Ou vai ou racha

"1. Olhando para a qualidade e personalidade de Rúben Dias, o Benfica não deve pensar no melhor preço para vender, antes na melhor forma de o segurar e fazer dele o novo Luisão. O primeiro passo é deixar de gastar dinheiro mal gasto em jogadores de qualidade duvidosa (no mínimo). É que tudo somado... Risco por risco, mais vale apostar nos miúdos da casa, mas o que o plantel precisa agora é de uns reforços a sério. Ou será que a exibição com o Sporting e a vitória em Braga voltaram a sedar Vieira perante a necessidade de ir ao mercado, tal como aconteceu no verão?
2. Desta vez foi o director de comunicação do FC Porto a baixar o nível para lá do aceitável. Uma coisa são acusações com base documental (e-mails), outra é escrever que «há gente que fica estranha durante os jogos com o Benfica». Um tweet de fazer inveja a Donald Trump.
3. Claro que Rúben Ribeiro te qualidade, é inegável, mas insisto: qual seria o rendimento de um Iuri Medeiros, por exemplo, se em dois anos e meio da era Jorge Jesus tivesse um pingo de confiança que foi dada a RR7 em poucos dias? Talvez os jovens da academia do Sporting (cada vez com menos espaço no plantel principal) tenham de nascer dez vezes. Isto, claro, se não houver qualquer problema de acasalamento.
4. Sou a favor da tecnologia no futebol e não sou contra o VAR (apenas céptico, cada vez mais...) mas concordo com Jorge Valdano: as injustiças parecem agora científicas. Como tal, são mais perversas, mais difíceis de entender, provocam mais ruído. Não podemos olhar só para os lances em que o VAR resultou, temos de olhar também para aqueles em que devia ter resultado e falhou. Ao contrário do que muitos querem passar, com o VAR a verdade desportivo está nos dois lados, não apenas no primeiro.
5. A presença do Caldas (o Leicester do Oeste) nas meias-finais da Taça de Portugal é uma lufada de ar fresco. Precisamos de mais histórias assim. No futebol e na vida."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

O tempo ajudará a perceber melhor

"Bruno de Carvalho, fazendo uso do seu estilo tão peculiar, saiu em defesa de Manuel Fernandes, na sequência de uma troca de argumentos entre o ex-capitão leonino e Rodolfo Reis, antiga lenda portista, no Play-off da SIC Notícias. Passando ao lado da terminologia usada pelo presidente do Sporting, será interessante, contudo, analisar dois argumentos utilizados como arma de arremesso contra Rodolfo Reis, por visarem, simultaneamente, o FC Porto. Bruno de Carvalho fez questão de escrever «já tu nunca te livrarás de ser um vendedor de fruta! Tu não precisas de cartilha, basta-te uns quinhentinhos».
A poucos dias de uma série de quatro enfrentamentos entre Sporting e FC Porto para a Taça da Liga, a Taça de Portugal e a I Liga, fica no ar a dúvida de se saber se estamos perante o fim da aliança (pelo menos tácita) entre leões e dragões, que tem  mantido os dois emblemas em ordem unida contra o rival da Luz, ou se tudo não passou de um pontual excesso facebookiano de Bruno de Carvalho.
Atendendo ao que está em jogo na presente temporada, em que apenas o campeão tem acesso directo à Champions, o segundo segue para a terceira pré-eliminatória e o terceiro tem por certa a presença na Liga Europa, não será de estranhar que os antagonismos se refinem à medida que vá ficando mais definida a classificação. Por isso, valerá a pena esperar, para já, pela meia-final da Taça da Liga entre leões e dragões para se perceber melhor o peso real do ataque de Bruno de Carvalho a Rodolfo Reis e se valerá a pena enquadrá-lo no contexto mais vasto da luta em curso pela supremacia no futebol português."

