sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

O Natal é vermelho e branco

"O Benfica está isolado no primeiro lugar, tem os dois melhores marcadores da Liga, o melhor ataque, a melhor defesa e o melhor apanha-bolas. Que maravilha! Esta é uma frase agradável de ler em qualquer altura do ano, porém confesso que em vésperas de Natal o regalo ainda maior. A aletria vai saber tão bem como aquela cabeçada do Seferovic em Moreira de Cónegos, os mexidos vão ter paladar idêntico ao golo do Pizzi nos Açores. Suspeito que só o bolo-rei terá o mesmo gosto daquele empate na Covilhã.
O Natal é das crianças. É a inocência, a euforia e a agitação dos mais novos que faz desta quadra uma época tão encantadora. A magia só perde algum brilho quando os mais velhos falam aos mais pequenos da (in)existência do Pai Natal, portanto Bruno Lage tem uma missão muito importante pela frente. Não como treinador, mas sim como ser humano: proibir o Jardel, o Fejsa e o Pizzi de contarem o que quer que seja sobre este tema ao Tomás Tavares, ao Nuno Tavares e ao Jota. Deixem os petizes manter a crença por mais uns anos.
Os doces são uma tentação difícil de resistir, no entanto quem mantém uma dieta equilibrada durante o ano inteiro tem direito a abusar um pouco mais durante a próxima semana. Um dos homens merecedores de carta-branca é o Taarabt. Já lá vão os tempos em que o Adel tomava conta sozinho de uma travessa de polvo e de uma panela de rabanadas. O marroquino está diferente desde que adoptou um lema que ainda não convenceu, por exemplo, o meu pai: o problema não é o que se come entre o Natal e a passagem de ano; o problema é o que se come entre a passagem de ano e o Natal.
Feliz Natal, benfiquistas!
Rumo ao 38!"

Pedro Soares, in O Benfica

Luís Miguel

"A primeira memória que tenho de Pizzi é de um hat-trick em pleno Estádio do Dragão, contra o FC Porto de Villas Boas, ao serviço do Paços de Ferreira - onde se mantinha emprestado pelo SC Braga, clube que, misteriosamente, nunca o aproveitou.
Estávamos então em 2011, ano em que os pacenses chegaram à final da Taça da Liga, sendo derrotados pelo Benfica por 2-1.
O bragantino seguiu depois para Espanha, contratado pelo Atlético de Madrid, onde realizou 15 jogos e ganhou a Liga Europa. Foi emprestado ao Deportivo da Coruña, e, já com ligação contratual ao Benfica, também ao Espanyol.
Veio para a Luz em definitivo em 2014 e, depois de uma 1.ª volta na sombra de Enzo Pérez, com a venda do argentino, assumiu-se como titular no meio-campo encarnado. Até hoje.
Já com mais de 250 jogos, mais de 60 golos e 11 títulos de águia ao peito, Pizzi tem sido, ao longo das últimas temporadas, um dos pilares do Benfica, sendo invariavelmente, época a época, um dos mais utilizados como titular. Primeiro com Jorge Jesus, depois com Rui Vitória e agora com Bruno Lage. Ora ao meio, ora partindo do lado direito.
Pode dizer-se que está a viver o melhor momento da sua carreira. Mas talvez seja mais exacto dizer que está finalmente a ser valorizado pelos adeptos, pois já no ano do tetra havia sido considerado o melhor jogador do campeonato, e ainda na época passada foi pedra angular na reconquista.
Pizzi é hoje uma das estrelas da nossa equipa. Tem sido ele a carregar a bandeira, frequentemente como capitão, e sempre com golos e muitas assistências.

A minha vénia para este Craque! Um privilégio vê-lo jogar!"


Luís Fialho, in O Benfica

Golden boys

"Foi com imenso orgulho que acompanhei a transmissão televisiva da entrega do 17.º Golden Boy. João Félix, um dos maiores talentos da nossa Academia e que tem uma cláusula de rescisão de 350 milhões, venceu um prémio de enorme prestígio atribuído pelo jornal italiano Tuttosport. Depois do feito de Renato Sanches, em 2016, João Félix mereceu esta distinção que prova a excelência do projecto da formação do Sport Lisboa e Benfica. Ambos devem tudo ao clube que os acolheu, que os preparou e que os projectou a nível internacional.
Sublinho em ambos a gratidão que têm revelado pelo SL Benfica. Renato e João aprenderam no Benfica Campus os valores da solidariedade, da pluralidade, da resiliência e da autenticidade. João Félix realizou 144 jogos de águia ao peito e marcou 66 golos. Foi decisivo na conquista dos Campeonatos Seniores e de Juniores. Com apenas 19 anos, protagonizou uma das maiores transferências da história do futebol mundial, provando a excelência da visão e da gestão da nossa SAD e do presidente. A provar a competência da nossa política desportiva de aposta firme em jovens está a lista de 13 talentos nomeados - Di Maria, Sidnei, Salvio, Rodrigo Moreno, Nélson Oliveira, Ola John, Markovic, Gonçalo Guedes, Renato Sanches, Gedson Fernandes, Jota, Florentino Luís e João Félix. E se dúvidas existem acerca do significado desta distinção, basta ver a lista dos outros premiados - Van der Vaart, Wayne Rooney, Lionel Messi, Frabregas, Sergio Aguero, Anderson, Alexandre Pato, Mario Balotelli, Mario Gotze, Isco, Paul Pogba, Sterling, Martial, Mbappe e De Ligt."

