segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

O ser humano atrás do jogador


"O clima de ódio dentro do futebol há anos deixou de ser o reflexo da sociedade. É o reflexo do próprio futebol. É o reflexo do torcedor cada vez mais empoderado que se acha no direito de perseguir, ameaçar e humilhar os mais variados intervenientes de um esporte (ainda) apaixonante.
Independentemente da responsabilidade, da função e da conta bancária, há sempre um ser humano atrás do profissional. Há, acima de tudo, uma família. São todos inocentes atingidos por uma avalanche ininterrupta de estupidez e falta do que fazer.
Existe uma diferença gritante entre pressionar e importunar. Entre criticar e insultar. A fúria nas redes sociais, potencializada pelo tempo ocioso (ou odioso) gerado pela pandemia, tem destroçado a saúde mental daqueles que erram e acertam como qualquer outra pessoa.
A depressão atinge a todos, até mesmo os atletas de alto nível, sem pedir licença ou bater à porta. Não é nada combinado. Quando chega, chega com tudo. É avassalador. Você, caro(a) instigador(a), tem muita culpa no cartório. A sentença não é solteira.
Josip Ilicic (Atalanta), Ramires (ex-Benfica e Chelsea), Guillermo Celis (ex-Benfica), Nilmar (ex-Internacional, Corinthians e Lyon) e, especialmente, Santiago Morro García (ex-Nacional do Uruguai), que acabou por tirar a própria vida no começo de 2021. São casos e mais casos de crise mental.
Cada vez mais, e bem, os clubes têm investido em suporte e acompanhamento psicológico. Mas é um longo e árduo trabalho, num caminho esburacado e repleto de obstáculos, muitos deles fantasiados de torcedores que, dia após dias, passam de insignificantes a significativos.
Todos temos deveres e obrigações na luta constante por um futebol melhor e mais leve, dentro e, sobretudo, fora de campo. Não vale tudo no futebol. Não vale tudo nas redes sociais. Vamos viver e, não menos importante, deixar viver."

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