José Manuel Delgado, in A Bola

Cervi com olhos postos no Mundial

"Durante muitos anos, os treinadores entenderam que uma equipa de futebol devia ser composta por jogadores com perfil de raguebistas: altos, fortes, aptos para a luta e choques sucessivos. O tempo encarregou-se de recuperar para a causa os baixos e talentosos que dominam, com inteligência, critério e sentido prático, uma arma sempre fundamental: a velocidade de reacção. O carácter vigoroso é um dos traços mais relevantes desse tipo de futebolistas. Os entendidos veem no impulso um fenómeno reactivo que compensa a aparente desvantagem funcional pela falta de centímetros. Valdano definiu assim os jogadores de baixa estatura: "São personagens de Walt Disney metidos em coisas sérias."
Cervi tem aparência frágil (1,66 m) e fisionomia de adolescente. O perfil de imaturo esbarra na criatividade, no instinto e na imaginação, pelo que nunca poderá ser desprezado. Como todos os artistas, é insolente no modo como acredita nas suas qualidades, mais agora que agregou continuidade ao talento e conhece os benefícios provocados pelo amparo de uma equipa e de um clube nos quais impera qualidade técnica e organização estrutural.
Era um grande jogador mas estrito nas soluções que apresentava; tinha a matéria-prima dos predestinados mas faltava-lhe a evolução inerente à aprendizagem. Deslumbrava por ser eléctrico, talentoso e de decisões instantâneas; desestabilizava pelo frenesim da atitude e pela coragem com que seguia o instinto; limpava adversários do caminho com tremenda facilidade, revelava articulação notável para executar a 200 km/h e era muito eficaz nos lances de aproximação à baliza. Um ano e meio depois do primeiro impacto como futebolista em permanente estado de exaltação, que não pegou de estaca no Benfica, o argentino deu passos seguros para se completar e corresponder em pleno aos genes criativos que lhe correm nas veias. Era um jogador imprevisível e muitas vezes imparável em espaços curtos, evoluiu para um entendimento mais completo e abrangente do futebol. 
Com o tempo, fez evoluir a eficácia de intervenções avulsas (muitas delas decisivas) para o sentido mais amplo do que são os interesses da equipa; não perdeu o estilo frenético de quem assenta em ganas e ama a velocidade mas acrescentou-lhe o entendimento das vantagens de travagem e pausa para poder tomar decisões ainda mais contundentes. As mais recentes exibições confirmam-no como jovem (23 anos) que se empenhou no crescimento pela via da aprendizagem táctica; da necessidade de dominar o futebol através das suas chaves colectivas; de pensar um pouco para lá do óbvio e estimular a capacidade para entender que há vida (e jogo) para lá do talento individual – num fenómeno tão complexo, feito de estratégia e de vasta cadeia de cumplicidades, ninguém atinge o máximo testando apenas a magia de truques exclusivos e de milagres que, quando resultam, conquistam plateias. Até porque a procura da glória também pode ser uma roleta russa de resultado incerto, capaz de deixar os treinadores à beira de um ataque de nervos.
Cervi tornou-se um jogador muito mais completo, que subiu um patamar na hierarquia e consolidou lugar entre os melhores argentinos da actualidade. Superou os efeitos da dúvida, seguiu os conselhos de Rui Vitória e adaptou-se a um tipo de futebol mais exigente, que desconhecia e para o qual não chegam as aptidões naturais. Cervi aprendeu porque não teve pressa e não se deixou abater pelas dificuldades; recolhe agora os frutos de ter investido no estudo e ter acreditado na competência de quem o rodeia. A expressão total da sua grandeza futebolística está bem encaminhada, agora que logrou uma das conquistas mais relevantes: a total confiança dos companheiros. Se mantiver o nível até ao fim da temporada, tem fortes probabilidades de estar no Mundial da Rússia.

Rúben Ribeiro matou as teorias
Rúben Ribeiro fez explodir todas as teorias e lugares comuns em situações análogas: uma coisa é ser bom em equipas mais modestas, outra numa grande potência (e ele foi bom nas duas); precisa de tempo para adaptar-se a uma nova realidade (e ele, com quatro dias de trabalho, jogou como se ali estivesse há quatro meses); que aos 30 anos já pouco pode oferecer (e ele mostrou que tem ainda muito para dar).

A qualidade de João Amaral
João Amaral é um avançado talentoso, irrequieto e com boa chegada. Tem 7 golos na Liga e é, a par do vila-condense João Novais, o melhor marcador português do campeonato. A sua afirmação numa equipa em dificuldades prova que, mais importante para um jogador se expressar, acima dos resultados, é a proposta que apresenta. O V. Setúbal joga o suficiente para valorizar jogadores. É uma esperança.

Uma nova etapa no Belenenses
Silas é o novo treinador e regressa a casa com José Pedro – salvo melhor opinião, os dois melhores jogadores que o clube teve neste século. Sim, o saber está acima de tudo mas, numa altura em que faltam vínculos à história, a SAD faz bem em recorrer a genes do Clube de Futebol "Os Belenenses". Porque a mudança era necessária e Silas tem crédito, talvez os adeptos voltem a sentir-se parte da solução."

