terça-feira, 12 de dezembro de 2023

Eliminação...

Salzburgo 4 - 2 Benfica
Lima, J. Rego


Mais uma jogo, onde fomos anjinhos, com mais bola, mais remates, mas contra uma equipa cínica que gosta de jogar em contra-ataque e forte nas bolas paradas, tivemos sempre em desvantagem... Quando fizemos o 3-2 aos 71', ficámos a um golo da qualificação, mas 11 minutos depois, voltámos a sofrer um golo...

Eliminação muito frustrante, num grupo onde na minha opinião temos os melhores valores individuais, comparando com as restantes 3 equipas, mas taticamente fomos inferiores a todos! A lesão do Varela, obrigou a adaptação do João Rego a ponta-de-lança em muitos jogos, mas mesmo assim, podiamos e devíamos ter feito melhor...

Pensa ele e pensamos nós


"1. De uma maneira geral, a imprensa desportiva foi bastante impiedosa com o resultado que o Benfica trouxe de Moreira de Cónegos no último domingo. Não é para admirar. O campeão tropeçou. Mas diga-se que, em matéria de impiedade, às vezes até parece que não há gente mais impiedosa do que muita da nossa gente quando o Benfica se dispõe a entrar em período de tropeções. Vai passar. Não é fé, é só mesmo porque vai passar.

2. O próximo jogo do Benfica a contar para o campeonato nacional felizmente não vai demorar e é com o Farense no nosso estádio. Depois de um resultado infeliz, não há como não desejar que o próximo jogo venha depressa, o mais depressa possível, para redimir o que para trás não ficou registado como o modelo de um campeão. Em duas palavras: carrega, Benfica!

3. A imprensa trouxe-nos novidades interessantes no decorrer desta última semana. Interessante será, provavelmente, pouco para descrever o alcance dessas novidades lidas nos jornais. Como esta, por exemplo: 'O antigo futebolista e treinador Domingos Paciência tomou hoje posse como diretor técnico de um grupo de trabalho que na Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP) vai refletir sobre oito vetores de atividade.' Que tal?

4. Um ex-comentador do Porto Canal ascende a um cargo de direção da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. O que vos parece? A missão, chamemos-lhe assim, não é muito específica. 'A direção técnica da LPFP tem por missão debruçar-se sobre modelos  competitivos, marcação de jogos, pensar no jogo como potenciador do projeto e os desafios pós-2024'. Mas é muito abrangente: 'O grupo vai focar-se ainda na capacitação das equipas portuguesas na Europa, promover um fórum de treinadores, pensar no modelo de organização para o futebol feminino a debater-se sobre as leis do jogo e regulamentos',

5. O que mais se pede ao grupo de trabalho, dirigido por Domingos Paciência, comentador do Porto Canal, é que 'pense'. Pensará, certamente, entre muitas outras coisas em que também deve pensar. Pensa ele e pensamos nós.

6. Outra notícia interessante dos jornais: 'O Conselho de Arbitragem (CA) tomou, há cerca de um mês, várias medidas que afetaram o rendimento salarial dos árbitros, na sequência do desagrado com o acumular de erros graves na primeira fase da temporada'. Ora 'erros graves' e 'desagrado' parece que não rimam. 'Desagrado' serve, vá lá, para um lançamento de linha mal assinalado... Desagrado' aqui é poucochinho.

7. A notícia prosseguia: 'Também foi comunicado aos juízes que ou as prestações melhoravam ou o CA avançava, ao fim de dois erros graves, com um corte de 10% no valor fixo é atribuído mensalmente'. Que desagradável."

Leonor Pinhão, in O  Benfica

Nem um oceano o afastou


"Luís aventurou-se para conseguir ver um jogo do seu Clube favorito

Quando somos crianças, a nossa devoção pelo futebol impele-nos a extrair o máximo de informação sobre o tema. As horas que nos dedicamos são infinitas. Acompanhamos todos os encontros da nossa equipa favorita, seja pela rádio ou pela televisão, e, no dia seguinte, ainda lemos as crónicas do jogo nos jornais. Conhecemos todos os jogadores do plantel ao pormenor! O sonho de vermos os nossos ídolos de perto aumenta a cada dia.
Em Janeiro de 1966, Luís Pereira de Abreu era um desses meninos, encantado pelos feitos do seu Benfica, tanto em Portugal quanto na Europa. Nas vésperas de um Benfica - FC Porto, a sua ansiedade aumentava de forma exacerbada. Durante dias, assolava-o o mesmo desejo: 'assistir ao jogo ao vivo'. Mas eram muitos os entraves para que o conseguisse realizar, tinha apenas 12 anos, e morava na Madeira. Um oceano separava-o do seu sonho!
Destemido, fez dos receios força. E lançou-se numa aventura. 'Engendrou a maneira que melhor lhe pareceu para atingir o desejado fim. (...) Ocultou-se numa baleeira a bordo do Moçambique e aguardou a sua sorte'. Já em alto-mar, confiante de que o seu plano tinha sido bem-sucedido, resolveu dar uma volta pelo convés.
Quando menos esperava, foi 'descoberto por um tripulante e levado à presença do comandante, na qualidade de passageiro clandestino'. O sonho acabava de ruir como se de um castelo de cartas se tratasse. A tristeza transparecia no seu semblante.
Entregue na sede da Polícia Marítima, Luís tentou um último esforço: 'Quero ir ver jogar o Benfica, depois volto para casa.' Com um plano tão arquitetado e a faltar poucos quilómetros para o alcançar, os agentes foram compreensivos e deixaram-no ir assistir à partida. Nas bancadas do Estádio da Luz, Luís presenciou Eusébio a ser homenageado pelo Direção do Clube por ter sido considerado o melhor jogador europeu de 1965, sendo-lhe oferecida uma jarra de prata. O avançado retribuiu a homenagem com dois golos na primeira parte. No segundo tempo, Torres fixou o triunfo benfiquista em 3-1.
No final do encontro, Luís era um dos milhares de adeptos, eufóricos, que celebraram a vitória do Benfica. Certamente, não deu por mal empregado todo o esforço para ver o clube do seu coração.
Os adeptos são essenciais para o sucesso de um clube. Saiba mais sobre o tributo aos sócios encarnados na área 16 - Outros Voos, do Museu Benfica - Cosme Damiao."

