quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Derrota na Lituânia

Nevezis 94 - 68 Benfica
23-17, 28-11, 21-23, 22-17

Segundo jogo fora, segunda derrota pesada... e muito provavelmente o adeus à Europa!
Apesar das melhorias do Benfica esta época, continuamos a ter falta de peso e altura debaixo do cesto, e quando os Triplos não entram, tudo fica mais complicado...!!!
Ainda por cima este ano, o sorteio não foi nada agradável... teria mais 'fácil' ter 'perdido' na 1.ª ronda das pré-qualificações!!!!


A VARdade desportiva

"1. Deram aos árbitros um computador de última geração (que eles tanto pediram), mas parecem continuar a preferir a velhinha máquina de escrever. Tem sido um autêntico VAR aberto de disparates, a maior parte deles sem necessidade, seja por incompetência, falta de hábito ou corporativismo bacoco. Trocou-se o erro humano pelo erro tecnohumano, que fere tanto ou mais a verdade desportiva. Agora temos a VARdade desportiva.

2. A insinuação do director de comunicação do Sporting sobre a capacidade física apresentada pelo SC Braga em Alvalade consagra em definitivo Nuno Saraiva como a figurinha mais deprimente da actualidade no futebol português. Antes de qualquer outro alvo, envergonhou e desrespeitou a instituição Sporting. É demasiado grave, e se o clube não tem a coragem de  despedir, era bom que o futebol tivesse poder para o irradiar. É o problema de querer falar (neste caso escrever) quando nada se tem para dizer. Ou entra mosca ou sai aquilo saiu.

3. Numa semana em que tanto se falou dos tempos de recuperação, dou comigo a pensar se não seria possível obrigar também os directores e/ou departamentos de comunicação dos três grandes a darem-se 72 horas de descanso entre cada post ou tweet. Não há quem aguente tanto ruído, hipocrisia e fundamentalismo. Coitados, se o choradinho ganhasse campeonatos era realmente muito fácil...

4. A propósito da aliança Sporting - FC Porto, que parece estar já em crise (previsível, diga-se...), termino com uma sugestão musical, do fundo do baú, que penso estar à altura da ocasião: Anel de Noivado, do Trio Odemira. «A igreja estava toda iluminada, muita gente convidada, eu também fui para ver, ninguém sabe a tristeza que sentia, porque mesmo nesse dia, casava a mulher amada...»."

Gonçalo Guimarães, in A Bola

E a terra cada vez mais queimada...

"Na sequência das queixas do SC Braga, a propósito do prejuízo que alega ter sofrido devido ao trabalho da equipa de arbitragem liderada por Carlos Xistra, no último domingo, em Alvalade, o director de comunicação do Sporting produziu uma série de considerandos que os arsenalistas viram como «suspeições torpes, insidiosas e rasteiras» pelo que, além de terem avançado com queixas no CD da FPF e com um processo-crime em tribunal, lançaram um repto público a Bruno de Carvalho, no sentido deste clarificar se acompanhava as palavras com que Nuno Saraiva visara o emblema minhoto. O presidente do Sporting não fugiu à questão, respondeu em tom de contra-ataque, e em momentos algum desautorizou o seu director de comunicação, pelo que a única conclusão a tirar é a de que comunga das opiniões que tanto ofenderam os bracarenses. Está assim criado mais um foco de instabilidade no futebol português, mais uma frente de batalha que não deixará de dividir adeptos e fragilizar ainda mais a Liga, impotente para conter este crescendo de agressividade entre clubes. Pelo que tem sido visto, de forma exuberante, os clubes com mais força, afinal aqueles de quem se esperaria o bom exemplo, estão empenhados numa política de terra queimada que será, no fim das contas, a derrota de todos, um verdadeiro retrocesso civilizacional a que vamos assistindo, com a conivência de uma tutela que não cumpre a missão que lhe foi confiada, acobardando-se perante o bullying, fora das quatro linhas.
Fontelas Gomes, presidente do CA da FPF, pede hoje, em A Bola, aos dirigentes, que ponham a mão na consciência. Uma boa alma, por certo..."

