sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Acima da lei?


"Por estes dias, fomos atacados por um antigo presidente do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), que veio alegar que o actual ministro da Educação lhe terá dito que o Benfica está acima da lei. Isto tudo a propósito de uma decisão injusta e ilegal, da autoria do senhor Augusto Baganha, o tal presidente do IPDJ, que em 30 de Julho ed 2017 retirou a licença ao SL Benfica para realizar espectáculos no seu estádio por incumprimento do regulamento de segurança. Esta decisão pôs em risco a realização, na Luz, do primeiro jogo do campeonato da época 2017/18. Os advogados do Benfica conseguiram provar que o nosso regulamento de segurança estava de acordo com as exigências do IPDJ, que havia dado um parecer positivo, em 2014. Pelo que a decisão senhor Baganha foi completamente absurda, própria de um confesso sportinguista, membro da comissão de candidatura do presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, e que nesta semana até ao Porto Canal foi destilar o seu antibenfiquismo. Ou seja, continua a valer tudo para perseguir o Benfica. Em 2018, o IPDJ levantou-nos 14 processos por cada jogo realizado na Luz, condenando-nos numa multa de 56250€ e um jogo à porta fechada. Os nossos advogados conseguiram ganhar no Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, em 13 de Novembro de 2019, provando que 'não se verifica apoio, mas apenas cumprimento da lei quando o Benfica permite às claques ostentarem, no seu recinto desportivo, faixas ou tarjas, o que aliás é permitido aos demais adeptos'. O IPDJ através do Ministério Público, recorreu para o Tribunal da Relação de Lisboa, que em 14 de Julho deste ano deu razão ao Benfica. Pelo que assistir ao que temos assistido só pode causar indignação."

Pedro Guerra, in O Benfica

2+2=5


"Não, não é uma conta errada, mas uma fórmula mágica. A fórmula da sinergia, palavra tantas vezes empregada e outras tantas vezes incompreendida na sua verdadeira acepção, alcance e valor. Sinergia é o que se procura, e faz falta para produzir mais e melhores resultados com uma gestão inteligente dos recursos disponíveis, sempre escassos. A magia da sinergia é conseguir resultados aparentemente impossíveis em que o todo supera a soma das partes. Como se faz isto? Acima de tudo, com união e cooperação, formando equipa e mobilizando energias, vontades e saberes em torno de um objectivo comum. No caso do Benfica, faz-se com uma enorme paixão e com uma crença inabalável da capacidade colectiva quando se potencia o melhor de cada um e se articula com mestria, norteada por estratégia e mística embalada pelo querer de milhões. É assim no futebol, mas é assim também nos outros domínios da vida dos grandes clubes, responsabilidade social incluída.
Mas gerar e gerir sinergias é uma arte, e o milagre não acontece nem por decreto nem sem uma grande quantidade de esforço e perseverança. Sabemos como é difícil construir uma equipa e a importância que ela tem. Como sabemos a dificuldade de garantir cooperação entre instituições, que às vezes se cruzam no campo a competir entre si e que, ainda assim, têm a largueza de pensamento e a nobreza de agir em conjunto em benefício do desenvolvimento humano ou da preservação do ambiente, para citar dois importantes domínios. Mas os grandes clubes, os que têm verdadeiramente noção da sua grandeza e importância, sabem que têm uma enorme responsabilidade para com a sociedade que os rodeia e suporta, e não lhes é indiferente a vida para lá do futebol. Também sabem que é cooperando entre si, às vezes coopetindo, trabalhando em conjunto e partilhando apreendizagens e saberes, que podem ir além de si próprios e beneficiar desse milagre que a sinergia possibilita em prol da sua importante missão social. É isso que junta no dia a dia na acção, ou semestralmente na troca de conhecimento, tantos e tantos clubes europeus. Por isso, obrigado à EFDN (European Football for Development Network) pelo seu fantástico trabalho de que a Fundação Benfica é parte integrante e reconhecidamente muito activa desde a primeira hora!"

Jorge Miranda, in O Benfica

Dali, já nada nos admira...


