segunda-feira, 24 de junho de 2024

É possível estarem todos felizes. Mesmo quem perde


"A vitória de Portugal vista de outro ângulo

Mehmet Scholl, Altintop, Sahin, Emre Can, Gundogan. Podia enumerar mais, mas esta mão cheia de craques mostra o impacto da comunidade turca na seleção alemã e é representativa de um povo com um enorme assento na sociedade germânica, a segunda nacionalidade mais representada no país (ainda mais que os polacos). Tinha por isso a curiosidade de presenciar o ambiente de um jogo de futebol entre a Turquia e Portugal (outro país de emigração, mas de muito menor expressão no termo de comparação), num espaço público onde se reúnem milhares de pessoas, para entender como sofrem e vibram os turcos fora do contexto de um estádio. Na fan zone de Estugarda, cidade onde estão centradas para já as nossas operações, vi um enorme mar vermelho e apenas uns quantos adeptos de verde e vermelho, mas que quando tiveram de gritar golo fizeram-no (por três vezes) a plenos pulmões sem que eu tivesse assistido a qualquer sinal de animosidade – o único ponto negativo foi a retirada à força de um adepto por tentar acender uma tocha.
O que vi, por outro lado, foi uma certa simpatia e mesmo alguns sorrisos durante a segunda parte, confirmando o que Carlos Leal, português residente há 50 anos na Alemanha e casado com uma turca, me tinha dito nas vésperas do encontro de Estugarda: o público da lua crescente tem uma grande admiração pelo futebol português e não apenas por Cristiano Ronaldo, colocando a Seleção Nacional no topo da cadeia alimentar.
Não estranhei por isso o que assisti de seguida. Mesmo perdendo por 0-3, milhares de turcos meteram-se nos carros, colocaram as bandeiras de fora e apitaram pelas ruas de Estugarda como se tivessem conquistado o Europeu. Aqui e ali atravessava-se um carro com as cores de Portugal, produzindo o mesmo som das buzinas, aquilo que estes Europeus e Mundiais são durante boa parte do tempo: uma festa transversal que traz ao de cima o melhor que os povos têm para dar. Porque se fechássemos os olhos não conseguiríamos perceber quem é que estava feliz. Em boa verdade, estavam todos. Não há outro desporto que proporcione estas sensações."

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