José Manuel Delgado, in A Bola

A autoridade esmagadora de Rúben Dias

"É uma consequência directa do modo pragmático de entender o jogo, mais vocacionado para a eficácia do que para a expressão artística. Do rosto inexpressivo nada se conclui: não sabemos o que está a pensar mas basta vê-lo em acção 15 minutos em continuidade para lhe detectarmos a exuberância de uma autoridade desajustada à idade e cuja influência se revela esmagadora no seu raio de intervenção. É um líder natural, que se impõe pelo exemplo, bem como pela resposta táctica, técnica, física e emocional que vai dando em qualquer circunstância e nos mais diversos contextos do jogo. Rúben Dias satisfaz a paixão e tira prazer do futebol pela via de uma habilidade menos reconhecida pelas plateias: harmoniza as forças de segurança na defesa do seu cofre-forte (nomeadamente com o parceiro do lado mas também com o guarda-redes, os laterais e o médio-centro) e impede que os adversários expressem o talento criativo para o arrombar.
A maturidade que revela aos 20 anos, através de uma liderança sem ruído, chega a ser inverosímil. O ar pueril de adolescente, a insinuar-se como homem feito, anuncia um enorme defesa-central, pela confiança quase insolente no talento e na segurança absoluta com que aborda qualquer armadilha escondida nos terrenos sob sua jurisdição. Há nele a fragrância de um craque – e essa é uma sensação difícil de ganhar mas também de perder. Não se conhece o grau de convicção com que Rui Vitória o foi buscar à equipa B e o tem lançado na formação principal; mas está na cara que o miúdo se julga invencível e apetrechado das armas suficientes para iniciar um ciclo no Benfica e no próprio futebol português.
A altivez que o caracteriza, mesclada com a candura de quem só agora está a entrar na idade adulta, é natural, autêntica, logo aceitável; o entusiasmo juvenil colide com o ar taciturno de defesa inclemente, compenetrado, imune à distracção e resistente a quebras emocionais no cumprimento da tarefa. Há nele a coragem serena de quem não precisa que lhe apertem os torniquetes do rigor, porque disso se encarrega ele próprio. É um central responsável e prudente que, por intuição e ensinamentos assimilados, tem sob controlo a eterna obrigação de manter intacta a ordem táctica no sector mais recuado; não revela qualquer tendência para o exagero, porque domina cada passo da tarefa e, normalmente, chega antes de os factos ocorrerem; e orienta-se pelos padrões adultos de responsabilidade e sobriedade, que lhe estimulam uma das virtudes mais valiosas: a inteligência posicional e a perfeição na abordagem aos lances – é muitíssimo eficaz nos duelos individuais, com a particularidade de, na chegada à bola, não depender única e exclusivamente de contundência e despudor.
Para cumprir o destino, Rúben Dias tem agora de prosseguir o caminho, sem perder de vista a imperiosa necessidade de evoluir e interpretar este primeiro parcial da carreira como etapa de um processo em permanente evolução; não pode senti-lo como ponto alto e definitivo da sua construção como futebolista, antes está obrigado a entendê-lo como transição para um final que se antevê grandioso; como ponto de situação, é sinal seguro de que o trabalho está a ser bem feito e de que o sonho faz sentido. Mas não mais do que isso. O filme só terá o final feliz que o destino traçou se mantiver os sentidos despertos, continuar a ouvir os ensinamentos de Rui Vitória e não se desviar do rumo traçado. Tem tudo para vir a ser o central português do futuro e o líder absoluto no Benfica dos próximos tempos, no seguimento de uma longa dinastia de mitos defensivos que abrilhantam a história encarnada. Para consegui-lo não precisa de ser muito melhor. Basta-lhe continuar a ser o homem e o jogador que tem sido até aqui. Esperemos, então, que o tempo cumpra o seu dever. 

Manuel Fernandes merece o regresso
É a grande referência do Lokomotiv Moscovo, líder do campeonato russo
Manuel Fernandes é um dos mais extraordinários jogadores da sua geração e um dos mais desaproveitados. No Benfica antecipou carreira ao mais alto nível europeu mas encetou peregrinações menores, todas desfasadas do talento que possui – Everton, Valência e Besiktas foi o melhor que conseguiu. É incrível como, aos 31 anos, só tem 9 internacionalizações (2 golos). Um regresso mais do que merecido.

