quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Vermelhão: 2.ª parte fatal...


Inter 1 - 0 Benfica


Mais uma derrota na Champions, numa partida, onde ao intervalo parecia controlada, mas na 2.ª parte tudo mudou... A minha crónica, vai ter várias criticas, o Benfica acabou por fazer um jogo mau, nos 90 minutos, as opções não resultaram, mas também é preciso não esquecer que jogámos hoje em casa do vice-campeão europeu, que esta época, até está a demonstrar ter mais opções e mais consistência, e neste momento não tem jogadores importantes lesionados... E em cima disto, não se assinalam penalty's tão descarados, como este sobre o Neres, fica muito complicado!!!

Surpresas no onze, com o Bernat e sem o Musa (o Morato era esperado...), com o Neres a fazer de ponta-de-lança (quando vi o onze, pensei que fosse o Di Maria naquela posição...). A intenção parecia clara: ter bola, e tentar ultrapassar a defesa do Inter em velocidade... e não oferecer um ponta-de-lança, à marcação, dos forte fisicamente Centrais do Inter...

No primeiro tempo o jogo foi lento, o Inter não pressionava alto, e isso retirou-nos a possibilidade de ter espaço entre linhas, mas pelo menos conseguimos evitar muitos lances de perigo junto da nossa baliza... e até criámos algumas situações: a do Aursnes foi a melhor, sendo que noutras duas, fomos apanhados em fora-de-jogo, com os passes a saírem atrasados...

Mas era evidente, que as coisas ofensivamente não estavam a correr bem... O relvado de San Siro é historicamente mau! O jogo típico do Benfica, dos passes e passinhos, com triangulações, nunca poderia resultar nestas condições, contra uma equipa muito agressiva nos duelos defensivos, e com o Benfica constantemente a efectuar passes errados...

No segundo tempo, tudo mudou: o Inter apostou numa marcação individual em todo o campo, e o Benfica foi incapaz de encontrar um antidoto! Começamos a perder a bola, em zonas proibidas, com a equipa desequilibrada, e as oportunidades na nossa baliza foram-se sucedendo... com o Trubin e os postes a safarem-nos... até ao golo!!!

Com 'marcações' deste tipo, ou entrava imediatamente um dos avançados, para segurar a bola, com o Benfica a sair longo, ou os médios tinham que subir tentando apanhar os 'marcadores' contrários em contra pé... Nada disso aconteceu, as substituições acabaram por sair tarde...

Nos últimos minutos, ainda conseguimos aproximar da baliza contrária, mas nada corria bem... Das várias baboseiras vomitadas pelos comentaristas da TVI (incrível o silêncio quando o Benfica se aproximou com algum perigo da baliza do Inter, em contraponto com o êxtase nas jogadas do Lautaro junto da nossa baliza!), fizeram uma referência, que nem eu me tinha apercebido: só 3 titulares repetiram o jogo em Milão da última época! São muitas alterações em tão pouco tempo...

Perder em Milão não é decisivo, mas deixa-nos sem qualquer margem de erro, estando o Benfica neste momento obrigado a ganhar praticamente todos os jogos, até ao fim da fase de grupos! Estão 12 pontos em disputa e temos pelo menos que fazer 10! Os jogos com a Real Sociedad vão ser decisivos! Aliás, o próximo jogo na Luz, é uma autêntica Final...

Pela quarta vez consecutiva na Champions, ficou um penalty descarado por marcar a favor do Benfica! Sendo que 3 foram em jogos contra o Inter! Se o árbitro hoje até pode ter desculpa, o VAR viu, de certeza absoluta. Simplesmente não quis marcar!!!


A arbitragem foi má... na 1.ª parte 'deixou' jogar, dando margem à agressividade do Inter, só sobre o Rafa passaram duas faltas perigosas sem nada ter sido marcado... O Neves foi agredido várias vezes, e só no final resolveu começar a mostrar Amarelos...
No golo do Inter, a tecnologia parece confirmar que não houve fora-de-jogo, mas existe falta do Lautaro sobre o Otamenti, com um empurrão nas costas, no momento em que o cruzamento saiu para trás...


