Comunicado da Direcção do SL Benfica


"A Direção do Sport Lisboa e Benfica esteve reunida esta tarde.
Privilegiando sempre, como é sua obrigação, a relação com os sócios e a unidade e coesão internas, a Direção saúda a iniciativa do Presidente da Mesa da Assembleia Geral de solicitar uma auditoria ao último processo eleitoral, embora estatutariamente o mesmo esteja encerrado e nunca tenha merecido qualquer contestação formal das listas candidatas.
Apesar disso, a Direção deliberou avançar, de imediato, para a contratação de entidades externas e independentes que procedam à contagem dos votos físicos, à reconfirmação da fiabilidade dos processos de transporte e armazenamento das urnas, bem como ao escrutínio detalhado da eficácia dos sistemas informáticos utilizados nas eleições de há oito meses.
É na transparência que esta Direção se move, sem equívocos, razão pela qual as listas concorrentes serão convidadas a acompanhar a operação de contagem dos votos nas urnas.
A Direção decidiu ainda solicitar ao Presidente da Mesa da Assembleia Geral, em data que considere adequada e as condições de saúde pública permitam, uma sessão extraordinária, com carácter de urgência, para a divulgação de todos os resultados dos trabalhos que agora vão iniciar-se."

Comunicado aos Sócios do Sport Lisboa e Benfica pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral


"Caros Consócios, caros Benfiquistas:
Conforme é do conhecimento de todos, assumi há duas semanas atrás a muito honrosa função de Presidente da Mesa da Assembleia Geral do nosso querido Sport Lisboa e Benfica.
Estamos no começo de uma nova época desportiva e a Mesa da Assembleia Geral, através do seu Presidente, como entidade representativa de todos vós, apela ao empenho de todos para o enriquecimento da História do Sport Lisboa e Benfica, clube com uma vida já centenária, espalhado pelos cinco continentes, com centenas de milhares de sócios e milhões de simpatizantes e que a todos nós nos enche de orgulho.
Bela história porque, ao longo da sua vivência, o espírito de muitos dirigentes e dos milhares de atletas envolvidos nas muitas atividades proporcionadas e criadas dentro desta organização, foram norteadas por engrandecer e prestigiar o nosso glorioso Sport Lisboa e Benfica.
Acabámos de aprovar em Assembleia Geral, realizada no passado dia 15 de junho, o Plano de Atividades e o Orçamento que lhe dá suporte, dotando desta forma a Direção dos diversos meios para que o exercício de 2021/2022 possa ser concretizado com sucesso.
Contudo, os nossos objetivos só poderão ser atingidos ou mesmo superados, se todos nós, sócios, nos unirmos e apoiarmos as nossas equipas nas diversas modalidades e se todos estivermos com o nosso querido Sport Lisboa e Benfica, seja nos dias de vitórias seja nos momentos de derrotas.
Na memória de todos (e certamente que nela continuará por muito tempo), está a magnífica participação e a prova de civismo que os nossos sócios deram em outubro passado, nos vários locais de votação espalhados pelo país, mesmo em período de pandemia, no exercício do seu direito de escolher os Órgãos Sociais para o mandato atual em que nos encontramos.
Os resultados obtidos naquele ato eleitoral não foram objeto de contestação por parte de qualquer das listas concorrentes, o que honra todos os participantes e em particular os candidatos preteridos.
Posteriormente ao ato eleitoral e à tomada de posse dos novos Órgãos Sociais, alguns sócios, individualmente ou em grupo, fizeram chegar à Mesa da AG algumas questões que queriam ver clarificadas, nomeadamente a fiabilidade e a segurança do software informático que desde 2006 serviu de suporte ao voto eletrónico, ou a contagem do voto físico, em papel, colocado nas urnas que estavam acopladas a cada posto de votação.
Ainda relacionado com o ato eleitoral também alguns sócios manifestaram interesse em conhecer a forma como foi realizada a selagem daquelas urnas, o seu transporte e guarda e qual a empresa ou empresas contratadas para a realização de tais trabalhos.
Ora, todos os milhares de votantes tiveram a oportunidade de verificar que o voto que eletronicamente exerceram era idêntico ao que resultou no papel impresso e que deverá ter sido depositado por cada associado na urna respetiva.
Por outro lado, a anterior Mesa da Assembleia Geral acompanhou presencialmente ou através dos seus representantes, o processo de selagem, transporte e armazenamento das urnas.
No âmbito dos estatutos, as questões levantadas, inserem-se no âmbito dos trabalhos realizados pela Mesa da Assembleia Geral que cessou funções em 28 de outubro.
Ainda assim, os membros da Mesa da Assembleia Geral, eleitos em outubro passado, disponibilizaram-se para reunir com um grupo de sócios que se lhes dirigiu através de requerimento, carta aberta ou outros meios.
No seguimento dos contactos atrás mencionados, decidiu esse grupo de Sócios, no passado dia 6 de abril, dirigir um requerimento ao então Presidente da Mesa da AG, pedindo a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária, cuja ordem de trabalhos versava sobre as questões atrás mencionadas e relacionadas com o ato eleitoral passado e ainda um quarto ponto que discutisse e aprovasse uma proposta de Regulamento Eleitoral para eleições futuras no Sport Lisboa e Benfica, cujo documento foi feito chegar à Secretaria Geral do SLB.
Junto àquele requerimento era acoplada uma lista de diversos sócios, para que a mesma fosse convocada ao abrigo do n.º 3, do artigo 55º dos Estatutos do SLB.
Compreenderão todos os sócios que a organização de qualquer AG, quer Ordinária, quer Extraordinária, independentemente das Ordens de Trabalho de cada uma, exige a intervenção de várias estruturas do clube, coordenadas por Órgão Social, que não a Mesa, e em momento de pandemia como a que estamos atravessando, e de muitas restrições decretadas pelas entidades Governamentais e da DGS (a proibição de deslocações de e para a AML ao fim de semana é uma delas), a mesma só se poderá realizar, caso exista a concordância da DGS ao Plano de Contingência elaborado no seio das estruturas do clube e já apresentado junto desta entidade pública.
É intenção da Mesa, caso não exista qualquer decisão contra ou condicionantes que tornem impossível a sua realização, conforme atrás referi, proceder à sua marcação ainda durante o mês de julho próximo, com a Ordem de Trabalhos que vier a constar da sua Convocatória e, em caso algum, a Mesa decidirá em função de notícias publicadas nos jornais ou difundidas através de meios de comunicação, independentemente da orientação que cada um venha demostrando, ou de timings que nos queiram ser impostos.
A Mesa e, naturalmente o seu Presidente, têm plena consciência da sua função na organização em que está envolvida, bem definida nos seus Estatutos, e que uma vez mais não pode deixar de realçar; "ser o garante da legalidade no seio do Sport Lisboa e Benfica".
Para conhecimento de todos os sócios do Sport Lisboa e Benfica, quero também comunicar-lhes que, em carta hoje dirigida à Direção, através do seu Presidente, e apesar de não ter ocorrido nenhuma contestação à votação de outubro, transmiti o desejo da Mesa para que, logo que seja possível, se proceda à contagem física dos votos depositados em urnas no dia 28 de outubro passado, com o acompanhamento de representantes de cada lista concorrente ao ato eleitoral e supervisionada por uma empresa de auditoria de renome internacional e que não se encontre vinculada a qualquer estrutura empresarial do Grupo Benfica.
Em breve indicarei aos sócios e simpatizantes o nome dessa empresa de auditoria e o processo seguido para a sua escolha. Naturalmente que o relatório final deste trabalho tem como finalidade comparar os resultados finais apurados através do processo eletrónico por posto de votação com os que forem apurados nesta contagem física.
Na mesma missiva, sugeri, ainda, à Direção, que a mesma empresa de auditoria escolhida para supervisionar a contagem dos votos, proceda à realização de uma auditoria que teste a fiabilidade e a segurança do software que deu suporte ao voto eletrónico e que um resumo do respetivo relatório seja disponibilizado aos associados, sempre garantindo a confidencialidade dos aspetos críticos de segurança.
De igual forma, existindo um relatório elaborado durante o percurso do ato eleitoral, onde as várias estruturas do SLB intervieram com alguma ação, foi também solicitado que o mesmo seja disponibilizado aos associados, nas suas questões mais estruturantes, clarificando assim os principais procedimentos, entre eles a empresa contratada para o transporte das urnas, a selagem e guarda das mesmas, a organização e funcionamento de cada posto de votação, a credenciação dos sócios eleitores, a nomeação dos representantes das listas em cada um dos postos de votação e muitos mais assuntos que não deixarão de ter interesse para o conhecimento de todos os associados.
Por fim, quero transmitir a todos vós que é vontade da Mesa, dos restantes Órgãos Sociais e, certamente, da maioria dos sócios e simpatizantes, que o Benfica esteja permanentemente munido, quer de regulamentos, quer de meios técnicos, para que atos de importante decisão para o bom funcionamento democrático das estruturas do clube, tenham a mais ampla participação de todos, independentemente da cultura ou do local em que cada um viva.
Estamos no século XXI, na era do digital e da internet. A sociedade moderna está hoje dotada de meios informáticos que nos permitem, com segurança e fiabilidade, expressar o nosso voto, qualquer que ele seja, em qualquer parte do mundo. Desejo que, também o nosso Benfica, continue a ser pioneiro na utilização dessas técnicas, e que as mesmas sejam colocadas ao serviço de todos os sócios a fim de que, com o seu voto, participem cada vez mais na vida do nosso clube.
Desejo, para terminar, um bom ano desportivo a todos os nossos atletas, independentemente das atividades em que estejam inseridos, que não existam lesões graves nem problemas de saúde demasiado complicados e que todos nós, sócios e simpatizantes, nos esforcemos por estar à altura da História grandiosa do nosso Clube.
Viva o Benfica!"

