quarta-feira, 17 de outubro de 2018
Realidade distorcida
"Mais uma vez no Porto Canal se assistiu ao distorcer da realidade. Infelizmente, há quem ache isto correto e acredite em personagens que há muito perderam a credibilidade. Dar audiências a estas personagens é também matar o futebol português, estes senhores não querem a verdade e já é habitual distorcerem a realidade e manipularem a opinião pública. É triste tudo isto ser feito com o apoio do Futebol Clube do Porto, uma instituição que merecia outro tipo de pessoas na sua comunicação que abriram uma guerra sem precedentes no futebol nacional onde literalmente vale tudo.
A imagem que está anexada é do programa de ontem. Podemos ver no título que a justiça americana teria rejeitado a queixa do Benfica. É interessante notar que esta noticia foi dada pelo JN na manhã de ontem, mais uma vez o JN serviu como ferramenta comunicacional de um clube, e isto é demasiado evidente com tudo aquilo que temos publicado nos últimos largos meses que prova a existência da promiscuidade entre algumas pessoas do jornal e pessoas ligadas ao Futebol Clube do Porto.
A verdade é só uma, a queixa do Benfica não foi rejeitada pela justiça americana, como aliás veio hoje a público. O Benfica é que retirou a queixa por ter chegado a acordo com a Google. Desde o inicio que defendemos que o Benfica nunca iria com este caso para a frente quando o seu maior interesse era colaborar com a Google e identificar os bloggers que divulgaram correspondência privada do clube. Ficou provado mais uma vez que tínhamos razão. Vamos ainda assim esperar pelos próximos dias, porque sabemos que vão haver mais informações sobre o caso."
Transfer desporto-vida: aprendizagens a retirar e seus reflexos
"O contexto do desporto de alto rendimento tem sido, desde sempre, um enorme laboratório de estudo e treino de "mental skills" para o sucesso.
Tratando-se de um "setting" onde a intensidade se vive um (ou alguns!) nível(eis) acima do que é comummente experienciado no quotidiano tradicional, acaba por se transformar num curioso espelho da manifestação dos padrões de funcionalidade ou disfuncionalidade de quem por lá anda - estamos a falar, no caso, na exibição de comportamentos que nos aproximam do sucesso... ou do insucesso.
A similaridade com outros contextos de performance tem sido sobejamente explorada, nomeadamente na área empresarial tendo, por exemplo, Jim Loher e Jack Groppel (respectivamente, Psicólogo e Nutricionista a trabalhar, há mais de 20 anos, no contexto do desporto e das empresas de alto rendimento), desenvolvido um conceito muito intuitivo designado por: Corporate Athlete (2001).
Algumas características parecem, de fato, distinguir os "Atletas" (sejam eles do contexto desportivo, artístico, empresarial ou outro) dos demais e, invariavelmente, e para além de um conjunto de competências psico-emocionais que parecem dominar acima da média (ex: motivação, resistência à frustração, controlo de stress e ansiedade, entre outros), os que alcançam um desempenho excepcional, partilham de uma característica quase "invisível" aos olhos do grande público:
Gerem extraordinariamente bem os seus recurso energéticos.
Este aponta ser, sem dúvida, o ponto de partida que os alavanca para o sucesso, enquanto processo contínuo e consolidado de forma sustentada.
Referimo-nos, por isso, a uma espécie de "long-runners", ou seja, pessoas que mantém níveis de sucesso consideráveis ao longo do tempo e não aqueles que aparecem pontualmente para não se voltar a ouvir falar deles.
Parece, então, ser perentório que, uma gestão eficaz dos nossos recursos de energia, permite-nos não só explorar todo o nosso potencial mas, fazer com que "naquele momento onde tudo tem que correr bem"... realmente, as melhores probabilidades estejam do nosso lado.
Em suma, estamos a falar da instalação de um conjunto de hábitos que nos permitem ter os recursos energéticos ideais para podermos activar as nossas competências cognitivas e emocionais em pleno, para os desafios que nos aguardam.
Hábitos que determina um desempenho eficiente
Podemos, de uma forma lata, identificar um conjunto de hábitos que se tem revelado determinantes para a elevação dos indicadores de performance e bem-estar:
1) um padrão de sono regular e com a qualidade desejada. Idealmente, é importante que se cumpram entre 7h a 8h de sono diárias e, para conseguirmos estes níveis de eficiência, é importante haver uma boa gestão dos níveis de stress, um plano alimentar adequado e, preferencialmente, sem dor ou desconforto físico.
2) um padrão alimentar que corresponda às necessidades energéticas do individuo. Os planos alimentares "pré-feitos", porque não foram desenhados para a nossa antropometria, nem em função de um correto diagnóstico das nossas necessidades energéticas diárias (que são completamente distintas para um gestor de topo na banca, no sector privado, para um médico ou um professor, por exemplo), muitas vezes, contribuem mais para o nosso corpo se tornar ainda mais "disfuncional".
3) um padrão de prática de exercício físico nunca inferior a 3 a 4 momentos por semana, de intensidade moderada a elevada. A generalidade dos estudos produzidos nesta área revela, não só ganhos na nossa qualidade fisiológica mas também, consequentemente, na nossa eficiência cognitiva e emocional.