Destino fatal de Rony Lopes
No Mónaco, há um geniozinho português que não tem passado despercebido
Rony Lopes está a confirmar o talento reconhecido em menino e que Portugal aproveitou nas selecções jovens. Após vários empréstimos está a confirmar-se como um dos avançados mais desequilibradores do futebol europeu. Leonardo Jardim pegou no diamante e está a lapidá-lo com resultados magistrais. A cereja em cima do bolo foi a chamada à Selecção Nacional. A glória é o seu destino inexorável.

Rúben Neves está em grande 
Fernando Santos definiu a alternativa a William Carvalho e Danilo
Rúben Neves tomou decisão difícil, arriscada, mas que está a revelar-se correta. Trocar o FC Porto pelo Wolverhampton representou um passo atrás para dar, com maior segurança, dois ou três em frente. O médio é a máxima referência do líder do segundo escalão inglês, começa a ser referenciado no mercado europeu e, consequência de tudo isso, é hipótese para o Mundial russo. Pode vir a ser um caso sério."

O pecado do vídeo-árbitro

"É inegável que, apesar de alguns tropeços, o vídeo-árbitro reduziu o número de erros de arbitragem nesta edição da Liga, com isso evitando algumas injustiças. Mas, tal como seria de esperar neste cada vez mais previsível futebol português, o barulho é mais ensurdecedor do que nunca. Afinal, agora há mais um elemento cujas decisões podem ser questionadas e colocadas em causa.
Qualquer análise séria chegará à conclusão que a introdução do VAR trouxe benefícios à competição. Contudo, é muito provável que a percepção da maioria dos adeptos, naturalmente condicionados pela chinfrineira das máquinas de propaganda dos clubes, seja o contrário. Tudo porque é do interesse de quase todos que o foco da discussão seja esse e não outro.
O maior 'pecado' do VAR foi ter sido, a determinado momento, visto (e, de certa forma, 'vendido') como a ferramenta que iria acabar com as grandes polémicas no futebol português. Grande expectativas, expectativas irreais, que, obviamente, não se cumpriram. Porque o que nasce torto nunca se endireita.
A Liga e a FPF já se entenderam e haverá vídeo-árbitro pelo menos mais uma temporada em Portugal. Mas é preciso que os clubes assumam: querem mesmo ter o vídeo-árbitro ou vão continuar a descredibilizá-lo, questionando a sua idoneidade de cada vez que houver um erro ou, pior que isso, apenas um entendimento diferente sobre o mesmo lance? Porque se é para continuar assim, já bastava um árbitro para ser saco de pancada."