"1. No futebol, agora é que se vai ver. Após mais uma daquelas exógenas paragens 'de selecções' que todos desejamos tivesse, ao menos, podido ser regeneradora nos planos colectivo e individuais, agora é que se verá, acerca das capacidades de alguns dos atletas e, em termos dois grupos nos clubes, se acaso, neste ano, o cansaço acumulado por treinos e ambientes diferentes, viagens continentais e intercontinentais e jogos disputados em sistemas diversificados, a somar à velocidade de cruzeiro dos campeonatos e taças em Portugal, realizados em plena pandemia, não lhes terá perturbado o rendimento físico, fisiológico e mental.
2. Ao fim das duas soluções de continuidade que, nesta mórbida conjuntura pandémica, interromperam um calendário já tão (desnecessariamente e) espuriamente sobrecarregado, confesso que só me interessa concluir pelo que vi na 'triste vida' da selecção e pelo que venha a ver do rendimento próximo dos nossos atletas que honradamente envergam as camisolas com a cor do nosso sangue... É com eles que me preocupo, visto que - respeitando o seu esforço - é só deles que espero que se consigam desdobrar e superar, em todas as frentes de competição.
3. Nunca jogamos sozinhos. E, sabendo-se que em alta competição a excessiva auto-confiança é sempre o primeiro factor que nos pode trair, a melhor postura competitiva de alguém que alguma vez passe pela honra de ser chamado a envergar o 'Manto Sagrado' é manter presente que sempre encontraremos pela frente antagonistas totalmente dispostos para nos testarem até aos seus limites (nem sempre legais...) a nossa resistência física, o talento de execução de que dispomos e, acima de tudo, o espírito conjuntivo, tão essencial numa modalidade eminentemente colectiva como o 'football association'.
4. Vem aí um mês de inferno: pela nossa parte, disputaremos oito jogos de crescentes índices de responsabilidade, em diversas competições, no curto espaço de um mês. E volto a acentuar: não os disputaremos sozinhos. Em cada uma dessas jornadas iremos ser radicalmente posto à prova, não se admitindo por isso, em qualquer delas, nem as 'ternuras' do jogo 'artístico', nem mais 'experiências' posicionais geradoras de instabilidade e insegurança, nem, muito menos, as antecipadas 'manias de grandeza' que geralmente tornam fatais até as mais óbvias oportunidades de vitórias tidas como certas.
5. Também acontece que três dos nossos principais competidores de mantêm igualmente em todas as provas, enquanto o quarto foi 'graciosamente' dispensado pelos deuses do futebol europeu, de modo a poder concentrar-se, nem mais folgado do que os outros, na excitante miragem de uma remota utopia que já vai com dois decénios...
6. Mas, em termos da motivação para a disputa dos lances, nem tudo estará nas mãos dos nossos jogadores... A circunstância pandémica que tão tristemente afasta os sócios e adeptos dos estádios penaliza agora mais evidentemente os atletas Benquistas que, desde sempre, beneficiaram da maior e mais expressiva intensidade do apoio dos seus fãs nas bancadas por todo o país, como inequívoca manifestação do entusiasmo que na linha do Tempo tanto os empurrou constantemente para as nossas históricas vitórias.
7. Lembremos que, quando esta época era preparada em Portugal, já perante a escassa sensibilidade anteriormente revelada pelas instâncias da FIFA e da UEFA quanto aos excessivos calendários aglomerados de Selecções e torneios internacionais que haviam sido internacionalmente fixados, o Sport Lisboa e Benfica não deixou de alertar devidamente a Liga portuguesa acerca dos presumíveis graves riscos da conservação para a época de 2020/2021, da mesmíssima densidade de provas que se alinhava nos anos anteriores à pandemia.
8. Mas, para o staff da Liga, nessa altura, foi como se a tragédia sanitária já não dominasse o quotidiano... Ou como se nunca tivesse existido e nem que viesse, mais tarde, a deixar cravadas na sociedade todas as sequelas que afinal se vão confirmando... A obstinação do pessoal que ainda gere estes assuntos nessa instância, em Portugal, deu no que está a dar: não lhes bastava a tristeza dos (já de si) jogos-'fantasma' em que os públicos continuarão (certamente, por muitos meses, ainda...) apertados das evoluções dos seus heróis.
9. Ao senso comum, logo naquela fase planeamento, na sequência de uma anterior época tão atípica e perturbada, já causara espanto que tais oficiais não tivessem querido admitir o mais do que previsível risco de eclosão das fragilidades físicas dos atletas, e a inevitável instabilidade estrutural das equipas mais sujeitas a excessos de competições, tão cegamente impostos pelos burocratas do futebol. Em Portugal, como na Suíça.
10. Ora, o que agora se constata é que, naturalmente, nas equipas mais sobrecarregadas com a amálgama das competições entrecruzadas, já não é apenas notória a dramática quebra dos níveis de qualidade de jogo - transitória que ela seja - hoje mais patente nas equipas portuguesas que ainda se encontraram na disputa de torneios internacionais. Mas, dali, já nada nos admira: quem sabe se não seria isso mesmo que alguém queria que acontecesse?"