António Pinto, in O Benfica

Ficção e realidade


"Cenário ideal: o SL Benfica começa a época do futebol profissional masculino com saúde financeira, um plantel com jogadores portugueses e estrangeiros de alta qualidade, internacionais pelos seus países, numa mistura de jovens valores e atletas experientes, liderados por uma equipa técnica de qualidade, vencedora, com o escudo de campeão impresso na camisola. A equipa começa a época com uma vitória na Supertaça perante um rival direto, ganha todos os jogos para o campeonato, taças domésticas e competições europeias por 5-0, sem lesões, expulsões, cartões amarelos, casos de arbitragens, e a qualidade do seu futebol é elogiada por comentadores, comunicação social e adeptos.
Cenário real: o SL Benfica começa a época de futebol profissional masculino com saúde financeira, um plantel com jogadores portugueses e estrangeiros de alta qualidade, internacionais pelos seus países, numa mistura de jovens valores e atletas experientes, liderados por uma equipa técnica de qualidade, vencedora, com o escudo de campeão impresso na camisola. A equipa começa a época com uma vitória na Supertaça perante o FC Porto, tem 9 vitórias (2 delas contra FCP e SCP), 2 empates e 1 derrota para o Campeonato, vence todas as partidas das taças domésticas e sofre 4 derrotas e 1 empate nas competições europeias. São jogos renhidos, disputados, com lesões, expulsões, cartões amarelos, muitos casos de arbitragens a favor dos adversários diretos, e a qualidade do seu futebol a ser arrasada por comentadores, comunicação social de adeptos.
Gostaria muito de viver nesse mundo ideal, onde o Glorioso ganha tudo e mais alguma coisa, onde não há fome nem guerra ou sofrimento. Mas estes são o mundo e o futebol português que temos. Há que viver com isso e com os nossos erros e melhorar. Estamos sempre na luta, a acreditar, a ter de mostrar muito mais do que todos os outros para poder triunfar. Carrega, Benfica!"

Ricardo Santos, in O Benfica 

Tudo nas nossas mãos


"Depois de ter assumido a liderança do campeonato com uma vitória histórica perante o eterno rival, e de ter dado claros sinais de melhoria nas partidas seguintes, ninguém esperava uma escorregadela do Benfica em Moreira de Cónegos. A teia defensiva do Moreirense (que sofreu apenas um golo nos últimos sete jogos) foi obstáculo que a desinspiração da nossa equipa não permitiu ultrapassar. Talvez a história tivesse sido outra se o velho conhecido Fábio Melo, comodamente instalado no VAR, tivesse querido ver a entrada assassina de Marcelo (outro velho conhecido) sobre Kokçu, e a nossa equipa ficasse a jogar contra 10 durante mais de 40 minutos, como devia. Não foi, e voaram 2 pontos.
Faltam 22 jornadas. Uma longa caminhada que só em Maio termina. Dependemos apenas de nós para chegar ao título, como na época passada. Segue-se o Farense, naturalmente para vencer.
A Liga dos Campeões não correu bem. Depois de duas temporadas consecutivas nos quartos-de-final - algo que não sucedia desde a década de sessenta -, um grupo traiçoeiro, estilos de futebol em que manifestamente não encaixamos e algum azar em momentos determinantes ditaram uma eliminação precoce.
Se a Liga dos Campeões ficou para trás, o acesso à fase seguinte da Liga Europa está nas nossas mãos, e é uma prioridade. Não vai ser fácil ganhar por dois golos na Áustria, mas o Benfica tem de o tentar com todas as suas forças. O longo e brilhante historial europeu do Clube exige-o. E em relação à Champions, a segunda prova da UEFA tem a vantagem de nos permitir sonhar mais alto. A temporada passa por diferentes momentos, e ninguém pode garantir que na fase a eliminar, já no ano civil de 2024, e depois de mais uma janela de mercado, o Benfica não esteja num grande momento de forma, e não possa, quem sabe?, chegar à final."

Luís Fialho, in O Benfica

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"1
O Benfica assumiu, disputadas 7 jornadas, a liderança isolada do Campeonato Nacional de râguebi. É ainda uma fase precoce da prova, mas são visíveis os sinais de evolução relativamente à temporada passada;

2:07.35
Samuel Barata conseguiu, em Valência, os mínimos da maratona para os Jogos Olímpicos de 2024, em Paris. baixou o seu melhor tempo em 2 minutos e 38 segundos e estabeleceu a 3.ª melhor marca portuguesa de sempre na distância;

7
São 7 as hoquistas do Benfica no Campeonato da Europa, 6 por Portugal e 1 por Itália;

44
Rafa chegou aos 327 jogos pela equipa de honra do Benfica (incluindo particulares) e passou a ser o 44.ª a par de Jaime Graça, com mais jogos. Está a 5 de se juntar a Vítor Paneira na cauda no top 40;

54
Foram 54 atletas do Benfica distinguidos na festa do triatlo 2023, num ano em que o Clube se sagrou campeão nacional de triatlo e duatlo em masculinos e femininos e de aquatlo em masculinos;

100
Gonçalo Guedes atingiu, incluindo particulares, a centena de jogos pela primeira equipa do Benfica. É o 219.º a alcançar esta marca redonda;

2001
Otamendi é o 2.º membro do plantel do Benfica a superar os 2000 minutos de utilização em competições oficiais na presente temporada (participou em 20 dos 21 jogos realizados, atuando em 2001 minutos - inclui tempos adicionais). Aursnes é, entre os 27 utilizados por Roger Schmidt (8 da formação), o único totalista absoluto, com 2110 minutos em campo, Rafa, o único, além de Aursens, totalista em jogos (1950), António Silva (1794) e João Neves (1747) são os seguintes no ranking. Acima do milhar de minutos há ainda Trubin (1493), Di Maria (1443), João Mário (1423) e Morato (1124)."

João Tomaz, in O Benfica

Editorial


"1. Mais Benfica, próximo de si. A partir desta sexta-feira, o Sport Lisboa e Benfica tem um canal WhatsApp. É mais um passo numa estratégia de proximidade para com sócios e adeptos que teve no Instagram das Modalidades e do Benfica Campus, além do reforço na aposta da comunicação do futebol feminino, pilares decisivos no digital e no colocar à distância de um pequeno gesto no telemóvel a emoção de ser Benfica. Notícias, contratações, conteúdos diversificados e últimas novidades sobre a vida do Clube passam a estar disponíveis de forma instantânea no canal WhatsApp do Benfica. Claro, e também o jornal O Benfica.

2. A forma acelerada como o mundo tem mudado nos últimos anos impõe exigências e uma disponibilidade permanente em termos de comunicação. A mudança dos hábitos de leitura, a crónica falta de tempo - de que todos somos vítimas - e a emergência do digital desafiam-nos para novos horizontes. A mudança dos hábitos de leitura, com a erosão dos formatos em papel em detrimento do imediato nos ecrãs digitais do telemóvel e dos tablets, eleva-nos para diferentes patamares na forma como interagimos com quem vive a paixão do Clube no dia a dia. Em nenhum momento iremos desmerecer um jornal histórico com mais de 80 anos. Esse é um capital singular, irrepetível, do qual todos nós que aqui trabalhamos sentimos orgulho e uma tremenda responsabilidade.