Nota ainda para a forma constantemente faltosa, como o Inter defendeu os Cantos e os Livres Laterais: sempre a agarrar os nossos jogadores, sempre...

A única nota positiva do jogo desta noite, foi mesmo o Trubin! A partir de agora, creio que ninguém vai colocar em causa a qualidade do jovem Ucraniano! Grande jogo...
Em contra-ponto o pior jogo do Rafa, nesta época!
Morato esteve muito bem nos duelos defensivos...
Dos habituais titulares, hoje fizemos praticamente o jogo todo, com 1 titular na defesa: o Nico! O Toni esteve castigado, o Bah lesionou-se e o Bernat estreou-se!!!
Faltou musculo no meio-campo, Di Maria muito inconsequente... deveria ter sido o Neres a jogar na 'linha'!
O Aursnes quando 'muda' de posição, precisa de alguns jogos, para voltar a ganhar rotinas, mesmo assim foi incansável!
O Bernat estreou-se, e até foi ele que perdeu a bola no golo, mas a equipa naquele momento estava a 'merecer' sofrer um golo!!! Está sem ritmo, mas o Roger quis ter um jogador experiente, que garantisse uma saída de bola, mais tranquila... Pessoalmente, tinha apostado no Jurásek, que está mais rodado, e daria uma face mais física à equipa... Mas, no futuro próximo, com mais minutos nas pernas, o Bernat tem tudo para ser muito útil...

Agora é pensar no Estoril, e recuperar as pernas: lesão do Bah (novamente), o Di Maria a sair com queixas, e também fiquei com 'medo' quando vi o Neves agarrado ao tornozelo na parte final!

Segundo empate...

Inter 1 - 1 Benfica
J. Rego


Empate que mais uma vez sabe a pouco! Fomos melhores, mas voltámos a desperdiçar muitas oportunidades a ausência de um ponta de lança (Varela e Fortes lesionados...) está a ser fatal...
Hoje, além dos problemas na frente, ainda houve a indisposição do Wynder, que obrigou a adaptar o Okon a Central... que também se lesionou durante a partida, e o Fonseca já nos descontos também saiu tocado!!! Uma razia nos Centrais!!!
Mais uma arbitragem muito má... com um penalty descarado a passar em claro!!!




Lutar pelos três pontos


"O desafio, hoje às 20h00, frente ao vice-campeão europeu Inter, em Milão, é o tema em destaque nesta edição da BNews.

1. Ambição e foco
Roger Schmidt reconhece grande competência à equipa do Inter e acredita num bom resultado: "Nunca temos medo. É um desafio enfrentá-los, mas esta situação é semelhante à da última temporada. Tentamos sempre mostrar o nosso melhor futebol, manter a nossa abordagem e lutar pelos três pontos nos 90 minutos. É esse o nosso objetivo."

2. Jogar à Benfica
Di María espera um jogo "muito difícil" e está focado num "bom resultado". Para que este seja alcançado, o argentino revela a fórmula: "Temos de estar a 100%, tentar fazer o que temos feito até aqui, que é ter a bola, tentar sermos Benfica."

3. Dos primeiros passos no futebol ao regresso ao Benfica
O internacional argentino Di María está em destaque no site da UEFA, ao ser o protagonista de uma reportagem publicada esta semana. Veja a reportagem no Site Oficial.

4. Experiência e juventude
Em entrevista à UEFA, disponível nos meios do clube, João Mário fala do seu percurso de águia ao peito, da adaptação às ideias de Roger Schmidt e de alguns dos trunfos benfiquistas, como a mescla de experiência e juventude no plantel ou o ambiente no Estádio da Luz.

