"Temam-na, abracem-na, anseiem-na ou venerem-na, a morte é a condição mais certa para os humanos, creio a mais humana que há, porque nada em nós é tão paradoxal como o momento em que o coração pára, o sangue trava, os órgãos desligam, o cérebro frena e à consciência acontece o que vivalma sabe, mas tanta, tantíssima gente, se esforça por adivinhar, pregar, filosofar e garantir.
A morte é o tema dos vivos, quem morre é sentido por quem vive, os que se vão são louvados pelos que ficam e a pessoa que vai sem retorno não lê, nem ouve, os louvores que os vivos reservam aos enlutados, uma vez mortos, que me parece a mais estapafúrdia espera a que os humanos se devotam, já escrevia a mexicana Ana María Rabatté:
No esperes a que se muera
la gente para quererla
y hacerle sentir tu afecto
en vida, hermano, en vida…
Nunca visites panteones,
ni llenes tumbas de flores,
llena de amor corazones,
en vida, hermano, en vida…
Esperámos que Paulo Gonçalves caísse da moto, o corpo tombasse na areia, o coração parasse e morresse no deserto, sozinho, entre grãos de areia onde, dependesse dele, jamais deixaria alguém a solo, para recordarmos o quão exemplar foi em vida.
No Dakar, o português afundou-se em lama para ajudar quem mais fundo estava, safar Cyril Després e vê-lo a virar-lhe as costas, sem retribuir a ajuda e arrancar sem dó, piedade ou companheirismo, qualidades que se dizem humanas e que Paulo voltou a mostrar, anos depois, quando parou mal viu Matthias Walkner tombado, a sofrer com ossos partidos, não o abandonando enquanto não chegasse ajuda.
De Paulo Gonçalves conheci o que deixou na televisão, nos jornais e em quatro ou cinco telefonemas de trabalho. Era simpático, prestável e atencioso, não há pilotos, mecânicos, dirigentes e amigos que o desdigam, em público, desde domingo, invocando a forma como agiu durante os 40 anos que viveu, porque as palavras de nada valem se os atos não falarem por elas.
Se, na morte, o que se recorda de um desportista é o homem justo, companheiro, íntegro, prestável, humilde, sempre ajudante e, apenas depois, o que ganhou a pilotar motos, então no piloto está o melhor exemplo possível para se ser, e estar, no desporto e em competição. “Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros”, disse, uma vez, enquanto modalidades mais praticadas, muito mais vistas, nunca paravam de sugerir que para ganhar vale tudo, que só se estamos bem se estivermos contra os outros e que os insultos fazem parte.
Em vida, Paulo Gonçalves foi um exemplo de como o desporto e a competição apenas valem se, lá dentro, todos estiveram bem, sãos, saudáveis e forem uns para os outros quando houver quem assim não esteja. Competir, ganhar e perder deveria sempre vir depois, muito depois.
O Que Se Passou
A Supertaça de Espanha mais árabe que podia haver é do Real Madrid, campeão do troféu sem vencer um título na época anterior, ganhador ao Atlético nos penáltis a que a final chegou porque, aos 115' do prolongamento, um defesa ceifou à descarada um avançado que seguia isolado, fez o que se pune para não ser feito, levou um cartão vermelho direto e foi aplaudido. A Roma de Paulo Fonseca errou até mais não perante a Juventus, que ganhou com Ronaldo a marcar.
Dentro de pavilhões, um em Matosinhos viu o Benfica conquistou a Supertaça de futsal contra o Sporting, outro em Trondheim acolheu a segunda inesperada vitória de Portugal - contra a Noruega - no Europeu de andebol, que qualificou a seleção nacional para a fase seguinte da prova, apenas pela segunda vez (a primeira, em 2003) na história."
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