4) Integrar a noção de treino no seu dia-a-dia. Na realidade, em qualquer uma das dimensões anteriormente apresentadas, estamos também a falar em processos de treino e de especialização - Especialização da nossa capacidade (e consciência) em identificar os padrões certos que nos ajudem a ter os recursos vitais à maratona que se pode vivenciar em BUSCA do SUCESSO (seja qual for a forma do mesmo que escolhermos para nós).
Impacto no treino de competências psicológicas
A própria área do desenvolvimento e optimização de competências psico-emocionais, que se traduz no treino avançado de competências para a performance (em diferentes contextos de realização – desporto, artes, empresas, escola...), onde as pessoas procuram uma maior especialização, desempenho e qualidade de vida, entende este tipo de "treino" igualmente fundamental para que todo o treino psico-comportamental possa ser bem sucedido.
Sem "energia", toda a informação que possa ser "coleccionada" do ponto de vista cognitivo e emocional, terá sérias dificuldades em ser activada, sob a forma de comportamento. Muito menos em contexto de adversidade.
Acontece que, para um qualquer "performer", a noção de treino é algo que se encontra enraizada desde tenra idade e, para o cidadão comum (entenda-se, para o efeito, alguém que não é sujeito a um processo de treino sistematizado e continuado) essa não é a realidade.
De fato, todo e qualquer contexto de realização (escola, artes, desporto, empresas...)
pode assumir-se como um contexto de especialização de “boas práticas” ou, por oposição, de consolidação de erros – em boa verdade, sempre que não traçamos metas de aprendizagem planeada e sistematizada, esta pode assumir um carater aleatório (logo, com elevados níveis de ineficiência), resultante mais do acaso do que da sistematização.
Assim se consolida (entenda-se, treina), involuntariamente, tanto os padrões funcionais (que nos aproximam do que desejamos) como disfuncionais.
Importa, então, equacionar de que forma a podemos integrar na Vida das nossas Escolas, Empresas e, inclusive, na nossa Vida Pessoal esta perspectiva de treino e superação.
Importa, acima de tudo, activar curiosidade e vontade de fazer diferente e melhor – só assim se inova e evolui e constrói confiança."
Uma nova agenda para o desporto em Portugal: uma prioridade
"Não pretendo mimetizar o padre António Vieira, pregador do acutilante sermão de Santo António aos Peixes, no qual verbera, com aspereza destemperada, os peixes graúdos desta era: os soberbos e arrogantes (roncadores); os pregadores (parasitas e oportunistas); os ambiciosos (voadores); os hipócritas (polvos), estes na essência traiçoeiros e maldosos.
Neste particular, a culpa, na óptica do Padre Vieira, ou responsabilidade, na minha, da falta da prioridade dada ao desporto, enquanto fenómeno de importância social, é das pessoas e organizações do desporto, seja porque não se prega a verdadeira doutrina, difusa, ou porque se diz uma coisa e se faz outra, ou porque se tende a pregar não aos fiéis, sociedade e outros acólitos (políticos), mas a dar resposta a outros interesses paladinos.
Se quisermos ser benévolos e sacudir a nossa responsabilidade objectiva, podemos sempre dizer que a culpa está na água, porque os ouvintes, peixes, não querem receber a doutrina, ou antes preferem imitar os pregadores e não o que eles dizem, servindo os seus apetites vorazes o que não me parece justo, para estes.
Aproxima-se uma nova legislatura e é com responsabilidade de cidadania activa, de cada um de nós e de todos institucionalmente, que devemos contribuir para este processo com propostas concretas, sustentadas, alicerçadas no conhecimento que temos da realidade que diariamente assistimos, sensibilizando os partidos políticos com propostas fundamentadas a serem inscritas nos programas de e para a legislatura de quem governar.
O diagnóstico está feito. Continuar a reforçar a importância social do desporto é mais do mesmo. Todos (ou quase) entendem que em termos educativos; de saúde pública; de sentido gregário; de penetração e mobilidade sociais; de identidade e exaltação da diáspora; económicos, isto é, nos termos, prisma e contexto em que se queira analisar, o desporto é de facto um dos mais, senão o mais importante, fenómeno social, pela sua transversalidade e abrangência.
O desporto confere a oportunidade, perante a sociedade globalizada, de se afirmar como um factor pacificador e promotor de grandes causas sociais de desenvolvimento sendo, definitivamente, um factor promotor do principal desafio que decorre do aumento da esperança de vida: a qualidade desta vida. No desporto, mais do que em qualquer actividade, o progresso para além de relevância técnica tem relevância ontológica: a potenciação de um ciclo de vida.
Então, se assim é:
1. Porque é que o desporto é constantemente desvalorizado em termos políticos, com um investimento residual para além do que resulta das receitas com os jogos sociais?
2. Porque é que o mesmo estado insiste em tutelar o desporto, subalternizando-o a outros domínios sociais, como se per si não tivesse a consistência suficiente para ser uma prioridade com actores próprios?
3. Porque é que não resolvem os problemas óbvios que obstaculizam o desenvolvimento desportivo e que são a causa dos nossos índices de prática deficitários e resultados pouco sistémicos?
Estes são os sinais gerais, para além dos que todos sentimos diariamente, de que o desporto não é uma prioridade!
Isto sucede, também, porque ainda não há uma agenda concertada! Os principais interlocutores institucionais, dirigentes das organizações desportivas, agem isoladamente, não reivindicam, adormecem (desa) sossegados com medo de à acção, hábil, se seguir uma reacção que os possa prejudicar por parte de quem nos tutela.
