quinta-feira, 7 de julho de 2022

SL Benfica | Um futuro para refletir


"Na semana passada, o Sporting sagrou-se bicampeão nacional de futsal, depois de “limpar” o SL Benfica na final do play-off com três vitórias sem resposta.
Pela primeira vez na história, o futsal do Benfica fica duas temporadas consecutivas sem conquistar qualquer troféu. Mas mais preocupante do que isso, parece-me que o futuro mais próximo não traz grandes ventos de mudança para o futsal encarnada.
O futsal do Benfica conquistou apenas dois campeonatos nos últimos nove anos e tem cometido vários erros de gestão e de planeamento ano após ano que têm hipotecado as aspirações do futsal encarnado em cada época.
Nesta temporada, a época do Benfica ficaria marcada pela mudança no comando técnico da equipa: Joel Rocha colocaria um ponto final no seu percurso enquanto treinador do Benfica após sete anos de águia ao peito, nos quais conquistara apenas dois campeonatos, fechando este ciclo de forma tardia.
Para o seu lugar chegaria José Maria Mendez, mais conhecido por Pulpis. Este experiente treinador espanhol passara os últimos anos da sua carreira no sudeste asiático, dado que deixou muitos benfiquistas desconfiados acerca daquilo que poderia dar ao futsal encarnado e se seria capaz de se adaptar a esta realidade.
A pré-temporada ficaria marcada pela condicionante do novo treinador não ter tido boa parte do plantel disponível, devido à ausência de vários jogadores que representaram as respectivas selecções mundiais. Terminada esta época, posso dizer que Pulpis não acrescentou nada de novo ao futsal do Benfica.
Tanto Joel Rocha como Pulpis são treinadores com uma mentalidade conservadora e defensiva e com uma ideia de jogo que, na minha opinião, não é a que mais potencia os jogadores. Nos últimos anos, o jogo ofensivo do futsal do Benfica tem vivido de três coisas: lances de bola parada, saídas rápidas para o contra-ataque e situações após recuperações de bola.
Em organização ofensiva, a equipa sempre teve muitas dificuldades em conseguir criar ocasiões de golo. Na maioria dos casos, só conseguia criar perigo em jogadas com o guarda-redes subido, sendo que a forma como a equipa abusou deste sistema acabou por “viciar” a equipa.
Mas os problemas do futsal do Benfica não se resumem apenas ao treinador e às suas ideias de jogo. A nível do plantel e da sua qualidade individual, a distância para o Sporting parece aumentar. Aqui, os erros na construção do plantel têm sido vários a cada ano.
Nesta temporada, os erros verificaram-se sobretudo na posição de guarda-redes e de pivot. Os brasileiros Diego Roncaglio e Fits fizeram parte do plantel no início da temporada, quando na realidade, eram jogadores em fim de ciclo no Benfica.
Na baliza, a situação seria remediada com a titularidade atribuída a André Sousa na segunda metade da época após ter brilhado no Europeu, correspondendo com grandes exibições. No entanto, as exibições nada convincentes de Fits acordaram tardiamente a estrutura, que iria ao mercado de inverno trazer Rocha, pagando a cláusula de rescisão para libertar o jogador que deixou o Sporting no Verão do ano passado.
Nos últimos anos, aqueles que na minha opinião foram os melhores jogadores de futsal do Benfica são os seguintes: Juanjo, André Coelho, Marc Tolrá, Robinho, Fernandinho e Elisandro. Com excepção de Robinho, nenhum destes jogadores ficou mais de três anos no Benfica. Por outro lado, no Sporting, Alex Merlim e Diego Cavinato estão há sete anos na equipa, continuando a ser jogadores que fazem a diferença.
Robinho foi o único a permanecer no plantel, muito graças à idade avançada que já tinha. A sua saída anunciada há poucos dias foi na minha opinião, um caso excepcional de um ciclo que encerrou na altura certa. Robinho continuava a ser um jogador importante na manobra ofensiva da equipa, mas creio que já não dava garantias físicas em jogos de nível mais elevado.
Quanto ao seu concorrente Arthur, foi um dos jogadores encarnados em melhor plano na final do play-off, mas tem sido muito irregular ao longo das suas duas épocas de águia ao peito. O internacional brasileiro tem qualidades ofensivas (sobretudo a nível da finalização e do 1 vs 1) que fazem com que num dia bom, seja um jogador que faça a diferença. No entanto, é um jogador com claras lacunas defensivas e cuja inconsistência faz com que não dê as garantias que um jogador não formado localmente deveria dar.
Na posição de fixo, esperava-se que o internacional russo Rômulo colmatasse uma lacuna que perdura no plantel desde a saída de Marc Tolrá em 2019. No entanto, com 34 anos e com o recente historial de lesões, Rômulo mostrou-se como um jogador pesado e em défice de confiança, sendo incapaz de dar resposta num contexto de maior grau de exigência.
Num clube como o Benfica, os jogadores não -formados localmente não podem ser apenas bons jogadores, mas sim jogadores que façam obrigatoriamente a diferença. No plantel actual, Rocha e Ivan Chiskala (que renovou recentemente por mais três épocas) são os únicos que estão a esse nível. Para fazer frente ao Sporting, serão precisos mais uns três jogadores não-formados localmente de topo.
A nível dos jogadores formados localmente, a fosso entre as equipas rivais também tem vindo a aumentar nos últimos anos. Para se ter uma ideia do declínio que o Benfica tem tido neste parâmetro, farei aqui o balanço dos últimos anos.
Em 2018, a selecção nacional sagrou-se campeã europeia, com quatro jogadores do Sporting e quatro jogadores do Benfica: Bruno Coelho, André Coelho, Tiago Brito e Fábio Cecílio. Bruno Coelho e André coelho deram o salto para o estrangeiro em 2020, enquanto Tiago Brito e Fábio Cecílio foram inexplicavelmente dispensados no ano passado.
Entretanto, na selecção portuguesa que conquistou o Mundial em Outubro do ano passado, havia sete jogadores do Sporting (incluindo o reforço Miguel Ângelo) e apenas dois jogadores do Benfica: André Sousa e Afonso Jesus.
Dada a diferença de qualidade entre os jogadores nacionais de ambas as equipas, vão ser necessários alguns anos para que o Benfica tenha hipóteses de igualar o Sporting nesse parâmetro. Para isso será necessário apostar e ficar atento aos jovens talentos nacionais que vão despontando no nosso campeonato.
O ala canhoto Carlos Monteiro teve uma boa utilização na final do play-off (também em virtude da ausência de Robinho), tendo deixado indicações positivas e mais importante que isso, mostrou que deve ser uma aposta para o presente e não apenas para o futuro.
Para além dele, o Benfica tem alguns jovens jogadores emprestados que podem ser aposta a curto/médio prazo, tais como Lúcio Rocha no ADCR Caxinas, Fábio Neves no Eléctrico FC e Edmilson Kutcky no AD Fundão.
Nesse sentido de apostar e valorizar a juventude, também será necessário apostar num treinador que tenha as ideias e a metodologia necessárias de modo a saber aproveitar e potenciar os jogadores, coisa que duvido que o Pulpis seja capaz de fazer.
O Sporting CP prossegue a sua hegemonia na modalidade e o Benfica tem um longo caminho a percorrer. Precisa de um plantel, de um treinador e de um projecto sólido e sustentável que faça crescer o clube. E há muita coisa por fazer até se chegar lá."

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