Pedro Guerra, in O Benfica

Natal vermelho

"Se há altura do ano, em que todos, sem excepção, procuram o melhor de si próprios e o comunicam a quem os rodeia, essa altura é sem dúvida o Natal. Sobretudo no mundo em que vivemos, que é cada vez mais potenciado pela comunicação e pela sociedade de consumo e em que a dádiva familiar e vicinal é alimentada por uma verdadeira indústria global. Esta realidade convoca-nos à reflexão e exige de nós uma reafirmação permanente de valores como a solidariedade e a justiça, sendo certo que estas não chegam de igual modo a todos os seres humanos como deveria ser. Isto é verdade em todo o ciclo de vida, mas acentua-se nos períodos de maior dependência e fragilidade individual, a velhice e, sobretudo, a infância que a vida a nega tantas vezes a tanta gente. O Natal espectacular de festa, luzes a abundância. Aquele Natal que enche os lares de alegria e conciliação familiar torna-se agridoce para quem vive nas margens da normalidade, em exclusão ou grandes fragilidades social. Por mais que se dê, faltará sempre algo valioso e insubstituível. A isso ninguém pode obviar, mas tudo o que fizermos, todos, será pouco para afastar a violência avassaladora de um vazio natalício sobre uma criança, por exemplo.
Por isso, as iniciativas sociais de Natal são todas muito importantes, mesmo que sejam modestas e incógnitas, porque levam consigo a maior das curas para os males de espírito: calor humano. Mas, claro, se um clube de futebol solta os seus heróis inatingíveis pelo mundo e os jogadores começam a entrar por enfermarias, lares e residências, então os sentidos exacerbam-se e o valor socialmente percepcionado é enorme. Não só porque toca profundamente aqueles a quem a sorte bafejou directamente com a dádiva e a visita, mas sobretudo porque se torna inspirador e provoca reacções em cadeia para que, noutros lugares remotos da nossa sociedade, outros protagonistas façam o mesmo e o espírito natalício toque a todos sem nenhum exclusão.
É assim que o futebol social entra no Natal pela porta grande, e é assim, também, que o Benfica leva  aluz pelos cantos mais obscuros e necessitados e que aviva, com a chama imensa, o vermelho do Natal!"

Jorge Miranda, in O Benfica

O contraditório. E a falta dele...

"Agora, que na Justiça se deu início ao debate instrutório do 'caso do hacker', recomeçou imediatamente, a toda a força, a despropositada traquibérnia de alguns órgãos de comunicação, com o desenvergonhado propósito de se tornarem eles próprios nos 'justiceiros' que, pelas suas mãos, 'deviam' ditar 'sentenças' que, a priori, já trazem engatilhadas nos bestuntos.
O assunto, só por si, com os seus protagonistas, ingredientes e envolvências, concita evidentemente o interesse popular. Mas, francamente, o que se vê em cada minuto de desinformação da SIC, ou em cada momento das popularuchas brincadeiras da CMTV, por exemplo, mais parece constituir, sobretudo, matéria do exclusivo interesse individual, particular e específico de cada um dos intervenientes televisivos que (criteriosamente) são chamados a perorar nesses púlpitos das entediantes programações.
O contraditório, que representa um dos eixos essenciais e constitutivos do verdadeiro Jornalismo independente e neutral, instituído para mediatizar os factos perante os públicos, não existe ali. Nem num lado, nem no outro. E nem eles acham que lhes faça alguma falta.
Informarem linearmente os espectadores acerca das incidências das sessões do tribunal; noticiarem cruamente, isto é, apresentarem sem inferências os factos e os posicionamentos das diversas partes com o rigor da neutralidade e; ou ainda, esforçarem-se em descodificar e explicar com mais clareza, aos espectadores, procedimentos técnicos em que o sistema judicial é useiro, tudo são condutas totalmente afastadas das práticas comuns dos titulados funcionários e colaboradores dos canais de televisão-estúpida, expressamente convocados para as badernas do costume com o único fito de torcerem a Verdade e distorcerem a Justiça.
No fundo, eles nem querem saber se deixam o rabo de fora, como o gato que se esconde. Sem ponta de vergonha, nem se dissimulam: dão a cara e têm nome.
E como, à partida, estão condenados a defender não mais do que o indefensável, nada mais lhes pode interessar do que desmerecer a Justiça e tudo fazerem para tentar condicionar a opinião pública perante as verdadeiras sentenças e decisões que, na realidade, apenas cabem aos Juízes.
Perante as evidências da Verdade e da Justiça que se venham a provar, apresentarão eles, algum dia, a sua contrição? Os seus pedidos de desculpa aos públicos? Jamais! Quem não respeita a deontologia profissional e vende a ética ao minuto, é porque já não lhes fazem falta..."

José Nuno Martins, in O Benfica

Os treinadores

"A competência dos treinadores portugueses de futebol é reconhecida pelo mundo fora e muita água passou já por baixo das pontes desde os tempos em que Artur Jorge (França), Manuel José (Egipto) e Henrique Calisto (Vietname) começaram a abrir portas fora de portas (sem esquecer a importância histórica do efeito Mourinho). Hoje há centenas de técnicos lusos a ensinar futebol lá por fora e é gratificante, a propósito do retumbante sucesso de Jesus no Brasil, verificar que Caixinha é nome de referência no México, Queiroz comanda a poderosa Colômbia, Rui Vitória é campeão da Arábia Saudita, Paulo Bento levou a Coreia do Sul à vitória na Taça do Este Asiático, Vítor Pereira já venceu o campeonato da China, Rui Águas treina Cabo Verde, Horácio Gonçalves venceu o Moçambola, Pedro Martins ou Abel Ferreira, um deles será campeão da Grécia, Luís Castro conquistará o título ucraniano, Villas Boas, Sousa e Jardim são respeitados em França, Fonseca ganha créditos em Roma, Nuno Espírito Santo é obreiro de um milagre em Wolverhampton e o special one dá cartas de novo, agora no Tottenham.
E como chegámos aqui? Por um lado, tendo a humildade de aprender com quem sabia mais do que nós (de Siska a Biri, de Szabo a Riera, de Scopelli a Guttmann, de Alisson a Hagan, de Otto a Eriksson); por outro, através de um rigoroso (por vezes até de mais...) processo de aquisição de competências. A estas duas vertentes adicionámos também uma muito portuguesa capacidade de adaptação a novos ambientes e culturas. Daqui para a frente, o único risco sério que corremos é o de pensarmos que já não precisamos de aprender mais nada com ninguém. Porque uma das grandes verdades da vida é traduzida pelo postulado, «quando mais sei, mais sei que menos sei»."

