"A humanidade entra pela nova década de 20 enfrentando novos desafios de proporções bíblicas sem ter deixado arrumados, nenhuns dos velhos problemas que a afligem. A descarbonização global surge como um desafio novo e global, gigantesco e supranacional, pressionando um mundo dividido em velhas nações que tenta impor as suas fronteiras à geografia natural e, evidentemente, não tem nisso o menor sucesso. Mas este novo driver da vontade dos povos chegou, enfim, pela porta grande e sentou-se bem no meio da sala como um elefante incontornável imóvel que não se deixa ignorar e ainda bem, mas, ainda que pareça tomar conta de toda a cena no palco da nossa vida colectiva, não esqueçamos que estão ainda bem presentes e empedernidos os velhos problemas que, na verdade, são por ela acentuados. E são muitos!
A questão do desenvolvimento assimétrico num mundo a várias velocidades, com um primeiro pelotão a descolar cada vez mais à custa dos recursos do terceiro mundo e desse verdadeiro purgatório económico a que se confinam os países em vias de desenvolvimento que parecem estar condenados a ficar para sempre 'em vias', por mais que façam, sem nunca se desenvolverem verdadeiramente. Evidentemente, este problema da distribuição de rendimento, o mesmo será dizer 'de recursos', era, continua, desigual e acentua-se com o devir da História nas nossas sociedades à vista de todos. E este comportamento das pessoas reproduz-se nas suas nações e em todos os seus veículos económicos e organizações de base empresarial. O mundo parece organizado desta forma em que muitos poucos consomem quase tudo, e todos consumem quase nada. Uma fórmula resistente à mudança, contrária a todas as formas se sustentabilidade que, ainda assim, tem a tarefa faraónica de se confrontar consigo mesmo, fazer um doloroso acto de contrição e mudar de vida, para sempre. Não vai ser fácil, não está a ser fácil como temos assistido, mas a dimensão crescente das grandes catástrofes naturais e as suas consequências a uma escala nunca vista não podem mais ser ignoradas por ninguém, por mais retórica a que possa recorrer-se. Claro que, contrariando o famoso princípio do 'Poluidor-Pagador', quem paga hoje as consequências são os que menos poluem, e, assim, a velha questão das desigualdades, da equidade e da diferença avoluma as colunas de refugiados e engrossa a enormidade das migrações, traduzida na maior parte dos casos em exclusões e injustiças. A questão da paz, ou, melhor, da guerra que a impede em tanta parte, adensa-se e agrava-se, adquire mesmo novas tonalidades com as migrações e refugiados do clima de tal modo, que, verdadeiramente hoje, a figura do asilo político, para que as nações se prepararam, vai a caminho de ser suplantada pela fuga à pobreza, pela fuga à guerra e pela fuga às calamidades.
São loucos estes anos 20 de que desbravamos os primeiros metros, mas além deste, a História mostra-nos um outro lado da Humanidade, em que uma extraordinária capacidade de adaptação e um engenho sem paralelo universal transformam muitas vezes problemas em soluções e desbravam futuro e luz pelos caminhos mais sombrios. Para isso vamos precisar de mobilizar todos e todas as vontades, num mundo novo onde todos terão de dizer presente e em que o papel de uma empresa ou de um clube de futebol pode ser tão importante como o de uma cidade, região ou mesmo país. Se esse clube tiver dimensão de um Benfica, então, a sua responsabilidade, mas também o contributo, poderá ser de grande valia. Afinal, se há coisa que o futebol faz, é unir pessoas, e se há coisa que sabe fazer bem, é mobilizar a vontade!"
Jorge Miranda, in O Benfica
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