Tendências negativas preocupam várias equipas

"A saída de Domingos Paciência do comando do Belenenses – como quase sempre acontece aquando das ‘chicotadas’ – surge na sequência dos maus resultados. O Belenenses vai em 8 jogos sem vencer no campeonato e isso, não sendo para já alarmante (a equipa segue na 11.ª posição), causa preocupação, pois o avanço face ao V. Setúbal – primeiro conjunto abaixo da linha de água – é de escassos 6 pontos...
Mas o Restelo não é o único localonde a sequência de resultados negativos está a provocar ‘dores de cabeça’. Aliás, nem são os azuis quem está há mais tempo sem ganhar na prova. Esse cinzento registo pertence ao V. Setúbal que, ao sofrer um golo nos derradeiros instantes em Moreira de Cónegos, viu aumentar para 9 o número de partidas sem festejar um triunfo.
Igualmente em situação complicada estão P. Ferreira (também 8 encontros sem sucesso), Portimonense (6), Aves (5) e muito surpreendentemente V. Guimarães e Marítimo (4), equipas que já conheceram fases muito positivas na temporada.
Moreirense (2) e Estoril (este sem saber como terminará o embate com o FC Porto) também vivem sequência de derrotas, sendo de acrescentar que Sp. Braga e Feirense perderam nesta última ronda. Pelo contrário, Sporting (18 partidas fechadas, todas as realizadas até à data) e FC Porto (17) continuam sem derrotas, enquanto o Benfica – com um só desaire, no Bessa – não cai há 12 encontros.
Outro dado interessantes no que se refere a sequências: o Feirense, pese ter empatado as duas primeiras rondas, nunca mais terminou um jogo sem ganhar ou perder. O que significa que soma 16 partidas seguidas sem igualdades. Curiosamente, é o Sp. Braga quem tem menos empates na competição: apenas um... em Alvalade.

Sabia que...
O FC Porto sofreu golos nos últimos 4 jogos? Apesar de ainda ter a melhor defesa (lado a lado com o Sporting), com 10 golos encaixados, os dragões sofreram tantos golos (5) nos derradeiros quatro jogos como nos primeiros... 14!
João Amaral passou a ser um dos melhores marcadores portugueses da competição? O setubalense, ao bisar em Moreira de Cónegos (2-2), chegou aos 7 golos na época, precisamente os mesmo que possuem Bruno Fernandes (Sporting) e João Novais (Rio Ave).
O Portimonense foi a quarta equipa a ter duas expulsões na mesma partida? Antes do duelo dos algarvios no Bessa, já V. Guimarães, Tondela e Rio Ave haviam passado por situação semelhante.
O Benfica só teve dois cantos em Braga? Até agora, o mínimo que as águias tinham conseguido eram quatro, na jornada 5, aquando da apertada vitória caseira (2-1) diante do Portimonense."

É o futebol que temos

"O relatório 'The European Club Footballing Landscape', divulgado ontem pela UEFA sobre as finanças dos clubes europeus, ajuda a perceber bem as dinâmicas do futebol europeu. Os dados são referentes a 2015/16, mas não perderam actualidade. E, no que diz respeito à nossa Liga, apenas confirma a necessidade de exportar, exportar, exportar. As receitas ordinárias são metade das dos clubes russos e turcos, pelo que o mercado acaba por ser essencial para que possamos disfarçar as diferenças.
Mas há dados, quando comparados, nos deviam fazer pensar. Por exemplo: 18 clubes da Liga NOS gastaram numa temporada 259 milhões de euros para pagar salários; ao mesmo tempo, houve nove emblemas que, sozinhos, gastaram mais do que isso...
A Liga portuguesa anda à volta do 10.º lugar na maior parte dos itens analisados - receitas totais, espectadores, receitas de TV, etc... Por isso é ainda mais notável que tenha vindo a esconder há tantos anos esse estatuto de 2ª divisão europeia, conseguindo colocar com relativa frequência uma equipa nos quartos de final da Liga dos Campeões ou até em finais da Liga Europa. Olhamos para países como Holanda, Bélgica ou Suíça - em teoria, os nossos verdadeiros 'rivais' - e percebemos que somos mesmo muito bons nesta coisa de dar pontapés na bola.
Mas depois é neste mesmo futebol que há uma bancada que ameaça vir abaixo durante um jogo. É estranho como é que um país que faz tanta coisa bem consegue também fazer tanta coisa mal."

