"Esta era a segunda vez que ela saía das mãos de Telma Monteiro. A outra tinha sido durante a noite, quando a judoca, finalmente, cedeu ao cansaço depois do turbilhão de emoções que se seguiu à subida ao pódio olímpico do Rio 2016 e foi dormir. Agora, andava de mão em mão, sempre com Telma por perto a testemunhar o regozijo de quem tocava numa medalha olímpica pela primeira vez. Também eu o fiz. Senti o peso, apreciei os pormenores gráficos e devolvi-a intacta à feliz proprietária.
Poucos minutos depois, sentei-me com Telma junto à entrada Aldeia Olímpica. Ficámos ao sol, naquele pequeno jardim onde se misturavam idiomas de todos os cantos do mundo. Trocámos breves palavras de circunstância antes de se iniciar a entrevista, a primeira da medalhada olímpica após o histórico combate com a romena Corina Caprioriu.
Logo à primeira resposta, Telma agarrou a medalha enquanto falava. Aquele gesto involuntário repetiu-se várias vezes ao longo dos cerca de 15 minutos de conversa. Não era para menos. O que Telma tocava era ouro.
Caro leitor, não se apresse em me corrigir. Sei que a medalha que Telma conquistou a 8 de Agosto de 2016 foi de bronze, mas naquele jardim da Aldeia Olímpica o que ela tocava era mesmo ouro.
Isto era algo que eu já devia ter aprendido. Em 2012, nos Jogos de Londres, momentos depois de Fernando Pimenta e de Emanuel Silva conquistarem a medalha de prata em canoagem, comentei com um membro da missão portuguesa a curta distância a que a dupla de canoístas tinha ficado do primeiro lugar. "Estás doido? É medalha, Pedro, é medalha." Foi a resposta.
O significado da medalha transcende o metal de que é feita. O que Telma segurava era a recompensa de anos de sacrifício, trabalho e também um ponto final na dúvida sobre se algum dia iria mesmo subir a um pódio olímpico.
No plano desportivo, nada há de mais valioso para um atleta de alta competição. Foi essa a certeza que assimilei ao ver as mãos de Telma transformarem o bronze em ouro."
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