"Em 1907, perante uma crise ameaçadora, Marcolino Bragança personificou a resiliência de um Clube que quase desapareceu
Em Dezembro de 1906, o calendário do Sport Lisboa tinha jogos em todos os domingos. Nesse mês, o jovem estudante Marcolino Bragança, de 16 anos, alinhava pela equipa da 2.ª categoria, equipa que trouxe para o Clube o seu primeiro troféu coletivo, num torneio de futebol organizado pelo CIF, em 21 de Abril de 1907. È provável que tenha feito a sua estreia na 1.ª categoria em 17 de Março de 1907, frente ao Carcavellos Club, substituindo António do Couto, que estava lesionado.
O que destacou Marcolino Bragança na história do Clube decorreu no final dessa época. O Sport Lisboa, clube afirmando na vida desportiva de Lisboa, encontrava-se sem campo nem condições que ajudassem a manter os jogadores. Nestas circunstâncias, oito dos melhores jogadores saíram para o Sporting.
A isto juntava-se ainda o tempo de 'defeso', que decorria de representação de alguns futebolistas noutras modalidades, como o remo ou o ciclismo, mais activas nos meses de verão. Nesse verão de 1907, a inatividade do Sport Lisboa começou a dar sinais de que o fim estava próximo.
Coube a Marcolino Bragança a ideia de se resolver a questão: elevar os jogadores da 2.ª para a 1.ª categoria, naquele que ficou conhecido como o 'grito de Marcolino', que fez soar o 'alarme para se prosseguir sem desânimo'.
Muito embora esta solução fosse reconhecida como um modo de o jogador atingir as suas próprias aspirações, não deixou de ser entendida como uma via válida e um verdadeiro ato de amor clubístico, pelo que foi aplaudida e obteve o consenso de todos. Quanto a Marcolino Bragança, segundo Cosme Damião, 'perdeu o ano, no liceu. Mas ganhámos todos, com a continuação do Clube'.
Ao papel primacial de Marcolino, o Clube ficou ainda a dever aos papéis ativos de Cosme Damião, orientador do Clube, e de Félix Bermudes, que facilitou o financiamento com vista à sua sobrevivência.
Marcolino Bragança alinhou ainda por alguns jogos em Janeiro de 1908, surgindo ainda associado aquando da junção que originou o Sport Lisboa e Benfica. Pouco depois, em data incerta, saiu de Portugal e rumou para São Tomé e Principe, mudando-se, mais tarde, para Angola. Até à sua morte, aos 81 anos, manteve o espírito benfiquista, sonhando com a equipa de futebol que acompanhava sempre que esta ia a Angola.
Conheça outros pioneiros do Benfica na área 23 - Inesquecíveis, do Museu Benfica - Cosme Damião."
Pedro S. Amorim, in O Benfica