quinta-feira, 5 de outubro de 2023

O encolher que não resistiu ao vendaval do Inter: o que dizem os números sobre as (muitas) dificuldades do Benfica na segunda parte em Milão


"Depois de um primeiro tempo de pouco perigo em ambas as balizas, o recomeço trouxe uma equipa de Roger Schmidt que não soube lidar com a maior agressividade italiana, vendo o adversário somar oportunidades atrás de oportunidades, mesmo no período de maior posse de bola dos encarnados. Só na segunda parte, o Benfica encaixou mais remates do que no total de qualquer outro jogo feito esta época

Dividindo o Inter-Benfica em seis períodos de 15 minutos cada, em mais nenhuma fase do encontro as águias tiveram tanta posse de bola como entre os 61' e os 75', quando chegaram aos 70%. No entanto, em sentido oposto, aquele foi o momento de maior assédio à baliza de Trubin, quando os campeões nacionais perseguiam sombras, acumulavam incertezas e viam os italianos construir situações para uma vitória robusta.
Os golos esperados medem a probabilidade de um remate dar golo, atribuindo-se um valor entre 0 e 1 a cada disparo. Uma finalização a uma distância maior da baliza terá uma probabilidade menor do que outra feita de uma zona mais próxima, um tiro com a cabeça terá um valor menor do que um com o pé, variando também caso o atacante esteja ou não pressionado, por exemplo. E os xG (de expected goals) ajudam-nos a detetar os apuros dos visitantes naquele altura.
Recorrendo aos dados da Driblab Pro, empresa especializada em estatística avançada, notamos que, entre os 61' e os 75', quando o Benfica dominava a bola, o Inter reinava nas hipóteses de marcar, com 1,3 golos esperados para zero dos portugueses. No total, os homens de Simone Inzaghi tiveram 4,0 xG, o que evidencia como a derrota pela margem mínima foi um desfecho bem simpático para o conjunto de Roger Schmidt.
Na primeira parte, o cenário até denotou algum equilíbrio, com 0,5 golos esperados para o Inter e 0,3 para o Benfica. No entanto, o desequilíbrio foi evidente no segundo, quando só depois dos 80' foi Sommer incomodado, através de Arthur Cabral e João Neves.
Incapaz de criar perigo, o Benfica foi-se encolhendo em campo. A ideia de Roger Schmidt, sem um ponta de lança de raiz e apostando na mobilidade de David Neres, não trouxe muita agressividade atacante. O brasileiro, à semelhança de Rafa Silva e Di María, saiu do bairro de San Siro sem qualquer tiro enquadrado com a baliza adversária.
Os 17 toques na área adversária que o Benfica realizou foram o valor mais baixo da época — o anterior mínimo era os 24 contra o Boavista, quando a expulsão de Musa deixou a equipa com 10 jogadores desde os 51'.
Apesar da falta de chegada à baliza, na etapa inicial houve alguma capacidade para manter a ameaça longe de Trubin, ativando os médios em posse. O mapa de passes do primeiro tempo dado pela Driblab Pro, com o posicionamento médio dos toques dos jogadores, mostra laterais e centrocampistas assomando à metade ofensiva.
Nos primeiros 45', João Neves, Aursnes ou Orkun Kökçü tiveram algum protagonismo na circulação. O passe de Otamendi para o jovem algarvio, que ocorreu em nove ocasiões, foi a terceira associação que mais se deu, em igualdade com a ligação de Bernat para o todo-o-terreno norueguês. João Neves solicitou Di María em seis ocasiões, por exemplo.
Na segunda parte, com o Benfica a ter de lidar com as constantes investidas do Inter, os médios foram desaparecendo da circulação. A única associação que não envolveu um defesa ou um guarda-redes a repetir-se em mais de quatro ocasiões foi a de Otamendi para João Neves, que se verificou uma mão-cheia de vezes.
Com o Benfica mais recuado, o Inter voou. Dumfries e Dimarco aproximaram-se da área, Barella foi-se encostando aos atacantes. Na primeira parte, as sete trocas de passes mais recorrentes nos nerazzurri foram todas envolvendo o guarda-redes, os três centrais e os dois laterais. No segundo tempo, a que mais se viu foi entre Barella e Lautaro Martínez e a quarta mais repetida envolveu Mkhitaryan e o médio da Sardenha.
Sem presença ofensiva, o trio de atacantes irrequietos que Schmidt lançou também não se destacou na pressão: Rafa saiu do Guiseppe Meazza sem qualquer interceção, corte ou recuperação de bola; Di María e David Neres somaram, cada um, uma interceção e uma recuperação, mas nenhum corte.
Dos cinco remates que o Benfica permitiu no primeiro tempo passou-se para 16 tiros feitos pelo Inter na segunda parte. Quer isto dizer que, só na etapa complementar, as águias enfrentaram mais disparos do adversário do que na totalidade de qualquer outro jogo desta época, quando os oponentes andaram entre um total de sete e 12 remates efetuados.
Ao décimo duelo do clube da Luz nesta época chegou a terceira derrota. Desde 2015/16, quando o conjunto então de Rui Vitória perdeu três dos sete primeiros compromissos, que o Benfica não precisava de efetuar tão poucas partidas para perder três vezes. Na época passada, Roger Schmidt só somou esta quantidade de desaires em 47 jogos."

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