Vamos então, como estamos na era dos roncadores, roncar e voar com a ambição que sempre caracterizou os desportistas.
Compete às organizações desportivas, que são o elemento central da organização das modalidades desportivas no contexto nacional e internacional, passando por elas o essencial da actividade desportiva quanto à regulamentação e organização competitiva, assumir esta responsabilidade, porque são os principais parceiros do Estado na garantia do direito ao desporto.
O sucesso e as conquistas internacionais dos nossos melhores atletas são autênticos milagres, num país sem sistema desportivo alicerçado por políticas desportivas desagregadas que adiam o assumido, descuram o óbvio e esquecem o prospectivo. São autênticos milagres que resultam do esforço muitas vezes isolado de atletas, treinadores, árbitros, clubes, associações, federações e organismos que tutelam e dão corpo ao Desporto nacional.
Estamos no momento em que as organizações desportivas (federações; associações, clubes), seus agentes (atletas, dirigentes, treinadores, árbitros) e outras organizações da sociedade civil (sistema saúde, autarquias, sistema educativo, partidos políticos, comunicação social) têm obrigatoriamente de cooperar para criar a massa crítica tão almejada colocando na ordem do dia os aspectos que sufocam o desenvolvimento do desporto diariamente, com soluções pautadas pela exequibilidade para que quem tenha de decidir as possa assumir.
Precisamos, por isso, de uma agenda própria que resulte de e num movimento concertado, por uma vez consequente nos seus objectivos, estratégia e acção, em prole do desporto, contando como é óbvio com o Estado central, mas devidamente coordenado. Sem esse esforço sinérgico acrescido, não haverá desenvolvimento para além do que tem sido conseguido até agora.
Não é contra ninguém, é a favor do desporto. Esqueçam por isso os, pouco, argutos arautos das teorias conspirativas que o “tiro livre” com arma de caça, desta vez, não nos assustará. Já somos alguns."
Quem 'matou' mudança? Suspeito n.º 5 - estratégia e critério de decisão
"“Quero mudar as coisas, mas como garantir que as decisões tomadas são realmente implementadas?” – esta era a questão que Mark Angie o Presidente do F.C. Galácticos colocava a si mesmo. Já tinha recolhido informação sobre alguns dos suspeitos de estarem a “matar” a mudança no Clube, entre eles, a qualidade: da visão, da cultura, das normas e da motivação na organização.
O seu comprometimento já ultrapassava a simples consciência das causas para os problemas, ele queria mesmo alterar o estado da situação do Clube. Contudo, as decisões que tinha tomado, com a melhor das intenções, para melhorar a vida, experiência e resultados do Clube, não estavam a ser implementadas. O que poderia estar a impedir as pessoas de executarem as decisões da Direcção do Clube, questionava-se.
Depois de culpar os outros e a sua competência, decidiu “ir mais longe” e procurar eventuais causas de que não se estivesse a aperceber. Não vislumbrando o porquê, decidiu convidar o Detective Colombo, para tomar um café, na esperança de descobrir o problema-solução.
Já se encontrava sentado, numa esplanada voltada para uma praça, com árvores centenárias, rodeadas por relva e, entre elas, como estradas no meio da floresta, caminhos de terra batida e alguns bancos. A calma e tranquilidade reinava naquela praça. Ao fundo, como que em segundo plano, na estrada, via a agitação dos carros, semáforos, do para e arranca, até que é interrompido … - “Presidente Angie” – saudava-o o Detective Colombo – “como está?”. “Bem, obrigado, Detective Colombo, agradeço-lhe a disponibilidade para conversarmos” – respondeu o Presidente Angie.
Depois do Detective Colombo pedir o seu café 3/4, o Presidente Angie abordou-o com a frontalidade que o caracterizava - “vou directo ao assunto, nas últimas semanas e fruto da sua investigação, descobri que a qualidade da visão, cultura, normas e motivos do Clube estavam a “matar” a sua mudança, o seu desenvolvimento. Apercebi-me do muito conhecimento sobre estas temáticas, das várias alternativas sobre estes assuntos e decidi mudar as coisas com a melhor das intenções, mas as situações não só não estão a melhorar e as decisões não estão a ser implementadas, como estamos mesmo a piorar. O que poderá estar a acontecer Detective Colombo?”
“As coisas estão a piorar, como assim?” – perguntou o Detective Colombo. “As decisões que tomámos criaram muitos problemas: há pessoas descontentes, há resistências, há alguns boicotes e já começaram os protestos de uma parte da massa associativa” – respondeu o Presidente Angie.
“Presidente, explique-me como tomou essas decisões?” – indagou o Detective Colombo. “Reuni com a Direcção, apresentei os problemas, as respectivas alternativas, a melhor resposta para a situação e depois distribui responsabilidades, pelos vários departamentos, para que as soluções que apresentei fossem implementadas” – relatava o Presidente Angie.
“Presidente Angie, deu a possibilidade dos colegas de direcção acrescentarem alternativas?” – verificava o Detective Colombo. “Não, tinha conversado com o Detective e já possuía um amplo conhecimento quer sobre o problema, quer quanto às alternativas” – replicou o Presidente Angie.
“Como é que se sentia e reagia se fizesse parte de uma Direcção em que o Presidente informava do problema e a apresentava a solução, sem lhe dar a oportunidade de contribuir?” – questionou o Detective Colombo. “Sentiria algum desconforto, inquietação e provavelmente iria reagir com passividade, no início e com alguma irritação, se a situação se voltasse a repetir” – devolveu o Presidente Angie.
