"Tenho o prazer de escrever semanalmente para este jornal há oito anos. Juntei o gosto pela escrita ao privilégio de o fazer num espaço público de referência, uma instituição com quase oito décadas, que nunca perdeu a preferência dos seus leitores. Um dia contarei orgulhoso aos meus netos que fiz parte da equipa d'A BOLA, a Bíblia do jornalismo desportivo.
Mas a frequência desta presença obriga-me à responsabilidade tremenda de selecionar cuidadosamente o(s) tema(s) a abordar. Nem sempre é fácil, confesso. Uma das estratégias que procuro seguir é a de comentar atualidade futebolística, preferencialmente em matéria de arbitragem. A razão é simples: é a minha área de especialização, à qual dedico parte importante do meu tempo nesta casa e noutras que prezo (SIC Notícias e Expresso).
Mas a liberdade de expressão que me é concedida permite-me falar também de outras coisas. E quando entro por aí, há algo que me acontece com frequência: o regresso a assuntos que abordei no passado. Não o faço por esquecimento, negligência ou para encher balões (sou dos revê tudo o que escreveu), mas porque entendo importante reforçar determinadas mensagens.
Acredito que voltar a ideias importantes é meio caminho andando para que a mensagem seja interiorizada com mais facilidade. Acho sinceramente que a repetição traz a perfeição e a insistência a compreensão.É essa a tática de hoje. Quero voltar ao tema da violência no desporto, um dos fenómenos que mais ameaça esta atividade.
Não sei se o caro leitor tem noção, mas quase todos os fins de semana há no desporto deste país um conjunto de práticas censuráveis que parecem não ter fim.
Não me refiro aos insultos, ofensas e impropérios, que a sociedade, incapaz de resolver, decidiu normalizar. Refiro-me a situações mais graves, de agressão física, ameaças veladas, perseguições em estrada, danos nos veículos, etc e tal.
O exemplo que vos trago hoje é sobre uma cena de pancadaria que aconteceu num jogo de seniores da Divisão de Honra da AF Vila Real.
Alguns jogadores (e elementos técnicos) de Abambres SC e Mondinense protagonizaram um dos episódios mais feios da época. Socos e pontapés, empurrões e agarrões, gente embrulhada no chão, viu-se de tudo um pouco durante largos minutos. Uma vergonha, uma falta de civismo sem paralelo. Um exemplo horrível dado por vários dos intervenientes na partida. Podem as duas partes argumentar que a culpa é deste ou daquele, que houve provocação e resposta, ação e reação. Que seja o organismo competente a decidi-lo. Para a perceção público, para quem estava deste lado, é irrelevante! A imagem que passou foi que tudo aquilo parecia um filme de orçamento baixo com atores amadores. Um filme que, na verdade, ainda continua a passar nalgumas salas do país.
Começa a ser desesperante a incapacidade de tanta gente qualificada para reduzir ao mínimo este tipo de situações. As ações de sensibilização existem, são bem feitas mas infelizmente produzem pouco efeito. O esforço pessoal e financeiro de tanta gente e de tantas estruturas, esbarra quase sempre no lado mais animal de alguns humanos.
Também as sanções disciplinares e/ou penais são pouco dissuasoras. Apesar de avanços recentes a esse nível, a verdade é que os focos de violência continuam ativos, sobretudo a nível distrital e de formação.
Sabemos que essa amostra tem por base problemas estruturais mais profundos, mas ainda assim acho que podíamos fazer mais e melhor em matéria sancionatória.
Sei que o nosso ordenamento jurídico é demasiado pro reu e permite mil e um expedientes para adiar decisões. Tenho pena que assim seja. Continuo a achar que só quando a tal desgraça acontecer um dia é que a coisa vai mudar. Somos ótimos a apontar o dedo depois da tempestade varrer a costa. Antes é que é mais chato..."
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