sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O Governo que desafia a teoria do agendamento (ou a subalternização a que foi votado o desporto em Portugal)


Ajuda suplementar de 400 milhões de euros para o desporto”
(Governo francês)

“Isenção de contribuições para quem trabalha no desporto”
(Vincenzo Spadafora, ministro italiano do desporto e das políticas para a juventude)

“Entre as outras decisões tomadas está a atribuição de 50 milhões para a promoção do desporto de formação”
(La Gazzetta dello Sport)

“Orçamento recorde de 251 milhões de euros para o desporto”
(CMD Sport, Espanha)

“Desporto e cultura com 800 milhões de euros para a reconstrução pós-Covid”
(CMD Sport, Espanha)

As soluções encontradas pelos políticos europeus com o objetivo de defender a sustentabilidade do desporto em contexto de pandemia vão sendo conhecidas, dia a dia, semana a semana, mês a mês, e têm um padrão: o reconhecimento da importância do sector nas suas várias dimensões, com a defesa do bem que é a saúde pública à cabeça. Fazer política deve ser isso: traçar objetivos, identificar problemas que possam obstruir a qualidade de vida das populações, encontrar soluções, definir estratégias e ir para o terreno dar-lhes corpo.
Quais têm sido em Portugal as medidas político-governativas aplicadas ao desporto no quadro da pandemia? Silêncio.
António Costa, primeiro-ministro, em silêncio. Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação com a tutela do desporto, em silêncio. João Paulo Rebelo, secretário de Estado da Educação da Juventude e Desporto (SEJD), não mudo, mas quedo.
Foi o SEJD a divulgar a meta estabelecida pelo atual Governo de colocar Portugal entre as 15 nações da União Europeia mais ativas na prática desportiva até 2030, mas o “como” está diariamente a ser adiado nos silêncios que desanimam o sector, em estado de paralisia que acelera o número de desistentes na área da formação.
A subalternização a que o Governo votou o desporto é assumida desde a redação do programa submetido à aprovação eleitoral dos portugueses. Algumas linhas e já está. Mas não é disso que se trata agora. Em causa está uma situação de crise a que é necessário acudir. Esqueçam-se “as grandes linhas políticas”, faça-se simplesmente política e trate-se a doença que há também no desporto.
Os sinais recolhidos nos últimos dias, semanas, mostram que “o perigo de colapso do desporto em contexto de pandemia” foi tema que entrou na agenda pública - faz parte dos problemas dos portugueses, que dele falam cada vez com maior frequência; também entrou na agenda mediática - figura em cada vez mais notícias, suscita entrevistas e artigos de opinião, motiva a escrita de reportagens, dossiês com muitos dados, conclusões sintomáticas. Pode até considerar-se que se deu aqui um fenómeno de inversão do agendamento, tendo sido o público a induzir o tratamento que os media estão a dispensar ao tema e não os media a dar a novidade ao público ou a chamar-lhe à atenção. 
Estranhamente, “o perigo de colapso do desporto em contexto de pandemia” não tem força para furar a multirresistente carapaça da agenda política. Porquê? Este é um problema para resposta em contexto de pesquisa académica. Atrevam-se os nossos investigadores.
A literatura de base existente aponta para que seja a agenda política a influenciar a composição da agenda mediática e, a partir desta, a agenda pública, onde constam as prioridades dos eleitores que levam os políticos ao poder. Era assim no tempo em que não havia internet e um tema poderia levar seis meses a passar de uma agenda a outra. Hoje bastam dias, horas.
Não sabemos se há no Governo atual quem se vá atualizando na leitura das novas configurações da teoria do agendamento – de certeza que há! -, mas a situação aconselha a que os problemas do desporto entrem de rompante na agenda política. Porque são importantes, fazem parte dos interesses do público, são críticos para as famílias. E não apenas por taticismo político."

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