"O pontapé de saída, que normalmente diz pouco em termos posicionais, acabou por ser um indicador claro do que seria o Sporting em termos posicionais: em 1x3x4x3 no momento ofensivo, que se transformava em 1x4x4x2 no momento defensivo, e por vezes em 1x4x3x3, quando Diaby fazia por socorrer Gudelj.
Ou seja, Marcel Keizer montou a equipa como Abel Ferreira costuma montar a sua, e encaixou perfeitamente ao nível das posições e das zonas de superioridade, inferioridade e igualdade.
No Sporting, Acuña e Ristovski foram os responsáveis pela largura e profundidade. O ter sido Ristovski, e não Borja, dever-se-á às características individuais de Acuña, que não é jogador para atuar nos espaços centrais, e também por uma questão de encaixe na dinâmica do Braga.
Isto é, o médio ala do Braga que oferece largura e profundidade é Esgaio e, assim, mantendo Borja na posição, Esgaio ficaria mais ou menos controlado. Do outro lado, Gudelj ficaria sem grandes preocupações com a largura, uma vez que João Novais aparece mais em zonas interiores, sendo Sequeira o responsável pela largura e profundidade desse lado.
Assim, Ristovski, enquanto atacava, teve a possibilidade de controlar as subidas de Sequeira, e colocar-se rapidamente para defender a largura, nunca o perdendo de vista.
As dificuldades defensivas do Braga aparecem por dois factores:
1. A forma como os jogadores do Sporting se esconderam da pressão, ocupando zonas intermédias, que colocavam dúvidas aos jogadores do Braga (quem sai nessa zona?): Diaby e Bruno Fernandes no apoio a Bas Dost, dentro daquele espaço entre quatro jogadores do Braga (Sequeira, Raúl Silva, Novais, Claudemir – Goiano, Bruno Viana, Esgaio, Fransergio); Acuña e Ristovski sempre em largura para abrirem espaços entre a linha defensiva do Braga, fixando os laterais, ou para aproveitarem o espaço em largura.
A dinâmica que o Sporting conseguiu nos corredores foi interessante, sobretudo quando foi utilizada para libertar Bruno Fernandes ou Wendel (que várias vezes trocaram de posição), e depois aceleraram. Foi daqui que Ristovski conseguiu por diversas vezes encontrar espaço para servir Dost dentro da área.
2. As dificuldades individuais dos jogadores do Braga em interpretarem os lances. As abordagens defensivas dos quatro elementos da linha defensiva mostraram as dificuldades que têm, e que Abel tem tentado mascarar.
Em transição defensiva, o Sporting encaixava perfeitamente na estrutura do Braga, excepto nas costas de Acuña e Bruno Fernandes. E era por aí que o Braga poderia ter virado o jogo a seu favor. Colocando um jogador com mais vocação para dar seguimento aos ataques e critério que Fransérgio (que fundamentalmente dá profundidade) - a zona por onde deveriam ter começado os ataques antes de colocar em Esgaio, e explorar a pouca intuição de Borja, ou até atrair para depois colocar nas costas de Ilori, onde Ristovski aparecia atrasado. Para tal, teria necessitado de alguém com mais critério nesse espaço: Novais ou Ryller.
Como se vê pela imagem, Ristovski em transição defensiva tem sempre Sequeira no seu campo de visão, e nunca nas suas costas, assim como Gudelj tem João Novais e Borja tem Esgaio.
Em organização ofensiva, o Braga também não foi capaz de ligar o jogo com a velocidade e qualidade necessárias para colocar o Sporting em dificuldade. Não conseguiu aproveitar em transição Fransérgio, nem Paulinho e Dyego em organização ofensiva.
No final, Abel Ferreira falou da diferença de qualidade que existe entre as duas equipas, que é uma evidência. Porém, com Ricardo Horta (que apenas entrou aos 69’) e Trincão, que não foi opção, fica a sensação que dentro das suas opções, mesmo com a abordagem estratégica, poderia ter mais qualidade e mais desequilíbrio do que aquele que teve no seu onze. Talvez não se possam considerar esses jogadores como abre-latas ao nível de Bruno Fernandes, mas para o Braga talvez sejam os abre-latas do seu contexto.
Houve ainda uma referência importante de Abel ao facto de ter sido surpreendido do ponto de vista posicional pelo Sporting, ao qual não conseguiu reagir. O penálti ao início da segunda parte (por mais uma má abordagem defensiva dos seus defesas) também não ajudou a que a equipa se conseguisse levantar depois de um ou outro ajuste ao intervalo.
E é muito por este tipo de situação que a estratégia e a observação do adversário têm o valor que têm: são complementares e têm um grau de fiabilidade baixo. Porque num jogo do gato e do rato, em que todos se tentam enganar, a equipa pode trabalhar para anular um adversário que depois se transfigura, fica em vantagem, mata-te nos momentos indicados, e... o que te sobra depois de teres trabalhado tanto em função do adversário?"
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