José Nuno Martins, in O Benfica

«Achámos que havia uns buracos para preencher no Vitória, mas não foram. A partir daí o Tiago decidiu»


"Fernando João Lobo Aguiar. Ou Robocop, uma alcunha dos tempos no Beira-Mar. Puxamos a cassete para trás e recordamos um lutador, que jogava por amor à camisola mas que, no início da carreira, se perdia nas saídas à noite. A vinda para o Norte e o início do namoro sossegaram Fernando Aguiar e relançaram a sua carreira, a qual Toni sentenciou o fim mas meses depois acabou a contratá-lo. No Benfica, recorda uma “casa a arder” quando chegou, a transformação do clube e a explicação que Luís Filipe Vieira nunca deu. Fazemos fast forward na história e aterramos esta época em Guimarães, onde Fernando Aguiar foi treinador adjunto de Tiago. A saída foi prematura, ao fim de apenas três jogos, e Fernando explica a situação por quem a viveu por dentro.

– Lutador, jogar por amor à camisola e as saídas na Madeira –
«Quem realmente me viu a jogar recorda o lutador. Dizem-me “Fazias falta neste meio-campo” e “Jogavas com amor à camisola”»

Estava a ver o teu Instagram, puseste há bocadinho uma fotografia com o João Pinto, num derby
Ehehe, já lá vão alguns anos.

Lembras-te desse jogo?
Acho que esse foi em Alvalade.

Foi o do golo do Geovanni?
Foi. O Sporting dominou a primeira parte. Depois eu e o Geovanni entrámos perto dos 50 minutos e começámos a controlar o jogo. Eu tive uma oportunidade num canto, em que o Pedro Barbosa tira em cima da linha. O Geovanni também teve um remate perigoso antes de fazer o golo e depois fez aquele golo. Foi importante porque conseguimos ganhar.

Foi importante também porque se decidia o 2º lugar, que na altura dava acesso à pré-eliminatória da Liga dos Campeões.
Sim, o Benfica passou para o 2º lugar com essa vitória e conseguiu o acesso à pré-eliminatória da Champions. 

O que é que as pessoas mais te recordam quando te encontram na rua?
Quem realmente me viu a jogar recorda o lutador. Ainda hoje em dia, quando as coisas não estão bem no Benfica, dizem-me “Fazias falta neste meio-campo” e “Jogavas com amor à camisola”. Esse tipo de coisas que sabe sempre bem.

Recebes muito carinho da parte dos adeptos do Benfica?
Sim, não me posso queixar. Claro que nem toda a gente gosta de nós, faz parte da vida, mas acho que uma coisa que mudou muito foi o pensamento dos benfiquistas em relação àquilo que era o Benfica antes de 2003. O Benfica estava a passar uma fase muito má e acho que a partir de 2003/2004 conseguiu criar uma estrutura e saber o que queria para o futuro. Passaram no clube jogadores como eu, como o Petit, no meio-campo, que faziam a diferença.

É uma das críticas que mais se faz hoje em dia ao clube, a falta de referências e de jogadores que coloquem a exigência lá em cima. Havia o Rúben Dias, mas acabou por sair.
Sim, eu acho que isso foi uma das coisas que em 2003/04 começou a transformar a equipa. Claro que há anos que não correm tão bem mas uma pessoa é lembrada pelos adeptos do Benfica, sobretudo quem pega e, como eles dizem, pelo amor à camisola.

