sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Bancadolândia


"Outubro, num dos dias mais longos de 2021. Começou a 9, ainda o negrume era soberano, e acabou a 10, tratava o sol de sobrepor-se à noite. O dever ordenava, a missão foi cumprida, em nome da mais profusa, continua e fidedigna informação. Nessa jornada histórica e exemplar de associativismo do Sport Lisboa e Benfica, uma janela esteve disponível em permanência para acompanhar a actividade desportiva do Clube. De manhã, a bola rolou na Madeira com a visita da equipa feminina de futebol ao Marítimo. Ali, jogava-se e jogou-se... num relvado sintético. Pois!
A mesma equipa que, dias antes, fizera frente ao Bayern, quarto classificado do ranking da UEFA, dividindo pontos no excelente relvado natural do Benfica Campus em jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões, sujeitava-se ao imperativo de competir num sintético (e de dimensões reduzidas). Que nexo se descortina nisto, quando se pugna pelo desenvolvimento do futebol na vertente feminina? Que sentido se apura neste facto, quando a batalha pela igualdade nos mobiliza diariamente? Que justificação ainda se forja em cima das diferenças constatáveis, quando sabemos que nos principais escalões masculinos seniores das nossas provas nacionais os sintéticos estão excluídos?
Este rol de questões bate à porta da Federação Portuguesa de Futebol, a entidade organizadora e reguladora da Liga BPI. Se queremos evolução - e penso que todos nós, peritos de bancada, nos alinhamos neste ponto -, então temos de fazer e batalhar por ela, objetivá-la, dar-lhes substância e visibilidade.
O toque de bola, o ressalto da mesma, a velocidade, o conforto - ao mais alto nível, tudo é diferente, para melhor, num campo de relva natural, teorizam os estudiosos destas matérias. Logo, quando se fala de progresso e projeção do melhor do lado feminino do futebol português na alta-roda europeia, admitir aquém-fronteiras a realização de jogos em sintéticos é contranatural, uma tremenda e lesiva incongruência. Por outras palavras, é tentar correr para a frente a andar para trás. Impossível, portanto. Nisto, o futuro pede rápida, revisão."

João Sanches, in O Benfica

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