Futebol / Fadiga / Rendimento / Resultado

"«A adversidade desperta em nós capacidades que em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas.» (Horácio, 65-8 a.C.)
Assim é que equipas que para além da concentração de jogos em tempo curto, conseguem disponibilizar-se para a competição em tempo inteiro, enriquecidas pela valorosa identidade dos seus profissionais que, embora esculpidos no caminho das dificuldades, transportam na seiva as pegadas da sua experiência, não usam as desculpas para esconderem as fraquezas nem os lamentos para afagar as ideias, vão à luta e fazem do jogo de Futebol um espectáculo coberto de beleza e emoção.
Poder-se-ia pensar que a fadiga competitiva, aliada às longas viagens, mudanças de hábitos de treino, jogos de grande intensidade em curtos intervalos de tempo, etc, poderiam gerar algumas quebras de rendimento. O facto é que se verificou no terreno das competições recentemente realizadas, jogadores ousados, reinventando comportamentos assertivos que ao longo dos jogos se viam confirmados. 
Também como referia num artigo publicado em a bola.pt, a consciência é a base de toda a existência, facto que implica o absoluto o primado dessa mesma consciência sobre os demais elementos na construção da forma desportiva, física, atlética, técnica, funcional. Isto é, um corpo fisicamente em forma, mas descrente nos objectivos de conquista, não é de modo algum suficiente para garantir o sucesso no seu desempenho (Goswami, 2008 cit. Sousa, A; 2014).
Não deixa de ser interessante reflectir no teor das conferências de imprensa, expressas pelos seus mais qualificados intérpretes. Um discurso dos treinadores que se viu expressado sem subterfúgios, interagindo de forma absoluta e valorizando a força do grupo, promovendo a cooperação, explorando o seu potencial, manifestado com base no carisma de seu exercício de poder, por um código de valores e por uma exigência partilhada, protegendo implacavelmente quem lhe foi confiado como sendo propriedade colectiva, congregando um ambiente seguro onde a confiança e respeito atingem o estatuto duma verdadeira família.
Ouvimos o compromisso dos jogadores, apelando para transformar o estado da crença num desejo, que fez renascer a convicção para a conquista do sucesso. Como insistentemente refiro, a repetição duma afirmação positiva, é o melhor caminho para conquistar o pretendido. Porventura o pensamento positivo, traduz uma emoção que vai definir de forma clara um comportamento, que por sua vez se traduz num bom desempenho. Por isso mais do que reflectir nas condicionantes biológicas, fisiológicas, etc, numa equipa perante uma situação de dificuldade, deveremos antes de mais controlar os pensamentos, que movidos por uma cultura de honestidade, autenticidade, ética, resiliência e altruísmo, podem verem-se aperfeiçoados os seus desempenhos.
Os seus jogadores batem-se, jogam e lutam com a bravura dum guerreiro e vão mais longe na luta da sua conquista. Deixam no ar a linguagem da palavra ou a linguagem do silêncio, que acaba por ser o oxigénio que sustenta a convicção do êxito conseguido, porque o estado de alma envolto num espírito de conquista, é capaz de produzir um estado de crença que também gera biologia como força motriz de intencionalidade energética, onde se opera e alimenta o sucesso.
Nos dias de hoje através duma dinâmica de intervenção ou planificação de treino é possível a reconstrução dum modelo operacional, que após a avaliação de várias competências dos jogadores, poderemos atestar comportamentos, ajustar desejos, invocar convicções e partir para a viagem de sonho onde habita o êxito. Ao longo de vários artigos publicados nesta rubrica, fui anotando algumas dessas estratégias, que convido o meu estimado leitor a rever, tendo tido a oportunidade em as aplicar e cujos resultados concorreram para ajudar a rasgar os horizontes duma memória que sempre será convertida em felicidade e gratidão."

Sobre a morte, o condor passa...

"Alianza Lima: dificilmente outro nome, na história do futebol, está tão marcado pela desgraça. Há dias em que Lima volta a ser ‘La Ciudad de Los Reyes’. Dias em que os reis são outros e não mais os conquistadores do tempo do odiado Pizarro mas sim uma mole de milhares de homens de piel negra, cholos e mestizos que gritam: «Arriba Alianza!».