Entendam-se…

"Há um dado que parece irrebatível: os estádios onde actuam por esta altura os 18 clubes da primeira Liga, foram todos aprovados e dados como aptos para o exercício da competição.

Está para durar o caso suscitado pela interrupção do jogo Estoril-FC Porto na última segunda-feira à noite quando, após jogados 45 minutos, a equipa canarinha vencia os dragões por 1-0.
Um resultado, diga-se desde já, perfeitamente ajustado à forma como decorreu aquele período de tempo, durante o qual deparámos com uma equipa (do Porto) amorfa, sem rasgo, insistindo num futebol directo que não é a sua imagem de marca, e outra mais organizada, coerente, solidária e intérprete de um modelo adequado à capacidade e possibilidades dos seus jogadores.
Para além deste aspecto iniciou-se de imediato uma longa e fastidiosa polémica, na busca de uma verdade que ainda não foi alcançada, mas que cada um dos protagonistas reclama como o seu instrumento argumentativo fundado na lógica e na razão.
Muda, com quase sempre, a Liga de Clubes preferiu não se intrometer na discussão, limitando-se a indicar nova data para a disputa dos 45 minutos que ficaram por jogar, quando o deveria ter feito de imediato e obrigando ao respeito pelo regulamento que obrigava a que esse período de tempo tivesse lugar nas 30 horas sequentes.
Pelo meio, e para colocar ainda gindungo na discussão, os protagonistas principais desataram a enumerar as suas razões: de um lado, os estorilistas a sacudirem responsabilidades, do outro, os portistas, a invocar o artigo mais badalado dos regulamentos nas últimas horas, segundo o qual lhes devem ser entregues os três pontos de uma refrega na qual, por enquanto, nada fizeram para os merecer.
No meio de tudo isto há um dado que parece irrebatível: os estádios onde actuam por esta altura os 18 clubes da primeira Liga, foram todos aprovados e dados como aptos para o exercício da competição. O que significa que tem de ser a própria Liga a definir a sua posição perante uma situação tão complexa, não se limitando apenas a marcar nova data para a conclusão do jogo, sem consenso, ao que parece, dos seus intervenientes.
Perante tudo isto, só resta, mais uma vez salientar, pela negativa, a “genuinidade” do futebol português que, não se sabe, vai ser capaz de continuar a resistir a todos os atropelos."

Regulamento das Competições e as Leis de Jogo

"A bancada, a segunda parte e o regulamento das competições

A 18.ª jornada da Liga NOS, que se iniciou este fim-de-semana, irá concluir-se no dia 21 de Fevereiro. Esta foi a data escolhida pela Liga, Estoril e FC Porto para se jogar a segunda parte do jogo que não se concluiu, na segunda-feira, por questões relacionadas com a segurança dos adeptos em virtude do estado da estrutura de uma das bancadas.
Sobre essa segunda parte do jogo faz sentido olhar para o que os regulamentos de competições da Liga Portugal estipulam quanto à forma como as equipas se devem e podem apresentar. Apresento, assim, alguns tópicos aplicáveis a este jogo:
* a ficha técnica (listagem dos jogadores a utilizar no jogo) pode ser alterada para incluir qualquer jogador que, encontrando-se regulamentarmente inscrito a` data do jogo interrompido, dela não constasse inicialmente (ex: Brahimi poderá ser utilizado de início ou como suplente);
* os jogadores que não podiam participar no jogo de segunda-feira por motivo de sanção disciplinar (castigos) não podem ser utilizados;
* os jogadores que estavam em campo no momento em que o jogo foi interrompido não podem ser incluídos na ficha técnica como suplentes;
* as sanções impostas antes de o jogo ser interrompido continuam a valer para o restante tempo de jogo (exemplo: se Reyes ou Renan jogarem e virem um amarelo, serão expulsos por acumulação, pois viram amarelo na primeira parte);
* os jogadores suspensos na sequência de um jogo disputado após o jogo interrompido podem ser incluídos na ficha técnica;
* as equipas podem fazer apenas o número de substituições a que tinham direito quando o jogo foi interrompido;
Estas são as condicionantes ou regras a ter em conta pelas equipas aquando da realização da segunda parte deste jogo. 