A modelação de jogo pelas equipas de futebol


"A discussão em torno das ideias, modelos e sistemas de jogo no futebol é, nos dias de hoje, comum. Não raras vezes, esta discussão sustenta-se num mau entendimento sobre o significado de cada um destes conceitos que, se tratados com banalidade, resultam invariavelmente em reflexões ambíguas e pouco esclarecidas. Ao longo deste artigo procurarei refletir acerca de alguns dos conceitos que estão na base da modelação de jogo de equipas de futebol.

Nota prévia
Apesar de atual, o conceito de modelo de jogo não é novo. Não sendo objetivo desta peça descrever a sua evolução histórica, importa referir que autores clássicos da área do treino desportivo como Léon Teodorescu já refletiam sobre a sua importância ainda nos anos 70 do século passado. O importante trabalho que treinadores como Carlos Queiroz, Jesualdo Ferreira e Nelo Vingada desenvolveram no antigo ISEF (agora Faculdade de Motricidade Humana) e que contribuiu de forma importante para a reformulação dos conteúdos de formação de treinadores em Portugal, teve como ponto de partida muitos destes conceitos que foram sendo continuamente aprofundados no nosso país por autores importantes como Júlio Garganta, Jorge Castelo e muitos outros.

Da Ideia ao Modelo de Jogo
É frequente ouvirmos adeptos, comentadores e até treinadores referirem-se aos conceitos de “ideia de jogo” e “modelo de jogo” como se de um sinónimo se tratassem quando, em bom rigor, estão longe de o ser. O primeiro é um conceito bastante mais simples e que se traduz essencialmente na forma como o treinador responde à seguinte questão: como é que eu gostava que a minha equipa se comportasse em cada uma das fases, etapas e momentos do jogo? A resposta a esta questão resulta fundamentalmente do modo como o treinador interpreta a própria lógica interna do jogo – outro conceito fundamental que deixarei para um próximo artigo – e, em função dessa interpretação, concebe uma determinada ideia sobre a organização da sua equipa. É caso para dizer que ideia de jogo, cada treinador tem a sua. Para além do modo com o treinador interpreta o jogo, também outras características como as experiências anteriores, crenças pessoais e, inclusive, a sua filosofia de vida e os seus traços de personalidade podem contribuir para a construção desta ideia.
Da ideia ao modelo de jogo, contudo, há todo um caminho a percorrer. Se a primeira depende essencialmente do treinador, já o segundo depende da interação de um conjunto de fatores, entre os quais se destacam a própria ideia de jogo do treinador e (muito importante!) as características dos jogadores. A discussão sobre se o treinador deverá ajustar a sua ideia às características dos jogadores ou, por outro lado, são os jogadores que se devem adaptar à ideia do treinador não cabe neste artigo. Contudo, o que me parece menos discutível é que os jogadores são diferentes uns dos outros a vários níveis e, portanto, sendo os principais atores do jogo, a aplicação de um determinado modelo só poderá resultar tendo também em consideração as suas características. Para além das características do treinador e dos jogadores, também as características contextuais influenciam a conceção do modelo de jogo, como por exemplo fatores culturais associados ao país ou ao próprio clube, o tipo e o formato da competição e os próprios objetivos competitivos definidos. Assim, podemos perceber que o modelo de jogo é um conceito bastante mais complexo e que, embora a ideia do treinador constitua a base fundamental para a definição dos princípios que vão orientar os comportamentos da equipa, a sua operacionalização propriamente dita só emerge efetivamente da relação entre todas estas características que acabámos de referir. É também por esta razão que não é possível haver dois modelos de jogo exatamente iguais, mesmo com o mesmo treinador.
Mas o que se entende afinal por modelo de jogo? O modelo de jogo não é mais do que o referencial através do qual os jogadores combinam e coordenam os seus comportamentos competitivos, de acordo com um conjunto de princípios de ação definidos pelo treinador e a que designamos de princípios de jogo. Estes princípios orientam (não determinam!) os comportamentos individuais e coletivos no decorrer do jogo e possuem associadas determinadas intenções que traduzem a forma como a equipa irá procurar comportar-se (do ponto de vista estrutural e funcional) nas diferentes fases, etapas e momentos do jogo. Não será demais reforçar que, no respeito da natureza complexa e dinâmica que caracteriza a lógica interna do jogo de futebol, os princípios associados ao modelo de jogo devem ser entendidos como orientadores e não como determinantes dos comportamentos. Significa isto dizer que não devemos olhar para os princípios de jogo como um conjunto de soluções fechadas pré-determinadas, mas, ao invés, como um conjunto de orientações que atribuem um fator de direccionalidade aos comportamentos competitivos da equipa. Comportamentos esses que, efetivamente, resultam não exclusivamente dos princípios de jogo definidos, mas também das relações de cooperação e oposição que se estabelecem na confrontação entre as duas equipas no decorrer de um jogo.
Uma outra noção importante é a de que a operacionalização do modelo de jogo tal como é idealizado nunca chega efetivamente a acontecer. Pelo menos não na sua plenitude. Em primeiro lugar porque os comportamentos competitivos possuem uma natureza emergente, como já referimos, que resulta de interações que se desenvolvem em contextos e condições de aplicação que nunca são exatamente iguais; e em segundo porque o modelo de jogo é um referencial que está em constante evolução, cresce com a própria equipa e com o rendimento individual dos jogadores e é feito de avanços e recuos na sua operacionalização através do processo de treino.

O papel do Sistema Tático no Modelo de Jogo
O sistema tático caracteriza a organização estrutural de base da equipa e a sua importância está relacionada com a atribuição de funções e tarefas aos jogadores. A escolha por um determinado sistema deve ter em consideração a aplicação dos princípios que compõem o modelo de jogo e as características dos jogadores que o compõem. Assim, é o sistema tático faz parte do modelo de jogo e não o contrário. É por isso que um mesmo modelo de jogo pode utilizar diferentes sistemas táticos preservando os seus princípios essenciais. Não faz sentido retirar importância ao sistema tático para valorizar as chamadas “dinâmicas” coletivas na medida em que este também contribui de forma importante para organização funcional da equipa, nomeadamente através da promoção de determinadas interações entre jogadores decorrentes das suas funções (dimensão funcional) e dos espaços que ocupam predominantemente (dimensão estrutural). Mesmo quando assistimos a variações na organização estrutural da equipa em diferentes fases ou etapas do jogo (por exemplo a atacar e a defender), percebemos que essas adaptações não são totalmente independentes do sistema tático de base. Além do mais, a utilização de diferentes configurações estruturais constitui um importante fator estratégico, permitindo uma maior adaptabilidade ao jogo da equipa adversária – aqui entendida como uma adaptabilidade disruptiva, ou seja, que permita condicionar o adversário e ganhar uma vantagem competitiva."

terça-feira, 29 de junho de 2021

Unidos pelo casamento e pelo Benfica


"Ilda e José Dias Afonso foram um casal de cicloturistas e, juntos, envergaram a camisola encarnada ao longo do país.