3. O jornal O Benfica continuará disponível nas bancas para quem gosta de uma leitura em papel, na quietude do momento a desfrutar benfiquismo. O jornal O Benfica manterá igualmente a sua identidade e a sua nobreza para quem o assina e faz questão de o receber pelo correio em sua casa, numa leitura aprofundada e reavivada a cada momento desportivo que se justifica. Mas o jornal O Benfica adapta-se igualmente aos novos tempos e estará também todas as semanas, à sexta-feira, a partir das 17:30, em formato digital no canal do WhatsApp Benfica para ser lido por todos os milhões que, estamos certos, se vão juntar a nós. É um novo começo de um extraordinário trajeto de vida. Que seja ainda mais feliz do que tem sido!"

Pedro Pinto, in O Benfica

Foco europeu


"O Benfica joga hoje em Salzburgo (20h00) e uma vitória por dois golos dá a passagem à Liga Europa. Este é o tema em destaque na BNews.

1. Ganhar por dois golos
O apuramento para a Liga Europa é alcançado em caso de vitória por dois golos em Salzburgo. Segundo Roger Schmidt, tal não altera a mentalidade da equipa: "A nossa abordagem é sempre a de jogar para a frente, marcar golos e ganhar jogos. Não será diferente. Temos de estar prontos para um jogo duro. É importante jogar com autoconfiança, numa partida muito importante, e lutar para ficar nas competições internacionais. Daremos tudo, temos a confiança, a equipa e os jogadores estão em boa forma, por isso agora depende de nós."

2. Continuar na Europa
Otamendi considera que é possível seguir em frente nas competições europeias e deixa a receita para consegui-lo: "Há que gerir a partida, temos 90 minutos para vencer por dois golos e continuar nas provas europeias. O importante é ter a cabeça fria, mentalidade vencedora e tentar fazer uma boa partida."

3. UEFA Youth League
A partida em Salzburgo é às 13h30. Paulo Lopes só pensa na vitória: "As expectativas são as mesmas que temos em todos os outros jogos: praticar um bom futebol, jogar bem e conseguir ganhar. É esse o nosso objetivo!"

4. Agenda para amanhã
Em futebol no feminino, relativo à Liga dos Campeões, o Benfica recebe o Eintracht Frankfurt no Estádio da Luz (20h00). Também em casa, os encarnados recebem o Galatasaray a contar para a fase de grupos da Basketball Champions League (19h30). Os Sub-17 visitam o Sporting em Alcochete (19h00).

5. Parabéns, BTV!
São 15 anos a servir o Benfica e os Benfiquistas.

6. Benfica no WhatsApp
Siga o canal do Sport Lisboa e Benfica no WhatsApp.

7. Goleada no dérbi
O Benfica venceu o Sporting, por 8-1, em futsal no feminino.

8. Excelentes resultados
Os nadadores do Benfica conquistaram 54 medalhas e bateram 10 recordes nacionais nos Campeonatos Nacionais de Juniores e Seniores de piscina curta."

Salzburgo sem benfiquistas


"O Benfica é dos sócios, o que não significa que quem prevarique não seja sancionado...

O Benfica joga hoje em Salzburgo, como já tinha acontecido em Milão, sem adeptos nas bancadas, impedidos de estar presentes pela UEFA, na sequência de incidentes em San Sebastián.
Este prejuízo, desportivo e reputacional, teve como culpados um punhado de indivíduos, que mancharam o nome do clube. Houve medidas específicas contra eles? Foram identificados? Vão poder continuar a provocar incidentes impunemente? Boas perguntas, sem resposta. A propósito da contestação verificada no Estádio da Luz a Roger Schmidt, na altura das substituições de Tengstedt e João Neves, há quem queira confundir a estrada da Beira com a beira da estrada. Os sócios e adeptos têm todo o direito de protestar, com os jogadores, com o treinador ou com o presidente, porque o clube pertence-lhes. E não têm de ouvir de Schmidt que se não vão à Luz para aplaudir, o melhor é ficarem em casa. Porém, não assiste a ninguém o direito de arremessar objetos, como sucedeu, na direção do treinador, houve limites ao protesto que foram ultrapassados, também neste caso por uma ínfima minoria.
Sendo fácil, quer através da BTV, quer por meio das câmaras da segurança do estádio, identificar quem prevaricou, foram acionadas quaisquer medidas no sentido da responsabilização, suspendendo-lhes, por exemplo, o direito de acesso à Luz, ou colocando-os sob a alçada disciplinar do clube? Boas perguntas, sem resposta. A BOLA ouviu ontem várias personalidades ligadas ao Benfica - João Alves e António Pacheco, ex-jogadores, e António Melo e Júlio Machado Vaz, adeptos - sobre se a má onda entre sócios e treinador teria solução, e a resposta chegou carregada de sabedoria: «Depende dos resultados.» Ou seja, se Salzburgo e SC Braga correrem de feição aos encarnados será uma coisa; caso contrário a crispação inevitavelmente engrossará.
No pior cenário para os benfiquistas, deve Rui Costa trocar de treinador? Se o fizer, faz mal. Schmidt tem defeitos: em muitos casos parece não ter ainda percebido a dinâmica da Liga portuguesa, é demasiado conservador nas substituições, e ainda ontem reconheceu só saber agora, «depois de um ano e meio, que o Benfica é um clube muito especial, [onde] a tolerância para um empate ou uma derrota é muita baixa»; mas também possui virtudes: advoga um futebol positivo, virado para a frente, e apresenta-se como um profissional sério e muito empenhado.
O presidente do Benfica deve, a partir de janeiro, sobretudo, equilibrar um plantel onde houve contratações que não renderam o esperado e, respeitando a soberania e a liberdade dos sócios para o aplauso e para o assobio, impor sanções aos comportamentos inaceitáveis, para que por uns não paguem todos."

José Manuel Delgado, in A Bola

Maestro e líder


"Rui Costa apanhou de surpresa os que ainda o julgavam fraco; se quiseram testá-lo na sua autoridade presidencial, o fiasco foi enorme