José Manuel Delgado, in A Bola

O mal-amado

"Cada dia do julgamento do ataque a Alcochete é uma vergastada no lombo dum leão que continua ferido. As palavras do secretário do Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo, quando disse que compreende a insatisfação de Frederico Varandas para com alguns dos adeptos do clube mas que isso é um assunto do foro interno do clube são uma chibatada na sociedade portuguesa. A esta pérola do pensamento político ainda juntou que «a mensagem, muitas vezes difundida, que há inacção do Estado, não ajuda». João Paulo Rebelo disse isto, que é mau. Pior é ainda não ter havido notícia de que, no mínimo, levo um puxão de orelhas do chefe do Governo. A perspectiva do péssimo é que tal não aconteceu porque os políticos continuam a pensar que os problemas do futebol têm de continuar a ser resolvidos pelo futebol. Estamos a 20 de Dezembro de 2019, ainda tenho esperança que um dia destes os governantes portugueses percebam que o problema das claques e os delas adjacentes não são do futebol. Em Inglaterra compreenderam-no no final da década de 80 do século passado. Não se passou muito tempo. Só 30 anos. Mas esta é, apenas, uma pequena parte do problema. Talvez o maior seja continuarem convencidos de que o Desporto tem de continuar como um apêndice mal-amado do Ministério da Educação. Peço desculpa mas não. O Desporto, por força das suas inúmeras vertentes, tem de ter um ministério próprio. Na componente profissional porque é uma indústria e pode ter peso importantíssimo na economia; na lúdica porque não tem de estar associada à juventude - é bom que se comece a praticar em tenra idade, mas fundamental para a saúde pública é que se continue em idade adulta. Faz bem a tudo e mais alguma coisa. E o mais alguma coisa até pode ser na visão mais economicista porque a prática de desporto tira muita gente dos médicos e, por consequência, evita ainda gastos no Serviço Nacional de Saúde. Se não for por todss as outras coisas, ao mesmo que seja por esta."

Hugo Forte, in A Bola

Continuar a melhorar

"Escrevi a semana passada sobre a necessidade de melhorarmos internamente, por exemplo, os requisitos de participação na respectiva competição, amadora ou profissional.  Abordo agora outras questões, como o equilíbrio competitivo ou o número de jogos nesta primeira fase da época. Normalmente somos críticos para com os desequilíbrios na nossa competição interna, sem ter em consideração que este processo é cíclico e condicionado pela realidade de cada país. Temos de facto um conjunto de equipas que podem numa época lutar pelos lugares europeus e na seguinte jogar para a manutenção. O inverso também é verdadeiro. Na realidade, a maioria das equipas tem como primeiro objectivo a permanência e não disputar os cinco primeiros lugares. A diferença pontual entre os primeiros campeonatos europeus também não é homogénea. Nesta altura, Alemanha e Espanha têm as menores diferenças, 5 e 7 pontos respectivamente. Em Inglaterra a diferença é bem maior, 23. Portugal está neste segmento, com 18 entre primeiro e quinto, enquanto que Itália e França se encontram nos 10 a 13 de diferença. Curiosamente países em que o campeão tem sido crónico. O objectivo deve ser o equilíbrio na competição, que não se obtém só pela capacidade económica-financeira. Há também factores que o gestor da competição não controla. Portanto, não pode deixar de dedicar a sua atenção a questões em que o aleatório tem margem menor. Por exemplo a calendarização dos jogos e das jornadas. Estou convencido que, num prazo curto, os concorrentes vão perceber a necessidade de elaborarem planos de provas retirem benefícios e não na aleatoriedade dos sorteios. Em Portugal, na época passada, a jornada 14 foi um sucesso pelo número de espectadores. Jogou-se antes do Natal, e os três grandes jogaram no mesmo dia. Um bom exemplo."

José Couceiro, in A Bola

É mesmo o novo Apito Dourado!



"Estamos totalmente e cada vez mais convictos que isto está a ultrapassar o nível do Apito Dourado. 
O lance do 1º golo de ontem no Estádio do Calor da Noite em que o Jaime Magalhães empurra o defesa do Santa Clara é anos 90 trademark.
Mesmo o lance em que o Pena pontapeia a cabeça do adversário, se fosse com um Vinicius, meteria audiência com o Presidente da República
O mais grave disto tudo, em comparação com o Apito Dourado, é que agora há VAR, 20 câmaras e 30 programas de televisão. Não são 2 minutos mal filmados do Domingo Desportivo. É à luz do dia e à descarada!
Lembramos que já no ano passado o Calor da Noite teve um sem número de pontos dados pelos árbitros na primeira volta.
Pergunta 1: Até quando vai ser permitido a Fábio Verdíssimo andar dentro de um campo de futebol impunemente a roubar o Benfica e/ou a roubar quem joga contra o Calor da Noite?
Pergunta 2: O que vai ser preciso mais fazer a Luis Ferreira, enquanto árbitro e agora como VAR, para ser irradiado de uma vez por todas?
Pergunta 3: Até quando o Benfica vai ficar calado a ver isto? Até começar a perder?

P.S.: Este texto também se aplica a Artur Soares dias ( *Martins dos Santos* ) , Jorge Sousa ( *Carlos Calheiros* ) , Tiago Martins ( *Rosa Santos* ) , Manuel Oliveira ( *Augusto Duarte* ) , Carlos Xistra ( *Donato Ramos* ) , Rui Oliveira ( *António Costa* ) , Rui Costa ( *Miranda de Sousa* ) , etc..... Presidente do Sport Lisboa e Benfica:⁩ o silêncio não é solução!"

Pizzi já marcou e assistiu mais, em menos minutos, do que Bruno Fernandes na época passada. Recorde à vista?