O penálti em fora-de-jogo e a interpretação das Leis de Jogo
Relativamente aos muitos lances que ocorreram nesta jornada, e que aqui poderia abordar, escolhi apenas a queda de Jonas (Benfica) na área do Sp. Braga. Não pretendo, desta vez, opinar sobre o acerto ou não da decisão da equipa de arbitragem. Quero, apenas, dar a conhecer a Letra da Lei sobre estas situações (jogador que, estando em posição de fora-de-jogo, sofre uma falta por parte do defesa) e as suas possibilidades interpretativas. Na Lei 11 (Fora-de-Jogo) passaram a estar clarificadas, desde a presente época, as seguintes situações:
* um jogador que se mova de ou se encontre em posição de fora-de-jogo, esteja no caminho do adversário e interfira com o movimento do adversário em relação à bola, se tal tiver impacto na capacidade de o adversário jogar ou disputar a bola é considerada uma infracção de fora-de-jogo;
* se o jogador se mover para se colocar no caminho de um adversário e impedir a progressão do adversário (ex: bloquear o adversário), a infracção deve ser penalizada de acordo com a Lei 12;
* um jogador que, em posição de fora-de-jogo, se movimente em direcção à bola com a intenção de a jogar e sofra falta antes de a jogar ou a tentar jogar, ou esteja a disputar a bola com um adversário, a falta é penalizada, uma vez que tal ocorreu antes da infracção de fora-de-jogo;
* uma infracção é cometida contra um jogador que já se encontra em posição de fora-de-jogo a jogar ou a tentar jogar a bola, ou a disputar a bola com um adversário: a infracção de fora-de-jogo é penalizada, uma vez que ocorreu antes da outra infracção.
Deixo a si, caro leitor, a formulação de opinião sobre este lance, e outros que venham a acontecer, tendo por base a interpretação que faça dos pontos acima."

Águia não se deixa abater

"Em Braga o Benfica esconjurou o logro usado e abusado por mestres da artimanha, afadigados e conluiados em colocarem-no à margem da luta pelo título.

O enorme interesse que o futebol suscita em todo o mundo está relacionado com a sua fácil compreensão, apesar do esforço feito, em sentido contrário, por treinadores e especialistas que complicam e juram ver o que mais ninguém enxerga, sem se darem ao cuidado de admitir que nenhum curso é preciso para se fazer a destrinça entre quem joga bem e joga mal.
Há casos, então, que entram pelos olhos dentro, do aí o meu espanto ao ler que Rui Vitória deu o aval à saída de Filipe Augusto.
Se não se valorizou quanto desejava não se deveu a menos interesse dos técnicos nem a défice de oportunidades. Simplesmente, o médio brasileiro não foi capaz de expressar a plenitude dos atributos futebolísticos que julga possuir. É compreensível, até, que se considere um praticante acima da média, mas da média idealizada e não da média dos padrões de qualidade a que o emblema mais titulado do país está obrigado.
É precisamente nesta discrepância que reside a surpresa pela notícia de aprovação à sua dispensa. Não a critico, pelo contrário. Apenas estranho a demora na decisão e a relutância em aceitar o insucesso de que se revestiu a mudança de Vila do Conde para a Luz. Tão pouco se alcança a razão do privilégio especial de que usufruiu, em prejuízo de outros, ao ponto de o treinador, para o proteger, ter assinado uma excepção para individualizar desempenhos ou opções; e fê-lo em mais de uma ocasião.
Filipe Augusto não interiorizou que a preferência do Benfica foi bênção na sua carreira. Faltou-lhe essa humildade, ou talvez não. Trata-se de um segredo de balneário. Provavelmente, o problema teve a ver com a sua aptidão para a prática da modalidade. Ou a falta dela para se impor num território de elevado grau de exigência profissional.
Tratou-se de um erro de avaliação, grosseiro. Não pela escolha em si, mas pela teimosia em aceitar o fracasso da operação, naturalmente geradora de indisposições em quem se sentiu de alguma forma empurrado para o fim da fila.
Quanto ao essencial, mais de um ano depois, verifica-se que se voltou ao ponto de partida: se haver um vazio por preencher... ainda está por preencher.