Anda qualquer coisa no ar que me escapa, mas penso que, excluído aquele grupelho zaragateiro que tão triste imagem deu do clube, os bons adeptos devem estar atentos às variações do tempo. É a grandeza da instituição a ser alvejada por condutas desprezíveis e geradoras de aproveitamentos vários. Do lado de fora, dos emblemas rivais, que se divertem com as zangas na casa da águia, e do lado de dentro, de quem, à boleia destas tristes figuras, tenta subir na hierarquia de influências.
O que se passou foi grave e nenhuma relação teve com naturais impulsos de desagrado nas bancadas, nem com os tradicionais lenços brancos. Foi um caso diferente, localizado, sendo aquele espaço muito solicitado pela proximidade dos bancos e dos artistas. A saída de João Neves foi apenas um pretexto, como poderia ter sido outro.
Rui Costa disse que em 120 anos de vida do clube nunca se viu uma história como esta. Eu não vou tão longe, mas também não me lembro. Só faltou dar-se o passo seguinte para ser tema de abertura de noticiários em todo o mundo.
É o costume, a grandeza do Benfica a incomodar e a servir de tema a novelas de enredos duvidosos, como me parece ser o caso. Objetivamente, o que se passou? O Benfica empatou com o Farense, sim, mas quem teve carradas de razão para ficar incomodado foi Di María, que já não tem idade, nem paciência, para tantas oportunidades de golo criar e o inapto Rafa Silva esbanjar. Ah, mas foi o pequeno génio o autor do golo que salvou a nação encarnada da derrota, dirão. Pois foi, e é por causa desse equívoco que o treinador tem perdido créditos. Na última época mimou-o com beijinhos e abraços, mas creio que, esgotado o efeito surpresa, não há afetos que cheguem para disfarçar uma evidência já aqui registada: com Rafas o Benfica não vai lá e, neste sentido, ordena a sensatez uma posição firme e atempada da administração para não se enredar na teia de interesses do agente do jogador, a sonhar com um negócio das arábias, ou algo parecido.
Do que o Benfica precisa é de reforços a sério e não de acumular destroços, como tem sido a sina há vários anos. No resto, é a sua grandeza a deixar o mercado frenético. De uma opção técnica fez-se um drama, instalou-se o caos, tudo por causa de uma simples substituição, primeiro, e da resposta do treinador, que não é bom de assoar, depois.
Roger Schmidt foi o melhor reforço de Rui Costa, escrevi em fevereiro, e mantenho, embora reconheça que, pontualmente, pode transformar-se em problema devido à sua teimosia, uma característica de todos os treinadores, direi, por não quererem aceitar que são humanos e também se enganam.
Sem Enzo Fernández, pilar central do edifício futebolístico projetado, e com Kokçu ainda no papel de imitação vulgar do argentino, também como assinalei há um mês, a seguir ao empate com o Casa Pia, que já então enervou associados e adeptos, o treinador alemão continuou a insistir em desenho tático que se tornou um tormento para os seus jogadores e um rebuçado para os opositores.
Este exemplo com o Farense foi apenas a prova que faltava, ou mais uma. O Benfica só ataca pelo lado direito, Kokçu pisa terrenos distantes das zonas de tiro e, mais recentemente, deixou de haver gente na área em permanência, passa por lá alguém… Soluções existem, podem não ser brilhantes, mas são suficientes para alcançar o título. No entanto, se Schmidt insistir neste modelo de todos à volta de Rafa, é capaz de ser a sua desgraça e da equipa.
Sobre o que Schmidt disse ou não disse, depois de ter sido afrontado pelo tal grupelho, penso que tem de ser visto à luz de quem não se sente não é filho de boa gente. Sinceramente, não vejo que possa ser acusado de desrespeito na forma como respondeu a quem fomentou aquele foco de violência. Pelo contrário, revelou frieza e até algum sentido de humor, quando aconselhou gente que não é capaz de apoiar a equipa a ficar em casa e só voltar para celebrar no Marquês a conquista do título. Dito assim, com esta frontalidade, os contestatários só têm de lhe ficar gratos.
Se este incidente foi mais um teste à autoridade presidencial, de certeza que os autores da iniciativa ficaram desiludidos porque Rui Costa deu uma resposta lúcida, corajosa, segura e tradutora de quem conhece o caminho por onde quer seguir em direção a um futuro que honre a história do clube, devolvendo-lhe o estatuto de grande europeu.
Apanhou de surpresa os que ainda o julgavam fraco. Se quiseram testá-lo, o fiasco foi enorme, porque o maestro como jogador está a ser líder como presidente.
Em conclusão, não é de agora que a paz na águia tem sido abalada por minorias organizadas, que pretendem exercer o controlo através de assembleias, ou por grupos eruditos, que navegam no lodo das redes sociais. Esta infeliz ocorrência terá contribuído, porém, para alertar o adepto anónimo, a alma do Benfica, de que alguma coisa terá de ser feita no sentido de salvaguardar a estabilidade da instituição e dar voz àqueles que apenas querem servir o Benfica, que são a esmagadora maioria, afinal."

Se o Benfica é destes sócios, privatizemos o clube


"Roger Schmidt é tão adulto como quem lê este texto e sabe bem aquilo que o espera se a equipa continuar a não convencer - «Selvagem e sentimental», a opinião de Vasco Mendonça.

