quinta-feira, 7 de julho de 2022

SL Benfica e o número 10


"Quem É Que Achas Que Vai Ser O Número 10 De Schmidt?

Gorada a hipótese Götze, cabe ao SL Benfica arranjar o seu ‘10’. Não parece haver no plantel quem faça Roger Schmidt repensar a urgência de uma contratação antes de uma readaptação do sistema que pretende implementar, o 4-2-3-1 com que brindou Eindhoven e que já é uma divergência do 4-4-2/4-2-2-2 com selo Red Bull com o qual começou a carreira e consolidou em Leverkusen.
Na Luz não se encontra ninguém com estilo de clássico fantasista desde João Félix, que interrompeu a seca que havia desde Pablo Aimar – porque Jonas nunca foi esse playmaker a tempo inteiro, antes tinha nível suficiente para conciliar essas tarefas com as de nove de área, sendo mais apropriado classificá-lo de nove e meio, como se classificou Saviola.
As diferenças entre eles e um organizador ou trequartista ficaram provadas na transição entre 2010-11 e 2011-12, quando Jorge Jesus foi obrigado a reinventar o seu losango fruto do fracasso Champions e desse choque competitivo, arrastando Aimar uns metros em frente de forma a abrir espaço para um ‘8’ como Witsel, sacrificando Saviola: o que resultou num futebol muito mais cerebral, muito menos errático e impulsivo mas igualmente ofensivo.
Exatamente o mesmo processo evolutivo pelo qual passou Roger Schmidt, agora mais interessado em fazer dinamizar o último terço com a introdução de alguém pronunciadamente nas entrelinhas ao invés de emparelhado com o outro ponta-de-lança.
Neste momento há João Mário – boas indicações no treino aberto ao público – Chiquinho e Pizzi, mais médios que homens de último toque, e Gonçalo Ramos, que pode fazer esse papel de forma exemplar como na época que findou, mas que terá sempre o auge do seu jogo na zona de penalty.
Ao SL Benfica sempre se associou o futebol virado para a frente, o golo como objetivo principal de um jogo que para o adepto será sempre romântico, intolerável será sempre a vitória recorrendo a outras ferramentas que não o futebol bonito. Por isso, é fácil identificar os ‘dezes’, por mais que o sistema histórico do SL Benfica – o 4-2-4 primeiro, herdado dos húngaros e de Béla, e a natural evolução para 4-4-2 – não o incorporasse no papel.
Antes, no 2-3-5 com que se ganha a Taça Latina, já Rogério fazia as vezes de playmaker apesar de assumir pela ala esquerda ou como interior, ao lado de Arsénio e atrás de Julinho. Nos anos 60, Coluna organizava a partir de trás e Eusébio, normalmente explorando os terrenos em volta de Águas ou Torres, era quem mais se aproximava do papel de trequartista.
Na chegada dos anos 70 e do 4-4-2 em linha, houve o ressurgimento de um oito menos combativo do que Coluna ou Jaime Graça e mais criativo, com Vitor Martins ou João Alves a abrirem caminho para Carlos Manuel ou Diamantino nos 80s.
Valdo chega do Brasil no final da década e deixa o lugar para Rui Costa, que teve de esperar pelo final da carreira, ser diretor desportivo e escolher ele o seu próprio substituto, 14 anos depois de sair da Luz pela primeira vez.
Aimar dá lições futebolísticas até 2013 e João Félix surge como um relâmpago em 2019, seis anos depois. Não é propriamente linear o estabelecimento de grandes figuras no centro do terreno encarnado, figuras que não se assumam nem como um transportador nem como um finalizador, organizadores a tempo inteiro com habitat natural nas costas do trinco adversário.
Chiquinho fez o papel em 2019-20, com Bruno Lage, mas precisou sempre de compensar a falta de talento natural com um inexcedível compromisso, sendo por isso alguém muito útil. Mas falta a mesma magia de outros para ser o titular de um SL Benfica que se quer europeu.
De Pizzi e João Mário, pode-se acusar da mesma preferência posicional: ambos fizeram as melhores épocas da carreira como interior direito, apesar de serem ‘dez’ de origem; a ambos pode-se pedir que joguem ao lado de um ‘6’, ainda que essa opção tire à equipa intensidade nos duelos.
E por essa razão não se pode pedir a um deles que sejam oito no gegenpress de Schmidt, assim como não se pode pedir que sejam homens de linha pela falta de explosão. Atrás do ponta-de-lança é a única hipótese, mas os incessantes rumores de procura de alternativas deixam antever que o técnico alemão já excluiu a possibilidade de serem eles os ‘10’ da equipa.
Aouar é um dos nomes em cima da mesa, até pela conveniência que o interesse do Lyon em Grimaldo constitui. Como ‘’uma mão lava a outra”, o tecnicista francês poderia chegar à Luz por valores residuais face à qualidade intrínseca do seu futebol e do seu talento acima da média – o indicado para suceder a Félix como maestro da Luz e tornar-se no destaque da equipa dentro e fora de campo.
Os rumores dizem ser ele o Plano A e que, não resultando, se passará à ação tendo como foco Fulgini, o irreverente jogador do Angers que teve em 2021-22 a melhor época da carreira.
Ainda que seja um nome que fique aquém nesse plano mediático, nessa tradição misticista importantíssima para o Terceiro Anel – e que foi um dos fatores preponderantes na adaptação falhada de Waldschmidt – abre-se um mercado pouco explorado pelo SL Benfica e para trás parecem ficar opções mais convencionais, como emprestados do Real Madrid ou destaques da Liga Portuguesa.
Reinier chegou demasiado cedo à Europa e tem sentido enormes dificuldades em mostrar o futebol que o fez aparecer no Flamengo de Jesus, chegando ao cúmulo de não conseguir sequer lutar por minutos num Borussia à deriva, como foi o de 21-22.
Já Horta, que seria uma opção válida para todas as posições da frente de ataque, serviu sobretudo para António Salvador lutar contra a imagem instalada na opinião pública de que é um aliado dos encarnados – fez questão de demonstrar que, se tanto, só de Luís Filipe Vieira.
Rejeitou todas as ofertas do SL Benfica e vendeu David Carmo ao FC Porto por 20 milhões de euros – transmite-se assim, claramente, que aos lisboetas cabe afastar-se do jogador ou ir aos bolsos com outra predisposição. O SL Benfica opta pela primeira, ficando-se por perceber se em definitivo se um recuo estratégico."

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