terça-feira, 20 de junho de 2023

O grande equívoco


"A relação do poder político com o futebol tem dias. Os governos ora assobiam para o lado em questões fundamentais em que deveriam intervir, ora metem o bedelho onde não são chamados. A legislação que obriga à centralização dos direitos televisivos é um triste exemplo do segundo caso.
O Decreto-Lei n.º22-B/2021 erra logo no preâmbulo, afirmando que a comercialização individualizada dos direitos contribui para acentuar os desequilíbrios desportivos.
Não é verdade.
As discrepâncias de receitas não são causa mas, sim, consequência do desquilíbrio. E a razão que lhe está subjacente é que o futebol português a sério, queira-se ou não, limita-se a um clube gigante, dois grandes, dois médios, e mais três ou quatro pequenos. Tudo o resto são negócios-fantasma, na maioria alicerçados em capital estrangeiro, que servem para fazer girar dinheiro sabe-se lá de onde para onde, e de caminho dar emprego a jogadores, treinadores e árbitros medíocres. São inexistências, sem adeptos, sem sócios, sem história, e por vezes sem querer instalações condignas. As assistências de alguns jogos envergonham o país, e o futebol praticado limita-se à busca do pontinho, à queima de tempo e outras artimanhas chico-espertistas para impedir adversários de jogar. Este desfile de fantasmas não traz dinheiro nem prestígio ao futebol português: tira-os.
O nosso principal campeonato tem tantas equipas como a Alemanha, o que é ridículo. Aliás, um olhar pela 2.º liga alemã devia fazer-nos corar de vergonha.
Neste contexto, centralizar direitos televisivos não é mais do que desviar dinheiro dos bolsos dos benfiquistas (em maior número, logo quem mais paga por esta farsa) para os de investidores obscuros sedentos de sacar o seu.
Centralizar direitos, sim, mas apenas com uma drástica redução do número de clubes na 1.ª liga."

Luis Fialho, in O Benfica

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