Tivesse eu a sorte de receber um euro por cada vez que alguém vocifera que o Benfica é dos sócios e já seria milionário por esta altura. Nada tenho contra a afirmação. É assim em termos formais e é natural que, consagrado esse princípio na definição estatutária de uma instituição, seja também assim em termos emocionais. Os direitos de propriedade, em especial os mais próximos do coração, são para se reclamar e defender. É uma afirmação que, aliás, já vi ser feita inúmeras vezes para defender o Benfica e os seus valores fundadores, quase sempre com a melhor das motivações, e provém de qualidades que definem maioritariamente os Benfiquistas: a defesa de princípios adequados de cultura desportiva, um associativismo assente na grandeza de espírito e na prática democrática, a salutar convivência com os adversários, mesmo que nem sempre recíproca, e uma necessária mundividência para se ser, afinal, e como sempre foi, o maior de Portugal e, aos olhos de todos os que conservam a sua honestidade intelectual, um dos maiores do mundo.
Por tudo isto, custa um pouco quando discutimos certas coisas tomando a parte pelo todo, como algumas argumentações em que tropecei nos últimos dias. Mais a frio, acho que é importante começar por aqui. Quando alguém utiliza o argumento de que o Benfica é dos sócios para enquadrar o que se passou no sábado passado, corre o sério risco — mesmo que não tenha essa intenção — de relativizar o comportamento inaceitável de quem atirou objetos ao treinador do seu clube porque não concordou com uma substituição. Se o Benfica é destes sócios, então permitam-me a provocação: talvez seja melhor privatizarmos o clube antes que fique na mão de mais gente como esta, que em nada representa a grandeza do meu clube.
Note-se que também eu tenho sentimentos. No calor do momento, antes mesmo da substituição, estava preparado para me lançar numa crítica furiosa a Roger Schmidt — e parte de mim ainda está. Digo Roger Schmidt porque é quem, para desgosto do próprio, está mais à mão de ser criticado. É um lugar estranhamente solitário que às vezes dá que pensar. Mas, dizia, uma pessoa pensa em tudo quando está prestes a perder pontos em casa contra o Farense depois de ter falhado duas mãos-cheias de oportunidades de golo. Pensei nas substituições de jogos anteriores, muito antes da saída do João Neves, pensei nas exibições pouco convincentes, pensei no que já fomos, lembrei-me dos pontos que tínhamos perdido e pensei nos pontos que estávamos prestes a perder, lembrei-me de algumas respostas pouco galvanizadoras do treinador quando questionado pelos jornalistas ao longo das últimas semanas. Lembrei-me de muita coisa, mas jamais me ocorreria atirar um objeto a um treinador do Benfica. Podia agora dizer de forma algo melodramática que o Benfica não é isso, mas essa não é uma singularidade do Benfica. Por muito que tente, não me lembro de contextos da nossa vida em sociedade em que arremessar um objeto na direção de alguém seja aceitável. Nos últimos dias, falou-se em impedir estes adeptos de irem ao estádio e creio que nada aconteceu entretanto. Chamem-me ingénuo, mas eu tenho uma outra esperança na humanidade: a de que estes adeptos revejam as imagens de sábado e decidam sair pelo seu próprio pé. Voltem um dia mais tarde, se possível ainda cobertos de vergonha.
Depois há as questões de estilo. Em nenhum momento até hoje, desde que me lembro de ver jogos do Benfica, o meu cérebro me disse que o Benfica é meu e que, portanto, conquistei o direito a assobiar um treinador ou um jogador da minha equipa. Se algum dia aconteceu, vou desde já alegar que estava inebriado e pedir desculpa pelo sucedido. No caso dos assobios, não tenho qualquer recomendação de civilidade a fazer. É somente uma apreciação estética ou uma matemática que eu aplico a estas coisas. Não consigo perceber em que é que os assobios nos aproximam de uma vitória no jogo seguinte. E não saio menos desiludido com esses treinadores ou jogadores. Simplesmente não tenho em mim esse sentimento. Tendo já assistido a coisas no Benfica que ainda hoje me causam stress pós-traumático, acho que já não vou a tempo de desenvolver esse gosto pelo assobio.
Acontecimentos tristes como os de sábado produzem efeitos exatamente opostos aos pretendidos por quem decidiu passar dos assobios aos arremessos. Transformaram o momento da equipa, que exige análise e reflexão sérias, num contexto completamente diferente, em que é necessário lembrar que, antes das vitórias ou das derrotas, devem vir mínimos de decência. Eu não estou certo de que exista uma campanha contra Roger Schmidt na comunicação social. Sei que qualquer treinador do Benfica é levado ao colo quando vence e convence, e é destruído em público quando perde, porque é assim que uma economia de conteúdos funciona em Portugal. E sei que Roger Schmidt respondeu bem ao que se passou no sábado, ainda que com uma franqueza perigosa, por ter parecido fazer observações gerais sobre os adeptos presentes no estádio quando, de facto, se referia apenas aos que atiraram objetos.
Roger Schmidt é tão adulto como quem lê este texto e sabe bem aquilo que o espera se a equipa continuar a não convencer: se o bom senso imperar, não serão mais objetos arremessados, mas serão muitos mais assobios, até esse inferno se tornar ensurdecedor. É mesmo urgente vencer e convencer, por ele e por nós. Mas, mesmo contra a minha opinião mais crítica acerca do que têm sido os últimos meses do treinador do Benfica, não me resta outra opção esta semana senão apoiar este treinador e esperar que tanto ele como os jogadores façam deste episódio vergonhoso um proverbial momento de viragem na época. E, se isso não acontecer, que os donos do clube saibam estar à altura do momento."

Vasco Mendonça, in A Bola

Sporting: Adán é parte da solução e não do problema…


"Guarda-redes leonino continua para as curvas e dá confiança à equipa

António Adán, 36 anos, 145 jogos disputados pelo Sporting em três épocas e meia, foi um dos escolhidos por Rúben Amorim para ser protagonista da revolução que colocou ponto final a um jejum leonino, no que dizia respeito ao Campeonato Nacional, que durava desde 2002. Grande esperança do futebol espanhol, Adán sagrou-se campeão europeu pelo país vizinho em sub-19, e esteve em mundiais de sub-17 e sub-20 pela Rojita. Produto da cantera merengue, viveu muitos anos à sombra de Iker Casillas (José Mourinho deu-lhe a titularidade quando entrou em colisão com o campeão do Mundo de 2010) e só ganhou a dimensão que o seu potencial prenunciava quando se transferiu para o Bétis de Sevilha, onde foi figura de proa em 165 jogos (2014/2018). Foi então seduzido pelo Atlético de Madrid, mas Oblak revelou-se obstáculo inamovível, e Adán decidiu-se, depois de dois anos de seca, pelo Sporting, com o assinalável sucesso que se lhe reconhece. Afinal, Bétis e Sporting equipam de verde e branco, cores que parecem ser talismã para António Adán.
A caminhar para o fim da carreira, que há muito passou o equador, Adán mantém intactas as qualidades, pese embora por vezes demore a entrar em forma, e tem a confiança do treinador e do capitão Seba Coates, com quem tem estabelecido uma parceria que se entende às mil maravilhas.
Porém, depois dos três golos sofridos em Guimarães, o tema da sua sucessão voltou a alguns fóruns sportinguistas, o que justifica uma análise fina do que sucedeu no D. Afonso Henriques. Dizia o ex-selecionador brasileiro João Saldanha, e com alguma razão, que «goleiro não ganha jogos, só perde», sentença que pode aplicar-se a Adán, muito mais vítima do que réu na cidade-berço nos golos dos Silvas. Senão, vejamos: no lance da grande-penalidade com Ricardo Mangas, não foi imprudente e fez tudo o que podia para evitar o contacto, forçado. Dos onze metros, o pontapé de Tiago Silva não lhe deu hipótese. No segundo, ia defender o remate de André Silva quando Morita desviou a trajetória do esférico. Indefensável. E no terceiro, de Dani Silva, apesar da bola ter entrado entre Adán e o primeiro poste, a curta distância a que o vimaranense estava da baliza, e a violência do remate, são suficientes para não crucificar o guarda-redes do Sporting. E depois ainda evitou o 4-2 com uma grande defesa a remate de Butzke, mantendo os leões vivos no jogo até ao apito final.
Em resumo, precisa o Sporting, neste mercado de inverno, de ir buscar um guarda-redes? Não creio, Adán continua para as curvas, e dá confiança à equipa. E no final da temporada, quando o espanhol já tiver 37 anos, justificar-se-á equacionar uma alternativa? É uma questão de ter, ou não, meios (Trubin, 22 anos, custou 10 milhões, ficando o Shakhtar com 40 por cento da mais-valia de uma futura transferência) e também vontade de fazê-lo, algo que não se vislumbrou, até agora, em Rúben Amorim. Sem que Franco Israel tenha para já conseguido impor-se, aos leões restará sempre a hipótese de procurarem no mercado outro guarda-redes experiente, que represente menos riscos. Mas, para esta época, Adán faz claramente parte da solução e não dos problemas do Sporting."