Robocop foi uma alcunha que gostavas que não tivesse pegado?
Não, tranquilo. Nunca levei a mal. Acho que uma alcunha é sempre bom sinal para um jogador. Foi na altura do Beira Mar, um jornalista do Record começou a chamar-me isso e ficou.

Foste 13 vezes Internacional A pelo Canadá. Nunca houve hipótese de representares a seleção portuguesa?
Eu escolhi a seleção do Canadá na altura porque eu não fazia ideia que ia chegar ao topo do futebol português. A seleção canadiana apareceu quando eu ainda estava no Marítimo, estava a começar a carreira. Se calhar se voltasse atrás faria a mesma coisa, porque nasci em Portugal mas fui criado no Canadá e tenho uma paixão muito grande pelo país e pela cidade de Toronto. Se calhar conseguiria melhores coisas com a seleção portuguesa mas também ninguém tem a certeza se eu seria chamado.

Há um momento que define a tua vida no futebol?
Acho que a partir do momento em que vim para o Norte. Estava na Madeira e claro, há histórias. As coisas não correram tão bem na Madeira porque era uma ilha, uma pessoa não era convocada e saía muito à noite.

Para o Vespas?
Sim, sim. A partir do momento em que vim para o Norte, comecei a namorar e sosseguei. A partir daí consegui lançar a minha carreira e acho que o momento chave foi quando fui para o Beira-Mar. Eles desceram de divisão mas ganharam a Taça e logo a seguir subimos de divisão. Aí foi a viragem da minha carreira enquanto futebolista.

– Benfica, uma casa a arder –
«A minha primeira passagem pelo Benfica não foi tão feliz porque aquilo era uma casa a arder»

Como se dá a tua transferência para o Benfica?
Fiz dois anos e meio muito bons no Beira-Mar e sabia do interesse do FC Porto também. Já vinha de trás, mas não sei das razões porque não fui para o Porto. Isso já não é comigo para explicar mas sabia que havia interesse.

O FC Porto chegou a fazer-te uma proposta?
Não sei se fizeram proposta ou não mas sei que por duas ou três vezes tiveram interesse. Aliás, sei que uma das vezes foi quando estava no Maia ainda. Nós jogámos para a Taça de Portugal [contra o FC Porto] e perdemos 5-4. Quem é dessa geração lembra-se perfeitamente desse jogo.

Então como aparece o Benfica na equação?
Há um jogo em Aveiro com o Benfica. O Toni chega à minha beira e diz-me que eu tinha passado ao lado de uma grande carreira. Na altura pensava que era a minha sentença. Entretanto em janeiro vendem o Fernando Meira, foi para a Alemanha.

Para o Estugarda. 
É. E então o Benfica precisava de um médio e eu fui o escolhido.

Para quem tinha a carreira “sentenciada”, correu bem.
Ehehe é. Mas estava quase, eu tinha 29 anos, fazia 30 em março. Não é muito normal uma transferência dessas.

O que te recordas do primeiro dia?
Conheci os jogadores, nada de especial. A minha primeira passagem pelo Benfica não foi tão feliz porque, e se calhar todos os benfiquistas concordam comigo, aquilo era uma casa a arder. O estádio velho já com uma secção partida a meio, uma estrutura muito fraca e não foi nada fácil. Os meus primeiros momentos no Benfica foram complicados.

Quem eram os líderes de balneário quando chegaste?
Simão, Argel e Julio César. Eram as pessoas mais líderes na altura.

Como é que eras no balneário?
Sou muito brincalhão. Quem teve o prazer de estar dentro de um balneário comigo sabe que eu era assim e pode contar as minhas histórias. Sempre gostei de brincar. Levar os treinos e os jogos a sério, mas depois brincadeira sempre.

Tens alguma história engraçada desses tempos?
Eram aqueles brincadeiras normais, nada do outro mundo. No Beira-Mar era diferente, eu entrava no balneário e fazia um carrinho a um colega com a roupa vestida.