5. Orgulho de representar o Benfica
João Neves é outro dos entrevistados pela UEFA nesta semana. O jovem jogador formado no Benfica aborda a rápida ascensão à equipa A, descreve-se enquanto jogador e partilha o que sente cada vez que agradece o apoio dos adeptos. Para ver nas plataformas oficiais.

6. Convocatórias internacionais
David Neres e Jurásek juntam-se a Trubin, Otamendi, Di María e Musa na lista, já conhecida, de convocados por seleções para os próximos compromissos internacionais. O jogador brasileiro do Benfica regressa à seleção canarinha depois da última chamada em 2019.

7. Golo do Mês
Os Benfiquistas escolheram o magnífico remate de fora da área de Kökcü frente ao Vitória SC para golo do mês de setembro.

8. UEFA Youth League
Na UEFA Youth League, Benfica e Inter empataram 1-1 em Itália.

9. Vitória robusta
A equipa feminina de futebol do Benfica goleou o Marítimo, por 5-0, no Benfica Campus em jogo a contar para a 2.ª jornada do Campeonato Nacional. Kika Nazareth fez um hat-trick.

10. Troféu conquistado
A equipa feminina de hóquei em patins ganhou a Taça Professor João Campelo, organizada pela Associação de Patinagem de Lisboa. Na final bateu a Stuart Massamá.

11. 25 anos
A Casa Benfica Ovar está de parabéns pelo 25.º aniversário."

8 erros graves que adulteram a classificação- O meu contributo para as queixas do FC Porto ao CA...


"... e mais alguns casos de lances mal decididos, e que favoreceram o Porto, poderiam aqui ser também relembrados. Mas fiquemos por estes oito para que o Conselho de Arbitragem possa avaliar bem como a classificação está adulterada - e ainda só vamos na sétima jornada. Contem lá vocês quantos pontos tem o Porto a mais e calculem em que lugar estaria na classificação.
1. PORTO-FARENSE - 2º amarelo não mostrado a Pepê.
2. RIO AVE-PORTO - dois vermelhos poupados a Eustáquio no primeiro quarto de hora do jogo. O jogador nem amarelos viu.
3. RIO AVE-PORTO - penálti inexistente a favor do Porto - não há uma só imagem que o comprove -, assinalado quando o Porto perdia já no período de descontos.
4. PORTO-AROUCA - penálti escandalosamente marcado a favor do Porto, que teve que ser revertido por telemóvel porque a falha de energia impedia que o VAR na Cidade do Futebol mandasse as imagens para o Dragão.
5. PORTO-AROUCA - outro pénalti inexistente marcado a favor do FC Porto, este não revertido pelo VAR.
6. PORTO-AROUCA - golo do empate do Porto marcado aos 90+18!
7. ESTRELA DA AMADORA-PORTO - golo da vitória do Porto precedido de falta de Pepe no início da jogada.
8. BENFICA-PORTO - expulsão poupada a David Carmo por falta cometida sobre Rafa."

Uma águia de bico seco com sede de vingança


"O Sport Lisboa e Benfica volta a Milão para voltar a defrontar o FC Internazionale Milano para a Liga dos Campeões, depois de na temporada transata, mas já neste ano civil, os italianos terem puxado de volta à Terra os benfiquistas que já se preparavam para deixar o mundo real em direção ao mundo dos sonhos. O Inferno da Luz, renascido na temporada passada depois de um largo interregno, foi um Céu para os nerazzurri.
O horizonte que parecia estar tão perto afinal não era mais do que isso mesmo: um horizonte. Um horizonte que continua lá. E quis o destino que, de novo, no caminho do SL Benfica estivesse o gigante azul-e-negro de Milão. Desta feita, mais cedo, quando ainda falta muito para caminhar. Mas não é por faltar muito para palmilhar que não se sente no ar a importância deste passo a dar. E não é por faltar muito para palmilhar que não se sente no ar o desejo de vingar a morte de abril passado.
A relevância do jogo vai muito para além do desejo primitivo e quase mesquinho de saciar a sede de vingança. O significado de uma vitória benfiquista vai muito para além de uma sensação de retribuição. No entanto, é quase inevitável aguardar pela partida em Milão e sentir, além da ânsia característica de partidas deste calibre, a ânsia de vingar a eliminação da Champions passada e provar que o real valor do campeão português é muito superior ao que ficou espelhado nessa eliminatória.
O SL Benfica quer ganhar. O SL Benfica precisa de ganhar. Pelo que é e pelo que quer ser. Mas também pelo que não foi. É dia de vencer em Milão. É dia de relembrar a uma das capitais do futebol europeu a força do Sport Lisboa e Benfica. É dia de reerguer o gigante. É dia de honrar o passado longínquo. É dia de vingar o passado recente. É dia de ser Glorioso. É dia de SL Benfica."