“Muitas vezes os líderes acreditam que já perceberam tudo, esquecem-se de escutar as outras pessoas, potenciais alternativas e contributos e depois esperam que o que decidiram sozinhos seja concretizado pelos outros. Presidente Angie acredita que toma sempre a melhor decisão?” – questionou o Detective Colombo.
“Sim, tomo sempre as decisões com a melhor das intenções” – respondeu o Presidente. “Acredito que sim” – respondeu o Detective Colombo e de imediato perguntou – “Presidente, costuma envolver as pessoas afectadas pelas decisões no processo de decisão?”.
“Como assim?” – tentava perceber o Presidente. “Imagine que vai tomar uma decisão que irá afectar os treinadores, é habitual chamá-los, apresentar-lhes os problemas e solicitar-lhes soluções, antes de decidir? Quando toma uma decisão que afecta os jogadores, costuma chamá-los e escutar as suas propostas, antes de decidir?” – perguntou o Detective Colombo.
“Não, reúno com a direcção e decido” – devolveu o Presidente. “Compreendo, Presidente acredita que o processo ou estratégia que utiliza está a produzir os resultados que procura?” – questionou o Detective Colombo.
Fez-se silêncio, os segundos que passaram pareciam minutos, o Detective Colombo aguardava e até conseguia perceber o contraste entre a tranquilidade da praça e agitação da estrada ao fundo.
“Presidente, o que é que acabou de descobrir?” – Perguntou o Detective Colombo. “Apercebi-me de três coisas: uma, que o líder pode envolver as pessoas afectadas pelas decisões, antes de decidir; a segunda, que o líder é responsável por encontrar a melhor decisão, mesmo que essa não seja a sua decisão inicial e que para isso acontecer, ajuda escutar as alternativas e soluções das outras pessoas; e por fim, que uma coisa é termos a melhor intenção e outra é produzir a melhor solução” – respondeu o Presidente Angie.
“Excelente Presidente e a propósito, utiliza alguma estratégia para tomar as decisões do Clube?” – inquiriu o Detective Colombo. “Não estou a perceber?” – devolveu o Presidente Angie.
O Detective Colombo fez novamente uma pequena pausa, como se estivesse a organizar as suas ideias e disse – “num Clube com a dimensão do F.C. Galácticos a Direcção toma decisões que envolvem milhões, como por exemplo: construir ou recuperar instalações, contratar treinadores e jogadores, mas também sobre desenvolver uma visão, cultura, normas e motivos, entre muitas outras situações. Que estratégia é que o Clube utiliza, para tomar as melhores decisões?”.
“Analisamos as vantagens e desvantagens de cada uma das possibilidades” – respondeu o Presidente. “Sim” – começou por dizer o Detective Colombo – “imagine que tem que decidir entre: contratar um astro em fim de carreira para a equipa principal, que irá comprometer a viabilidade financeira do Clube durante 2 anos, mas que agrada aos sócios, no imediato e lhe irá garantir a reeleição, dentro de um mês; ou criar condições – infraestruturas, técnicos, (…) - para transformar os jovens jogadores do presente em Campeões no futuro, mas que para isso terá que esperar 3 a 4 anos pelos resultados. Que decisão tomava?”.
“Bem, isso introduz uma nova variável, o tempo ou o impacto das decisões no curto e longo-prazo” – observou o Presidente, ao que o Detective devolveu – “Presidente considere agora as seguintes perspectivas, para a mesma decisão (canalizar o investimento para o astro ou os jovens): o que é melhor para si pessoalmente; o que colhe a aprovação dos outros e o que é melhor para todos, ao longo do tempo. Que decisão tomava em cada uma destas três perspectivas?”.
“O melhor para mim era ser reeleito e nesta perspectiva decidia contratar o Astro. O que acolhe aprovação dos sócios já é mais complicado. Estou certo de que uns ficariam agradados com a contratação do astro, enquanto outros prefeririam o investimento de médio-prazo nos jovens. Quanto ao que é melhor para todos, estou em crer que escolheria o que fosse melhor para a maioria” – respondeu o Presidente e, depois de uma breve pausa, continuou – “está a dizer-me que no processo de decisão há um factor moral e ético a ter em conta?”.
“Presidente” – devolve o Detective Colombo – “está o Presidente e há uma situação que gostaria de clarificar. Muitas vezes, confunde-se o melhor para todos com o melhor para a maioria, mas isso considera apenas o que a maioria entende que é melhor e desperdiça a quantidade e qualidade de informação que a minoria detém …” – ao que é de imediato interrompido pelo Presidente Angie – “… ok isso é muito bonito, mas é impossível conseguir decisões consensuais, que agradem a todos”.
“Será que é mesmo impossível Presidente? Será que o problema está no consenso ou no critério de consensualidade?” – perguntou o Detective Colombo. “Não estou a perceber!” – devolve o Presidente Angie.
“Vou tentar explicar-me melhor. Concordo consigo, será provavelmente impossível chegar a decisões em que 100% das pessoas estejam de acordo, mas já explorou a possibilidade de decidir pelas opções em que ninguém esteja completamente em desacordo, em vez de estarem 100% de acordo?” – devolveu o Detective Colombo.