Como era o Jose Antonio Camacho?
Em termos de treinos não era uma pessoa… se calhar comparando com um treinador da altura, o Mourinho, não era tão evoluído. Era mais “escola velha”, mas sempre com bola. Em termos de homem, foi dos melhores homens que apanhei no futebol. Para mim isso faz toda a diferença, principalmente para liderar uma equipa. Sabia estar, era esperto, não se deixava comer. Foi, sem dúvida, dos melhores que apanhei, independentemente dos treinos serem bons ou não. Grande homem.

– A explicação que Luís Filipe Vieira nunca deu –
«A minha saída é uma coisa que Luís Filipe Vieira tem que explicar. Não sei por que é que saí»

Onde estavam quando souberam que Fehér tinha falecido?
Nós fomos ao hospital mas depois disseram-nos que não valia a pena estarmos lá. Fomos de autocarro e deixaram-me em Santo Tirso, na bomba de gasolina, onde apanhei boleia para casa. Depois, a meio do caminho, o Ricardo Rocha ligou-me e disse que o Féher infelizmente tinha morrido.

Estive a rever o resumo do jogo, foi ele que fez a assistência para o teu golo. 
Assistência não digo, foi um remate falhado que sobrou para mim. As pessoas querem ser simpáticas mas uma pessoa tem que ser verdadeira nestas coisas. Foi um remate falhado do Féher, a bola sobrou para mim e eu marquei golo.

Como é que a equipa deu a volta e se uniu nesse contexto?
Foi um momento triste mas, ao mesmo tempo, foi bom por um lado. Logicamente que não foi a morte do Féher que foi boa, quando alguém morre nunca é bom, mas foi bom para unir a equipa, ficámos muito mais amigos. Começámos a olhar uns para os outros de maneira diferente e o Benfica acabou por fazer uma segunda metade de época muito boa, mas mesmo muito boa. Notava-se uma união muito forte entre nós e ajudou-nos a ser amigos para depois do futebol, que é uma coisa muito rara.

Lembras-te de quem era o treinador do Vitória SC nessa altura?
É o treinador que é agora treinador do Benfica.

Exatamente. Como é que viste o regresso dele ao Benfica?
Para dizer a verdade, eu deixei-me desligar um bocado disso. Não sou muito fã de ver futebol. Claro, eu assumo que gosto do Benfica e quero sempre que o Benfica ganhe. O que eu achava era que o Benfica não teria duas derrotas como tem, principalmente pela maneira como foram. Se esteve lá fora no Flamengo foi porque fez um excelente trabalho, agora vamos ver o que resta aqui no futuro para ele fazer.

Qual era o estado de espírito da equipa antes da final da Taça de Portugal contra o FC Porto?
Era boa, estávamos unidos. Tivemos dois dias de estágio, foi divertido. Sempre bom, sempre tranquilo. Os nervos é umas horas antes do jogo e depois passa.

A verdade é que ninguém no clube acreditava, ao ponto de não terem nenhuma celebração preparada, tshirts ou autocarro. Para onde foram celebrar?
Fomos sair e festejar. Foi uma noite em que não me lembro de muita coisa ehehe. Não foi propriamente água que nós bebemos.

Fazes uma boa época mas acabas por sair. Porquê? 
Saí do Benfica porque disseram-me que não sabiam quem ia ser o treinador. A minha saída é uma coisa que Luís Filipe Vieira tem que explicar. Não sei por que é que saí.

Ainda tinhas contrato?
Não, terminava nessa época. Fui o 12º jogador mais utilizado, portanto estava com esperanças que falassem comigo para renovar.

Mas do Benfica nunca falaram contigo sobre a tua situação?
Eu estava no Canadá e vinha nos jornais que tinha algumas propostas. O Luís Filipe Vieira ligava para mim e dizia-me para eu esperar pelo novo treinador. Entretanto, soube que o Argel também estava em final de contrato e tinha renovado. Isso para mim foi a gota de água e acabei por desistir, porque vi que o interesse não estava lá. Se tivesse que esperar pelo novo treinador isso podia ser a morte de qualquer jogador. Se ele dissesse que não, tinha de ir para o mercado e ficava ainda mais difícil.

