"Enquanto ao fundo do Campo Grande prossegue a rodagem daquele 'filme de terror', com múltiplas e movimentadíssimas cenas de acção, em interiores e em diversos locais ao ar livre, tanto em Portugal como, agora, até já no estrangeiro, tendo como protagonista o inenarrável actor que se habituou a fazer de maluco, em Campanhã, o principal personagem - inebriado por um mero brilharete de todo inesperado que lhe terá conferido a sensação de que o tempo voltava para trás - já começou a escrever a inevitável novela da sucessão. Na verdade, se, num primeiro assomo de bom senso, este parecesse dar razão às inexoráveis leis do 'rei do mundo', logo viria a recuar apressadamente, para esclarecer o seu pequeno universo regional quanto ao facto de que, também dali, ninguém o tira...
Esta conjuntural coincidência comportamental das duas figuras do mesmo métier agarradas ao poder, não deixa de ser muito interessante. Um é, sabe-se, manifestamente incontinente e desbragado: o outro, todavia, sempre se revelou mais habilidoso e mais obscuro. O primeiro é básico, primário e descomedido; o segundo é experiente, dissimulado, maquiavélico. Em princípio, na vida tudo os afastaria um do outro.
Porém, desde que um dia resolveram ajuntar-se num espúrio acasalamento 'contra natura', nunca mais ninguém separaria aquilo que o desígnio comum, afina, determinara reunir. Então, por isso mesmo, muito bem um para o outro: na defesa das manhas, na desfaçatez dos procedimentos e dos argumentários, a que não faltam ameaças nem a violência usada sob os métodos mais diversos e, sobretudo, por fim, na total (embora) dissimulada repulsa quanto às valências e virtudes da democracia.
Os dois, de um maneira ou de outra, agarraram-se ao poder, acastelaram-se nos seus próprios bastiões, estruturam mesmo os seus magotes-de-mão e criaram as suas próprias ficções. Mentiras atrás de mentiras e embustes sobre embustes no interior dos seus pequenos mundos e calúnias, vitupérios e volúpia de corrupção sobre os contrários. Nem um, nem outro, estão disponíveis para partilhar seja o que for, nos modelos que escolheram; detestam auditorias e actos eleitorais. Odeiam e invejam o Benfica.
Julgam-se eternos. Mas, ambos, como os mais reles ditadores, só hão de passar à história como gente sem carácter que nunca olhava a meios para atingir os tristes fins."
José Nuno Martins, in O Benfica
Nem mais
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