Jornada 13


"Talvez seja do número historicamente azarado, mas esta jornada ficou marcada por momentos de contestação, perante o empate caseiro do Benfica com o Farense, do domínio do nunca visto. Num jogo em que a superioridade foi total, o bom futebol visível e a ineficácia de finalização, também ela, do domínio do nunca visto.
E se as declarações do treinador no final são pouco razoáveis, ao pedir aos adeptos “negativos” para ficarem em casa, a verdade é que, perante a onda de contestação generalizada, não é fácil distinguir uns dos outros e por isso só aumentou a acrimónia. Embora se compreenda o “murro na mesa”.
E é evidente que o comportamento agressivo de alguns adeptos é, não só inadmissível, como de tal forma emocional e destituído de qualquer racional, que só prejudica o seu próprio clube. Igualmente inadmissível foi a reação do jogador Arthur Cabral pondo até em causa a possibilidade de voltar a vestir o Manto Sagrado.
Mas, o Benfica, mergulhado na crise, ao cabo de três empates, está, ainda assim, em todas as frentes internas e a um ponto da liderança. Ao contrário do Porto, que já perdeu um título, precisamente para o Benfica, e já foi eliminado noutro.
E não deixa de ser curioso que, neste contexto, enquanto no Benfica o presidente veio a público (tinha de o fazer) segurar o seu treinador, no Porto é exatamente ao contrário e é o treinador quem vai segurando um presidente particularmente desgastado.
Como dizia um adepto num “meme” conhecido: “É preciso ter calma que o Benfica é muito grande”. Tudo ao rubro para a jornada 14, em que se cruzarão os quatro primeiros."

Das críticas à carreira na arbitragem


"Não há, do lado das tribos irracionais do futebol, filtros na forma como se reage às críticas - «O poder da palavra», a opinião de Duarte Gomes

De cada vez que um clube, no exercício legítimo da sua liberdade de opinar, menciona publicamente o nome de um árbitro como sendo sistematicamente infeliz na direção dos seus jogos — sugerindo tendência histórica para o prejudicar — está a criar-lhe enormes constrangimentos, não apenas a nível profissional (esses fazem parte), mas sobretudo a título pessoal. E está a criá-los não apenas a ele, mas também aos seus familiares diretos: esposa, filhos e pais. É importante que se tenha noção disto.
Esta é, na verdade, uma situação delicada e muito difícil de gerir: por um lado, as sociedades desportivas, as equipas e os seus responsáveis têm todo o direito de discordar das suas decisões, criticar os seus trabalhos e exigir responsabilidades e consequências desportivas. Por outro, nos tempos que correm, os danos colaterais decorrentes desse tipo de manifestações (ainda que de forma e modo apropriados, como foram recentemente) acabam por tornar-se quase sempre num enorme problema para quem é colocado no centro do furacão.
É que não há do lado de cá, o das tribos irracionais do futebol, quaisquer tipo de filtros na forma como se reage a esse tipo de críticas.
A partir do momento em que alguém com voz ativa se manifesta num determinado sentido e o faz com o peso que o seu estatuto tem, o homem que também é árbitro é atacado de todas as formas possíveis: através de comentários e mensagens inenarráveis via redes sociais, com ameaças de morte via email, com insultos pessoais na rua, no treino ou à porta de casa, etc., etc. A perseguição criminosa não se cinge apenas a ele, mas também a todos aqueles que o rodeiam.
Quando se trata de exercer perversão, não parece haver limites. Por isso, o que me parece mais sensato nesta fase é apelar ao bom senso geral, numa liga que todos sabemos ter em jogo mais, muito mais do que o mero título desportivo: ponderação na forma como se critica (sensibilidade nos termos e expressões usadas, cuidados no timing, tom e linguagem utilizadas); e do lado dos senhores árbitros, a capacidade de não se porem a jeito, evitando erros indesculpáveis em competições que contam com o apoio da videotecnologia. Há análises que são inadmissíveis em alta competição e que só podem resultar de enorme desatenção, desconhecimento técnico ou falta de sensibilidade. Qualquer um é proibitivo a este nível.

Jorge Correia
O Jorge Correia, tal como eu um madeirense de gema, jogou futebol em vários clubes regionais, incluindo na 2.ª Liga pelo Nacional da Madeira. Depois de terminar a sua carreira, seguiu o percurso natural e tornou-se treinador (Nível 2 — B), tendo trabalhado em escalões de formação em várias equipas do arquipélago. Há alguns meses decidiu responder positivamente ao apelo lançado pelo Sindicato dos Jogadores, em parceria com o CA da FPF, tornando-se árbitro de futebol. No passado fim de semana e depois de vários jogos com a bandeirola nas mãos, fez a sua estreia oficial de apito na boca (no jogo do Campeonato de Veteranos que opôs o Ribeira Brava ao Boaventura).
O Jorge é um dos 19 ex-jogadores que escolheram seguir carreira na arbitragem, encontrando aí uma forma alternativa de continuar ativamente ligado ao desporto que mais amam. O benefício para eles é fantástico, mas para o setor ainda mais, porque beneficiará do know how e experiência de gente que conhece o jogo de dentro para fora.
Fica o repto, lançado não apenas para atletas em final de carreira mas também para aqueles que, ainda estando no ativo, têm a capacidade de perceber que o futuro poderá não passar por aí."

Esta é a história de Jorge Correia, ex-jogador profissional, ex-treinador e agora árbitro de futebol