Márcio Francisco Paiva, in Bola na Rede

A festa do clássico


"A vitória do Benfica no clássico da passada sexta-feira, numa Luz esgotada e vibrante foi uma festa merecida e lindíssima.
Num jogo que começou equilibrado, a expulsão de Fábio Cardoso foi relevante. Uma decisão cujo acerto foi praticamente unânime para os especialistas. De resto, o F. C. Porto pode ter sido poupado a mais expulsões: David Carmo, num lance muito semelhante, e, na segunda parte, Zé Pedro por uma entrada sobre João Neves.
Lances que não aconteceram por acaso e foram consequência, óbvia, da forma como Schmidt montou a equipa e da menor experiência dos centrais azuis e brancos, que alinharam neste jogo.
Se é verdade que o F. C. Porto, baixando linhas, jogando em 30 metros, conseguiu resistir e equilibrar, isso não contraria em nada a justiça do resultado, que podia até ter sido mais dilatado. Num jogo em que Di María e Neres, juntos e ao vivo, decidiram e em que João Neves foi seguramente o melhor em campo.
Porque o F. C. Porto perdeu fomos poupados à habitual conversa do “medo cénico” ou do “salão de festas”, ficando-se a opinião portista pelo choradinho. É sempre assim: quando perdem, foi o árbitro. Quando o jogador do F. C. Porto foi expulso da festa, por culpa própria, e a única dúvida é se não devia ter sido acompanhado por mais colegas.
Nesta jornada, os erros de arbitragem concentraram-se em Faro, onde o Sporting foi, claramente, beneficiado com uma expulsão poupada e um penálti inexistente.
Nesta época, em confrontos diretos, o Benfica tem 100% de vitórias. E na totalidade dos confrontos Schmidt tem três vitórias, contra apenas uma de Conceição. Siga a festa."

Relatos duma civilização avançada


"Basta assistir a um fim de semana futebolístico como este que passou e perceber como os erros absurdos se vão sucedendo

