terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Rafolucionário

"Em Alvalade a entrada do foguete do Barreiro marcou o jogo com um antes e um depois; na Capital do Móvel, ele foi o dedo espetado na ferida aberta na defesa adversária pelos movimentos que arrastaram Carlos Vinícius e pela temporização e movimentos do capitão. Rafa a nove e meio não é jogador óbvio, assim como também não o é Pizzi na posição sete. Juntos, em combinações rápidas, suportadas pelas subidas criteriosas de André Almeida, fazem a coisa fluir com simplicidade, mais ainda quando a linha defensiva do Paços de Ferreira não teve qualquer folga pela sua direita, não podendo, por via disco, bascular à esquerda para estreitar os canais a Rafa. É que Cervi, muito agressivo na reacção à perda de bola e extremamente ético e empenhado nas transições, proporcionou o equilíbrio táctico que desencorajou a exploração das subidas pela linha de Grimaldo e não só, e antecipou a ocupação de espaços que significam ameaças ou oportunidades. Isto, associado aos movimento de ruptura de Vinícius, ora nas costas de André Micael, ora entre este e Jorge Silva, obrigava a que o defesa-direito do Paços jogasse muito fechado com o seu central.
Bloqueado nas laterais, o Paços nunca se subjugou às sobrecargas ofensivas provocadas pelas dinâmicas da equipa de Bruno Lage. Tentou explorar situações em que conjunturalmente Eustáquio, Diaby e Pedrinho se vissem em situações de equilíbrio pelo corredor central e tentando explorar o espaço que Gabriel abria quer para cobrir as subidas de Grimaldo.
Quem viu o jogo percebe que os processos de jogo deste Benfica estão cada vez mais oleados e até simplificados. A rapidez também impressiona e o Benfica, no seu todo, foi a equipa célere nas reacções e decisões, Vinícius confere a superioridade física que intimida os adversários e Rafa parece ser aquele agitador que, com as sua acções, subverte o decurso dos acontecimentos e empolga toda a equipa para uma dinâmica claramente superlativa relativamente à qualidade média das restantes equipas da Liga. A reentrada de Rafa no onze não basta para justificar todas as virtudes deste Benfica, mas é certamente simbólica das mesmas e, mais importante que isso, tem sido ele a apertar o gatilho."

Nuno Félix, in Record

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