sábado, 11 de setembro de 2021

Samaris, o Deus do Compromisso


"Depois do desastre em 2004, nunca pensei conseguir sorrir quando se fala em Grécia. Tudo mudou. Falar neste povo maravilhoso só pode ser num tom carinhoso. A mitologia grega existe há milhares de anos, mas os deuses mais importantes foram promovidos a divindade já em pleno século XXI: Konstantinos Mitroglou e Andreas Samaris. Já se falou imenso sobre o naming do Estádio da Luz e estou convencido de que qualquer dia vem uma proposta de Atenas para que o nome da Catedral passe a ser Olimpo. Já escrevi sobre o Mitroglou quando Ele saiu, desta vez, despedimo-nos do Samaris. Que craque! Que classe! Que saudades! Não sou homem de chorar a cortar cebola, mas falar do Samaris no passado é capaz de me fazer verter uma lágrima. Só de me lembrar daquele corte no Dragão parece que vejo a vida a passar à frente e um anjo aparece para me salvar. E aquele golaço ao Moreirense do meio da rua para fazer o 2-1 em 2015? A minha mãe faz de tudo para me ver feliz desde que nasci e nunca me levou a um nível de êxtase como O grego naquele dia. Será que gosta assim tanto de mim? Foi mesmo ali à minha frente. Nesse dia assisti ao jogo em pleno raelvado, atrás da baliza grande ao lado do grande João Martins, e a única instrução que recebi era para não me manifestar se houvesse golos - não consegui cumpri. E aquele raspanete ao Coentrão? A minha avó não teria feito melhor.
O Samaris chegou, ajudou a levar-nos ao tetra, viveu os desaires como um adepto e representou os benfiquistas com a paixão ao nível máximo. Fala português como se cá tivesse nascido, e agora, que tem mais tempo livre, sei que o meu lugar aqui no jornal ficou em perigo: a qualquer momento posso ser substituído pelo Samaris."

Pedro Soares, in O Benfica

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