"Andava no atletismo, amigos não queriam jogar com ele; Como Maradona, Puskas (e Viagra...) lhe cruzam a vida
1. Bruno Vieira Amaral, dos grandes escritores da nova geração, disse dele numa das suas notáveis (e poéticas) crónicas: «É como um epifenómeno na indústria farmacêutica procura-se um medicamento para a tensão arterial e descobre-se o Viagra». Fê-lo, por achar que, mesmo lá, no Benfica, não o valorizam como merece. «Dos mil olheiros que quinzenalmente visitam a Luz nenhum vem com a missão declarada de o observar. Nenhum clube do mundo gastaria recursos ao desbarato para o fazer. Vendê-lo é, por isso, uma impossibilidade técnica. Aposto que nem Jorge Mendes - um homem capaz de vender dentes a um pato - seria capaz de encontrar clube disposto a pagar para o contratar. Ora, é isso mesmo que o torna tão valioso para o Benfica...»
2. Nasceu por Setembro de 1990 - e aos quatro anos já andava pelo atletismo no Mealhada, clube de Loures: «Fui com a minha irmã, afeiçoei-me, venci imensas provas». Para o futebol acabou arrastado por influência do avô - e sobretudo do pai: «Começou por ser uma brincadeira. O meu pai era treinador e levou-me com ele, ganhei o bichinho».
3. Adorava Zidane - e pelas ruas de Loures, nos jogos com os amigos, mostrava tanta finura no pé, que um deles o tratou por Maradona - e os outros foram na onda de enfiada. Às vezes, esse seu jeito também dava em amuo, um dos amigos revelou-o: «Em certas alturas, ninguém queria jogar com ele porque não passava a bola a ninguém...»
4. Ainda andou a fazer as duas coisas: atletismo e futebol - e aos 12 anos saltou do Loures para o Sporting. Fugaz foi a passagem por lá porque achando canseira de mais ter de andar a correr entre Loures e Alcochete para se treinar, mudou-se para o Alverca - para a evitar. Saltou para os juniores do Belenenses - e não tardou a encantar Jaime Pacheco.
5. Tinha 18 anos, antes de desafio com o Marítimo, a ele (e ao Pelé), Pacheco largou em clamor: «Vocês estão bem miúdos, são atrevidos». Era sinal do que aconteceu logo depois: convocou-o e, a 10 minutos do fim lançou-o a jogo: «Estávamos a perder, e Jaime Pacheco, que era muito engraçado, antes de eu entrar, disse-me apenas: 'Desfruta destes 10 minutos porque vais ter muitos mais ao longo da tua carreira'...»
6. Na temporada seguinte, a de 2008-2009, passou a ser figura habitual na equipa - nessa equipa do Belenenses que desceu à II Liga. E foi já na II Liga que José Mota o adaptou de médio a lateral. Com tal fulgor fez a função que o Benfica o contratou. Tinha 22 anos, Jorge Jesus achou melhor mandá-lo «rodar» para Leiria. Não o deixou lá estar muito tempo...
7. Na época de 2013-2014, essa em que o Benfica ganhou o campeonato, a Taça e a Taça da Liga era já habitual titular. Paulo Bento abrira-lhe a selecção e levou-o ao Mundial do Brasil e tendo perdido por 4-0 com a Alemanha com João Pereira a lateral direito, contra os Estados Unidos pô-lo a jogar, destino atacou-o num fogacho: «Aleijei-me num lance em que fiz carrinho aos 10 minutos. Continuei com a dor, não queria sair, ao intervalo, quando o médico me disse: É melhor saíres, podes agravar a lesão', fiquei no balneário muito triste» (os Estados Unidos acabaram por empatar 2-2, Portugal ficou-se pela fase de grupos).
8. A história continuou a rasgar-se, cada vez em maior encanto, a seus pés - e, apesar da mágoa das duas finais perdidas na Liga Europa, conseguiu o que nem Eusébio conseguira: é o único português tetracampeão pelo Benfica. Esse título de 2016-0217 arrastou-o a aventura: foi, com amigo do triatlo, a Fátima de bicicleta agradecê-lo. Veloso antes o dissera: «É jogador polivalente é para lateral é ele e mais 10»...
9. Golo que marcou ao Portimonense levantou hipótese do brilharete lhe dar o Prémio Puskas. Foi o seu terceiro no Benfica, houve quem o achasse um... «chouriço», ele não: «Honestamente, tentei chutar à baliza. A minha intenção até era chutar para a zona do primeiro poste. A bola saiu daquela maneira e saiu perfeita, porque entrou...»
10. Esse golo ao Portimonense não chegou para fazer do Benfica penta, o FC Porto deixou-lhe esfarrapado o sonho. Sempre de bigodinho e capitão (e alma), campeão voltou a ser agora (e, além dos 5 campeonatos, já tem 3 Taças da Liga, 3 Supertaças, 2 Taças)."
António Simões, in A Bola
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