"Jogou menos minutos, mas marcou mais golos (19), fez mais assistências (10) e, para que deixe de ser um critério, tem o mesmo número de penáltis (três) batidos com sucesso. Comparados os primeiros 25 jogos da época de cada um, Pizzi tem melhores números do que Bruno Fernandes, no mesmo período, em 2018/19, quando o capitão do Sporting acabou por ser o médio mais goleador de sempre na Europa, ao fim de uma temporada. A manter o ritmo, o português do Benfica pode apanhá-lo, ou chegar lá perto

Aquele “Como jogas Luís Miguel 👏🏼” martelado por críticas, tão alvo para o lançamento industrial dos dardos críticos de quem, vendo de fora, critica a amostra pública - superficializada e sucinta, ao máximo, no comentário de uma imagem numa rede social - de uma relação de amizade entre dois jogadores de futebol que ninguém, ou pouquíssima gente, saberá como é, teve todo um fundo de razão.
O elogio cibernético de Bruno Fernandes, também dono de um Miguel como segundo nome, aconteceu depois do Benfica-Zenit, onde houve recepções, toques bonitos, tabelas provocadas, acelerações com bola e jogadas germinadas pelo elogiado, coisas intangíveis entre o que o jogador, conhecido por Pizzi, fez de palpável, um golo, por vezes a única unidade que parece interessar na medição do que vale um futebolista.
Foi o 18.º dos 19 que leva esta época, ele, um médio que parte da direita e pisa mais relva fora da área, a apropriar-se de números próprios de um avançado, e, portanto, numericamente ainda mais elogiável por quem, a temporada passada, também jogou para ter um rendimento que se traduziu numa quantidade anormal de golos.
Ou Bruno Fernandes, talvez, previu o que já não parece assim tão improvável.
Se as lesões, os momentos de forma, as dinâmicas da equipa, a qualidade dos adversários e a inspiração individual se alinharem, Pizzi poderá estar encaminhado para chegar, ou ficar perto, dos 32 golos marcados pelo capitão do Sporting em 2018/19, que o fez bater o recorde para o médio mais goleador numa só época, na Europa.
Os números de Pizzi nos 25 jogos desta época nada prometem, ou provam, mas, servindo de comparação e além de exaltarem a influência que tem no jogo atacante do Benfica, podem augurar coisas. Em 1891 minutos, marcou 19 golos, três de penálti, dando 10 assistências entre 14 jogos no campeonato, seis na Liga dos Campeões, três na Taça de Portugal e a Supertaça.
Nos primeiros 25 jogos da época passada, Bruno Fernandes fez 13 golos, três também de penálti, contou nove assistências e ia com 2156 minutos de campo, divididos por 14 partidas no campeonato, seis na Liga Europa, três na Taça de Portugal e um na Taça da Liga.
Pizzi já marcou (19-13) e assistiu (10-9) mais, em menos tempo (1891-2156), do que Bruno Fernandes no mesmo número de jogos (25), o que nada garante para a contabilização final, em maio, nem prova o que seja quanto a quem é melhor que o outro. É uma questão de rendimento.
O médio do Benfica, partindo à direita de um 4-4-2 com dois médios bons de passe, ligação de jogo e associação atrás dele, e outro, fã de tabelas, à frente e perto dele, tem feito explodir a sua influência na equipa que, cada vez, joga num estilo para fazer a bola chegar na relva, em combinações curtas, até perto da área, onde Pizzi muito remata à mínima oportunidade que tem, ou facilmente tabela para arranjar o espaço que precisa.
O médio do Sporting, a época passada e ainda com Marcel Keizer, era o centro a que todas as posses de bola prestavam atenção, no meio do 4-3-3 ou 4-2-3-1 vertical, com preferência pelo jogo interior, que o deixava dar corda à sua já forte tendência para arriscar, em quase todas as zonas do meio campo adversário, e muito tentar finalizar jogadas.
São contextos diferentes, em épocas distintas: o Benfica, por exemplo, teve seis jogos na Liga dos Campeões em 2019/20; o Sporting, no mesmo período de 2018/19, fez meia dúzia na Liga Europa, contra adversários, em teoria, com menos qualidade para criarem tantas dificuldades na prática. 
Existirem números que superam outros e batem recordes é uma história cíclica, que é e sempre será redutora, por descurar ou, no mínimo, não se justificar com o contexto em que acontece.
Continuando a exemplificar, Pizzi está, apenas, a sete golos dos 26 que são a melhor marca da carreira de Frank Lampard, o único médio a ultrapassar a centena de golos na história da Premier League, campeonato outra intensidade de jogo e qualidade de jogadores. E a 10 de Alex, o brasileiro goleador, no seu tempo, no Fenerbahçe, a quem Bruno Fernandes tirou o recorde.
Por mais acumulada que seja a tradução numérica do rendimento de um jogador, as estatísticas nunca vão provar, sozinhas, o quão elogiável foi o desempenho de alguém, no campo. Bruno Fernandes, de facto, elogiou “como” joga Pizzi, não o quanto ele joga. 🤔"

Liga dos Campeões

"1 - O sorteio dos oitavos-de-final da Liga dos Campeões foi brutal. Teremos jogos que serão autênticas finais antecipadas, aparentemente, o sorteio foi benévolo para a Juventus de Ronaldo e Tottenham de Mourinho, mas nesta fase não há jogos fáceis: Nápoles – Barcelona; Tottenham - RB Leipzig; Olympique de Lyon – Juventus; Chelsea - Bayern Munich; Atlético de Madrid – Liverpool; Atalanta – Valencia; Real Madrid - Manchester City; Borussia Dortmund – PSG.
Todos os jogos serão emocionantes, mas a disputa entre o Real Madrid de Zidane e o Manchester City de Pep Guardiola, um espanhol muito ligado ao Barcelona, será espectacular numa eliminatória apaixonante e atractiva. Os jogos serão em Fevereiro e Março, até lá, haverá tempo para prepará-los convenientemente, mas uma das equipas ficará pelo caminho. Será uma eliminatória electrizante, com desfecho imprevisível em que, estará em causa muita coisa. O Manchester City investiu muito dinheiro e o Real Madrid quer refazer-se e voltar a ser o melhor. Será uma eliminatória em que vai contar os detalhes, assim como, o factor psicológico. O Real Madrid de Zidane leva vantagem pela sua experiência nesta prova, mas isso só não chega, o Manchester City de Guardiola quer afirmar-se na Europa, a Premier League é uma miragem à distância que está do Liverpool.
A outra final antecipada Atlético de Madrid- Liverpool será interessante como se vão dispor as duas equipas que adoram jogar em contra-ataque. Tenho pena que nesta montra não esteja nenhuma equipa portuguesa, esta fase do sorteio está repartida entre Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha e França. No futebol também há uma Europa a duas velocidades.
2 – O jogo Barcelona – Real Madrid não foi nada de especial e confirma que, Messi nestes jogos apaga-se e passa despercebido. Todavia o seu rival, de sempre, Ronaldo marcou um golo à Sampdoria, com uma elevação esplendorosa só ao alcance de muito poucos. Messi nunca marcará na sua vida um golo deste calibre, pois, elevação não é o seu forte.
3 – O Flamengo e o Liverpool estão na final do Mundial de Clubes. Vai ser interessante ver o confronto Jorge Jesus - Jürgen Klopp. Se Jorge Jesus vence vai ter uma estátua na cidade do Rio de Janeiro."