Na secretaria da Rua Jardim do Regedor, por volta das 8 horas da manhã de 3 de Junho de 1936, o casal de cicloturistas Ilda e José Dias Afonso, 'irrepreensivelmente equipados, envergando as garridas camisolas do Benfica', subiram para as suas bicicletas e fizeram as suas despedidas, com bastante público a desejar-lhes uma boa viagem.
O projecto era ambicioso, um rali ao Norte de Portugal, numa jornada de propaganda do cicloturismo e do Benfica. Numa época em que havia poucas mulheres a praticar desporto em Portugal, Ilda Dias Afonso causou admiração, 'pois não é muito vulgar entre nós uma senhora abalançar-se a fazer 1250 quilómetros de bicicleta'. Esta interessante iniciativa do casal foi também 'digna de elogios pelo espírito de sacrifício dos dois velocipedistas, que efectuam o «rallye» sem encargos para a colectividade que representam».
Ao longo de 11 etapas, entre Lisboa e Porto visitaram várias filiais do Benfica, tendo sido recebidos com afectuosas recepções, nas quais entregaram placas de prata com o emblema do Clube. A iniciativa foi um 'êxito e decorreu com a máxima regularidade' e, ao fim de 12 dias de viagem, os cicloturistas percorreram os últimos quilómetros acompanhados por sócios do Benfica e ciclistas até ao Campo das Amoreiras, 'onde lhe foi feita uma carinhosa recepção', recebendo um lido ramo de flores da Direcção do Clube.
Durante vários anos, Ilda e José Dias Afonso participaram, individualmente ou juntos em raides, passeios e provas de regularidade, nas quais obtiveram vários títulos individuais, de pares e de equipa. Todavia, mais do que as suas conquistas desportivas, estes atletas destacaram-se como impulsionadores do cicloturismo, granjeado de grande popularidade. Até o cão do casal, o 'Pirilau', alcançou a fama: tornou-se a mascote da secção e acompanhava-os em passeios da modalidade, através da qual contribuíram para a propaganda do Benfica, de norte e sul de Portugal.
Saiba mais sobre o cicloturismo na área 4 - Momentos Únicos do Museu Benfica - Cosme Damião."

Lídia Jorge, in O Benfica

A laicidade e o facto religioso no campo desportivo


"O desporto agrada pelo fervor das competições e pelas garantias morais. Impôs-se para além dos muros da Escola. Nasce na segunda metade do século XIX, conquistou o planeta num tempo relativamente curto e impôs-se como uma prática de massas. Ele é associado às ideias de progresso e de equidade. Pierre de Coubertin, na sua Pédagogie sportive (1972), entende-o como “o culto voluntário e habitual do exercício muscular intensivo, incitado pelo desejo de progresso e sem medo de ir até ao risco” (p. 7).
O desporto representa o melhor meio de nos conhecermos e de medir os limites. É um “combate”, permitindo desenvolver uma rivalidade entre os Homens e as nações. Com o reconhecimento dos méritos de cada um, procura-se explicar as diferenças sociais entre os indivíduos. As regras fundam o desporto, assegurando o seu funcionamento e a diferenciação das práticas. A prática desportiva é multiforme e ela continua a ser um campo (espaço simbólico, no qual os atores sociais legitimam as suas representações) propício para a expressão e interação entre os indivíduos. É a sua grande força que permite a realidade do “vivermos em conjunto” (comunidade, sociedade). Não sendo uma religião, funciona como tal. Incorpora “na sua estrutura e funcionamento valores e práticas passíveis de uma leitura religiosa, naquilo que consideramos ser uma religião camuflada”, diz-nos Garcia e Cunha (2016, p. 81). A expressão do facto religioso e da laicidade não são incompatíveis no campo desportivo. O que se entende por laicidade? Para melhor compreender o que é a laicidade, três aproximações são complementares. Ela assenta em quatro princípios e valores:
1) A liberdade de consciência;
2) A liberdade de manifestar as suas convicções no limite do respeito da ordem pública;
3) A separação das instituições públicas e as organizações religiosas;
4) Igualdade de todos perante a lei, independentemente das suas crenças e convicções.
Neste sentido, a laicidade garante aos crentes e aos não crentes o mesmo direito à liberdade de expressão das suas convicções. Ela assegura o direito de ter ou de não ter uma religião ou de mudar. Ela garante o livre exercício dos cultos e da liberdade de religião, mas também a liberdade da religião: ninguém pode ser constrangido relativamente ao respeito dos dogmas ou das prescrições religiosas. A laicidade supõe a separação do Estado e das organizações religiosas. Portugal é um país laico e a separação entre a Igreja e o Estado foi decretada em 1911, na sequência da instauração da República, em 05 de outubro de 1910.
Se a laicidade parece relativamente simples de definir, a sua aplicação no terreno pode ser mais complexa. A boa aplicação do princípio da laicidade e da boa gestão dos factos religiosos supõe um importante trabalho de pedagogia, em todos os domínios, nomeadamente o do desporto. O desporto não está desconetado da sociedade e pode ser uma caixa de ressonância das crispações e desafios atuais da nossa sociedade. As regras aplicadas em matérias de laicidade e de gestão do facto religioso são transponíveis para o campo desportivo. O respeito do princípio da laicidade no quadro da atividade ou da prática desportiva deve conciliar em permanência três exigências:
1) A manifestação da liberdade de consciência do praticante sob reserva do respeito da ordem pública;
2) A exigência da neutralidade das coletividades territoriais (câmaras municipais, juntas de freguesia, etc.) na organização e no acesso às atividades desportivas;
3) A exigência da neutralidade dos dirigentes, dos árbitros e das pessoas que enquadram as federações desportivas e dos órgãos desconcentrados (comités, ligas), etc.
A neutralidade da prática desportiva não deriva exclusivamente do princípio da laicidade. Ela resulta do respeito pelos valores do desporto, das regras do jogo e dos regulamentos técnicos desportivos. Por outro lado, o respeito pelo princípio de neutralidade não proíbe o financiamento de atividades desportivas e de interesse geral das associações desportivas com um carácter confessional, nas condições em que elas não imponham as suas práticas culturais e não exerçam uma discriminação de entrada pelo facto de não pertença comunitária. A laicidade deve ser uma ferramenta de emancipação e de união na República."

segunda-feira, 28 de junho de 2021

SL Benfica | Um novo rumo no futsal encarnado?


"A época da equipa de futsal masculina do SL Benfica foi mais uma desilusão somada às várias desta época, com a equipa a não conquistar qualquer troféu e a demonstrar uma clara inferioridade em relação ao rival lisboeta, naquela que foi uma das finais mais desequilibradas entre as duas equipas.
Poucos dias após o término da temporada, o clube anunciou a saída do treinador Joel Rocha. Após sete anos no comando técnico dos encarnados, nos quais conquistou um total de nove troféus, o técnico natural da Covilhã terminou a sua ligação com as águias.
Joel Rocha não era um técnico consensual entre os adeptos. Havia quem achasse que já estava há tempo a mais no SL Benfica para aquilo que mostrou, como também havia quem achasse que a sua escassez de troféus se devesse em grande parte ao facto de defrontar os melhores plantéis do Sporting CP da história da modalidade, sendo que maioria dos anos, os homens da Luz não tinha um plantel a altura.
No entanto, independentemente da opinião e do gosto de cada um, creio que a reta final desta temporada fez transparecer a ideia de que o ciclo de Joel estava esgotado e de que era necessário dar um novo rumo ao futsal encarnado.
Após o anúncio da sua saída, foram vários os nomes apontados para a sucessão. E apesar de ainda não haver uma anúncio oficial, tudo indica que o substituto de Joel Rocha seja o espanhol José Maria Mendez, mais conhecido no mundo do futsal por Pulpis.
Pulpis é um treinador que passou por vários clubes do seu país, tendo pelo meio uma passagem pelo futsal croata. Começou a revelar-se ao serviço do Lobelle Santiago Futsal, clube pelo qual conquistaria a Taça das Taças em 2006/2007, derrotando o SL Benfica na final. Desde 2008, a carreira de Pulpis estaria dividida em três países: Vietname, Uzbequistão e Tailândia, sendo atualmente o selecionador tailandês, cargo que desempenha desde 2017.
Pulpis é um treinador com uma ideia de jogo inspirada na escola espanhola, que gosta de futsal ofensivo, podendo, assim, apresentar um estilo de jogo mais positivo e atrativo. O grande senão que há sobre ele, e sobre aquilo que poderá dar ao SL Benfica, prende-se com o facto de estar há mais de dez anos sem treinar ao mais alto nível, o que levanta dúvidas sobre o facto das suas ideias serem ajustadas à realidade do futsal atual.
Outra grande dúvida que se coloca é qual será a influência que ele tem na construção do plantel. O SL Benfica já anunciou a saída dos internacionais portugueses Tiago Brito e Fábio Cecílio, assim como a contratação dos jovens Carlos Monteiro e Lúcio Rocha. A imprensa também já apontou os nomes de Bruno Cintra, Rômulo e Dieguinho, havendo ainda indefinições no plantel quanto às posições de guarda-redes e de pivot.
Um novo ciclo irá ter início no futsal encarnado, mas ainda existem pontos de interrogação quanto ao que será esta equipa e, sobretudo, se esta será capaz de se superiorizar ao atual campeão nacional e europeu, encaminhando o SL Benfica para um período mais vitorioso."