"Hoje quero partilhar convosco a história do Jorge Correia, ex-jogador profissional, ex-treinador e agora... árbitro de futebol.
Em maio passado, o Jorge perguntou-me o que tinha que fazer para poder frequentar o curso de arbitragem, depois de seduzido pela (excelente) iniciativa do Conselho de Arbitragem e Sindicato dos Jogadores, amplamente divulgada na altura.
Daí a ter concretizado a intenção, foi um saltinho.
A primeira ação formativa (Nível - 0) ocorreu em agosto e contou com a participação de dezanove jogadores e/ou ex-jogadores que, sem limite de idade, aderiram à ideia.
A arbitragem é, sem dúvida, uma forma alternativa de estar no futebol, tornando possível a participação (e continuidade) no espectáculo de todos aqueles que tenham vontade de abraçar esse desafio.
No caso do Jorge, foi precisamente a paixão pelo futebol - e também o facto de querer ser um exemplo para os seus ex-colegas de profissão - que o fez avançar sem medos.
O antigo jogador madeirense, que atuou na formação do CS Marítimo, no CD Nacional (II Liga) e no São Vicente, Câmara de Lobos, Machico, Ponta do Sol, entre outros, entendeu que este era o passo que faltava dar numa carreira recheada de momentos inesquecíveis e que até contempla experiência como treinador em escalões de formação em alguns emblemas regionais (Nacional, União da Madeira, etc).
O Jorge Correia, que tem vasta experiente enquanto jogador de futebol amador e profissional (e também como técnico), está agora na fase inicial de uma carreira que teve sempre muito perto de si, mas que nunca pensou servir desta forma.
Palavras suas: “Cada jogo que tenho feito é como uma final da Liga dos Campeões, para que o futebol seja mais bonito e todos estejam contentes com a equipa da arbitragem” .
Mesmo num escalão inicial e ainda a começar o seu percurso (nesta fase, muito preenchido na função de árbitro assistente, em jogos de jovens atletas), o ex-jogador diz-se feliz e realizado por ter encontrado uma nova motivação para fazer parte ativa do jogo que tanto gosta.
O seu exemplo pode e deve ser seguido por outros ex-jogadores, mas também por aqueles que, em final de carreira ou a dar os primeiros passos, sintam que o seu futuro no futebol pode não ter ser aquele que em tempos idealizaram.
Do lado de cá, o setor da arbitragem agradece, obviamente.
A possibilidade de poder contar com pessoas experientes, que jogaram futebol e viveram o jogo de dentro para fora, é uma mais-valia tremenda para o aumento qualitativo dos seus quadros.
Nesta área, o saber técnico e teórico é importante mas, só por si, não chega. É preciso conhecer as dinâmicas internas do jogo, sentir o pulso aos jogadores, perceber o contexto em que se está inserido e aplicar as regras com sensatez, diplomacia e inteligência emocional. Nessa matéria, ex-treinadores e jogadores são a cereja no topo do bolo.
Por isso, fica de novo o desafio:
- Se tem mais de 14 anos e quer fazer parte do jogo, de um modo distinto e positivo, inscreva-se! Tire o curso de árbitro de futebol ou futsal.
Contacte a Associação de Futebol do seu distrito de residência, saiba quando arrancam as próximas formações e venha perceber o que é estar deste lado.
E aos pais mais receosos, àqueles que temem pela opção arrojada das suas filhas/os, uma garantia:
- Não conheço nenhum jovem árbitro que tenha seguido maus caminhos (alcoolismo, criminalidade, toxicodependência, etc) depois de iniciar esta viagem. A arbitragem é, de facto, uma escola de valores, porque incute-lhes responsabilidade, compromisso, espírito de equipa, resiliência, dedicação e claro, uma vontade enorme de quererem aplicar justiça.
Em idade de influências e com tantas seduções perversas já ali, ao virar da esquina, é uma excelente alternativa.
Fica o repto."

A Boina Fantasma não vivia longe de casa


"No final de cada jogo, Severino Varela apanhava o ‘ferry’ e regressava à sua amada Montevidéu.

Se houve um tempo em que os guarda-redes usavam bonés, para protegerem os olhos do sol do início da tarde que estava quase a pino, também houve uma era na qual os jogadores de campo gostavam de usar boinas. A razão também era simples: como as bolas eram cosidas em couro, havia uma parte na qual as costuras se destacavam e, muitas vezes, provocavam feridas nos crânios daqueles que usavam a cabeça com mais frequência. A proteção não era propriamente global, mas era eficiente e evitava feridas. Dos muitos que usaram, Severino Varela, interior-direito do Boca Juniors, foi provavelmente o maior. Ganhou a alcunha de La Boina Fantasma e não foi por acaso. O dia está fixado na parede da história do futebol argentino: 26 de setembro de 1943. Em campo e nas bancadas a rivalidade fervia como água aquecida a cem graus centígrados. Boca-River! Como diria o António Oliveira depois daquele golo fantástico ao Dínamo de Zagreb em Alvalade: «Quem viu, viu; quem não viu, não viu!». Quem alguma vez viu o palco frenético onde se representam essas peças de teatro futebolístico que são os confrontos entre Boca Juniors e River Plate, os homens do Barrio de La Boca, lambido pelas águas do Rio de La Plata, que andam com caixotes às costas, sempre à espera do desembarque de mais um navio, contra os milionários de Belgrano, o bairro que levou o nome do general Manuel José Joaquín del Sagrado Corazón de Jesús Belgrano, político, advogado e militar e, sobretudo, o homem que desenhou a bandeira da Argentina, nunca mais o esquecerá. Tal como nenhum argentino esqueceu esse momento único de 1943 quando um jornalista mais imaginativo inventou a frase «golazo del misterio».
Na verdade, o golo de Severino foi uma espécie de aparição, com um toque de divino porque ninguém estava mais a prestar atenção aos acontecimentos que se sucediam na grande-área do River Plate onde tudo parecia ter deixado de interessar aos viciados em adrenalina. Pois é aqui mesmo que eu quero chegar: Carlos Sosa tinha driblado dois adversários pela direita do ataque do Boca e atirado a bola para a área com uma força soberba e exagerada. Toda a gente viu como ela passou sobre as cabeças dos centrais do River, Pio Corcuera e Ricardo Varghi, e para lá do alcance do guarda-redes Lettieri. No fundo, todos os que enchiam o Estádio Monumental de Nuñez e que se haviam erguido em bicos de pés, convencidos de que um perigo infame rondava a baliza dos Millionários, voltaram a sentar-se porque a bola saiu pela linha de fundo. Ou não? É nesse preciso segundo que algo de fantasmagórico acontece. Severino Varela, voou como um pássaro azul de crista branca e, com a cabeça envolvida na sua boina basca, num golpe elegante, próprio de uma garça, chegou a tempo de a desviar para dentro da baliza. Um estertor quase elétrico tomou conta dos adeptos do Boca: o grito fez eco ao longo de toda a Avenida Presidente Figueroa Alcorta – «Se-ve-ri-no! Se-ve-ri-no! Se-ve-ri-no!».
Severino Varela Puente nasceu em Montevidéu no dia 14 de setembro de 1913. Jogou no Peñarol, como todos os grandes jogadores uruguaios, era absolutamente apaixonado pela sua cidade e só uma oferta especial o tiraria da margem norte do Rio de La Plata. Foi então que os dirigentes do Boca Juniors lhe puseram na frente u cheque em branco. Com nobreza, recusou: «No voy a cobrar lo que no sé si voy a merecer». Assinou mas com ordenado fixo. Para compensar, a boina era paga. Ou seja, era um adereço publicitário surgido muitos anos antes de o futebol e a publicidade se confundirem. No final desse jogo irrepetível, La Boina Fantasma fez o que sempre fazia: apanhou o ‘ferry’ e regressou a Montevidéu para trabalhar o resto da semana nas Usinas y Teléfonos del Estado. Depois, aos sábados, voltava a Buenos Aires para jogar outra vez pelo Boca. Só porque a Boina Branca nunca quis assinar um cheque em branco…"

«Estamos a assistir ao genocídio do espírito benfiquista»


"António Melo considera que Rui Costa esteve muito bem ao defender o treinador; ator acredita que o Benfica vai ser campeão

O Benfica tem vivido dias difíceis. A eliminação precoce na Liga dos Campeões e a liderança perdida no campeonato culminaram com uma audível e visível contestação a Roger Schmidt, no jogo contra o Farense, no momento em que o técnico realizou duas substituições quando se encontrava em desvantagem no encontro. Rui Costa saiu em defesa do treinador alemão um dia depois, para acalmar os ânimos entre a massa associativa encarnada.
A BOLA esteve à conversa com várias personalidades, que falaram sobre o momento conturbado que a águia atravessa.