Conciliar o desporto e os estudos

"Ciclicamente, o sistema desportivo cria temas que durante algum tempo adquirem uma centralidade que os torna incontornáveis.
Um desses temas é aquilo a que se convencionou designar por carreiras duais, que para uns significa construir uma profissão ao lado da carreira desportiva e para outros conciliar a vida académica com a vida desportiva.
O tema atingiu uma tal magnitude que proliferam os seminários, conferências e outros fóruns de debate e não há instituição desportiva que se preze que não tenha o assunto entre as suas metódicas preocupações.
Governo, federações desportivas e instituições académicas, designadamente do ensino superior e universitário, organizam-se para melhor responder ao problema.
Reconhecemos que vivemos um tempo em que populações especiais como os desportistas, os artistas, ou até famílias em permanente mobilidade colocam os jovens em idade escolar com necessidades de adaptação à formação escolar ou profissional que os demais não têm.
As sociedades e designadamente os sistemas de ensino e profissional devem, por isso, procurar oferecer respostas adequadas a uma sociedade cada vez mais globalizada e com elevada mobilidade. Mas os sistemas de ensino ou de formação profissional não podem estar sozinhos nesse encontrar de respostas. Os restantes sistemas têm de ajudar.
No que respeita aos jovens desportistas, o ónus da conciliação é quase sempre colocado do lado ou do sistema de ensino ou do sistema de formação profissional e pouco é pedido ao sistema desportivo. Este seria uma espécie de vítima de algo que o transcenderia. As coisas não são necessariamente assim.
O sistema desportivo, nomeadamente as entidades reguladoras - as federações internacionais e o Comité Olímpico Internacional - têm deixado crescer de modo desregulado os quadros competitivos, obrigando a longas deslocações e permanências fora do ambiente nacional e tornando crescentemente mais difícil, particularmente no domínio do alto rendimento, a conciliação da prática do desporto com outra actividade de cariz formativo, seja de âmbito académico ou profissional.
Não mexer no actual quadro de competições e no modelo de preparação desportiva para o alto rendimento é, para os atletas de muitas modalidades desportivas, uma sentença quase definitiva quanto à conciliação entre a carreira desportiva e a carreira académica ou profissional, pese embora o esforço desenvolvido por algumas entidades e pelos próprios praticantes desportivos.
É um erro pensar que esta conciliação é uma simples compatibilização de horários, de período de estudos e de prestação de provas, ignorando que as cargas de treino e de preparação desportiva, bem como os períodos de descanso exigíveis não deixam disponibilidade mental e emocional, para ao mesmo tempo estudar como qualquer um outro estudante.
Certamente que há excepções e que existem exemplos onde essa conciliação tem resultados muito positivos. Mas não é razoável, nem socialmente justo que o sistema desportivo não tenha limites no que exige na vida dos jovens atletas e caiba apenas a outros o esforço de conciliação.
É esta situação inultrapassável? Provavelmente sim, face aos desenvolvimentos que o desporto enquanto negócio e espectáculo comercial adquiriu. Mas colocar o problema e discuti-lo ajuda a perceber o que nem sempre parece: que o desporto tem muito a mudar, se pretende ganhar alguns dos desafios que a si mesmo coloca."

Balanço

"O ano de 2019 ficará marcado, no que diz respeito ao futebol, pela brilhante reconquista do Campeonato Nacional, o quinto em seis temporadas, e pela goleada infligida ao Sporting, de cinco golos sem resposta, que resultou no triunfo da Supertaça, apenas a oitava do nosso palmarés, mas a quarta nos últimos seis anos.
O jogo de estreia de Bruno Lage, na Luz frente ao Rio Ave, foi realizado no dia 6 de Janeiro e desde então o Benfica encetou uma recuperação sem precedentes. Nunca havíamos recuperado sete pontos de desvantagem para o FC Porto, mas as 18 vitórias e um empate em 19 jogos foram suficientes para termos podido celebrar o nosso 37.º título nacional.
Na presente temporada, além da conquista do troféu da Supertaça, lideramos a classificação do Campeonato com quatro pontos de avanço sobre o segundo classificado ao fim de 14 jornadas, estamos apurados para os quartos de final da Taça de Portugal e prosseguimos nas competições europeias, em que disputaremos, com o Shakhtar Donetsk, o acesso aos oitavos de final da Liga Europa. Na Taça da Liga, prova que tem servido, sobretudo, para dar minutos a jogadores menos utilizados e testar novas soluções, ainda é possível o apuramento para as meias-finais, mas reconhecemos que é improvável (teremos de vencer amanhã em Setúbal e esperar que o V. Guimarães não vença, em casa, o Covilhã).
Quanto a registos históricos, 2019 está a ser prolífero em golos marcados (146 e ainda falta um jogo), o máximo desde os 151 conseguidos em 1965, e em vitórias nas deslocações no Campeonato Nacional (pleno de triunfos com Bruno Lage, 15 consecutivos, o segundo melhor registo benfiquista de sempre).
Mas o ano ficou marcado por muitas mais conquistas desportivas, com destaque para os títulos nacionais de atletismo, futsal e voleibol, nos masculinos, e futsal, hóquei em patins e polo aquático nos femininos, além dos excelentes resultados financeiros (sexto ano consecutivo a dar lucro e recuperação integral dos capitais próprios da SAD e dos fundos patrimoniais do Clube) e do crescimento do património, com a passagem de todo o capital da Benfica Estádio e da BTV para a esfera do Clube.
O Sport Lisboa e Benfica é hoje um clube mais sólido e sustentável, logo também mais e melhor preparado para os desafios vindouros.

