sexta-feira, 11 de maio de 2018

Vida

"Todos sabemos que sangue é vida. Crescemos a ouvir dizer e sabemos que ser dador é simples e muito importante, mas talvez a maioria das pessoas tenha dado sangue apenas a propósito da cirurgia de um amigo ou familiar. Por outro lado, às vezes damos connosco a pensar que pouco podemos fazer pelo mundo, enorme e problemático, fora de escala para que a intervenção de um único individuo possa fazer a diferença.
Ora, se há coisa que podemos fazer e com grande impacto na humanidade, é dar sangue ou medula.
Às vezes, ser um no meio da multidão pode ser uma vantagem, e, se é verdade que cada um de nós é um ser único e insubstituível, não é menos verdade que a massa de que somos feitos é comum a toda a humanidade. É por isso que o sangue que nos circula nas veias pode facilmente tornar-se num sopro de vitalidade para os nossos semelhantes. Às vezes, mesmo, na sua última esperança. Quando damos sangue, o que fazemos é permitir que outros possam viver mais e melhor simplesmente porque partilhamos com eles um pouco da nossa energia vital.
Mas se os programas de doação de sangue são dos processos de cooperação e partilha mais bem-sucedidos da nossa vida em sociedade, isso fica a dever-se à adesão das pessoas e à elevada compatibilidade que a natureza determinou para nós.
Infelizmente, essa mesma natureza não foi tão generosa com a medula e tornou-se num bem tão precioso e raro, que é mais fácil encontrar uma agulha no palheiro que um dador compatível com cada um de nós. Tantas e tantas famílias conhecem esse drama de saber possível a cura dos seus entes queridos, mas nada poder fazer por incompatibilidade. Ansiedade, impotência e revolta são muitas vezes coroados pela tristeza da perda, mas há cada vez mais esperanças e sucessos nesta luta desigual. Hoje, felizmente, os avanços da medicina, dos tecnologias de informação e da mobilidade tornaram possível a constituição de bases de dados com grandes números de dadores de medula e a sua disponibilização a toda a humanidade. Mais uma vez a cooperação entre todos e o somatório das contribuições individuais produzem um resultado virtuoso, e a esta escala, sim, é possível encontrar mais e mais dadores, salvando mais e mais vidas.
Ser dador é, pois, uma oportunidade única para cada um de nós contribuir de forma decisiva para a vida. E a vida é um bem tão escasso e preciso, que só aproveitaremos bem a nossa se a colocarmos também ao serviço dos outros.
Seja dador... dê vida!"

Jorge Miranda, in O Benfica

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