O que joga Renato


"O bulo é o homem em foco na selecção portuguesa na primeira fase. Não ignorando os cinco golos de Ronaldo – Gesto técnico simples, mas são 5!!! em 3 jogos. Quem mais?! – mas foi em todos os jogos, Renato Sanches que trouxe futebol para o lado luso.
O nível absurdo a que se encontra permite-lhe ter impacto em todos os momentos do jogo! É cada vez muito mais que um jogador de Transições. Em Organização Ofensiva, não erra, é o homem que não pode ser pressionado porque desmonta sempre em drible pressão – Mesmo que venha de Pogba ou Kanté! – que liga o jogo com qualidade até às zonas de criação – Com a França é dele o passe para a zona de criação que encontrou Moutinho no lance do empate, e é sobre ele a falta que valeu o primeiro golos. Já contra a Hungria havia estado nos golos, ora isolando Rafa, ora solicitando a presença interior entre linhas para a combinação Rafa – Ronaldo – e em Organização Defensiva, é o tanque que fecha os espaços, recupera a bola e encontra saída partindo o jogo nas suas acelerações.
Olhar para Renato como apenas aquele jovem cheio de potencial que surgiu em 2016 é um erro. Está um jogador completo e prova no Europeu que as épocas em França não foram um acaso. A “Máquina de Guerra” que joga bom futebol caminha para cumprir o seu destino, depois de um salto em falso para Munique aos dezoito anos."

Euro (2)


"Na semana passada versei sobre a indiferença que sinto pela selecção e obtive várias reacções, umas de estupefacção, outras de aprovação por razões erradas.
Sobre as primeiras, faço notar a irracionalidade do vínculo emocional no desporto. E se este é válido para a pertença, por que razão não o há-de ser também para o alheamento por muito que nos impinjam patriotismo artificial a roçar, na mensagem, o nacionalismo? E quanto às segundas, reafirmo que nada me move contra. Embirrar com esta ou aquela figura ou desaprovar isto ou aquilo na Federação não me condiciona. Se Portugal vencer, tanto melhor. Só que não tenho nada que ver com isso, tanto me faz.
Retrospectivamente, a minha indiferença terá começado na percepção de que Portugal não contava para o Totobola. Acresceu, em determinada altura, o escasso contributo benfiquista e o entendimento da selecção de tratar do pináculo dum futebol português podre. Depois uma certa arrogância, reconheço, por achar caricato haver tanta gente que, a cada dois anos, se tornava adepta de futebol 'a equipa de todos nós'. Mas também um princípio: para mim não há 'equipa de todos nós' se no todo se inclui quem manifestamente desprezo, não quero misturas.
Depois, em 1996, irritou-me a turba lusa, repleta de neoconvertidos ao futebol, reduzir à sorte a magnífico gesto técnico de Poborsky frente a Portugal. E, em 2004, apesar de ainda freneticamente entusiasmado com alguns golos portugueses, não senti qualquer tristeza pela derrota na final e guardei sobretudo indignação pela chantagem emocional de Scolari ao versar sobre patriotismo e a apelar por bandeirinhas (com pagodes) em cada janela. Foi o ponto final. E sinto pena: A alegria que teria tido em 2016..."

João Tomaz, in O Benfica

Futebol tem que sair do armário


"Na passada segunda-feira, Carl Nassib tornou-se o primeiro jogador no activo da NFL (campeonato profissional de futebol americano) a assumir ser gay. Nassib é jogador dos Las Vegas Raiders e publicou um vídeo nas redes sociais a partilhar a informação. Disse ele: 'Finalmente sinto-me confortável para tirar isto do meu peito, porque penso que a representatividade e visibilidade são muito importantes'. E acrescentou esperar que 'um dia, este tipo de vídeo deixe de fazer sentido'. Um dia, Carl? Amanhã já é tarde demais para isso.
Estamos em 2021 e ainda há quem olhe para o homossexualidade como um pecado, uma doença ou uma aberração. E quem vá para os estádios e redes sociais insultar outros seres humanos só porque amam de forma diferente da sua. No futebol profissional, no nosso futebol com bola redonda, mais do que assustadora, a realidade é hipócrita. Estima-se que 10% da população mundial seja homossexual, mas não no futebol praticado por homens ao mais alto nível. Aí continua a viver-se na Idade Média - nem lhes passa pela cabeça aceitar que, num plantel de 30 pessoas, pelo menos três atletas sejam gays. Tirando honrosas excepções, não há jogadores que assumam a sua orientação, seja por medo de represálias dos adeptos, dos patrocinadores, dos companheiros de balneário ou dos dirigentes.
Até quando? Provavelmente até ao dia em que um clube de dimensão internacional assuma a causa LGBTQ+ como sua e a defenda como deve ser defendida, colocando-se ao lado dos seus e suas atletas. Outras modalidades já evoluíram nesse sentido, como o rugby, o ténis ou a patinagem. O futebol no masculino continua a fingir que não se passa nada, como se esconder a cabeça na areia fosse a melhor política. Se as instituições não actuam, terão que ser os adeptos a fazerem ouvir-se."

Ricardo Santos, in O Benfica

O Engenheiro tem tudo controlado... acho eu


"Portugal ainda não enfrentou a França no preciso momento em que estou a redigir este texto, mas uma coisa é certa: só um autêntico descalabro pode retirar Portugal do Euro 2020 na fase de grupos. A história do futebol já provou diversas vezes que a teoria é apenas isso mesmo... teoria. Porém, em teoria... mesmo perdendo com a França por dois golos de diferença poderemos seguir em frente. Para esse resultado servir os interesses portugueses é necessário a Alemanha não perder com a Hungria, pelo que a derrota incontestável por 4-2 com os alemães foi extremamente importante para motivar os germânicos. O comum adepto tem a mania que sabe muito, mas o Engenheiro Fernando Santos está sempre um passo à frente.
A cada 10.000.000 de portugueses, 9.999.999 suspira pela titularidade do Renato Sanches desde o primeiro jogo. Acredito que, no jogo com a França, o Bulo será finalmente lançado de início. Aliás, já todos identificamos alterações capazes de melhorar o rendimento da selecção portuguesa, porque a excelente forma do Palhinha ou a potência do Nuno Mendes não podem continuar a ficar de fora. Para além disso, as fragilidades defensivas demonstradas com a Alemanha têm de ser corrigidas, porque se o Diego Armando Gosens fez o que fez... imagino o Mbappé. Assim, não tenho a mais pequena dúvida relativamente à equipa inicial de Fernando Santos para garantir um resultado que assegure a qualificação: Rui Patrício (GE), Nélson Semedo (DD), Diogo Dalot (DD), Pepe (DC), Rúben Dias (DC), José Fonte (DC), Nuno Mendes (DE), William (MDC), Danilo (MDC), João Palhinha (MDC) e Renato Sanches (PL). Bem sei o que estará o leitor a pensar neste momento: caraças, Pedro como é que tu sabias?"

Pedro Soares, in O Benfica

A alma do futebol


"Independentemente dos aspectos estritamente desportivos, o Campeonato da Europa já deu aos amantes do futebol algo assinalável: voltámos a ver estádios cheios. Há mais de um ano que tal não acontecia. E embora ainda não de forma generalizada, já foi possível, pelo menos em algumas partidas, saborear o futebol tal como o conhecíamos antes.
Ao longo deste período - demasiado longo e demasiado penoso - sofremos por ver bancadas despidas, sem cor, sem som e sem alma. Ficou dramaticamente demonstrada a falta que fazem os adeptos, e como o futebol é um quadro ao qual a moldura é absolutamente indispensável. No plano desportivo o Benfica foi o clube português mais penalizado, não só (como se sabe) com o próprio vírus, mas também com a ausência de público. Único no país capaz de encher todos os estádios onde joga, o nosso 'Glorioso' viu-se privado daquela que é, indiscutivelmente, uma das suas principais armas. E foram muitas as situações em que o grito oriundo das bancadas talvez pudesse ter galvanizado a equipa para melhorar resultados.
A pandemia não está ainda ultrapassada. Mas seria muito mau vivemos mais uma temporada desportiva de portas fechadas, mais um ano de futebol triste e meramente burocrático como aquele que, infelizmente, tivemos de suportar durante todo este tempo.
Quero acreditar que está próximo o momento de voltarmos a sentar-nos nas cadeiras do Estádio da Luz, e a festejar os golos do Benfica sem quaisquer restrições Já está longe o dia 2 de Março de 2020, data em que enchemos a Luz pela última vez. A saudade aperta. Acreditemos que o regresso está para breve."