P.S.: Como é possível nomear Fábio Veríssimo para jogos do FC Porto? Ontem, as escandalosas decisões vistas por todos menos por árbitro e VAR falsearam mais um resultado. Alguém acredita que a dupla Veríssimo/Luís Ferreira não viu a falta antes da marcação do golo ou o lance violento de Zé Luís? Claro que viu como todos nós. Existem lances que são, naturalmente, susceptíveis de discussão, mas, em casos como estes, só não vê quem não quer. E o pior é que nestes lances torna-se impossível dar o natural benefício da dúvida, pois acresce o historial conhecido dos protagonistas. Também aqui, infelizmente, só não vê quem não quer!"

Sempre com os mesmos óculos!!!!



"Só um destes lances foi ao VAR, só um destes lances se tocou na bola e encolheu a perna, só um destes lances foi vermelho... o do Jonas!
Onde isto vai parar?"

Vale tudo...



"Esta tempestade nunca desilude. E tudo o roubo levou...
Fábio Veríssimo em mais uma actuação consagrada de #PortoaoColo.
Golo ilegal e uma passagem aos quartos de final da Taça de Portugal."

Empate frustrante...

Benfica 1 - 1 Cova da Piedade

CJ Santos; Ebuehi, Nóbrega, Ganchas, Rafa; Capitão, Bernardo, Ronaldo; Jair, Araújo; Duk

Este ano ganhámos vários jogos nos últimos instantes, hoje, perdemos dois pontos na última jogada da partida!
O jogo não foi bonito, a tempestade não deu tréguas, mas o empate acabou por ser bastante injusto...

Derrota na Champions...

Benfica 1 - 3 Tours
20-25, 25-20, 22-25, 18-15


Com as boas exibições, os adversários ficam 'avisados', já não fazem 'rotações', e o nosso trabalho fica mais difícil...
Mas mesmo assim, fiquei com a impressão que o Benfica no 'máximo' teria ganho a partida desta noite!

Ambição europeia encarnada: um contexto mais à medida

"Real Madrid CF, FC Barcelona, Liverpool FC, Juventus FC e Bayern de Munique são os colossos europeus que vão dominando o futebol da Europa e da Liga dos Campeões. Atualmente, podemos juntar a estes Borussia Dortmund, Paris Saint-Germain FC, o Club Atlético de Madrid e também o Manchester City FC.
Mesmo sem o poderio destes clubes, o Sport Lisboa e Benfica não se pode recolher. A grandeza do clube, a sua dimensão e a sua história são impulsos para que os encarnados possam e devam disputar os jogos com os colossos anteriormente referidos.
Nos últimos 10 anos, vimos vários clubes intrometerem-se entre os papões da Europa: AFC Ajax, O. Lyon, AS Roma, Tottenham Hotspur FC, AS Monaco FC e até o FCG Schalke 04.
A ambição europeia de um clube não pode somente reflectir-se nos sonhos dos adeptos ou na vontade dos jogadores durante os 90 minutos. É algo que tem de fazer parte da política de um clube, desde o primeiro minuto da pré-temporada até ao primeiro minuto da pré-temporada seguinte.
O Sport Lisboa e Benfica vive, hoje, alheado da sua própria ambição e por isso não consegue competir com os bons clubes da Liga dos Campeões. E é assim que surge a Liga Europa – um novo universo, um novo contexto, mas uma mesma ambição. Esta é uma competição mais à medida do actual Benfica. São quatro eliminatórias até à final; são oito jogos até à decisão em Gdansk, na Polónia.
Eintracht Frankfurt, FC Inter de Milão, Manchester United FC, Arsenal FC, AFC Ajax, FC Shakhtar Donetsk, AS Roma e Bayer 04 Leverkusen são os principais concorrentes do SL Benfica à conquista da Liga Europa.
Não será nunca fácil, mas é um desafio mais à altura da realidade do clube, que parecer começar a estabilizar o seu futebol e um 11 inicial; agora, com a equipa finalmente a jogar mais confortável com bola, sem a pressão adicional de disputar a Liga dos Campeões, contra equipas de qualidade, mas com menor motivação, e com a possibilidade de se fazer um acerto ou outro no mercado de inverno. O Sport Lisboa e Benfica tem aqui a oportunidade de se reorganizar e relançar em uma boa campanha europeia.
O primeiro jogo será com o FC Shakhtar Donetsk, o todo poderoso ucraniano liderado por Luís Castro e que já há muitos anos ganha “caparro” nestas competições e apresenta um futebol dinâmico, atractivo e de ataque. É nesta eliminatória que a equipa de Bruno Lage terá de provar que não só está na Liga Europa para a vencer, como tem futebol para isso.
Um Benfica em campo com a dinâmica e qualidade de bola que lhe oferecem Grimaldo, Pizzi, Chiquinho, Taarabt e Rafa é uma equipa capaz de encontrar caminhos para o golo em qualquer jogo desta Liga Europa.
Espero em 2020 ver o Benfica em mais uma final europeia. Acredito que tem tudo para alcançar, pelo menos, as meias-finais, mostrando competitividade europeia. O próximo jogo é de extrema importância e é nele que se deposita a definição de onde pode ou não chegar esta equipa. A Liga Europa é a hipótese de o Sport Lisboa e Benfica ser Sport Lisboa e Benfica."

A hora de Gabriel Pires


"Muitas são as vezes em que o rendimento de Gabriel não corresponde ao seu potencial. Essencialmente porque há jogos em que parece querer assumir por completo a saída para o ataque e não discernir convenientemente o momento de “arriscar” ou não na execução dos passes de maior complexidade – Perde muitas bolas quando assim o é, e nenhuma grande equipa se faz de jogadores que perdem com facilidade a posse, e também porque se perde em “picardias” que lhe retiram o foco do que importa e o levam a abordagens intempestivas que prejudicam sempre a sua equipa.
No novo modelo ofensivo do Benfica, agora assente em três médios, assumiu o papel de número seis, e é nesse espaço que tem apresentado um rendimento bem mais elevado que outrora.
A sua capacidade para vencer duelos, recuperar bolas seja em Organização Defensiva mas também em Transição, e a forma como entrega a bola para os espaços mais perigosos tem impressionado bastante desde que passou a estar rodeado por Taarabt e Chiquinho.
Por cima ou pelo chão, por entre adversários, a rapidez com que decide e faz a bola entrar em zonas de criação com os seus constantes passes ofensivos – por dentro ou por fora – proporciona ao Benfica muita chegada ofensiva."