Não sei se é dos dias passados a acompanhar jogos de uma modalidade de primeiro mundo, como demonstrado mais uma vez pelo râguebi no mundial disputado em França, ou se a explicação reside na dimensão cataclísmica dos casos bizarros relacionados com a ação (ou inação) do VAR em jogos de futebol realizados em Portugal e lá fora. Talvez seja um pouco de ambas.
Sei que o râguebi sairá deste mundial como um exemplo ainda mais inspirador de civilidade, desportivismo e espírito patriótico. E sai também de credibilidade reforçada pelo modo como utiliza o VAR. É espantoso ver como tudo é feito com rigor, mas acima de tudo com a mais absoluta naturalidade, às claras, como se não houvesse outra forma conceptível de se fazer as coisas, da discussão construtiva entre árbitros de campo e VAR à explicação pedagógica que será acatada por todos, incluindo os que concordam em discordar da decisão.
Depois de tantos anos a ver futebol, incluindo uma meia dúzia desse anos a constatar que o uso de tecnologia no futebol serve muitas vezes para somar opacidade à dúvida reinante, é curioso, quase extraordinário, observar como os protagonistas de um encontro de râguebi, no meio de tanta agressividade e choque físico, aparentam ser espécimes de uma civilização mais avançada.
Estes extraterrestres a viver entre nós, munidos de uma improvável força motriz chamada vontade, decidiram que isto era tudo muito mais simples do que parece, desde que todos concordemos que no desporto deve ganhar o melhor e não o mais matreiro, que o melhor nem sempre vence mas que isso não equivale a perder a dignidade na derrota, que ganhar não concede ao vencedor uma autorização moral para humilhar os derrotados, e que uma derrota, por muito difícil de engolir que possa ser, não implica a rejeição violenta do vencedor ou do resultado final, e que o desporto deve ser o resultado depurado da ação dos atletas dentro de campo.
Para que esta revolução de civismo e cultura desportiva aconteça, é necessário que exista gente suficiente, no relvado e fora dele, convencida do mais elementar bom senso contido nestas regras de relação entre seres humanos numa arena desportiva. Talvez por isso a utilização do VAR pareça uma banalidade, mera aplicação das regras, isto para quem já viu alguns jogos de râguebi, se fascinou com a dinâmica do VAR, e depois percebeu que era apenas um parêntesis do jogo.
No extremo oposto encontramos ideias como a estreia de um programa de televisão semanal, construído para as audiências e não para os adeptos, em que uma seleção, feita sabe-se lá por quem, de umas quantas comunicações entre árbitro e VAR, nos mostra com exatidão o quanto o futebol precisará de caminhar para aspirar a níveis de honestidade minimamente próximos do râguebi. No futebol, a força motriz parece ser outra e ninguém se lembrará de uma ocasião em que a maioria dos responsáveis tenham parecido efetivamente convencidos da urgência das mudanças. Há sempre umas campanhas de fair -play e combate a um problema qualquer bastante óbvio que teimará em não desaparecer, viabilizando desde logo a campanha do ano seguinte. Uma pessoa parece presa naquele filme com o Bill Murray em que ele acorda sempre no mesmo dia. Só não parece haver tempo nesta repetição da história para tornar o jogo um pouco melhor.
Constatada a apatia ou cedência a outros desígnios mais importantes, chegamos a outubro de 2023 e até as ligas que serviam de exemplo se tornam exemplo da desorientação e incapacidade de proteger a tão propalada verdade desportiva. Como explica o comunicado do Liverpool há um par de dias, em reação a um erro monumental do VAR que tirou 2 pontos a um candidato ao título, a integridade do desporto foi colocada em causa. O comunicado esclarece que, apesar de se compreender a pressão a que estes agentes do jogo se encontram sujeitos durante uma partida, é fundamental que as decisões sejam tomadas com tempo, clareza de critérios e absoluta transparência. O comunicado explica tudo isto através de uma linguagem desprovida de teorias de conspiração ou dos maniqueísmos de um futebol como o português e no final admite recorrer a outras instâncias para assegurar a justiça de que o clube foi privado este fim de semana.
Este não é o primeiro comunicado da associação de árbitros ingleses, e tudo indica que não será o último. Por cá, houve uma tentativa de abrir igual precedente mas cedo se percebeu que essa prática não seria sustentável, sob pena de ser necessário ao Conselho de Arbitragem da FPF contratar uma nova equipa de comunicação que conseguisse produzir comunicados à velocidade a que os erros são cometidos.
Não é preciso muito para se chegar a esta conclusão. Basta assistir a um fim de semana futebolístico como este que passou, e perceber como os erros absurdos se vão sucedendo e colocando em causa a integridade das competições. Vagarosamente, vamos concluindo aos poucos que o futebol com VAR não é, afinal, assim tão diferente de do um futebol sem VAR, e que talvez passássemos todos melhor sem esta persistente ambição de estabelecer a verdade desportiva quando as mentiras estão em toda a parte.
À medida que os erros se sucedem, talvez inspirado pelo tempo de teorias de conspiração a metro em que vivemos, dou por mim a pensar se tudo não será uma uma conspiração genialmente pensada e executada por terroristas românticos que conseguiram integrar-se em equipas de arbitragem, com a finalidade de convencer o mundo da inutilidade do VAR. Seria uma história mais bonita. Aí chegados, seria tempo de admitirmos que a experiência não tinha corrido bem. Juntos, voltaríamos ao mundo como era antes, sem tantos julgamentos nem arrependimentos, e com a profunda convicção de que a verdade deste jogo está nos olhos de quem a vê. Isto ou aprender de uma vez por todas com civilizações mais avançadas, mostrando que se quer efetivamente respeitar um pouco mais a modalidade, os clubes e os adeptos."