Luís Fialho, in O Benfica

Futuro risonho


"Os campeonatos nacionais de sub-20, em atletismo, foram a prova provada da forma como o SL Benfica está a trabalhar no presente e a preparar o futuro. Em Viana do Castelo, as nossas equipas femininas e masculina alcançaram resultados que nos permitem sonhar com grandes conquistas na próxima década.
É verdade que estamos a destacar as nossas estrelas da modalidade - o triplista Pedro Pablo Pichardo, que voltou a brilhar em Madrid, com a melhor marca do ano, Samuel Barata, que domina o meio-fundo, Francisco Belo e Tsanko Arnaudov, os reis do lançamento do peso, o fantástico Paulo Conceição do salto em altura, o imparável Diogo Ferreira, na vara, o eterno Marcos Chuva no comprimento, a eterna Dulce Félix e a sensacional Marta Pen. Mas temos que olhar com muita atenção para as nossas estrelas - Isaac Nader (800 e 1500m), Leandro Ramos (dardo), Frederico Curvelo, Delvis Santos e André Prazeres, nos 100 e 200m, Gerson Baldé e Victor Korst, no salto em altura, Emanuel Sousa (disco), Etson Barros (3000m obstáculos), Edgar Campré (decatlo), Arialis Gandulla Martinez (100 e 200m), Ivanilda Lopes (disco) e Aleida Mendes (dardo).
Foram 38 os atletas que a professora Ana Oliveira convocou para honrarem a nossa camisola e devemos passar a fixar vários nomes, os juvenis Sisínio Ambriz e Leonor Ferreira (100 e 200m), e os juniores Diogo Barrigana (400m) e Camila Gomes (800 e 1500m). Elenquei apenas 17 futuras. A verdade é que o trabalho realizado, nos últimos 17 anos, tem sido notável - 166 títulos conquistados.
Seguem-se os campeonatos de Portugal, e os campeonatos nacionais de clubes, em Guimarães, nos próximos dias 3 e 4 de Julho, competição em que ambicionamos o 11.º título consecutivo."

Pedro Guerra, in O Benfica

sábado, 26 de junho de 2021

Grimaldo, o lateral desequilibrador


"O debate em torno de Grimaldo nunca foi sobre a sua indiscutível qualidade. Todos os anos, o seu escalpe é um dos mais procurados pelos jogadores adversários. O que sempre suscitou discussão entre analistas e adeptos do Benfica foi o seu alegado incumprimento nas tarefas defensivas. Um debate desnecessários, já que Grimaldo oferece tanto à equipa que, no final do dia, o espanhol sai largamente favorecido no seu deve e haver.
Nesta entrevista ao programa da Sporttv, Grimaldo foi honesto e transparente na forma como admitiu que o sistema de três centrais e, consequentemente de cinco jogadores no momento defensivo, lhe permite ser ainda mais diferenciador a atacar sem prejuízo do espaço que deixa nas costas. A verdade é que Grimaldo, além de defesa, foi sempre um dos jogadores mais desequilibradores da liga portuguesa.
Cada acção de Grimaldo com bola é uma anestesia de técnica num couro rebelde que perde a vida própria que lhe é garantida pelas viagens assistidas de jogador para jogador.
Todas as épocas, o lateral-médio está entre os jogadores com mais passes para golo e acções potenciais de golo. È um desbloqueador de jogo e é dos mais decisivos do campeonato. Um transformador de jogadas, catalisador de perigo para os adversários.
Oferece uma diversidade de caraterísticas muito rara na liga portuguesa, devido à sua impar capacidade de jogar por fora ou por dentro do bloco adversário, com criatividade, com intuição a definir e, na sua fase terminal das jogadas, com a imensa qualidade a servir os companheiros.
A iniciar a sua sétima temporada no Benfica, o internacional sub-21 espanhol é uma das incontornáveis, figuras da equipa e da competição, em Portugal, com assistências e golos. Aliás, apenas na sua primeira temporada no clube, quando chegou a meio da época é que não houve golos com a patente de Grimaldo. Em cinco épocas completas no Benfica, apontou 13 golos. Não há muitos laterais assim."

José Marinho, in O Benfica

Porto de abrigo


"A realidade pacífica e a segurança que vivemos em Portugal é tão natural e intrínseca à nossa vida quotidiana que muitas vezes, quando espreitamos o mundo que nos rodeia através do ecrã da televisão, computador ou telemóvel, a pobreza, a violência e o sofrimento humanos parece-nos distante e torna difícil desenvolver empatia e compreender o que sentem aquelas pessoas. De vez em quando, uma imagem mais forte consegue atravessar todas essas barreiras e toca-nos de forma mais concreta, comunicando com os nossos sentimentos.
Por isso é difícil sequer imaginar o misto de aventura e terror por que os refugiados, verdadeiros sobreviventes, tiveram que passar no caminho que os trouxe até nós. Homens ou mulheres, adultos ou crianças, fugiram da morte certa para um caminho incerto, sem retorno e sem outro consolo que não o de partilhares perigos e destino com outros caminhantes, companheiros de infortúnio. Fugir para sobreviver, farejar perigos e escapatórias durante meses. Ouvir estórias remotas de sucessos e tragédias, acicatando os medos e procurando forças para os superar a cada dia até ao dia derradeiro em que de um lado do passo está um passado sombrio e doloroso e do outro um futuro ensolarado, feliz e seguro tantas e tantas vezes sonhado.
Porque é que falo disto a propósito do Dia Mundial do Refugiado e do trabalho da Fundação Benfica no projeto 'Welcome through Football' de acolhimento e integração de refugiados por Fundações de grandes clubes europeus com o apoio da Comissão Europeia? Para contextualizar bem a importância e o carácter humanitário desse trabalho e a relevância social do Sport Lisboa e Benfica ao criar e manter uma Fundação a quem os benfiquistas mandatam a solidariedade sem fim que brota dos nossos valores e da nossa Mística, fazendo deste imenso Benfica um verdadeiro porto de abrigo!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Núm3r0s d4 S3m4n4


"2
Esta coluna foi dedicada por inteiro a Jardel na semana passada, pelo que é com atraso que se enaltece a dobradinha da nossa equipa feminina de polo aquático. E também o 3.º lugar no campeonato de andebol (feminino), que poderia ter sido melhor, porém há que referir que esta se tratou apenas da segunda época após o regresso benfiquista ao escalão maior (e 2019/20 não chegou a ser concluída);

8
Neste fim-de-semana terá início a final do Campeonato Nacional de hóquei em patins (feminino). 8 é o número de títulos consecutivos que a nossa equipa procurará alcançar;

17,69
Pichardo fez a marca do ano no triplo salto contribuindo, assim, para o crescente entusiasmo em torno da sua participação olímpica. E não deixa de ser curioso como, para alguma comunicação social, de 'atleta cubano do Benfica' tem vindo a evoluir para 'o português'. Consiga ele o tão almejado ouro em Tóquio e não me admirarei que essa mesma comunicação social tergiverse acerca do feito do atletismo português e pelo caminho tente sonegar o contributo benfiquista;

30
'Falta 30 metros ao futebol português', dizia-se no final dos anos 80. Ter visto a exibição confrangedora de Portugal frente à Alemanha relembrou-me este axioma ultrapassado. Só que hoje, ao contrário desses tempos, são ratos os treinadores portugueses de topo que enveredam por este tipo de futebol e todos os jogadores da selecção portuguesa jogam ao mais alto nível, a maior parte no estrangeiro. Só faltam 30 metros por opção. E o responsável chama-se Fernando Santos. Dir-me-ão que venceu em 2016, mas não me peçam explicações e muito menos questionem o obreiro desse feito, que não vale a pena. Por óbvias que sejam as respostas, não se espera que o acaso as dê."

João Tomaz, in O Benfica

Editorial


"1 - A equipa de futebol profissional do Sport Lisboa e Benfica esta de regresso ao trabalho, com testes médicos que arrancam esta sexta-feira no Seixal e no sábado no Hospital da Luz. É o pontapé de saída de uma nova época com ambições redobradas e onde, finalmente, esperamos, todos, poder contar com o apoio dos nossos adeptos. E que tanta falta nos tem feito! Estamos certos de que farão uma imensa diferença e nos vão ajudar e almejar os títulos que tanto desejamos. Lembro-me sempre da frase de Neil Amstrong quando pisou a Lua e exclamou: 'a magnificent desolation'. Uma excelente síntese do que tem sido este futebol de pandemia nos estádios, num vazio que a todos priva na emoção, na intensidade e vivência de um jogo que sem público perde muito da sua essência. Vai ser diferente, para muito melhor. Assim a variante Delta não comprometa o desconfinamento. Estamos juntos!

2 - Rodrigo Pinho, um dos reforços para a nova temporada, falou em exclusivo ao Jornal O Benfica. É uma lógica que pretendemos oferecer todas as semanas aos nossos leitores: conteúdos diferenciados capazes de tornar a nossa informação ainda mais apetecível. Na conversa com os nossos repórteres destacou a enorme responsabilidade que representa vestir a camisola do Benfica e traçou objectivos claros: conquistar títulos naquele que é o maior desafio da sua carreira. O avançado brasileiro já está familiarizado com as dinâmicas do Benfica Campus, numa recuperação que começou há algumas semanas com o propósito de estar a 100 por cento no dealbar dos trabalhos e assim poder retribuir com golos e confiança nele depositada.