Por que é que não fugiu (em mágoa) do futebol...

"Vendo-se no «fundo do poço» disse sim a Massamá; O novo abalo na morte da mãe

É uma história de encantar. Carlos Vinícius Alves Morais nasceu bem no interior do Maranhão, em Bom Jesus das Selvas. Creceu com um ídolo acima de qualquer outro, o Ronaldo: «Nunca cansei de tentar imitar ele no campo: na capacidade de explosão, na maneira como o fenómeno procurava o um para um e ia para cima dos adversários». Algures por 2009, Carlos Vinícius tinha 14 anos. A mãe e o padrasto foram viver para Goiânia - e ele não tardou a lançar-se, aventureiro, às escolhinhas do Goiás. Já juntara a Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho no seu fascínio. A um dos seus jogos, apareceu Dema, treinador do Santos - e, no final, correu, entusiasmado, para si, largando-lhe a pergunta: «Queres fazer peneira em Vila Belmiro?» Nem pestanejou na resposta - e logo lhe deram contrato a assinar.
No Santos ainda se cruzou com Neymar - e como central (sim, era o que era...) saltou do Santos para o Palmeiras (com Gabriel Barbosa, o Gabigol, na equipa, ganhou, em 2013, a Copa do Brasil sub-20). Foi no Palmeiras que Marcos Valadares lhe deu a volta ao destino, o treinador revelou-o ao Globo: «Quando me levaram Gabriel Jesus para o time principal, achei que o outro atacante que a gente tinha estava abaixo do que eu esperava. Mas, a cada treino que passava, mais Carlos Vinícius chamava minha atenção: era um zagueiro muito técnico, fazia muitos golos, tinha excelente finalização. Falei-lhe da oportunidade nova que pensara, foi para avançado, dedicou-se tanto que o dia a dia conspirou a seu favor: virou grande goleador - e só estranhei, quando eu deixei o Palmeiras que não o tivessem aproveitado...»
Ao deixar os juniores, o Palmeiras emprestou-o ao Caldense - no clube do interior de Minas fez um jogo apenas. Passou para o Grémio Anápolis, clube de Goiás dominado pelo empresário português António Teixeira. Ainda em São Paulo se casara, ainda em São Paulo lhe nascera um filho - e, a pouco e pouco, a angústia foi-lhe tomando os dias: «Precisava de dinheiro para o meu filho ter leite, ter fraldas - e não estava tendo». Desesperado, atirou, num murmúrio, à mulher: «Vou largar o futebol, fazer qualquer coisa para pôr o pão aqui, dentro de casa. Desde que não seja droga ou algo de errado, qualquer coisa serve, na construção até, porque não?!»
Na tarde que Vinícius escolhera para ser a última no Grémio, mudou-se-lhe a vida, num súbito piparote: «Decidi que assim que terminasse esse nosso jogo de preparação, ia buscar as minhas coisas ao balneário e nunca mais voltava. Estava lá a um canto quando pessoa me chamou - para me perguntar se queria ir para Portugal». Fora Luís Neves quem o chamara e o desafio que lhe lançara era Massamá. Ao escutá-lo, exclamou-lhe: «Meu irmão, eu aqui já estou no fundo do poço, por isso vamos lá». Acabara de fazer 22 anos quando chegou ao Real. No seu primeiro jogo, para a Taça da Liga, fez golo ao Belenenses - e na estreia da Liga 2 saiu de partida com o Leixões com hat trick. Continuou a marcar golos a fio - e mais espantoso foi o que aconteceu depois: com Jorge Mendes metido no negócio, o Nápoles comprou-lhe o passe por 4 milhões de euros (e antes correra rumor de que Pinto da Costa já o tinha debaixo de mira...).
Por Itália, houve quem o tratasse como Novo Careca (o outro era o Careca que, com Maradona, levara o Nápoles a campeão). Jornal deu-lhe o cognome de Il Nuovo Bomber del Napoli - mas Ancelloti achou melhor pôr o novo bombardeiro a rodar por outros lados. Ofereceram-no ao Sporting, não o quiseram - foi para o Rio Ave. Em Vila do Conde mostrou o seu poder de fogo e, de um instante para o outro, os dias felizes transformaram-se, outra vez,  em dias de dor - mãe lhe morrera, de súbito, em Bom Jesus da Selva, ao zerozero contou-o (em lágrimas soltas): «Sempre que fazia golo, mandava para ela. Mamãe pegava no vídeo e saía mostrando para todo o mundo. Ao saber da desgraça, pensei: Quem vai mais ver os meus golos?!» Por entre o desespero, passou-lhe, sentimental  e fugaz, a ideia de abandonar o futebol outro vez: «Aí pensei: ela vai ficar lá no céu cuidando de mum, vendo o que eu vou continuar fazendo pelo meu filho, pela minha mulher, pela minha filha que está para nascer...»
Atleta de Cristo, filosófico, solta, às vezes, frases assim: «Mais vale a lágrima de uma derrota do que a vergonha de não ter tentado». Regresso ao Mónaco, o Benfica foi buscá-lo por 17 milhões de euros - e mal Bruno Lage lhe abriu a equipa. Vinícius mostrou que o golo é o seu destino, cada vez mais deslumbrante o seu destino..."

António Simões, in A Bola

As 'caras' do Benfica

"A de ontem um bocado distorcida (houve SC Braga 'à Europa). Analiso motivos de ter ressurgido a melhor 'cara'

Seria o SC Braga - estranhíssima equipa que brilha na Europa e, por cá, nas 2 mais recentes jornadas da Liga, perdeu com os 2 últimos classificados! - capaz de sair da Luz eliminando o Benfica da Taça de Portugal? Fê-lo sofrer. Porque vimos o SC Braga europeu... E problema extra do Benfica foi quase o mesmo dele se poder dizer...
Despique intenso, que poderia ter incluído prolongamento... - evitado por fífia do guarda-redes bracarense (contraponto a autogolo benfiquista). Sim, nos derradeiros minutos, esteve bem à vista 3-1 (Sá Pinto trocada defesa-central por ainda mais ímpeto atacante; e daí resultou abrir retaguarda). Mas também clara fora a aflição do Benfica, condição física a esvair-se; Bruno Lage teve de chamar Samaris para reforçar estoirada linha média. Estranho? Não tanto porque o SC Braga mudou mão-cheia de jogadores do anterior jogo para este; e o Benfica manteve onze titular pelo 5.º jogo consecutivo (ressalvada, ontem, a troca de guarda-redes).
SC Braga osso muito duro de roer porque apresentou a sua cara europeia... Obrigando a cara benfiquista a distorcer-se um bocado, face aos últimos tempos no campeonato.

