sábado, 14 de agosto de 2021

Bancadolândia


"Num repente, subtraíram-se bem para lá de três décadas. A contratação de Yaremchuk devolveu-me, em memórias, à infância crescida. Fez-me recuar até ao tempo dos imperfeitos microcampos de terra solta e mal batida, com incontáveis pedrinhas pontiagudas, onde os joelhos choravam, mas, sobretudo, destilávamos felicidade e procurávamos ter 'os melhores' do nosso lado. Ser o ' dono da bola' ajudava na resolução tirana da escolha das equipas, sim. Subtilezas translúcidas, claro, porque o futebol era jogar. E só havia jogo se uma bola rolasse.
'Negociávamos' golos, queríamos os desbloqueadores, aqueles que na bonança ou na tempestade, confiávamos, nos iriam valer nos campeonatos que ficcionávamos. Ver o esférico passar entre caixotes de madeira que, apesar de comidos pelo uso numa mercearia amiga, nos desenhavam maravilhosas balizas, era a 'febre' das peladas. À nossa maneira, pueril, já o alvitrávamos: o golo é um bom lugar! Para cortejar o êxito, para vencer. E é isso que, da infinita 'bancadolândia', vemos o Benfica perseguir ao recrutar um avançado com o perfil de Yaremchuk para a sua equipa de futebol profissional. Porque ganhar é outra forma de dizer 'golo'!
Sabemos que, não fora uma decisão míope no desenlace da Liga de 2014/15 (em prejuízo de Jonas), o Benfica teria sido servido pelo melhor marcador da respectiva prova em quatro dos últimos seis títulos nacionais conquistados (Cardozo foi artilheiro em 2009/10, Jonas em 2015/16 e Seferovic em 2018/19).
Os tatuadores das balizas aquecem-nos o sangue, empolgam-nos o coração, rendem pontos e vendem camisolas. Lewandovski (41 golos), Messi (30), Cristiano Ronaldo (29), Mbappé (27) e Harry Kane (23), reis do golo em 2020/21 nas cinco principais ligas europeias, aos quais podemos somar Haaland (27), Lukaku (24), Benzema (23) ou Suárez (21), são uma rica mostra de 'facilitadores' ou 'abreviadores', ao mais alto nível, de caminhos para os sucessos. Cada qual no seu contexto, na sua medida. De Yaremchuk esperamos o mesmo: golos e consequência(s)."

João Sanches, in O Benfica

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