"Eram os três personagens mais esperados do Mundial da Rússia. E, ainda que de formas diversas, todos falharam o compromisso. Refiro-me a Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e Neymar. Os três jogadores mais mediáticos e celebrados do planeta, que no entanto continuam a não alcançar a coroação na maior manifestação futebolística. Aconteceu mais uma vez no Mundial encerrado há uma semana e desta vez a desilusão foi maior do que em ocasiões anteriores.
Analisemos rapidamente o comportamento dos três. Tudo somado, Cristiano Ronaldo foi quem menos desiludiu. Teve um início monstruoso, que o levou a marcar quatro golos nas primeiras duas partidas. E esse início iludiu toda a gente, sobretudo acerca das possibilidades de a selecção portuguesa vir a assumir um papel de protagonista no Mundial. Em vez disso, rapidamente se descobriu que a espectacular primeira partida contra a Espanha não tinha sido efeito do choque entre duas forças, mas sim a soma de várias debilidades. Duas selecções que com um 3-3 pleno de emoção mascararam os seus enormes limites.
Na verdade, os jogos seguintes mostraram como estavam as coisas e deixaram bem à mostra um Portugal que, ao contrário do que sucedera dois anos antes, no Europeu de França, estava demasiado dependente do seu fora-de-série. Quando Cristiano Ronaldo deixou de fazer a diferença (e até falhou um penalti), a selecção de Portugal mostrou que era uma equipa normal. E foi rapidamente eliminada.
Já quanto a Lionel Messi, o seu (falhado) impacto na sorte da selecção argentina arrisca tornar-se um caso clínico. De uma grande competição a outra (quer se trate de um Mundial ou de uma Copa América), o balanço vai sendo mais deficitário, a ponto de já se terem esgotado as reservas de paciência na pátria. Se depois sucede que, como no Mundial da Rússia, a equipa em torno dele se mostra menos do que medíocre, o drama completa-se. E isto faz emergir os limites de carácter do número 10 do FC Barcelona: quando a selecção precisa que ele a carregue às costas e a safe dos problemas (isto é, que faça de fora-de-série), ele desaparece. É o primeiro a deixar-se esmagar pelo peso da situação.
Na Rússia, vimos um Messi fatalista, nada influente, preocupado. Em alguns momentos, a realização televisiva fazia-o parecer até infeliz. Digo uma coisa que pode parecer radical, mas que me parece justa: talvez Leo Messi fizesse bem em encerrar mesmo a carreira com a selecção. Vestir aquela camisola provoca-lhe uma tensão que ele já não é capaz de gerir. Por vezes, reconhecer uma derrota é um sinal de grandeza extraordinária. E a história da relação de Messi com a selecção argentina é na história de uma derrota.
E depois há Neymar, que na minha opinião nem devia ser comparado aos outros dois. Não vale tanto como eles, não se aproxima sequer, nunca terá o talento ou o carisma deles. É sobretudo um fenómeno mediático e, na Europa, vestiu camisolas de equipas que teriam na mesma ganho tranquilamente (e perdido) sem ele. Mas os mistérios do marketing global impõem que o brasileiro seja emparelhado com o português e o argentino, pelo que devo pronunciar-me sobre ele. Sem que isto condicione o meu julgamento, porém.
E o meu julgamento sobre Neymar leva-me a dizer que foi claramente o pior dos três. Incómodo, supérfluo, nunca decisivo. Sobretudo com aquela ridícula tendência para exagerar as incorrecções dos adversários e para simular a dor pelas faltas sofridas. Um espectáculo tristíssimo, que nunca se esperaria de um jogador do seu nível comunicativo. Foi ele o grande derrotado do Rússia’2018.
Mas enfim, o que têm em comum os três grandes fenómenos futebolísticos de que vos falei? É o facto de serem a expressão máxima de um futebol que não apenas privilegia a dimensão dos clubes face às selecções, mas também a do indivíduo face à do colectivo. A super-estrela faz uma equipa por si mesma. E se o faz no clube, lá a coisa torna-se corriqueira através da gestão quotidiana das situações. Nas selecções nacionais, no entanto, torna-se ingerível, porque falta essa gestão quotidiana. E os resultados podem tornar-se muito negativos."
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