Em frente na Taça de Portugal (quase de certeza não na da Liga...) e, após decepções na Champions, assegurando Liga Europa, o actual Benfica tem o indiscutível mérito de ser líder do campeonato. É essa a sua boa cara. E o mérito vinca-se assim:
a) soube reagir ao brutal atropelamento que o FC Porto lhe aplicou na Luz, logo na 3.ª ronda - 0-2, e tão, tão categórico!; implícita forte ameaça da crise anímica...; de imediato foi o Braga vencer por 4-0 (!) e não mais deixou de ganhar - 11 jornadas a fio;
b) no último mês, aos triunfos acrescentou estatuto de equipa que melhor joga: consistência táctica, ofensivamente esfusiante.
Eis Benfica muito próximo do que exibiu na sua fabulosa 2.ª volta na época anterior - o que, até há 3 ou 4 semanas, mesmo vencendo, não se via. Porquê, quase subitamente, agora?
- Chave n.º 1: Chiquinho. Vindo de prolongada lesão, a sua qualidade técnica e, sobretudo, a sua inteligente versatilidade táctica dão ao modelo de jogo preferido por Bruno Lage aquilo que desaparecera sem João Félix: hábeis movimentações nas chamadas entrelinhas, atraindo e rasgando defesas. Ah! e com ele cresceu o futebol de... Pizzi: sintonia de inteligências futebolísticas.
Enquanto Chiquinho dava os 1.ºs passos num novo mundo, e, depois, quando caiu em baixa clínica, Lage tentou adaptar RDT a este tipo de manobras atacante. Sem tais características, tendência para futebol engasgado, ficando num nim: nem fluidez na busca de entrelinhas, nem esquema com dois puros pontas de lança.
Acontece que não vislumbro no plantel outro, como Chiquinho, capaz de bem encaixar na tal dinâmica à Bruno Lage; essa que o lançamento de João Félix tornara possível, surpreendendo todos os adversários (agora, já precavidos). Óbvio: ausência de alternativa (a Chiquinho e, atenção, ao esquema táctico...) poderá ser forte problema. Uma das lacunas no plantel.
- Gabriel-Taarabt, recente novidade no meio-campo. Afastando o poder atlético de Samaris e o perfil mais técnico do menino Florentino (este vinha sendo grande aposta de Lage, mas também vinha caindo de rendimento). A nova dupla tem feito a equipa avançar alguns metros, incutindo superior qualidade na posse e na circulação da bola, daí resultando melhor e mais variada projecção de ofensivas. Aguardo teste nos jogos mesmo a doer, quando também forte capacidade defensiva é muito necessária... Ontem, disso houve mau sinal; até antes do desgaste físico...
- Cervi. Eclipsado pela grande forma de Rafa, soube aproveitar a longa lesão deste. Curioso contraste: o melhor Rafa é muito superior atacante, com devastadora velocidade de galgo e... golos, muitos! - cruciais na cavalgada para o anterior título e também nesta época; Cervi velocidade possui (menos do que Rafa, pois este é... único, pelo menos em Portugal), perde no confronto quanto a olhos na baliza, mas tem enorme genica e... bate Rafa em disciplina táctica, sendo o extremo que melhor defende. Grande beneficiado pela entrada de Cervi: Grimaldo. Pode mais utilizar o seu poder atacante, porque Cervi é capaz de lhe proteger as costas muito melhor do que Rafa.
- Vinícius. Projectou-se para ponta de lança goleador, face a quebra a posterior lesão de Seferovic. O homem golo da época passada vai ter de mais pedalar... Vinícius, imponente atleticamente (1,90m, 83Kg.) e com muito bom esquerdo, poderá melhorar o seu cabeceamento? - aí onde Seferovic claramente o derrota."

Santos Neves, in A Bola

Carta aberta a António Costa

"Caro primeiro-ministro do XXII Governo Constitucional: eu sei que o Orçamento de Estado deve ainda ocupar grande parte do seu tempo e preocupações mas agora que o ano está a terminar gostaria de lhe pedir que olhasse para o nosso futebol com olhos de político e não de adepto. E recordasse que isto não é um mero desporto, antes uma actividade económica que tem um impacto a rondar os 0,3% do PIB, gerando receitas superiores a €499 milhões por época. Mas que poderia gerar muito mais (o que seriam óptimas notícias para Mário Centeno) e, consequentemente, ser menos poluído. Olhe para o que aconteceu aqui ao lado: a par de Portugal, Espanha era o país do top-10 do ranking UEFA que não tinha direitos televisivos centralizados (cada clube negociava por si). Real Madrid e Barcelona ganhavam 10 vezes mais que o último classificado (por cá a relação é de 14 para 1) e apesar do enorme poderio destes dois gigantes temia-se que o futebol espanhol entrasse em bancarrota. Foi aí que entrou em cena o poder central: em Maio de 2015, em conselho de ministros, saiu o decreto real que passava a centralizar os direitos. Abriu-se um concurso público para a venda do pacote como um todo e as receitas passaram de €600 milhões para €1800 milhões. Real Madrid e Barça continuaram a ganhar o mesmo (€155 e €166 milhões, respectivamente) mas o 20.º classificado passou a receber apenas 3,5 menos (em vez de 10 vezes menos). Ou seja, o Huesca (€44,2 milhões) ganha mais que qualquer um dos grandes em Portugal. Se a isto somarmos uma justiça desportiva muito mais assertiva (por exemplo, o Réus foi expulso três anos das competições profissionais por não pagar salários enquanto aqui andamos com jogos florais) compreendemos onde está o problema em Portugal: desigualdade, opacidade, instituições frágeis, muito ruído e pouca ópera. Isto só muda pela via política. Haja coragem. Feliz Natal."

Fernando Urbano, in A Bola