Importantes, mas não decisivos


"Quem disputar a Champions sem ambição, não merece fazer parte da elite

Benfica e SC Braga, derrotados em casa na primeira jornada da Liga dos Campeões, têm hoje compromissos importantes em Milão e Berlim. E será bom sublinhar, para memória futura, que os jogos das águias com o Inter, e dos arsenalistas com o Union, são importantes, mas não decisivos, porque uma vez terminados ainda estarão 12 pontos em disputa.
O Benfica, que vem de um triunfo saboroso, na I Liga, sobre um rival direto, terá o desafio mais complicado, ou não fossem os nerazzurri finalistas vencidos da última Liga dos Campeões, onde foram carrascos da equipa de Roger Schmidt nos quartos de final, abrindo uma crise na Luz que ainda foi atalhada a tempo dos encarnados festejarem o 38.º título nacional no Marquês de Pombal. Ao treinador alemão colocar-se-ão algumas dúvidas na hora de escolher a estratégia, e em função desta, o onze inicial.
Contra uma equipa experiente como o Inter, capaz, como se viu em Abril passado, de ações eficientíssimas de contra-ataque, será avisado manter os três tenores - Di María, Rafa e Neres - nas costas de Musa, ou deverá haver mudanças em San Siro, por exemplo sair David Neres, para a entrada direta de João Mário, ou de Jurasek, passando Aursnes para médio esquerdo? E no meio-campo, Schmidt deve apostar em Kokçu com Neves, ou um jogador mais posicional como Florentino pode servir melhor a sua ideia de jogo, para defrontar o líder da SerieA? Uma coisa é certa, e trata-se de algo também válido para o SC Braga: disputar a Liga dos Campeões sem ambição é não merecer estar entre as melhores equipas do universo UEFA. Na senda de George Orwell, será possível dizer que «todos os jogos são iguais, mas os da Champions são mais iguais que os outros», os jogadores sabem disso, os treinadores também, e os responsáveis pelas finanças dos clubes, nem falar…
Quanto ao SC Braga, depois de ter visto a sorte virar-lhe as costas na partida com o Nápoles, deverá fazer valer no estádio que viu Jesse Owens humilhar Adolf Hitler (e Zidane dar uma cabeçada em Materazzi), a sua maior experiência internacional, jogando sem complexos ou receios, que não deixarão de assaltar um adversário novato nestas andanças, e que está a ter um mau arranque, como a 11.ª posição que ocupa na Bundesliga prova."

Vem aí o TGV e ninguém sabe


"Regresso das provas da UEFA leva-nos de novo à discussão sobre o que não se faz em Portugal face às mudanças anunciadas

