"O craque argentino ganhou a sua sexta Bola de Ouro – tornou-se o jogador na história que mais vezes venceu o troféu – numa versão consideravelmente diferente daquelas em que havia sido consagrado antes. Menos avançado, mais jogador, mas igualmente superior aos restantes
Pode parecer estranho, mas já foi em 2015 a última vez que Lionel Messi foi oficialmente considerado o melhor jogador de futebol do mundo. Sem beliscar o extraordinário rendimento de Cristiano Ronaldo, o principal responsável por esta interrupção no palmarés do argentino, soa até estranho que o jogador do Barcelona não fosse coroado como o melhor há já quatro anos seguidos.
Sobretudo porque, sem a formalidade dos prémios e a pressão que advém do ato de votar, a grande maioria dos adeptos e dos jogadores atira instintivamente o nome de Messi quando a questão é qual o jogador que melhor pratica esta modalidade que tanto consumimos.
O mundo do futebol passou, portanto, a ter dúvidas sobre o jogador que merece vencer o galardão de melhor do mundo, mesmo que não as tenha sobre quem ele é. Pelo meio, uma série de critérios, lógicas e tentativas de quebrar a rotina e o tédio imposto pela superioridade de um jogador em relação aos restantes.
Ninguém melhor do que Van Dijk, considerado o 2.º melhor nesta eleição de 2019, para rebater essas linhas de pensamento: “Não interessa se Messi não está na final da Liga dos Campeões, ele é o melhor jogador do mundo e acho que ele merece ganhar [a Bola de Ouro] enquanto jogar”, disse o defesa do Liverpool.
O mais comum argumento daqueles que aprovam a mudança de mãos da Bola de Ouro é que se deve premiar não o melhor em absoluto, mas aquele que foi melhor no ano em questão; o raciocínio é legítimo, apropriado e, diria, justíssimo.
O problema surge quando, na busca incessante por essa falsa meritocracia, limitam as opções aos jogadores da equipa que venceu o troféu colectivo mais importante da época.
De acordo com esse raciocínio, é então impossível que a melhor equipa não tenha no seu elenco o melhor jogador da actualidade. Para piorar ainda mais a situação, as competições que costumam servir de barómetro são a Liga dos Campeões ou o Mundial, provas a eliminar que, como todas as desse género, mais facilmente caem nas mãos das equipas que brilham pontualmente e não de forma continuada, como as que vencem competições de regularidade. Não só se quer impor que o melhor jogador do mundo tem de estar na melhor equipa do mundo como ainda se mede essa equipa através de um elemento tão redutor como os resultados de uma competição a eliminar.
A contrariar essa tendência vincada nos últimos anos, a Bola de Ouro de 2019 foi entregue a Messi, que não venceu a Liga dos Campeões, mas quase derrotou praticamente sozinho a melhor equipa dessa prova nas meias-finais, apontando uma exibição magistral na primeira mão dessa eliminatória da Champions.
Foi, por isso, o próprio galardão que saiu vitorioso ao ser entregue ao argentino: a Bola de Ouro recupera assim parte da credibilidade perdida quando, por exemplo, deixou o capitão do Barcelona no 5.º lugar em 2018 – mesmo que nesse ano absolutamente ninguém achasse que existiam quatro jogadores melhores do que ele.
Sobre o jogador ou a época que protagonizou, já pouco há a dizer. Messi normalizou, a cada fim-de-semana, o excepcional. Faz com que coisas absurdas pareçam simples e, além disso, apresenta-as com uma regularidade que, em última instância, prejudica a percepção que os outros têm dele porque eleva tanto as expectativas que torna difícil, até para si, superá-las.
Messi é, por isso, o seu único rival. Nós estamos cá para o apreciar e reconhecer."
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