3 - O projeto Eco Benfica merece igualmente destaque nesta edição, num merecido reconhecimento pelo trabalho que está a ser desenvolvido pelo Clube no respeito por uma crescente sustentabilidade ambiental, a juntar à sustentabilidade financeira e à enorme responsabilidade social que tem acompanhado o trajecto do Sport Lisboa e Benfica ao longo dos últimos anos. É com orgulho que acompanhamos a presença do nome Benfica nos maiores fóruns internacionais em defesa do ambiente."

Pedro Pinto, in O Benfica

William Saliba | Uma opção viável para a Luz?


"A ligação entre William Saliba e Arsenal FC é sol de pouca dura. Arteta não conta com ele, e Saliba tem a porta da saída escancarada. SL Benfica, Olympique de Marseille e Stade Rennais FC perfilam-se como opções de continuidade e, depois de dois anos emprestado, é hora de consolidar presença no plantel principal de uma equipa que lute por títulos.
Como na questão Guendouzi, SL Benfica e Marselha são os mais prováveis em assegurar o passe do jovem defesa-central. Custou 30 milhões de euros aos Gunners em 2019, mas em Londres não cumpriu qualquer minuto na primeira equipa, emprestado sucessivamente a Saint-Étienne e OG Nice.
As semelhanças com a situação de Jean-Clair Todibo não podem tornar-se obstáculo à aproximação do clube da Luz: é internacional jovem francês, é-lhe reconhecido enorme potencial e desenvolveu capacidades no OG Nice nos últimos meses – todos esses paralelismos apontam para oportunidade única de emendar o erro de apreciação cometido com a devolução de Todibo ao FC Barcelona, em janeiro último.
William Alain André Gabriel Saliba, de origem francesa e ascendência camaronesa, desperta para o futebol em Saint-Étienne. Nascido em 2001, ingressa nos escalões formativos do AS aos seis anos, escalando até aos seniores e onde se estreia em 2018, com 17 anos.
Em 2018-09, completa 16 jogos na Ligue 1, assumindo-se como titular na reta final da temporada: nas últimas sete jornadas da Liga francesa, é titular em seis. Os colossos reparam nele, obviamente. Arsenal FC é o mais conclusivo nas suas intenções, e desembolsa trinta milhões a pronto para afastar potenciais compradores: entre eles já estava o SL Benfica, que sondou o jogador após a conquista 37º título, assinado por Bruno Lage.
Com valores impraticáveis para a realidade benfiquista, cedo o clube se remeteu a papel secundário. O Arsenal FC fechou negócio rapidamente, reconhecendo, porém, uma certa precipitação ao manter a pérola em Saint-Étienne para aprimorar qualidades – achou-se que não estava preparado para a Premier League. Unai Emery dava o mote: “Estamos muito felizes por William se juntar a nós. Interessava a muitas equipas, mas ele optou pelo Arsenal e decidiu fazer parte do nosso futuro. Permanecerá em França na próxima temporada para obter mais experiência e esperamos tê-lo connosco a tempo inteiro na época seguinte”.
Nesse verão é eleito pela UEFA como um dos “50 jovens promissores a acompanhar” em 2019-20. De estatuto reforçado, só uma lesão prolongada como a fratura do metatarso, sofrida em novembro, impediu que se cimentasse como imprescindível do conjunto: apenas recuperou três meses depois, regressando em janeiro (período durante o qual falhou 15 jogos).
Ainda assim, conseguiu acumular 17 presenças em todas as competições (1441 minutos, uma média de 84’ por participação), sendo peça importante na caminhada da equipa até à final da Coupe de France, onde não chegavam desde… 1981-82.
A interrupção por motivos pandémicos bloqueou a evolução do defesa. De regresso a Londres, não encaixava nos planos de Arteta. “Quando cheguei, o Arsenal tinha acabado de terminar a época. Não treinei com a equipa, não treinava há meses”, afirmava Saliba aos microfones do RMC Sport e em declarações reproduzidas pelo Transfermarkt em Janeiro de 2021. “A equipa foi de férias e eu fiquei a treinar sozinho. Quando voltaram, tive uma semana com eles, em conjunto. Jogámos dois ou três amigáveis, mas eu não tinha ritmo. Queria continuar, mas o treinador decidiu o meu caso nesses dois jogos e meio”.
Não contava. Até janeiro, seis jogos pela equipa de reservas dos Gunners, sendo aí que surge a hipótese OG Nice: não hesitou. Às ordens de Adrean Ursea, técnico interino dos franceses, assumiu-se prontamente como titular – sete titularidades nos primeiros sete jogos e prémio de Jogador do Mês para a Ligue 1.
Terminou o ano com 20 jogos completos, 1800 minutos e um golo marcado. Só o episódio caricato de uma partilha de vídeos de cariz sexual, num escândalo que envolveu alguns colegas das seleções jovens francesas e que chegou às últimas instâncias governativas do futebol francês, fazendo soar alarmes em Clairefontaine, podia limitar a sua ascensão desportiva enquanto certeza gaulesa.
Se Mikel Arteta achava que o jovem não estava pronto para a Premier League, ainda com pior impressão terá ficado a partir desse momento: a novela da contratação de Ben White, central inglês do Brighton FC que o Arsenal FC persegue há semanas, confirmou os piores indícios – Saliba não conta para o técnico espanhol.
Surgem agora duas hipóteses: mais uma época de empréstimo, desta vez ao Newcastle United FC, principal opção para os responsáveis ingleses; ou a saída em definitivo, vontade do jogador, que vê cada menos espaço no Emirates.
É aqui que surge o SL Benfica como hipótese para o seu futuro, numa luta a três entre portugueses e franceses, com Olympique de Marseille e Stade Rennais FC como interessados.
Na Luz, ainda se espera resolução do caso Vertonghen, ouvindo as suas pretensões e como se podem conciliar com as de Jorge Jesus, que demonstrou confiança reforçada em Lucas Veríssimo e Otamendi como parelha preferencial nos momentos de defesa a quatro, só integrando o veterano belga em ocasiões de 3-4-3.
Qualquer que seja a vontade do técnico, o belga ofereceria qualidades significativas, tanto no campo como no balneário, essenciais numa fase pós-Jardel. Contudo, sem essa quarta opção, resta optar pelo regresso de Ferro, a aposta definitiva em Morato como solução viável e com bastantes minutos ao longo da temporada ou abordar o mercado na busca por alguém que se enquadre no perfil técnico da equipa.
William Saliba, com o seu conjunto de características específicas – velocidade de reação, facilidade no controlo de bola e agressividade nos duelos – encaixaria que nem uma luva no projeto encarnado, representando, no entanto, avultada operação financeira: novo empréstimo não seria do agrado nem do jogador nem dos responsáveis encarnados, que pretendem assegurar talento que possa ser desenvolvido a longo prazo no Seixal."

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Gil Dias


Anúncio da 2.ª contratação, novamente no mercado interno, desta vez, Gil Dias. Jogador que pertencia ao Mónaco, mas que tem passado por vários empréstimos, o último em Famalicão...
Foi um jovem muito pretendido, mas tem tido dificuldade em confirmar como sénior o potencial que demonstrou quando era mais novo... Não era a minha 'primeira opção', mas com o historial do Jesus em adaptar extremos a laterais (o Digui na última época, por exemplo...), pode ser que resulte!
Como extremo até pode jogar nos dois flancos e inclusive como 9,5!
Aliás ofensivamente tem de facto muito potencial, tem drible e passe... vamos ver como se adapta à pressão do Benfica, e ao esquema táctico... muito provavelmente o 343!
Agora não me parece uma primeira opção para a titularidade...

1.ª dia....


Começou hoje a época 2021/22, com os habituais exames médicos e ainda com muitas indefinições no plantel. Com o início da Liga e com as duas pré-eliminatórias da Champions logo no início de Agosto, o tempo é curto...

Apresentaram-se: Chiquinho, David Tavares, Ferro, Paulo Bernardo, Cervi, Gabriel, Grimaldo, Henrique Araújo, João Ferreira, Weigl, Svilar, Nuno Tavares, Samaris, Pizzi, Samuel Soares, Tiago Gouveia, Tomás Araújo, Krovinovic e Waldschmidt.
Em quarentena por precaução: Helton Leite, Gilberto, Morato e Vinícius.
Entregues ao departamento médico: André Almeida, Lucas Veríssimo, Diogo Gonçalves, Darwin, Rodrigo Pinho e Tiago Araújo.
Nas seleções: Rafa, Seferovic, Everton, Otamendi e o Vertonghen.
Apresentação 'atrasada' devido a seleções: Gonçalo Ramos, Odysseas, Florentino, Tomás Tavares, Jota, Gedson e Taarabt.