– Contar com uma mão as verdadeiras amizades –
«Desliguei-me durante dois anos. Fiquei em casa, sem saber bem o que queria da minha vida»

O teu temperamento beneficiou-te mais ou prejudicou-te?
Quem me conhece fora do campo, sabe que eu sou uma pessoa tranquila, sempre fui. Mas eu não tinha tanta noção, depois vi alguns jogos na quarentena e sei que era um bocado “ranhoso” dentro de campo, não era de sorriso fácil.

Alguma vez jogaste lesionado?
Sim. Mas no Benfica não.

A tua última época é no Pedrouços, na Distrital do Porto. Recebias?
Sim. Era só para as despesas, mais nada.

Como foi essa experiência?
Foi bom, com 41 anos ainda ser capaz de combater com miúdos é sempre bom. Mostra a nossa capacidade e a equipa até correu bem. Fiz cinco golos, até fiz um hattrick.

Sentias dos teus colegas um respeito ou um olhar diferente por teres tido a carreira que tiveste?
Sim, claro. Isso é normal. Quem está a jogar na distrital até tem mais paixão, no sentido de gostar do jogo e de olhar para o jogo de maneira diferente. Eles estão lá não é para ganhar balúrdios, é por paixão e para jogar futebol.

Pendurar as chuteiras é o momento mais difícil da carreira?
Sim, é sempre difícil deixarmos de fazer uma coisa a que estamos habituados, uma rotina. É como se passou comigo, há um divórcio e o mais difícil não é a pessoa, é a rotina que criámos. Faço essa comparação porque acho isso válido, é uma rotina a que nos habituámos, ir treinar todas as manhãs, ir para estágio, fazer viagens. Habituamo-nos a esse tipo de vida e de repente acaba tudo.

Quando terminas a carreira, há um período de tempo em que te afastas do futebol?
Sim, eu desliguei-me durante dois anos. Fiquei em casa, sem saber bem o que queria da minha vida. É muito complicado mas não fui o único, há muita gente que passa por isso. É por isso que vemos muito jogador de futebol a tentar ser treinador, para reviverem esse passado, voltar ao balneário e criar uma rotina que tinham enquanto jogadores.

Qual a melhor lição que o futebol te ensinou?
Acho que foram as amizades. Nós podemos criar todas as amizades do mundo durante a nossa carreira, mas contamos com uma mão as verdadeiras amizades. O mundo é isso e é triste, porque passamos por muitas equipas, muitos jogadores, e são poucas as amizades que ficam para a vida.

– As lacunas no Vitória SC –
«Falta um médio [box to box], um avançado e um central de qualidade. O Vitória SC precisava de preencher estas três lacunas»

Como explicas a demissão precoce da vossa equipa técnica no Vitória SC?
Gostava de explicar mas não posso porque foi uma decisão tomada pelo Tiago e tenho que respeitar a decisão dele.

Havia insatisfação do vosso lado com alguma coisa?
Eu acho que quem leu a entrevista do Tiago é basicamente aquilo que ele disse. Nós achámos que havia uns buracos para preencher e achámos, para o bem do Vitória, que deviam ser preenchidos mas não foram. A partir daí o Tiago é que decidiu e está decidido.

O clube contratou muitos jogadores neste defeso, jovens até. Tu e o Tiago achavam que o plantel precisava de ser mais reforçado, não tanto em quantidade mas em posições específicas?
Sim, especificamente. Eu não sou pessoa para esconder aquilo que eu acho e o que eu acho é que o plantel precisava de um médio que pega no jogo, que apareça na área, um box to box. Falta um médio para isso, um avançado e um central de qualidade. São três posições fundamentais. Saí de lá com amizades, dou-me bem com toda a gente e fui muito bem recebido pelo Vitória, mas eu acho que o clube precisava de preencher estas três lacunas. 

É engraçado dizeres isso, porque na pré-época escrevi um artigo sobre as lacunas no plantel do Vitória SC e referi exatamente essas três posições. Quanto a contratações, surpreendeu-te alguma coisa no Ricardo Quaresma?
Não me posso queixar do Ricardo. Desde o primeiro dia que foi sempre um grande profissional. As pessoas, se calhar eu próprio também, têm uma imagem que o Ricardo era um malandro, tipo vedeta. Vedeta ele é, foi sempre, isso faz parte. Tem o seu estilo, tem a sua maneira de ser e acho bem. Em termos de treinos, não nos podemos queixar de nada. Foi sempre profissional, chegou sempre a horas, treinou, nunca se queixou. Levava porrada nos treinos, dava porrada nos treinos e toca a andar. Nunca houve confusões.