“Estou a ver Detective: não envolvermos as pessoas que são afectadas pelas decisões, considerar que a melhor decisão é a minha, considerar apenas as vantagens e desvantagens, ignorando o impacto das decisões no tempo e descartar a razão moral e ética implícita nas decisões, ou seja, não utilizar uma estratégia e um critério de decisão, que provoque os resultados desejados, estão a “matar” a mudança do Clube. Necessitamos de melhorar a estratégia e o critério de decisão, se quisermos fazer melhores escolhas, se desejarmos gerar soluções em vez de problemas e se pretendermos que as decisões sejam realmente implementadas, em vez de ignoradas” – resumiu o Presidente.
O café estava tomado, a conversa tinha sido extremamente rica, o Presidente agradeceu a disponibilidade do Detective Colombo e despediu-se. Enquanto caminhava para o carro, recordava-se de tantas decisões que tinha tomado sem uma estratégia e um critério que tornassem reais as boas intenções e das consequências extremamente negativas, quer para a organização – Clube, quer para a vida das pessoas que trabalhavam e apoiavam o Clube. Ao entrar no carro, sentou-se e imaginou as situações em poderia utilizar uma estratégia e um critério para tomar boas decisões – “quando vou votar para as eleições locais ou nacionais; quando estou na assembleia municipal, enquanto deputado, e tenho que escolher; quando escolho a casa onde vou viver; quando apoio o meu filho a escolher o curso que quer tirar; quando vou negociar, quando estou a contratar um treinador ou um jogador, quando …” "
Sonho europeu de Vieira que não é sonho
"Foi em Amesterdão, onde agora volta, que o humilde Benfica travou o invencível Real Madrid e se assumiu como a mais importante referência europeia
É natural que os adeptos do emblema da águia queiram marcar presença massiva no jogo da Liga dos Campeões, na próxima semana, no estádio do Ajax, o mesmo da final da Liga Europa em 2013, perdida frente ao Chelsea (1-2), embora a oportunidade lhe permita, igualmente, recordarem o mais dourado acontecimento que o Benfica viveu, quando, a 2 de Maio de 1962, também em Amesterdão, na final da Taça dos Campeões Europeus, derrotou o poderoso Real Madrid, por expressivo e inimaginável 5-3.
No ano anterior, em Berna, vencera, igualmente na final, o não menos temido Barcelona, tendo erguido pela primeira vez o tão valioso troféu e com essa proeza mostrado ao mundo a magia e a qualidade do jogador português. Mas foi na cidade holandesa que se virou uma página da história do futebol europeu, com a queda de venerado Real Madrid, de Di Stéfano, Puskas, Gento, Santamaria, Del Sol e outros: vencedor da Taça dos Campeões cinco vezes seguidas, entre 56 e 60, viu o seu incrível ciclo travado pelo humilde Benfica.
Há 56 anos (Costa Pereira; Mário João, Cavém, Germano, Ângelo Martins, Fernando Cruz, Coluna, José Augusto, Eusébio, Águas e Simões), inequivocamente, o Benfica colocou ponto na final na hegemonia espanhola e ele próprio se transformou na mais importante referência europeia durante toda a década de 60, como atestam as presenças na finais de 63 (Milan, 1-2), de 65 (Inter, 0-1) e de 68 (Manchester United, 1-1 e 1-4 no prolongamento).
A notoriedade encarnada criou raízes e resistiu até 1990, quando pela última vez participou numa final dos Campeões Europeus (Molan, 0-1, em Viena), a seguir à de 88, com o PSV (0-0, decidido por penáltis 5-6, em Estugarda), o que, além de traduzir o ressurgimento do Benfica europeu trinta anos depois da primeira conquista, dá alento à ambição de Luís Filipe Vieira de recolocar o clube no patamar de excelência que ocupou e que a sua grandeza lhe impõe. Mais do que um sonho, como lhe chamam, é um objectivo desportivo alcançável, sendo certo que, a repetir-se o intervalo temporal, está na hora de a águia voltar a voar pelos céus da Europa.
Os adeptos querem muito, o presidente mais ainda e por diversas vezes tem abordado o tema através de mensagens para dentro, e para fora, absolutamente convencido de que é possível chegar lá acima, e Domingos Soares de Oliveira, administrador, por estes dias, abriu a porta a todos os entusiasmos, em Londres, numa cimeira Sport Business, ao declarar que estão identificados os princípios e os fundamentos do clube que irão orientar a estratégia global durante a década vindoura. Prova de que o trabalho de casa está feito, sendo altura, por isso, de passar da teoria à prática, tanto mais que a decisão superiormente tornada, antecipando os desafios do futuro, vai ter consequências na vida da instituição, inclusive no futebol profissional, ao nível de «estilo de jogo, tipo de equipas e de jogadores».
A estrutura existe, enfrenta as dificuldades e encara o presente com a confiança de quem tem a perfeita noção de que o caminho escolhido vai permitir ao Benfica recuperar tempo desperdiçado, por motivos sobejamente conhecidos, e reclamar o lugar que lhe pertence na elite do futebol internacional.
Neste sentido, o treinador tem de fazer parte da solução e em circunstância alguma ser um problema. Não é minha intenção sugerir sequer que Rui Vitória o seja, mas convém que nenhuma dúvida fique por esclarecer, tanto mais que não são assim tão poucos os pontos de interrogação que se vislumbram entre o universo benfiquista sobre o seu desempenho, e só não os vê quem não quiser ver.