Muitos jovens da B, mas suspeito que somente o Tomás Araújo e o Morato terão lugar no plantel principal... gostaria de ver o Tiago Gouveia e o Paulo Bernardo com tempo de jogo na pré-época! O Henrique, o Tiago Araújo, o David e o João Ferreira deveriam ser emprestados a equipa da I Liga... tal como o Jota e o Tomás Tavares.
Chiquinho, Cervi e Nuno Tavares parece que estão de saída... e não acredito na permanência do Ferro, nem do Gesdon!
A permanência do Vinícius seria uma grande notícia... tal como o Florentino.
Com boas propostas vendia o Weigl, o Gabriel, o Rafa, o Seferovic, o Odysseas e o Grimaldo!
A situação do Gilberto vai depender da recuperação total ou não, do Almeidinhos... já em relação ao Krovi, a jogar com 3 Centrais, poderá fazer a posição do Adel tão bem ou melhor!
Aliás será importante perceber se os lesionados mais graves, vão ou não estar disponíveis e em forma para os primeiros jogos oficiais, principalmente o Lucas e o Darwin!
Os rumores indicam que o Nzonzi, o Ugarte e o Gil Dias estão 'confirmados'... se os dois primeiros são consensuais, em relação ao Gil se vamos continuar a jogar com 3 Centrais parece-me uma boa 2.ª opção!
O Vinagre seria bem-vindo... e estamos a precisar de extremos!!! João Mário, não por favor...

38


"Em cima: Marcelo (que colocou o SLB nas meias finais da Taça de Portugal, batendo Nuno Espirito Santo com a resposta de cabeça a um cruzamento rasteiro), Ricardo (que ainda não era Gomes), Kenedy (antes de chumbar controlos anti doping) Hélder (a 8 anos de discutir uma braçadeira de capitão com o actual director de relações internacionais), Brassard (um dos maiores suplentes do futebol português), e agora preparem-se mentalmente para os 5 que seguem, Paulo Pereira, Paulão, Hassan, Paredão, King (que nem para a porra de uma foto se conseguia posicionar condignamente).
No Meio: Pedro Henriques (uuiiissshhh), Dimas (quando ainda vestia bem), Calado (se fizesse juz ao nome, era um poeta), Luiz Gustavo (que substituiu outro Luiz Gustavo no plantel, partilhando nome e falta de jeito), Bruno Caires (o falso lento que era mesmo muito lento)
Sentados: Preud'homme (Saint, se faz favor) Veríssimo (El Rey de las buelas paradias), Paulo Bento (já era cliente do tal cabeleireiro), Edgar (que ao contrário do Beto, assinou mesmo pelo Real Madrid), Marinho (junto com Amaral, foi a resposta de Manuel Damásio à pilhagem do Pacheco e do Paulo Sousa e não vale rir, porque isto é motivo para chorar), JVP (antes de ser dispensado pela direção que tinha como vice presidente para o futebol José Capristano), Valdo (até sentado tinha classe), Iliev (talvez o último jogador a ser contratado pelo SLB depois de treinos à experiência), Panduru (o lado esquerdo do pirilau do Autuori) e Veiga (só contou para a foto).
Entre meados de verão de 1995 e início do de 1996, acordei todos os dias a olhar directamente para a foto do (vamos-lhe chamar assim) plantel do SLBenfica, que sob o comando de Artur Jorge posava alinhado em frente a umas decrépitas bancadas do Estádio do Jamor, onde estava meia dúzia de transeuntes, que podiam muito bem estar mais capacitados para representar o Glorioso do que a maioria das personagens equipadas de encarnado e branco. Sem saber se por ingenuidade juvenil ou fanatismo Benfiquista, colei este poster na parede do quarto por acreditar genuinamente que estava ali o futuro campeão nacional. Os nomes não contavam para o meu totobola, só as camisolas e o emblema tricotado ao peito.
A idade traz maturidade a muita gente, mas pelo menos quando o Benfica é o assunto, essa verdade passa-me totalmente ao lado. Mesmo com um presidente que desprezo, um treinador que odeio e um plantel cuja formação ainda desconheço, olho para o pontapé de saída da temporada 21/22 como a preparação da festa do 38. O cortejo de campeão começa hoje. Façam exames médicos aos atletas, mudem o óleo ao autocarro descapotável e comecem a montar o raio do palco techno. Até com 11 Gilbertos só paramos no Marquês. Mais magros, com os sistemas nervosos profundamente alterados e quase todos divorciados, mas bêbados de glória. Isto é mais do que acarditar, é acertezar. Saiam da frente ou sejam atropelados com estrondo. Cá vai o Sport Lisboa e Benfica 21/22."

O grande baile do Ballet Azul


"Chamavam-lhe Ballet Azul. Tinham um jogador mágico, de proteção divina. Pés de Deus, diziam alguns. Alfredo Stéfano Di Stéfano Laulhé, assim mesmo, de nome repetido, nascido em Buenos Aires. Quando começou a jogar pelo River Plate, em 1945, com 19 anos, os companheiros perdiam as estribeiras com ele: só via a baliza. Fixava os olhos naquele retângulo de madeira que ficava lá do outro lado do campo, media o tamanho do guarda-redes adversário, e partia na sua velocidade de flecha que lhe valeria uma alcunha, La Saeta Rubia, devastando defesas à medida da sua cavalgada que era digna de um flagelo. Os seus colegas de equipa, ignorados e despeitados, não tinham remédio se não festejar com ele as vitória que bastas vezes arrancava sozinho. Quando lhe perguntavam quem era o melhor jogador do mundo, respondia com humildade: «Don Adolfo Pedernera, sin dudas».
Foi lado a lado com Adolfo Pedernera que chegou à Colômbia, em 1949. Com eles ia outro abençoado ao qual a bola obedecia sem reclamar: Nestor Rossi. Alfredo Senior, presidente do Millionarios de Bogotá, tomara a decisão irreversível de criar a melhor equipa do universo, gastasse o dinheiro que gastasse, e tirar proveito da sua fama para se dedicar à política com o decorrer da idade. A Colômbia desse tempo fervilhava de jogadores de todas as nacionalidades como uma verdadeira Babilónia. Se o Millionarios era o clube dos Argentinos, os clubes de Cali e Medellín contrataram todos os grandes jogadores peruanos. Em Barranquilla concentravam-se os brasileiros. Em Santa Fe, ingleses, italianos e húngaros. O povo gostava e enchia os estádios. Alfredo e Alfredo enchiam os bolsos. O clube não se chamava Millionarios por mero acaso.
Alfredo Di Stéfano foi campeão colombiano com o Millionarios. Campeão de um Campeonato Pirata já que não reconhecido pela FIFA que expulsara a Federação Colombiana do seu seio por os seus clubes se recusarem a pagar o preço das rescisões dos jogadores que iam buscar a todo o lado. Alfredo Senior estava-se perfeitamente marimbando para a FIFA. Cumprira o que prometera e fizera do Millinarios a melhor equipa da Terra e, em princípio, de todo o sistema solar.
Di Stéfano tinha um profundo respeito por Adolfo Pedernera. Com ele não fazia farinha. A Saeta Rubia passou a aprender a permitir que os seus companheiros contribuíssem activamente nos movimentos de ataque que a sua imaginação pródiga inventava a todo o momento. Com Pedernera e Rossi, com Julio Cozzi e Antonio Baéz, com Reinaldo Mourin, Alfredo Mosquera e Hugo Reyes, aos quais se juntaram os tremendos uruguaios Hector Scarone e Shubert Gambetta, o treinador Carlos Aldabe passava horas e horas tranquilas no banco de suplentes, dando-se ao luxo de dispensar os cigarros. O público fazia filas infindas na tentativa de arranjar um lugar em El Campín. Havia gente que ia de véspera e dormia no chão em frente dos portões do estádio. Até o jovem Che Guevara e o seu amigo Alfredo Granado, que viajavam pela América na garupa de uma motoreta, mergulharam nessa confusão. Nunca se vira nada assim. E a inveja não tardou a medrar, como é seu hábito.
Em Madrid, o presidente do Real, Santiago Bernabéu, quis comemorar com pompa os 50 anos do clube. Bernabéu queria ir além do que fizera Alfredo Senior e fazer do Real o clube mais incandescente do mundo civilizado. A ideia de contratar Alfredo Di Stéfano tornou-se fixa. Mas primeiro tinha de o fazer conhecer a Europa e o futebol dos madridistas. No dia 15 de março de 1952, as estrelas dos Millionarios pousaram na capital espanhola.
O Ballet Azul passeou-se um pouco antes do prometido confronto de Chamartín que iria tirar teimas sobre quem era, de facto, a melhor equipa do mundo. Tudo foi organizado ao jeito de um combate de boxe – Santiago Bernabéu exigiu um KO aos seus rapazes. Um KO principescamente pago.
Em Mestalla, frente ao Valência, o público desiludiu-se: 0-0. Em seguida, uma viagem até Las Palmas e uma derrota (2-3) frente ao Unión. Depois, em Chamartín, novo empate, desta vez por 2-2, perante o Norköping da Suécia. ‘Joder’, queixava-se a imprensa e o público espanhol, «adonde están las estrellas?».
Di Stéfano, Pedernera e os seus acólitos pareciam ter estado a guardar-se para o grande confronto de 30 de março. Mais de 40 mil pessoas puderam assistir, finalmente, aos passos ritmados do Ballet Azul. O Real Madrid foi reduzido a uma equipa de província. «Millonarios el mejor equipo del mundo – Lo más grande que ha visto Madrid», trazia, no dia seguinte, em manchete, o El País. Don Alfredo marcara dois golos nas duas primeiras oportunidades que lhe surgiram. A forma como os sul-americanos bailavam por entre os jogadores madrilenos tornava-se aporrinhante. Baéz e Perdernera marcaram os outros dois golos e houve quem atirasse chapéus para dentro do campo como se estivesse numa arena. O perfume azul das violetas de Bogotá enchia todos os espaços de Chamartín."