Quais são os teus planos agora?
Agora as coisas estão um bocado complicadas. Ainda não tive oportunidade de me sentar à mesa com o Tiago para ver o que é que ele quer para o futuro. Neste momento também não estou com muita cabeça porque vivemos uma situação muito complicada e torna-se difícil fazer planos.

– Passes curtos –

Qual é para ti o melhor momento da tua carreira? 
A transferência para o Benfica.

Um estádio?
Skydome, em Toronto.

Qual foi o melhor golo da tua carreira?
Foi contra o Guimarães, estava no Beira-Mar. Foi um remate a 30 e tal metros.

Qual foi o melhor jogador com quem jogaste?
Sem dúvida alguma o Tiago. Foi um médio fora do comum.

Um guarda-redes?
Palatsi.

Um defesa?
Ricardo Rocha.

Um médio?
Ricardo Sousa.

Um avançado?
Fary.

Qual foi o jogador mais difícil de defrontar?
Diego, do FC Porto.

Qual foi o treinador que mais te marcou?
José Antonio Camacho, sem dúvida."

Entretanto...!!!


"3 agressões, zero punições. No final do jogo, foi o HC Braga que acabou com 3 vermelhos.
Somos Porto. Dos Estádios, aos Pavilhões."

Telma Monteiro


"Apontada como exemplo paradigmático de capacidade de superação, resiliência, dedicação e, sobretudo, enorme competência e apuradíssimo espírito competitivo, já há vários anos que os feitos de Telma Monteiro lhe reservaram o estatuto de uma das melhores atletas da história do desporto português.
Merecedora da admiração de todos os portugueses, reconhecida internacionalmente e muitíssimo respeitada na sua modalidade, Telma Monteiro impressiona, também, pela longevidade de uma carreira recheada de títulos.
Bronze em Bucareste, no Campeonato da Europa de seniores realizado em 2004, prata ontem, em Praga. Duas medalhas intermediadas por outras doze, cinco das quais de ouro, subindo ao pódio em todas as 14 participações no principal certame europeu de judo.
Arrecadou ainda três medalhas nos Jogos Europeus e cinco no Campeonato do Mundo, além do bronze em 2014, no Rio de Janeiro, a única medalha olímpica para Portugal nessa edição dos Jogos Olímpicos.
Aposta do Benfica desde 2007, integrada no Projeto Olímpico, Telma Monteiro, em declarações à BTV proferidas ontem após mais uma participação brilhante num Campeonato da Europa, deu conta da sua gratidão ao Clube e reconheceu a importância do Benfica no seu percurso: "Muitas das minhas conquistas devem-se ao apoio que o Clube me deu, ao ter-me permitido ser judoca profissional e poder ter-me dedicado ao máximo ao judo. Dei sempre o melhor de mim e quero agradecer o apoio a todos os Benfiquistas, que sinto que não me apoiam só quando ganho medalhas, que me apoiam em todas as circunstâncias, e isso, para mim, é muito especial, significa muito."
O Presidente do Sport Lisboa e Benfica, Luís Filipe Vieira, fez questão de assinalar o momento e elogiou "a carreira ímpar que ficará para sempre como um exemplo de excelência na história do judo e do desporto português", e referiu ainda, sobre Telma Monteiro, que a "capacidade de superação e de resiliência, dentro e fora dos tatamis, serve de inspiração para todos nós".
Cá estaremos para continuar a admirar e apoiar a Telma! Obrigado!

P.S.: Amanhã, às 21h15, a nossa equipa de futebol regressará à competição após a paragem para os compromissos internacionais das seleções. O jogo, a contar para a 3.ª eliminatória da Taça de Portugal, frente ao Paredes, será realizado na Cidade Desportiva de Paredes. O Paredes milita na Série C do Campeonato de Portugal, encontrando-se na terceira posição em igualdade pontual com o Leça, o segundo classificado. O jogo marcará o reencontro entre os dois clubes, distando mais de 35 anos desde o único desafio entre ambos. Então o Benfica também visitou o adversário de amanhã, nos quartos de final da Taça de Portugal, e venceu por 0-3, com golos de Manniche, Wando e Nené, num percurso que terminaria com festejos no Jamor."