— Como avalia a intervenção de Rui Costa ao defender Roger Schmidt?
— Excelente. Era o que se pedia de um presidente, não há motivos para não defender o treinador.

— Depois da contestação no jogo com o Farense e as declarações de Rui Costa, é possível reparar a relação entre os adeptos do Benfica e Roger Schmidt?
— Olhe, vou dizer-lhe uma coisa que pode ser polémica, mas, eu acho que nos últimos anos houve um genocídio do que é o espírito do Benfica. Como as pessoas conhecem pouco do que é a história do Benfica, não têm bem noção. A contestação é feita de uma outra maneira, e não desta forma que foi feita. Não se contesta para mandar abaixo, contesta-se para melhorar. Ainda por cima escolheram o pior jogo da época para fazer esta contestação, porque o Benfica fez uma exibição fantástica. Futebol é assim, uma equipa pode atacar 90 minutos, e num contra-ataque sofre um golo, que foi o que aconteceu. Foi um momento pouco propício à contestação e à forma como ela foi feita.
Agora há um movimento muito grande a pedir o Abel Ferreira. Acho-o um treinador extraordinário, mas não sou dos que defendem a vinda do Abel em detrimento da permanência do Roger. O Abel ainda agora deu uma entrevista ao canal do Palmeiras em que diz que o grande mérito que o Palmeiras teve foi que, nos momentos em que mais sofreu, em que estava desacreditado com quatro derrotas seguidas, e vinha da eliminação da Libertadores, só conseguiram dar a volta e ganhar o campeonato porque foram resilientes e não desistiram. Muitos queriam a substituição do Abel, mas o treinador manteve-se. Aconselho os benfiquistas a verem essa entrevista e perceber que, neste momento, é preciso juntar, unir e seguir em frente. Um treinador que apresentou o futebol do ano passado não pode ser incompetente. Benfica, mesmo nos grandes anos de glória, nos anos 60 do Eusébio e do Coluna, não ganhou sempre. Eu sou daqueles que acreditam piamente que o Benfica vai ser campeão, se se mantiver a equipa técnica e a vontade de unir e não separar.

— Que motivos têm os benfiquistas para acreditar que a equipa vai melhorar?
— Os motivos de terem um técnico que o ano passado jogou um futebol fantástico, e que este ano também já jogou a espaços. Os processos valem mais e levam ao êxito, e não se pode abandonar o processo só por haver contrariedades. Benfica tem um bom plantel, tem tido problemas, é óbvio que precisa de reforços em janeiro no sentido em que os jogadores que reforçaram têm demorado a adaptar-se, o clube precisa de ser mais assertivo. Precisa de outro lateral direito, um lateral esquerdo que pegue de estaca, libertar o Aursnes para jogar mais à frente e, no meu ponto de vista, precisa de um marcador que não falhe. Um matador de créditos firmados.
Eu acho que os motivos são termos um bom plantel, bom treinador, e não é por ter tido dificuldades na Liga dos Campeões que se deve abdicar dele. Dificuldades podem acontecer a qualquer clube, o Barcelona não se apurava para os oitavos há três anos e não é por isso que deixa de ser uma grande equipa, e os técnicos que lá estavam não deixam de ser grandes técnicos. Está tudo em aberto no campeonato, na Taça de Portugal, Taça da Liga e pode ser que terça-feira continuemos na Europa. O FC Porto, que se gaba tanto de ter uma equipa de Champions, não há muito tempo foi eliminado, com este treinador, pelo Krasnodar.

— Faz sentido mudar de treinador e, se for esse o caso, quem gostaria de ver no Benfica?
— Não. Fui contra a saída do Lage e do Rui Vitória, acho que não é por aí. Saídas tem de ser no final das épocas. Substituir o treinador no meio da época, no mundo inteiro, a taxa de sucesso é de 10 por cento. Olhe o que aconteceu no Botafogo... No final das contas, no final da época é que se fazem as contas, faz-se o balanço, e decide-se se este treinador em termos de projeto está esgotado e parte-se para outro, ou se é para continuar. Sou contra despedimentos a meio da época, a não ser que houvesse uma coisa gravíssima, que não é o caso. Podemos criticar esta opção ou aquela, mas daí a pensar em mudar e substituições, sou contra."

Rui Costa e a crítica a Schmidt


"Ninguém está acima da crítica. Há que ter a humildade dos homens e não o poder de deuses

Rui Costa decidiu tomar partido no vibrante confronto entre adeptos do Benfica e o seu treinador. Fê-lo em nome da estabilidade da equipa de futebol e dos interesses económicos do seu clube. Percebe-se a intenção, mas, de facto, não foi tão hábil quanto deveria ter sido. O presidente do clube é, essencialmente, o representante executivo dos sócios e dos adeptos e se deve solidariedade e apoio institucional a todos os funcionários do clube, inclusive ao treinador, não deve menos aos benfiquistas que maioritariamente criticam Roger Schmidt pelos resultados apresentados na sua atividade profissional, sim, mas, muito, pela sua afirmação de soberba e superioridade. Não é aceitável que um funcionário do clube aconselhe publicamente os adeptos e os sócios a não irem ao estádio se não gostarem do que veem. Muitos milhares de sócios pagam com as dificuldades das suas vidas severinas para gostarem de ver a sua equipa jogar bem, dar espetáculo e, se possível, ganhar. Se a equipa jogar mal ou não ganhar, a solução para que os jogadores e o treinador não sintam a pressão nos seus deveres profissionais não estará num estádio vazio. E sejamos claros: os sócios de qualquer clube têm o direito de criticar os jogadores, o treinador e até o presidente. Mesmo que não tenham razão, pagam para isso, enquanto os outros recebem vencimentos suficientemente generosos para poderem aprender a aguentar críticas.
Eu sei que outra questão diferente é a do respeito, ou da falta dele. Evidentemente, que nem mesmo no futebol, palco de emoções menos racionais e proporcionadas, se deve consentir a falta de respeito para com qualquer profissional, que faz o que pode e o que sabe, mesmo que não seja o expectável. Mas essa é uma questão que se deve colocar num outro plano. Esses sócios, ou adeptos que faltam ao respeito ao treinador, aos jogadores ou ao clube, como aconteceu, por exemplo, em San Sebastián, devem ser punidos e até expulsos dos estádios e, nesse aspeto, até penso que a reação de Rui Costa tem sido demasiado condescendente e tolerante. Porém, não é falta de respeito pelo ator fazer uma pateada no teatro, ou sair a meio do filme. Ninguém, num país livre e democrático está acima da crítica e todos os que são criticados têm de saber ter a humildade dos homens e não o poder ilimitado dos deuses."

Abutres...


"Campanha nunca antes vista em Portugal por parte da comunicação social dirigida a um treinador, seja de que clube for.
E os benfiquistas estão tão cegos que seguem esses abutres."