O desporto, as grandes competições desportivas e a política


"O desporto apresenta-se como um facto social massivo. Ele tornou-se uma vitrina da vitalidade e da grandeza das nações. As relações entre desporto e política são, não raras vezes, objeto de apreciações contraditórias. De um lado, temos os atores do mundo desportivo (dirigentes, praticantes, educadores ou jornalistas) que acreditam num desporto apolítico. Veem nos grandes confrontos internacionais desportivos momentos privilegiados de fraternização entre as nações. Do outro lado, para a imensa maioria dos sociólogos e historiadores desejosos de compreender o fenómeno desportivo, são inúmeras e variadas as manifestações políticas no desporto. De facto, o desporto é promovido como um instrumento de propaganda política (Wahl, 2004).
A queda do Muro de Berlim, em 1989, e o desmoronamento do sistema comunista, colocou em causa o modelo do desporto utilizado como meio de propaganda política. Todavia, se colocou em causa o modelo, não modificou a substância. Os grandes eventos desportivos, como o Mundial de Futebol ou os Jogos Olímpicos, continuam a ter um papel importante nas relações internacionais. Continuam a ser um terreno de confronto entre Estados rivais. Para os países que os acolhem, as competições desportivas são a ocasião de mostrar ao mundo as capacidades de organização e de acolhimento da nação. A conquista de taças e medalhas é fonte de rivalidade entre os Estados. E na “diplomacia do pingue-pongue”, procura-se apagar as incompreensões do passado, como diria o Presidente Richard Nixon (1913-1994). Não existe nada de novo. O renascimento dos Jogos Olímpicos, em 1896, já estava impregnado dessa vontade em pacificar as relações entre as nações. E os Jogos da Antiguidade procuravam a instauração de uma trégua no seio do mundo grego.
Em 15 de maio de 2004, as televisões comunicam ao mundo uma notícia histórica para o desporto. A Federação Internacional de Futebol (FIFA) atribuiu à África do Sul a organização do Campeonato do Mundial de Futebol de 2010. A candidatura sul-africana derrotou o Egipto e Marrocos. A população africana saiu às ruas para festejar a escolha do continente africano como terra de acolhimento de um dos maiores eventos desportivos do planeta. Recorde-se aqui que a África do Sul já tinha acolhido dois importantes eventos: em 1995, o Campeonato do Mundo de Rugby; e, em 2003, o de críquete, dois desportos de origem inglesa. Mas esta escolha tem um outro significado: ele assinala a saída definitiva da África do Sul do apartheid (regime de segregação racial), dois anos depois da eleição de Nelson Mandela (1918-2013). Esta decisão dá, pela primeira vez, à África a possibilidade de organizar a competição desportiva internacional mais popular. A escolha parece demonstrar, pelo menos em aparência, o fim do eurocentrismo e o americanismo do mundo desportivo (Pivato, 2004). A maior parte das vezes, o Mundial de Futebol se desenrola nos continentes europeu e americano. E isso também vale para os Jogos Olímpicos.
Não podemos resumir o combate ao racismo na atribuição do Mundial de Futebol à África do Sul. No decurso da última década do século XX, o desporto partiu em luta contra os velhos demónios e as grandes competições desportivas testemunham uma recusa cada vez maior do racismo. A emblemática utilização do desporto pelos regimes ditatoriais, como foi o caso dos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, ficou, felizmente, para trás.
O desinteresse pela política, fenómeno generalizado no mundo ocidental, conduz o cidadão a se identificar, no seu próprio país, com os desportos nacionais, mais do que através das instituições do Estado ou dos símbolos políticos. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, sabe isso muito bem, quando declara, em Budapeste, em 15 de junho de 2021, que todos deveriam estar focados no jogo da seleção portuguesa contra a Hungria. Com isso, recusou comentar as palavras do primeiro-ministro, António Costa, afastando um conflito institucional entre os dois. “Hoje é dia de futebol, e aqui estamos todos unidos em torno do futebol e, portanto, eu não vou agora estar a falar de outros temas, porque é desconcentrar o fundamental. Temos de estar focados, e estamos todos focados: o senhor primeiro-ministro, o senhor presidente da Assembleia da República, eu próprio, o senhor presidente [da Federação Portuguesa de Futebol] Fernando Gomes, os portugueses todos”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa. No fundo, pede-se ao desporto, em geral, e ao futebol, em particular, a resolução de curar os males da sociedade.
Desde 1952, ano de entrada da União Soviética nos Jogos Olímpicos, até à queda do Muro de Berlim, as grandes competições desportivas internacionais constituíram um terreno de confronto permanente entre as superpotências rivais que encarnam dois estilos de vida e economias opostas: capitalismo e comunismo. Pela proeza dos atletas, queria-se denotar o primado moral de um sistema sobre o outro. O futebol continua a ser a expressão do orgulho cidadão e nacional. Ele transformou-se num “esperanto” universal. A “pátria desportiva”, que é criada nos estádios e na televisão, redefine as próprias fronteiras. Mas a descentralização das grandes competições desportivas para os países em vias de desenvolvimento, mesmo se ela se torna numa necessidade pelo número e pela democracia inerente às grandes organizações internacionais, não toca no monopólio económico detido pelo Ocidente. Os poderes políticos mantêm relações tortuosas com o desporto. E é mais do que evidente a politização crescente dos encontros desportivos internacionais."

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Filip Krovinovic | Um regresso com a bênção de Jesus


"Numa altura em que o SL Benfica procura por um ‘8’ no mercado, uma das soluções poderá passar mesmo pelo regresso de um dos (muitos) jogadores emprestados. Filip Krovinovic, médio croata de 25 anos, deverá regressar à Luz para realizar a pré-época sob o comando de Jorge Jesus.
Na temporada 2020/2021, Krovinovic esteve ao serviço do West Bromwich Albion, na Primeira Liga Inglesa, e do Nottingham Forest, na Segunda Liga Inglesa. O croata tinha sido emprestado ao emblema do primeiro escalão inglês na temporada 2019/2020, onde realizou 43 jogos e marcou três golos.
Devido ao bom desempenho, os responsáveis quiseram avançar para um prolongamento do empréstimo por mais um ano, mas acabou por ser mais curto dado que, em janeiro de 2021, Krovinovic rumou ao Nottingham Forest FC, onde realizou 31 jogos, totalizando 2248 minutos.
Tal como já foi referido, Jorge Jesus procura um jogador capaz de desempenhar a posição de médio-centro e vai experimentar o croata nessa mesma posição. De relembrar que Adel Taarabt deixou “muito a desejar” nessa função devido à sua impaciência na construção de jogo, à sua ineficácia de passe e, sobretudo, ao pouco golo que apresenta. Nestes parâmetros, Krovinovic poderá acrescentar e, eventualmente, jogar até numa posição de avançado recuado à semelhança do que fez na sua primeira passagem pelos encarnados.
Ainda que há umas semanas tenha sido noticiada a tentativa dos responsáveis do Nottingham Forest FC em avançar para a contratação em definitivo do médio croata, o interesse “caiu por terra” e levou Krovinovic a decidir apresentar-se na Luz no próximo dia 28 de junho.
Segundo o transfermarkt.pt, Filip Krovinovic está avaliado em quatro milhões de euros, valor muito próximo daquele que foi pago pelo SL Benfica ao Rio Ave FC em 2017, cerca de três milhões e meio. O médio croata tem contrato com as águias até 2023."