sábado, 17 de dezembro de 2022

Nas últimas épocas há relatos de centenas de agressões a árbitros. Quem bate de forma violenta tem que ser violentamente castigado


"Se até eu estou cansado de falar e escrever sobre agressões a árbitros, imagino o caro leitor que, de vez em quando, lá tem que levar com uma série de vídeos a mostrar aquilo que nunca devia acontecer no desporto.
Em minha defesa, uma garantia: sou apenas um dos muitos mensageiros, não a mensagem. Importa não confundir quem condena e expõe, de quem bate e magoa.
Esta questão, eterna por cá mas também comum lá fora, parece não ter solução à vista, mas, na verdade... tem. E é bom que tenhamos consciência que este fenómeno pode ser controlado, diminuído e, quem sabe até, erradicado.
Como qualquer desafio difícil, é preciso começar ontem. É preciso pensar, planear e agir, com firmeza e consistência, ainda que isso implique navegar em águas turvas, repletas de burocracias e anticorpos.
Por muito que as estatísticas tentem relativizar a frequência com que acontecem, as agressões a agentes desportivos são sempre graves, são sempre condenáveis. Uma, dez, cem, que importa?
Bater deliberadamente em alguém, fazê-lo de forma inesperada, covarde e agressiva, é a antítese de tudo o que se espera numa atividade capaz de criar momentos fantásticos.
O desporto é nobreza. Apela ao melhor de cada um e ao melhor de todos. No desporto formam-se jovens, dando-lhes ferramentas para crescerem e serem os adultos de amanhã. É ali que aprendem a conviver, a socializar e a trabalhar em equipa. É ali que aprendem a vencer e a perder, a competir e a ser altruístas, educados e respeitosos. É ali que aprendem a ser responsáveis e líderes. É ali que treinam o corpo, a mente e a alma, tornando-se mais saudáveis e independentes. Mais aptos.
Cabe a todos nós, mas em particular às estruturas com poder, a desafiante missão de resgatar o que há de melhor nessa atividade.
Cabe-lhes a obrigação formal e moral de criarem medidas que garantam que quem compete se sinta feliz e seguro. Acima de tudo, seguro.
Quando isso não acontece, falham todos.
Falha o adepto que perde a cabeça e agride o atleta ou o treinador. Falha o jogador que sucumbe à pressão e atinge o árbitro a soco ou a pontapé. Mas falham sobretudo aqueles que, podendo e devendo, não tiveram capacidade de evitar que isso acontecesse.
Nas últimas épocas há relatos de centenas de agressões a árbitros. Centenas.
Muitas levaram jovens às Urgências, às enfermarias e a consultórios de psiquiatria. Muitos tiveram que ser suturados. Muitos foram sujeitos a intervenções cirúrgicas. Vários ficaram marcados para sempre, no corpo e na mente. A maioria abandonou a carreira. Quem pode censurá-los?
Meus amigos, isto não é normal. Não no meu país, que por vezes parece incentivar e permitir tudo isto.
Incentiva através de alguns exemplos vindos de palcos maiores que deviam ser referência oposta. Permite pela sensação de impunidade que continua a passar para o exterior.
Quem bate de forma violenta tem que ser violentamente castigado. Nada contra o homem ou contra a pessoa que tem um gesto para esquecer. Tudo contra o autor material de um momento tresloucado. Esse tem que ser responsabilizado e punido exemplarmente pela justiça desportiva e civil.
Quando a sensibilização e a prevenção não funcionam, a sanção pesada é a única forma de dissuadir atos destes.
A pergunta que se impõe é muito simples:
- Perante as sete agressões do passado fim de semana (um dos agredidos tinha 15 anos, outro 17) e tantas outras antes dessas, quando é que federações, associações de futebol, ligas, sindicatos e poder político vão reunir-se para propor implementação efetiva de medidas mais restritivas?
Que mais tem que acontecer para vermos avanços nessa área? É preciso que um árbitro fique desfigurado? É preciso que perca a vida?
Temos uma oportunidade de ouro de fazer algo que raramente fazemos por cá: andar à frente do problema. Antecipá-lo. Preveni-lo. Resolvê-lo.
Coragem, independência e atitude.
Atuem já, por favor."

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