Excelente este Braga - Benfica, na abertura da segunda volta. Um jogo a reter: o visitado mostrou à saciedade os porquês de ser o quarto grande do futebol português e o visitante esconjurou o logro usado e abusado por mestres da artimanha, afadigados e conluiados em colocarem-no à margem da luta pelo título.
Compreende-se o entusiasmo de Vitória na análise ao êxito, assim como ele deve compreender as reticências da família encarnada, motivadas pelo passado recente. O que deve esperar-se daqui em diante, o Benfica da primeira volta, abúlico, soluçando, intermitente e raramente entusiasmante ou o Benfica que, mesmo empatando no derby, murchou a megalomania de Jesus, passou com autoridade em Moreira de Cónegos e brilhou em Braga, diante de oponente cheio de personalidade e boas soluções?
É pertinente a dúvida e Rui Vitória, sendo bicampeão nacional sem que nada lhe fosse dado, saiu-lhe tudo do corpo, ao contrário do que anunciam os correios da comunicação do ódio, deve reconhecer que ganhar menos do que os ouros candidatos colide com os interesses e a grandeza da instituição que serve.
Há quanto tempo o Benfica não oferecia exibições apreciáveis com regularidade tão prolongada. Três jornadas seguidas? Pois é, a receita tem sido mais do tipo semana sim, semana não. Por isso, foi-se a Liga dos Campeões mais as Taças de Portugal e da Liga. Foi-se quase tudo.
Neste espaço semanal, escrevi há duas semanas que a águia voa e há três que era a hora de Viera 'indicar aos jogadores o caminho para alcançar o objectivo supremo', voltando a abraçar uma experiência que domina. A propósito, li em A Bola que o presidente já está no terreno como agora se diz. Certamente de que a águia não se deixa abater e vai continuar a voar, se calhar mais alto. Afinal, por que motivo deixaria de fazê-lo? Pois, a interrogação justifica-se, sendo minha convicção que muito pouco (para não dizer 'nada') do que de frustrante aconteceu esta temporada se liga às vendas de Ederson, Nélson Semedo e Lindelof.
Mitroglou, todavia, faz parte de outra história. A sua ausência ainda é notada, faltando saber a quem pertenceu a ideia de trocá-lo por «promissor internacional suíço».
(...)"

Fernando Guerra, in A Bola

Das vitórias no Minho ao Carlos Manuel

"1. Se levarmos a sério o que se escreve nas redes sociais e até em alguns jornais respeitáveis, o Benfica só vence jogos porque os árbitros estão comprados ou, alternativamente, o adversário facilitou. Não há nunca mérito nas conquistas do clube. Acontece que em Braga, como na Luz contra o Sporting, o Glorioso mostrou um futebol envolvente e deixou sinais sérios de que o 4x3x3 começa a consolidar-se. As exibições foram, por isso, convincentes. O que tem efeitos: enquanto o Benfica agonizava em campo, como aconteceu até há bem pouco, os benfiquistas exacerbavam qualquer erro da arbitragem, que viam erradamente como a explicação para os falhanços futebolísticos. Agora que o futebol melhorou, o que os árbitros fazem em campo passou, naturalmente, a ser irrelevante. Convençam-se: esta asserção é válida para o Benfica como para qualquer outro clube.
Regressemos a Braga. Sintomaticamente, em três temporadas, Rui Vitória tem um registo 100% vitorioso no Minho. Na primeira época, foram cinco deslocações vitoriosas; na segunda, quatro; e esta temporada três. Como as saídas a Guimarães, Moreira de Cónegos ou Braga (deixemos de lado um já longínquo jogo para a Taça com o Vianense) estão longe de ser passeios, algum mérito o Benfica de Vitória terá na forma como encara estas partidas. Claro está que, para os adeptos das teorias da conspiração, este registo só serve para consolidar as suas hipóteses mirabolantes.
A difusão desta narrativa é, na verdade, apelativa. Para uns é a forma de justificar os próprios insucessos desportivos ("só não ganhamos tudo porque o Benfica tudo controla"), para outros é um exemplo do que Freud identificou como projecção – um mecanismo psicológico de defesa, através do qual atribuímos aos outros os nossos comportamentos (em particular os que procuramos reprimir).