‘Lima la Fea’, chamam-lhe. Já ouvi o seu cantar solidário: «Se va, se va, Alianza Lima corazón!». Eles dizem que o Alianza é o clube da gente decente que sofre profundamente os custos das desigualdades sociais e que continua a lutar pelos seus direitos.
Em poucos lugares do mundo, o futebol entra assim pelos campos da política. As camisetas blanquiazules do Alianza continuam a ser da mesma cor da camisa às riscas do tratador de cavalos que fundou o clube em 1901. Mas há uma altura que passam a branco e negro: durante o mês de Outubro, em homenagem ao Cristo de Pachacamilla, o Santo Negro.
Lembro-me de Lima. Da esplanada que ficava por debaixo das arcadas da Plaza san Martín, à beira do exclusivo Club Nacional. A gente observava, gostosamente, nos intervalos de uns golos de pisco sour ou de Cusqueña, aquela mistura rácica que é marca da cidade: negros, brancos, japoneses, mulatos, zambos (que é como são conhecidos os cruzados entre índios e negros), mestiços. Aos domingos, quando o Alianza jogava no Alejandro Villanueva, na Calle Isabel La Catolica, o entusiasmo entornava-se pela praça bem cedo de manhã. Era o dia em que as pessoas dos cerros, os deserdados da sorte de El Agustino, La Vitoria, Callao e_Chorillos, os desempregados transformados em vendedores de quinquilharias falsamente incas que encantam os turistas incautos, sorriam de alegria e se sentiam mais donos da cidade do que os ricaços de Miraflores e San Isidro que têm carros enormes, americanos, e vivendas gradeadas à prova de assalto.
O povo trata o Alianza por ‘Intimo’. O seu futebol precisa de entusiasmo e de golos. É isso que exige a sua hinchada humilde que está farta das ordens e das regras do dia a dia e não suporta por muito tempo treinadores defensivos ou excessivamente tácticos.
É preciso que a equipa, os seus jogadores, seja tão espontânea como os adeptos. Há imagens indeléveis de ídolos de outras eras: Alejandro Villanueva, Adelfo Magallanes, Jose Maria Lavalle, Teofilo Cubillas, aquele que jogou no FC Porto, Hugo Sotil, Julio Bayon, Cesar Cueto ou Jose Velasquez. Nomes que ainda fazem enrouquecer gargantas, estremecer memórias, sonhar com um futuro límpido como os olhos de Elizabeth Taylor.
O futebol tem de ser alegre para que os hinchas esqueçam as agruras da existência, os arranques da fome. O_Alianza tem uma obrigação para com as suas gentes. É o centro dos domingos. Mudando ou não de cor, nos trinta e um dias de Outubro, os dias do_Santo_Negro, ‘Señor de Los Milagros de Las Nazarenas’ cuja imagem foi pintada no altar-mor do Santuário de Las Nazarenas por um escravo originário de Angola no Século XVII. Um escravo negro que se recusava a orar a um Deus branco. 
1987 é um ano inesquecível para o povo de Lima, para os hinchas do ‘Intimo’.
Havia um céu escuro sobre a cidade, no dia 9 de Dezembro.
Nuvens pesadas de chuva e de presságios.
Os presságios de Mama Ocllo, Filha do Sol, mulher amantíssima do inca Manco Capac, fundador do império.
Inti: o Deus do Sol. Irmão de Pacha Kamac.
Viracocha: o esplendor original, mestre do mundo.
No Peru a vida desliza ao sabor das seivas e destes nomes milenares. E do sol. Mas era noite lá no alto, para lá das nuvens que cobriam ‘Lima La Fea’.
O piloto do_Fokker AE-560 que transportava uma feliz equipa do_Alianza, que acabara de vencer em Pucallpa e estava mais perto do que nunca do título de campeã, avisava a torre de controlo do aeroporto Jorge Chavez que iniciara a manobra de aproximação à pista.
Era meia-noite.
O aparelho bordejava o bairro costeiro de Ventanilla e a cidade dormia.
Faltavam apenas dez minutos para uma aterragem que nunca chegou a acontecer. 
O avião despenhou-se no mar e, com ele, desapareceram Ganosa, Gino Peña, Tomas Farfan, Sussoni, Reyes, Garreton, Tejada, Tomassini e toda uma geração destinada às máximas honrarias.
Em Outubro, o Alianza troca as riscas azuis pelas riscas pretas do Cristo de Pachacamilla.
Em Dezembro, o Alianza troca as riscas azuis pelas riscas brancas do luto que ficou para todo o sempre.
Como dizia Daniel Alomia Robles, ao longe, sobre os Andes, às vezes o condor passa. Também passa sobre a morte..."