O Governo que desafia a teoria do agendamento (ou a subalternização a que foi votado o desporto em Portugal)


Ajuda suplementar de 400 milhões de euros para o desporto”
(Governo francês)

“Isenção de contribuições para quem trabalha no desporto”
(Vincenzo Spadafora, ministro italiano do desporto e das políticas para a juventude)

“Entre as outras decisões tomadas está a atribuição de 50 milhões para a promoção do desporto de formação”
(La Gazzetta dello Sport)

“Orçamento recorde de 251 milhões de euros para o desporto”
(CMD Sport, Espanha)

“Desporto e cultura com 800 milhões de euros para a reconstrução pós-Covid”
(CMD Sport, Espanha)

As soluções encontradas pelos políticos europeus com o objetivo de defender a sustentabilidade do desporto em contexto de pandemia vão sendo conhecidas, dia a dia, semana a semana, mês a mês, e têm um padrão: o reconhecimento da importância do sector nas suas várias dimensões, com a defesa do bem que é a saúde pública à cabeça. Fazer política deve ser isso: traçar objetivos, identificar problemas que possam obstruir a qualidade de vida das populações, encontrar soluções, definir estratégias e ir para o terreno dar-lhes corpo.
Quais têm sido em Portugal as medidas político-governativas aplicadas ao desporto no quadro da pandemia? Silêncio.
António Costa, primeiro-ministro, em silêncio. Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação com a tutela do desporto, em silêncio. João Paulo Rebelo, secretário de Estado da Educação da Juventude e Desporto (SEJD), não mudo, mas quedo.
Foi o SEJD a divulgar a meta estabelecida pelo atual Governo de colocar Portugal entre as 15 nações da União Europeia mais ativas na prática desportiva até 2030, mas o “como” está diariamente a ser adiado nos silêncios que desanimam o sector, em estado de paralisia que acelera o número de desistentes na área da formação.
A subalternização a que o Governo votou o desporto é assumida desde a redação do programa submetido à aprovação eleitoral dos portugueses. Algumas linhas e já está. Mas não é disso que se trata agora. Em causa está uma situação de crise a que é necessário acudir. Esqueçam-se “as grandes linhas políticas”, faça-se simplesmente política e trate-se a doença que há também no desporto.
Os sinais recolhidos nos últimos dias, semanas, mostram que “o perigo de colapso do desporto em contexto de pandemia” foi tema que entrou na agenda pública - faz parte dos problemas dos portugueses, que dele falam cada vez com maior frequência; também entrou na agenda mediática - figura em cada vez mais notícias, suscita entrevistas e artigos de opinião, motiva a escrita de reportagens, dossiês com muitos dados, conclusões sintomáticas. Pode até considerar-se que se deu aqui um fenómeno de inversão do agendamento, tendo sido o público a induzir o tratamento que os media estão a dispensar ao tema e não os media a dar a novidade ao público ou a chamar-lhe à atenção. 
Estranhamente, “o perigo de colapso do desporto em contexto de pandemia” não tem força para furar a multirresistente carapaça da agenda política. Porquê? Este é um problema para resposta em contexto de pesquisa académica. Atrevam-se os nossos investigadores.
A literatura de base existente aponta para que seja a agenda política a influenciar a composição da agenda mediática e, a partir desta, a agenda pública, onde constam as prioridades dos eleitores que levam os políticos ao poder. Era assim no tempo em que não havia internet e um tema poderia levar seis meses a passar de uma agenda a outra. Hoje bastam dias, horas.
Não sabemos se há no Governo atual quem se vá atualizando na leitura das novas configurações da teoria do agendamento – de certeza que há! -, mas a situação aconselha a que os problemas do desporto entrem de rompante na agenda política. Porque são importantes, fazem parte dos interesses do público, são críticos para as famílias. E não apenas por taticismo político."