Vieira tem defendido Vitória em todas as situações, sobretudo nas de maior tensão. Na sua mais recente intervenção, elogiou-lhe a audácia e a coragem no lançamento de jovens praticantes. Mas um treinador tem de ser mais do que isso, de ái a dúvida suscitada por Domingos Soares de Oliveira na capital inglesa. Admitindo-se alguma dissonância na divulgação da mensagem, afirmou ele que o facto de Rui Vitória ter sido contratado numa perspectiva de longo prazo não inibe que se questione se o Benfica tem «o treinador certo».
Excelente questão para a qual não tenho resposta, apenas uma opinião e mesmo essa de fraco valor porque não frequento a academia do Seixal, não vejo os treinos nem tenho acesso ao balneário, obviamente.
Parece-me, no entanto, que os adeptos veem nele mais uma boa pessoa do que um bom treinador. Não é pecado, mas creio que o Benfica precisa mesmo é de uma personalidade que empolgue, que aglutine, que lidere. Como a do treinador que, em reunião na UEFA, faz poucos anos, aplaudiu o papel de Vieira e mandou dizer-lhe que com aquele plantel jogaria para ser campeão europeu.
Creio que é alguém com esta forte determinação que faz falta. Para abanar, fazer acreditar e, talvez, ganhar. Porque não é sonho. É real."
Fernando Guerra, in A Bola
Bons e maus momentos (e exemplos)
"Mais uma semana 'des-liga-da'. Tempo para, em miscelânea, passar por alguns e variados assuntos
1. Excelente jogo da nossa selecção na Polónia, sem a estrela maior, mas estrelada no conjunto. Desta e de anteriores partidas antevê-se uma equipa de futuro, com jogadores que têm tanto de juventude como de um já apurado grau de maturidade. E não são apenas 11, pois Fernando Santos pode escolher de entre uns 25 seleccionáveis. Sem Ronaldo temos equipa de futuro. Não está em causa o valor acrescentado da genialidade deste jogador, mas a sua ausência em vários dos últimos jogos proporcionou um jogo associativo mais aprofundado e solidário, onde os atletas parecem menos condicionados por uma aparente obrigatoriedade de jogar com e para Ronaldo.
Já como benfiquista, notei, com particular satisfação, que no onze inicial só havia três jogadores que jogam actualmente em Portugal. Pura coincidência (ou talvez não) todos eles são da equipa do Benfica: Rúben Dias, o provável novo patrão da defesa da selecção por muitos e bons anos, Pizzi Rafa que, em bom tempo, regressam à equipa nacional com todo o merecimento. A estes titulares juntam-se Bernardo Silva e João Cancelo e os suplentes Renato Sanches e Hélder Costa que começaram a despontar nos encarnados. Sete ao todo, número há uns anos impensável e que significa a forte aposta benfiquista em jovens jogadores.
Por fim, o jogo com a Polónia não terá simbolizado o Dia de Todos os Santos (apenas de Fernando Santos, aniversariante), mas foi, gostosamente, o Dia de Todos os Silva (Bernardo, André e Rafa).
2. Ainda o clássico da semana passada, ganho com justiça pelo Benfica. Acontece que assim como é imperativo saber perder, também o é saber ganhar. Não me refiro aos intervenientes directos dos dois lados da contenda. Mas ao mau-gosto e carácter gratuitamente provocatório da 'música tauromáquica'. Estive no Estádio, mas saí após o fim do jogo, depois de, com emoção, voltar a ouvir o inigualável hino do Sport Lisboa e Benfica. Felizmente, já não ouvi o passo doble e só viria a saber da sua reprodução sonora no dia seguinte. Num primeiro momento de clubismo até poderemos achar piada, mas, no fundo, trata-se de uma idiotice que merece o meu repúdio. Nem se pode, desta vez, dizer que foi obra de adeptos excessivos na sua conduta ou de gente que não merece estar no clube (para citar uma recente expressão do presidente Luís Filipe Vieira). Foi uma graçola de alguém dos quadros do clube que deveria merecer a devida sanção pública crítica por parte dos dirigentes.
Os benfiquistas bem podem dizer - com justificada repulsa - que, dos outros lados, em particular dos rivais - se vê igual ou pior comportamento. Bem podemos sorrir perante a multa da FPF de pouco mais de 700 euros, não sei se tabelada pela música ser uma ou outra qualquer (por exemplo, a Ramona custaria 500 euros? 1000 euros?...). Bem nos podemos recordar dos festejos do título do ano passado no Estádio do Dragão, em que os jogadores do FCP Gonçalo Paciência e Sérgio Oliveira levaram um polvo avermelhado de peluche para o relvado e o 'mataram' com o pau da bandeirola de canto, para gáudio dos adeptos presentes, ou de o facto de Alex Telles ter ostentado orgulhosamente um cachecol que injuriava o Benfica (neste caso, porém, pedindo depois desculpa). Aqui não me lembro de qualquer castigo ao FCP e seus jogadores, pelo que custa a perceber a gritante falta de equidade. É que se agora a responsabilidade foi não dos sócios, mas do próprio clube, também no Dragão aqueles actos foram praticados por empregados do FCP.
Mas a desculpa acriançada de se poder fazer assim porque outros fizeram assado não colhe. A atitude de quem fez tocar a música é, além de mais, estúpida e lesiva do clube. Acaba por alimentar uma raiva e um sentimento de retaliação que podem ser prejudiciais quando a equipa tiver de ir ao Dragão.