JÁ todos percebemos que nem a fórmula do bosão de Higgs poderá servir para Portugal subir no ranking da UEFA e poder ter três equipas na Liga dos Campeões da próxima época, o ano em que entra em vigor o novo formato da prova, com o fim da fase de grupos como a conhecemos e muito mais dinheiro a distribuir pelos clubes participantes.
Podemos continuar a justificar a perda do sexto lugar para os Países Baixos pela «injustiça» de a Liga Conferência dar os mesmos pontos que a Liga Europa ou a Liga dos Campeões, mas esquecendo, por exemplo, que Portugal não está representado na terceira prova europeia porque as equipas nacionais não tiveram a competência para chegar lá.
O problema reside sempre no ditado popular casa arrombada, trancas à porta, quando muitas decisões são tomadas de forma reativa em sobreposição à implementação de modelos estruturados.
Ainda comparando com os Países Baixos, muito se fala de as grandes equipas portuguesas serem melhores que as maiores neerlandesas, mas pouco se diz sobre a qualidade geral do campeonato, quando esta deveria ser a chave da equação.
Taxas elevadas de ocupação dos estádios, futebol ofensivo, preocupação vincada sobre o bem comum sem nunca beliscar a identidade de cada emblema e menor desconfiança relativamente às instituições são quatro pilares que permitiram a valorização da marca e o crescimento da qualidade média da Eredivisie, permitindo às equipas que não os tradicionais Ajax ou PSV somarem pontos e atirarem Portugal para baixo.
É sempre útil recordar que em 2018 os principais clubes dos Países Baixos concordaram em ceder 5 por cento dos prémios da fase de grupos às equipas do campeonato que não participam nas provas da UEFA. Uma medida decidida por unanimidade, com vista a «lutar pelo contínuo desenvolvimento e melhoria da qualidade do futebol neerlandês». Não por acaso, cinco anos depois estão em condições de ter mais equipas a comer o grande bolo da nova Champions, enquanto por cá discute-se muito sobre quem fica com a maior fatia.
Mesmo o Benfica vive num colete de forças do qual dificilmente se libertará: arvora-se da sua condição de grandeza em Portugal, assenta a sua narrativa num passado internacional, mas está condicionado a um mercado que continua a ser nacional e cujo modelo de negócio é consumido até ao tutano. Basta analisar o último Relatório e Contas e lembrar o seguinte: as águias venderam um jogador por €121 milhões (Enzo Fernández), apresentaram receitas históricas de prémios e de bilheteira e mesmo assim só tiveram um lucro de €4,2 milhões. Se o Celtic não tivesse vendido Jota para o Al Ittihad, a SAD teria apresentado prejuízo.
Isto decorre de um elevado investimento no plantel, o que fez aumentar os custos com pessoal (ordenados altos do plantel), condição que tende a ser permanente durante um bom par de anos. Portanto, ou o Benfica faz em 2023/2024 mais uma Champions ao nível da época passada ou está condenado a fazer vendas superiores a €100 milhões no próximo verão, perdendo qualidade.
Referimo-nos ao Benfica porque é o campeão em título mas podia ser qualquer outro. Os clubes portugueses, mesmo os de topo, vivem numa gaiola dourada: são grandes cá dentro mas só podem discutir o tamanho das grades, nunca a amplitude do voo.
A criação de condições para atrair investimento externo e possibilitar um sobredimensionamento do campeonato português, como uma entidade única, não pedindo meças a uma Premier League mas tentando lutar pelo top 5 (um país de 10 milhões de habitantes pode ter uma vantagem competitiva se houver uma reformulação das competições visando maior concorrência, maior espetáculo e reduzir drasticamente o eterno ambiente de suspeição, abarcando disciplina e arbitragem) será a única forma de não perder o comboio europeu. Mas como se perde tanto tempo a discutir o tamanho da bitola, temo que não tardará o dia em que estarão todos juntos aos berros no apeadeiro e o TGV passará, sem parar, esvoaçante, perante o súbito silêncio cúmplice de quem ainda viaja em locomotivas movidas a diesel."

Fernando Urbano, in A Bola

Esclarecimento técnico sobre o contacto no futebol


"Quando é que os contactos físicos são permitidos no futebol e quando é que não são? Quando é que são passíveis de advertência e quando é que são passíveis de expulsão? A melhor dica que vos posso deixar é que conheçam as regras e, mais importante, que tentem perceber que a sua aplicação prática requer observação atenta, concentração e feeling para avaliar cada caso com a justiça que pede.