2. Para quem foi contaminado pelo vírus do futebol no Estádio da Luz na primeira metade dos oitenta, o Carlos Manuel tem enormes responsabilidades na propagação dessa doença infantil. A verdade é que o tempo passa e o Carlão fez ontem 60 anos. No domingo, em entrevista a Record, mostrou que continua igual ao que sempre foi: "o menino que veio da Moita, das oficinas da CP, e deixou a vida correr". E deixa uma certeza: "podem não acreditar, mas as saudades maiores são dos amigos da CP, os que trabalhavam comigo. Encontrei gente maravilhosa no futebol mas aqueles sete ou oito com quem lidava diariamente na CP foram especiais". Recordo a Locomotiva do Barreiro pelas suas cavalgadas imparáveis e pelos remates certeiros, mas, acima de tudo, o que o Carlos Manuel me traz é a memória de um futebol que já não regressa e de jogadores que, ao contrário do que acontece agora, não viviam fechados numa bolha social. Foi assim quando brilhava nos relvados e continua a sê-lo hoje. É desta matéria que os ídolos são feitos."

A 'Fórmula GKC'

"O jogo em Braga já havia terminado há longos minutos e nas bancadas só já restavam as claques do Benfica (sim, porque não há forma de o negar: elas existem), que vozeavam com rara euforia o pregão "Aqui se vê a força do SLB". O campeão tinha, de facto, acabado de reclamar o seu estatuto, mas o arremedado manifesto parecia ir para lá da celebração, como se os adeptos quisessem também transmitir a ideia de que tinham entendido e aprovado a terapêutica que levou à regeneração. Sendo certo que só os profetas enxergam o óbvio, como diria Nelson Rodrigues, também não restam já nenhumas dúvidas de que a mudança para o 4x3x3 esteve para a equipa do Benfica como o ketchup está para os hambúrgueres: disfarça-lhe rapidamente as imperfeições e torna-os mais prazerosos e idôneos. E hoje salta à vista que o Benfica melhorou o seu jogo, já dá sinais de uma organização colectiva que parecia não existir e, tão ou mais importante, parece ter recuperado a alegria de jogar, como se tivesse recebido um banho de autoestima. É dos livros: o novo desenho, que passou a vigorar desde a visita a Guimarães, no início de Novembro, não é pior nem melhor, mas descomplica as compensações dentro da própria equipa. Dá-lhe simetria e uma plasticidade e uma arquitectura que facilitam a organização e o equilíbrio defensivo e potencia o dinamismo e até os movimentos e os passes de rotura.
O Benfica alterou o seu modus videndi (que já durava desde 2009/10, quando requisitou Jorge Jesus ao Sporting de Braga) e, em função disso, tornou-se mais compacto e competente, estando claramente a atravessar a sua melhor fase na época. É provável que a simples alteração de rotinas tenha favorecido o upgrade, da mesma forma que pode estar a ocorrer igualmente um fenómeno de superação, provocado pelas urdiduras dos emails e toda a restante fuligem que se conhece. Aliás, algo notório é a resiliência de uma equipa que, com maior ou menor competência, conseguiu contrariar as teses de derrocada iminente quando jogou no Dragão ou quando recebeu o Sporting. Teve pelo menos esse mérito, o de nunca se render. Também não custa fazer justiça a Rui Vitória, mais a mais porque é concebível que se sinta mais hábil e versado a trabalhar um sistema táctico que tem muito mais a ver com o seu anterior percurso. E, nessa perspectiva, até é possível incluir entre os proveitos a pressão inteligente, a boa reacção à perda e a prevalência nas segundas bolas, que contribuíram em muito para as dificuldades do Sporting de Braga e para um primeiro tempo admirável do Benfica, na linha do que já havia feito na primeira parte em Moreira de Cónegos.
Claro que é ainda cedo para tirar conclusões definitivas. Até porque só ter 16 jogos até ao final da época pode ser uma vantagem, mas a Champions e os grandes duelos nas taças internas não têm apenas como consequência o desgaste suplementar – servem igualmente para elevar os níveis competitivos na liga. Mas, mesmo que não se saiba se o Benfica irá manter as doses justas de tática, energia e detalhes individuais, há, pelo menos, algo que tem condições para se tornar duradoiro (e que é também resultado do novo sistema): o lado esquerdo do Benfica tornou-se no grande motor da equipa. Expressa-se através da "Fórmula GKC", em que os pequenos triângulos formadas por Grimaldo, Krovinovic e Cervi resultam num futebol associativo e demolidor que compensa (ou contraria?) os habituais excessos de vertigem. E não deixa de ser sintomático que a simples entrada na equipa do pequenino e jovem croata tenha ajudado a revolucionar todo o processo ofensivo (e não só). Consequência ou não, o Benfica passou a fazer boa parte daquilo que distingue as melhores equipas, até porque Fejsa é ainda mais competente e eficaz jogando sem ninguém ao lado e Rúben Dias e Jardel (de regresso aos melhores tempos) voltam a permitir uma defesa alta que já não é possível com Luisão. Claro que está longe da perfeição. Como se viu na segunda parte em Braga, continua a não saber gerir o jogo (e a vantagem) com posse de bola. E quase entra em delírio quando os adversários reagem forte. Mas também não ajuda lançar nessas alturas um Samaris cada vez menos lúcido e habilitado e cada vez mais exagerado e faltoso. Principalmente quando se tem no "banco" João Carvalho e Zivkovic…