Em suma, continuamos a viver um clima bastante hostil de ódio e incapacidade de conviver na diferença, e em que ninguém está em estado de pureza. Depois, não nos admiremos que estas atitudes venham a ser multiplicadas pelas claques e por comentários públicos incitadores de vingança e respectiva réplica sem limites éticos.
3. Passando agora para um lado mais virtuoso no mundo do futebol - que ainda o há, embora escassamente - quase me limito a transcrever uma notícia de há dias em A Bola. Rezava assim: Os três principais clubes do campeonato holandês juntaram-se para fazer uma proposta ao organismo que rege a competição, Ajax, Feyenoord e PSV Eindhoven querem que 10% de todo o dinheiro angariado na Liga dos Campeões seja destinado às restantes equipas do principal escalão. O jornal ADS fez uma estimativa e aquilo que consideraram uma boa campanha (dois clubes na fase de grupos da Champions com pelo menos dois triunfos e um empate) renderia cerca de 10 milhões de euros de receita adicional para as outras equipas. Em troca, os três grandes exigem que sejam abolidos os relvados sintéticos no campeonato holandês. O objectivo, explicam os proponentes, passa por dotar todos os clubes de uma capacidade financeira mínima de forma a tornar a competição mais competitiva e elevar o nível do futebol holandês. A proposta vai ser agora votada e discutida em Assembleia-Geral de forma a ser aprovada para entrar em vigor na próxima temporada.
Quando comparado com o que por cá se passa, serão precisas mais palavras?
4. Já estou saturado de tantos jornais televisivos, tantas explicações, tantas tecnicalidades por causa do sarilho que - alegadamente (advérbio agora obrigatório) - Cristiano Ronaldo se meteu há quase uma década. Toda a gente bota faladura, numa qualquer conferência de imprensa (o seleccionador quase jurou pela boa conduta do nosso jogador), numa qualquer ruela ao virar da esquina, ou numa pose mais de Estado que levou Marcelo Rebelo se Sousa e António Costa a opinarem obviamente não sobre a alegada sodomia alegadamente não consentida, mas sobre a heroicidade patriótica do jogador da Juventus. Comentadores de futebol por todas essas estações falando de questões de direito internacional e norte-americano como novéis sábios, advogados - quase sempre os mesmos - a darem dicas de toda a sorte. Só faltou mesmo reunir o Conselho de Estado!
Como português, desejo que Cristiano Ronaldo saia desta situação complicada com o menor estrago para a sua vida e reputação. Aparentemente, dez anos volvidos, a atitude do lado posto é despudoradamente oportunista. O jogador tem ao seu dispor os melhores advogados numa disputa 'fora de casa' (e logo nos EUA), para utilizar uma linguagem futebolística.
Mas há um ponto sobre o qual importa reflectir. Seja no futebol, seja onde for mediaticamente avassalador, os ídolos têm de perceber que essa sua característica tem o lado magnanimamente bom e o lado perversamente mau. Não se podem usar (ou abusar) do aconchego e multiplicador mediático, à escala global, para disseminar a fama, o poder, os interesses e os contratos e esperar a sua complacência quando algo corre negativamente. Uma medida é função da outra. Ora, os grandes atletas da 'aldeia global' têm de saber lidar com isso, o que implica reforçar a sua autoridade iconográfica por via da sua exemplaridade cívica. E, por muito que seja politicamente e 'patrioticamente' incorrecto, Ronaldo tem dado várias vezes o flanco com danos não despiciendos. É agora o caso e foi-o depois do processo fiscal que lhe foi movido em Espanha e pelo qual foi condenado a pagar 18 milhões de euros e a pena de prisão suspensa. A sua inigualável carreira desportiva, que tanto tem levado o nome de Portugal a todo o lado, dispensa estas atribulações.
Contraluz
- Exemplar: o cartão branco do fair-play. Inserido no Programa Nacional de Ética no Desporto, tem sido nos últimos anos experimentado, com sucesso, em provas de futebol distrital e das camadas jovens. Apenas um exemplo para o ilustrar: numa das competições, o número de cartões brancos mostrados foi praticamente o dobro da soma dos vermelhos e amarelos. As minhas felicitações ao seu principal impulsionador e coordenador, Dr. José Carlos Lima. Por que não se analisam estes assuntos nos programas televisivos de 'peixeirada'?
- Expectativa: Pude ler a semana passada que vai ser discutida na AR importante legislação sobre a violência no desporto. Em geral, gostei do que li e fico na esperança de que, com eventuais aperfeiçoamentos, se produza uma lei que, sobretudo previna e dissuada comportamentos nocivos no desporto."
Bagão Félix, in A Bola
Mulher de César
"Um árbitro profissional ou dos escalões inferiores tem de ter noção de que representa a classe
O Conselho de Arbitragem da Federação Portugeusa de Futebol publicou o Código Conduta, documento que compila algumas das regras pelas quais se deve reger o sector da arbitragem.
A medida visa impor a todos os seus elementos um comportamento adequado nos campos ético e moral.
A função desempenhada pelos árbitros pode ter influência nos resultados das competições que dirigem. A força dessa evidência e o impacto crescente que o futebol tem na sociedade, deve exigir dos seus actores uma conduta irrepreensível, definida através de uma linha de orientação que defina as boas práticas que devem adoptar.