1. CONTACTOS LEGAIS
Aqueles que são absolutamente inevitáveis em determinada jogada. Os que acontecem de forma acidental ou fortuita. Os que nunca pressupõem intenção, falta de responsabilidade na abordagem, menor atenção ou cuidado. Os que nunca colocam carga/intensidade a mais e/ou acima do necessário. Os que nunca podiam deixar de acontecer ou nunca poderiam acontecer de forma diferente. Há contactos legais que podem magoar um ou até os dois intervenientes (pisão inadvertido/inevitável ou cabeçada mútua, por exemplo), mas mesmo perante essas consequências infelizes, não devem ser penalizados, por serem decorrentes da normalidade da jogada. Nem sempre é fácil balizar estes dos que são passíveis de cartão, daí o apelo ao feeling, ao sentir do lance, usando todos os sentidos (e não apenas a visão).

2. CONTACTOS IMPRUDENTES - SEM CARTÃO
Rasteiras, cargas, pontapés, empurrões, agarrões, saltos, qualquer contacto que ocorra por manifesta falta de atenção ou de cuidado de um jogador, tem que ser considerado faltoso. Muitas vezes, pode nem haver intenção. A imprudência pressupõe apenas a obrigação do jogador saber o que está a fazer. Ao contrário dos contactos legais, estes são evitáveis. Resultam de precipitação na abordagem. Exemplo: defesa persegue adversário que vai à sua frente e 'escolhe' aproximar-se demasiado, dando-lhe toque na passada que o derruba. Não fez de propósito, mas infringiu porque não teve o cuidado que devia. Pôs-se a jeito. Fez essa escolha. Quem não teve culpa foi o adversário que, estando à frente, foi derrubado e privado de prosseguir a jogada.

3. CONTACTOS NEGLIGENTES - CARTÃO AMARELO
Contactos que ocorrem porque um dos jogadores claramente não mediu o perigo que a sua abordagem/entrada teria para a integridade física do adversário. Não mediu as consequências eventuais da sua ação. Este tipo de contactos quase sempre pressupõem alguma dureza, impetuosidade e risco moderado de lesão. Há várias exemplos de infrações físicas que exigem advertência e todas têm esse desenho técnico. O problema das faltas negligentes é que podem ter três níveis de gravidade, o que potencia controvérsia nas decisões finais: as pouco negligentes (são passíveis de amarelo, mas por pouco), as realmente negligentes (claramente para amarelo) e as muito negligentes (as infrações "alaranjadas", mesmo no limite, para vermelho). A linha que separa umas e outras pode ser de tal forma ténue que haverá situações em que uns dirão nada e outros amarelo e situações em que uns dirão advertência e outros expulsão. Esses lances de fronteira acontecem por cá e lá fora e jamais deixarão de gerar essa discussão. De novo fica o apelo ao tal feeling.

4. CONTACTOS VIOLENTOS/GROSSEIROS - CARTÃO VERMELHO
Regra geral são mais fáceis de avaliar: se é violento, não tem em conta a bola ou o adversário (a infração pode ser sobre qualquer pessoa, em qualquer circunstância). A ideia é agredir, magoar, lesionar: cartão vermelho direto. Ponto final, parágrafo. Para a entrada ser grosseira ou ter força excessiva, é necessário que a bola esteja lá e que a disputa seja com um adversário. Nestas o infrator faz tudo "acima" do necessário: demasiada intensidade ou velocidade, malícia ou sola da bota em riste, atinge o opositor em zona sensível ou com força e de forma que pode originar lesão muito grave. Nestas não pode haver dúvidas, à exceção das que, lá está, se confundam com as que são feitas no limite máximo da negligência. Deixemos que os árbitros decidam em função do que intuem em campo."

Duarte Gomes, in A Bola