Cinco estrelas - Suárez empurra o Barça
O uruguaio, que vai com 11 tentos nas últimas 11 jornadas, foi fundamental para tornear as habituais dificuldades do Barcelona no Anoeta: os seus dois golos ajudaram à reviravolta (2-4). E o Barça termina a primeira volta sem derrotas e com a terceira melhor soma de pontos de sempre.

Quatro estrelas - Klopp humaniza o City
As duas equipas mais goleadoras da Premier League ofereceram um show de bola e de golos. E o futebol fascinante do City foi finalmente derrotado, à 23ª jornada, por um Liverpool que, mesmo sem Coutinho, vive da pressão, da velocidade e do músculo. E nunca ninguém como Klopp ganhou a Guardiola (6 vezes).

Três estrelas - Guedes vale ouro
Depois de 4 golos, 7 assistências e muitas arrancadas fulminantes pelo Valência, o valor de Gonçalo Guedes disparou em flecha: o PSG já recusa vendê-lo por 40 milhões e já exige 70. Vai ser difícil excluí-lo do Mundial.

Duas estrelas - Swansea melhor com Carvalhal
O Swansea ainda segura a "lanterna vermelha", mas, pouco a pouco, lá se vai endireitando. Mérito de Carlos Carvalhal, que só perdeu um dos três jogos que dirigiu e foi empatar na casa do Newcastle de Bénitez.

Uma estrela - O 'circo' de Madrid
O Real Madrid de Florentino e Zidane é, cada vez mais, um "circo". A derrota em casa com o Villarreal deixou-o a 19 pontos da liderança, o pior registo em 12 anos. Também não ajuda o "jejum" de um Ronaldo que volta a passar a ideia de que quer mesmo sair."


PS: Para o autor da crónica: o facto de no final do jogo existir Benfiquistas nas bancadas de Braga a cantar 'Assim se vê a força do SLB', não prova a existência de claques, prova sim, a existência de Benfiquistas!!!

De volta ao TAD

"Esta semana regresso ao problemático Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) e a uma decisão cujo processo foi patrocinado e apoiado pelo Sindicato, proferida no Acórdão da Relação do Porto de 06-11-2017.
Com a entrada em vigor da Lei do TAD e a correspondente extinção da antiga Comissão Arbitral Paritária (CAP), para dirimir conflitos laborais em sede de arbitragem voluntária, muitos clubes, confrontados com acções laborais de reclamação de créditos no Tribunal de Trabalho e sabendo que o recurso a esta via judicial pelo jogador é esmagadoramente menos dispendioso que o recurso ao TAD, passaram a invocar, liminar e reiteradamente, a incompetência daquele tribunal, pois enquanto o tempo passa e sob a ameaça de maiores custos, pode ser que o trabalhador desista face ao valor reclamado na demanda.
Este Acórdão clarificou um princípio basilar de acesso à justiça e tutela jurisdicional efectiva, isto é, um jogador que se conformou no seu contrato de trabalho com determinado compromisso arbitral, no caso a CAP, e que seria, na interpretação de muitos empregadores, forçado a propor acção de reclamação dos créditos laborais no TAD, com diferente composição, procedimento e, sobretudo, custos, sabe hoje que pela alteração dos termos da arbitragem a que se quis submeter se aplicam as regras gerais em matéria de jurisdição, acedendo no caso ao tribunal de trabalho.
A inconstitucionalidade desta interpretação torcida é demonstrativa dos problemas deixados por um TAD pensado para a arbitragem necessária, mas para o qual a arbitragem voluntária tem sido "empurrada".
Reitero que esta decisão versa apenas sobre cláusulas contratuais para a anterior CAP. É caso para dizer, não vale mudar as regras a meio do jogo, em prejuízo da parte mais fraca."