, há jogos da Liga que são tudo menos um bom espetáculo. Talvez porque o facto de descerem de divisão apenas duas equipas permita investir menos. Ou talvez vários clubes não consigam mesmo investir mais. Talvez andemos a tapar o sol com uma peneira há demasiado tempo.
Haverá imensas propostas ou ideias bem-intencionadas para resolver problemas e aumentar a qualidade e a competitividade.
Por se investir tanto na formação em Portugal, talvez não fosse mal visto dar mais espaço aos jovens jogadores portugueses que, tantas vezes, só encontram espaço em divisões secundárias e, depois, até aparecem como protagonistas em algumas destas surpresas."
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