quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Milão, a casa dos horrores do sonho Internazionale do Benfica na Liga dos Campeões


"Tal como na época passada, as águias não foram felizes na visita ao Giuseppe Meazza, perdendo por 1-0 e complicando as contas do apuramento. Schmidt apostou num ataque com Neres, Rafa e Di María, mas o Benfica pouco perigo criou e ainda viu uma grande exibição de Trubin evitar uma derrota mais expressiva

Não voltes a um local onde foste feliz, costumam dizer. No caso do Benfica — e do futebol português em geral —, o conselho deveria ser não regressar a um estádio onde se tem sido infeliz. Mas a sabedoria popular ainda não combate o que ditam os sorteios.
No primeiro semestre de 2023, FC Porto e Benfica foram eliminados da Liga dos Campeões pelo Inter de Milão, caindo aos pés do clube da Lombardia. Agora, em nova edição da maior prova continental, a visita ao Giuseppe Meazza trouxe mais problemas e amarguras, novas desilusões e complicações, não em formato definitivo, porque não está em causa uma eliminação, mas empacotadas num complicar da situação na competição.
Afirmar, no contexto de uma derrota por 1-0, que o melhor jogador em campo foi o guarda-redes da equipa que perdeu traça logo um retrato ao que foi a partida. Não fosse a enorme exibição de Trubin, que causará pesadelos a Lautaro Martínez, e a margem mínima teria sido bem mais alargada. Frágil atrás e pouco consequente à frente, o Benfica passa a caminhar sem margem na Liga dos Campeões, com zero pontos após duas jornadas. O duplo duelo que se avizinha contra a Real Sociedad será fundamental.
Na Milão que viu Rui Costa e Luís Figo brilharem — e ambos estavam nas bancadas —, Schmidt lançou um onze com novidades. Bernat estreou-se pelo Benfica, ocupando o lado esquerdo da defesa para permitir o regresso de Aursnes às deambulações pelo meio-campo, ataque e por todos os espaços que o norueguês pisa. Na frente, não havia um ponta-de-lança de raiz, mas Neres como homem mais adiantado, secundado por Rafa e Di María. O resultado prático foi a escassez de futebol ofensivo, só havendo um assalto à baliza de Sommer nos derradeiros minutos.
Num primeiro tempo em que o Benfica se aproximou da baliza adversária, a melhor situação foi do tal todo-o-terreno que voltou a arrancar da esquerda do meio-campo. Aos 13’, após um lançamento de linha lateral de Bah, Aursnes aproveitou a inexistência de fora-de-jogo para obrigar Sommer a defesa apertada. Pouco depois, Bah deu uma má notícia a Schmidt: o dinamarquês, que vem tendo de lidar com problemas físicos, saiu por lesão. Para lateral-direito entrou Tomás Araújo, que até esta noite só fizera seis minutos na época.
Os visitantes apostavam nos ataques rápidos, lançando as flechas na frente, mas raras vezes apanhavam os locais desequilibrados. A tentativa durou 68’, quando, já em desvantagem, Musa substituiu o apagado Rafa.
O Inter, com o 3-5-2 tão do agrado de Simone Inzaghi, confia nos passes-míssil de Çalhanoğlu, o turco que com Roger Schmidt, em Leverkusen, jogava mais adiantado mas que agora é regista, organizador à frente da defesa. Aos 11’, colocou a bola na cabeça de Dumfries, que atirou por cima.
Nos primeiros 40’, faltou veneno e intenção ao ataque dos locais. Mas, a partir daí, o Inter deu asas a Dumfries, o lateral mentiroso que galga pelo campo até invadir a área, e Barella, o homem da Sardenha a quem chamam Radiolina, alcunha que se deve à tendência do médio para não se calar em campo, qual estação de rádio. No final do primeiro tempo, Barella testou a atenção de Trubin e, no início do segundo, Dumfries, no segundo poste tão do seu agrado, cabeceou a roçar o 1-0.
Copiando o que se vira nos quartos-de-final da temporada passada, as subidas de Barella foram um pesadelo para o Benfica. Aos 55’, chegou à linha final e solicitou Lautaro Martínez, que acertou na barra. Logo a seguir, o argentino voltou a beijar o ferro, desta feita o poste direito.
A promessa de golo interista foi cumprida aos 62’. Barella e Dumfries dão dimensão ao ataque do Inter, alargam-no, projetam-no, oferecem metros e perigo à equipa. O primeiro lançou o segundo, que assistiu Marcus Thuram para o 1-0.
O Benfica parecia KO, qual pugilista encostado às cordas, sofrendo para continuar na discussão do combate. Sem soluções ofensivas nem acerto defensivo, valeu às águias o desacerto de Lautaro Martínez, que, ao ver Otamendi, deve ter querido imitar a sua versão do Mundial do Catar, quando parecia empenhado em desperdiçar assistências de Messi umas atrás das outras. Quase de rajada, o argentino viu o seu compatriota, primeiro, e Trubin, depois, negarem-lhe claras ocasiões para o 2-0.
O Benfica ainda viu Di María sair com queixas físicas e lançou os pontas-de-lança com que não iniciou a partida. Aos 83', Arthur Cabral teve uma oportunidade para se estrear de encarnado, mas atirou ao poste.
Nos instantes finais, o coração de João Neves foi, como tem sido habitual, o órgão que liderou a reação da equipa, o espírito competitivo que sai daquele jovem para se alastrar ao resto da equipa. Nos descontos, o médio que se agiganta quando luta por bolas no ar teve uma derradeira tentativa para o 1-1, mas Sommer agarrou o seu cabeceamento. Antes, Trubin ainda voltou a negar o golo a Lautaro.
Tal como noutras ocasiões do passado recente, o Benfica sai de um embate de máxima exigência com a sensação de que o plano estratégico de Schmidt não terá sido o melhor. Sem perigo em ataque posicional ou transição, a resistência de Trubin foi quebrada à base de tantas tentativas italianas (21 tiros do Inter, contra seis das águias). Para esquecer o pesadelo de Milão e continuar o sonho Internaziole, será preciso o melhor Benfica contra a Real Sociedad."

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