Dos vários pontos que compõem o documento, alguns merecem destaque pela força positiva da sua mensagem:
- Os árbitros devem evitar incorrer em situações de conflito de interesses e ter uma conduta credível em campo, actuando com seriedade. Devem ser imparciais, educadas e leais à sua estrutura. Devem ainda tratar, com respeito e elevação, todos os intervenientes no jogo, ainda que estes não respondam de igual modo.
A outro nível, devem recusar prendas ou benefícios que excedam o «valor razoável» daqueles que são os hábitos culturais locais e devem também denunciar qualquer tipo de fraude ou tentativa de manipulação de resultados.
Por último, devem na sua vida pessoal ser um exemplo público, de modelo ético para todos.
Este último ponto parece-me extremamente importante.
Um árbitro de futebol profissional ou dos escalões inferiores tem que ter noção que representa a classe. Tem que entender que muita da sua credibilidade assenta na imagem que os outros têm de si. Essa imagem resulta, quase sempre, da forma como se posiciona perante todos.
Não basta que sejam competentes em campo. É também fundamental que saibam adoptar comportamento elogiável fora dele.
Há quem desconheça ou escolha ignorar essa premissa importante.
As redes sociais estão inundadas de árbitros que acham que lhes fica bem usar, na foto de perfil, a camisola do clube da sua preferência. Há outros que não se abstêm de insultar colegas de profissão, devido a arbitragens que entendem lesar a equipa do seu coração.
Há também os que tiram selfies na vistoria do terreno de jogo ou, pior, levam o telemóvel para o campo, para ponderem enviarem SMS sempre que a partida estiver paradita. Há poucos dias, um árbitro, assistente mais jovem passou o jogo nisso, embora tivesse o cuidado de só o fazer quando a bola estava no meio campo contrário. Sensatez no meio de profunda estupidez.
Não é mau. É inaceitável.
Para exigimos dos outros, temos que dar o maior dos exemplos e estes são a pior propaganda que a arbitragem podia ter.
É importante que os responsáveis do sector estejam atentos a estes fenómenos emergentes. É também a sua imagem e competência que estão em causa.
O recrutamento é difícil mas para ter qualidade deste calibre, mais vale contar com os que cá estão.
Dá muito trabalho construir um edifício, mas para destrui-lo basta um abanãozito qualquer.
A arbitragem é como a mulher de César..."
Duarte Gomes, in A Bola
Do Seixal às vitórias
"Quando o Benfica inaugurou uma nova senda vitoriosa, conquistando o primeiro campeonato com Jorge Jesus, a formação do plantel obedecia a uma lógica diferente da actual. À época, a aposta foi numa combinação de valores firmados (Aimar e Saviola), jogadores emergentes, mas já com futebol de selecção (Cardozo e Maxi) e jovens talentos, detectados pelo scouting, e cuja qualidade antecipava pouca probabilidade de insucesso (Ramires e Di María).
Agora, o contexto é outro e a aposta estratégica tem de ser distinta.Parte da explicação está nos constrangimentos: o negócio do futebol está a mudar de forma acelerada e o lugar periférico do campeonato português acentuou-se, retirando capacidade de investimento; ao que acresce que, depois da crise, a alavancagem financeira dos clubes nacionais deixou (felizmente!) de ser possível. Sem dinheiro e sem recurso ao endividamento, resta, por isso, aos clubes portugueses apostar em talento nacional ou formado localmente. É o que o Benfica tem feito com sucesso, mas, também, com riscos competitivos que convém não ignorar.
É óbvio que a necessidade é uma explicação poderosa para a renovada aposta na formação. Pura e simplesmente não há alternativas para um clube português que queira manter-se financeiramente à tona. Mas, por si só, as oportunidades não dão garantias de chegada ao plantel principal de jogadores com qualidade. É preciso um trabalho duradouro, que forme talentos. Quando se olha, hoje, para as selecções jovens e para a principal, salta à vista o número de jogadores que passaram pelo Seixal.
Apostar na formação deixou de ser um risco em termos de qualidade de jogadores. Os desafios são, por isso, outros: reter o talento e permitir a sua maturação.
Quando Luís Filipe Vieira recuperar o sonho de voltar a vencer uma Liga dos Campeões há, é evidente, um lado aspiracional, que aparenta não passar de uma quimera. Contudo, se pensarmos bem, não fora a sangria de jogadores – muitos deles que nem sequer tiveram oportunidades na equipa principal –, o Benfica tinha hoje condições para ser uma equipa de topo na Champions. Bastava, apenas, não ter deixado sair alguns de entre esta geração de sub-25: Ederson, Nelsinho, Cancelo, Lindelöf, Renato, André Gomes, Hélder Costa e Bernardo.
É, por isso, imperioso não repetir o erro, voltar a fazer promessas vãs e, depois, deixar que aconteça com o Gedson, o Rúben, o Félix, o Jota, o Florentino e, logo a seguir, com o Tiago Dantas o que sucedeu com as fornadas anteriores saídas do Seixal. Sobra, contudo, um problema fundamental. Por muito talento que exista, uma equipa de sub-21 dificilmente é muito competitiva e enfrentará sempre dificuldades em provas longas (Liga) ou em contextos internacionais. Não basta, por isso, reter talento: é preciso deixar maturá-lo e garantir que ficam alguns anos no Benfica, acompanhados por jogadores experimentados e vencedores."