A séria mensagem de Stephen Hawking na Web Summit

" “Apenas precisamos estar conscientes dos perigos, identificá-los e implementar a melhor prática e gestão e preparar as consequências da inteligência artificial com um avanço significativo”.
- Stephen Hawking, Web Summit 2017
“Apenas”.
Segundo a organização, nesta segunda edição do evento em Portugal, participam 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, duas mil 'startups', 1.400 investidores e 2.500 jornalistas.
Uma conferência como a Web Summit tem um objectivo claro de criar “colisões” entre startups, investidores e outros, de modo a potenciar a partilha de informações e o estabelecimento de relações. Literalmente, “tropeçar” em alguém na fila para o café, ou procurá-los após uma conferência.
Seja porque “tropeça” no investidor “A” ou porque (de facto) se está perante uma gigante montra que pode possibilitar a entrada em mercados globais, a crença associada será, iminentemente, que o “crescimento” se fará num registo mais acelerado, imediato e a curto-prazo.
Em boa verdade, eventos desta natureza permitem aproveitar o conhecimento colectivo e a experiência de fundadores e empresários de excelência do mundo inteiro – por esta razão, há expectativas de que o acesso a esse know-how possa impulsionar um desempenho inicial mais forte, que conduza a um maior grau de “vendas” e a clientes em diferentes partes do globo.
Por estas mesmas razões, transporta em si mesmo a “fantasia” de uma espécie de golden card que, de repente, transforme o futuro (de forma positiva, claro), de quem vai à procura de uma oportunidade. 
Com este contexto, onde a “fantasia” do presente se concretiza num futuro (muito próximo), a plateia é “inundada” (entusiasticamente, pois todo o enquadramento pretende activar esse tipo de experiência sensorial) pelas diferentes formas que a potencialidade da inteligência artificial pode vir a assumir. 
Também neste contexto, poucos serão os que estão à espera ou “disponíveis” para ouvir falar de riscos, dificuldades, insucessos... excepto, os que são narrados nas histórias que terminam, invariavelmente, em cenários onde, “heroicamente” se ultrapassa tudo para terminar num (aparente – porque observado a curto prazo) sucesso.
A mensagem de Stephen Hawking comporta não só toda a potencialidade que a inteligência artificial pode trazer para a raça humana, no que respeita a um conjunto de inimagináveis (e desejáveis) progressos... Mas, igualmente, a responsabilidade necessária para gerir e antecipar todas as possíveis, e igualmente inimagináveis, consequências nefastas desse mesmo progresso...
Se, entenda-se bem... for colocada ao serviço dos (ou de) Homens... e não da humanidade. 
Questiono-me, de facto, quantos “ouviram”, em bom rigor, o alerta que foi lançado. 
Questiono-me quantos, passadas 1200 palestras, mais de 20 conferências, uns quantos sunset e night summits, e depois de expostos a miríade de estímulos diferentes (cognitivos e sociais, naquela que é uma das capitais turísticas mais desejadas – e ainda bem!)... recordarão a importância desta mensagem.
Tenho também, alguma curiosidade se a própria organização recolhe informação sobre o teor das palestras, no sentido de aferir a percentagem de comunicações que associa os avanços tecnológicos previstos com a resolução de questões tão fracturantes como a ausência de responsabilidade social comunitário, de igualdade entre povos, géneros e classes (entre tantas outras desigualdades), com a qual nos confrontamos numa base diária.
Note-se: a importância de eventos desta natureza é inquestionável.
Inquestionável em termos de retorno económico e visibilidade para o nosso país, inquestionável nas oportunidades que gera, seja pela partilha de conhecimentos e pelo estabelecimento de relações que proporciona, inquestionável porque se traduz, indubitavelmente, num acelerador de conhecimento e progresso.
Digamos apenas que, alguns de nós, perante tamanha euforia com uma aceleração desmesurada do dito “progresso”, possivelmente teríamos um sono mais descansado se este “apenas” fosse levado seriamente.
Seriamente, porque aprofundado com igual zelo e entusiasmo, decomposto num conjunto de acções que, sujeitos, organizações e países devessem actuar num movimento global e consciente que pudesse espelhar, inequivocamente, uma mensagem clara de que a Humanidade somos todos nós.
Progresso tecnológico sim, mas ancorado em empatia e sentido de comunidade – aqui sim, estaremos a falar de evolução."

Os estatutos do COP e a data da sua fundação

"«Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado» (George Orwell).
A data da fundação do Comité Olímpico de Portugal (COP) está, desde finais dos anos setenta, envolta num enredo orwelliano, através daquilo a que podemos designar por um “equívoco temporal palaciano” promovido por dirigentes que, até podemos admitir que estavam cheios de boas intenções mas, também, na sua “ingenuidade”, completamente equivocados. E completamente equivocados permitiram-se alterar a data e a lógica dos acontecimentos que levaram à fundação do COP sem que, para isso, tivessem realizado um trabalho minimamente consistente que pudesse fundamentar tal decisão. Em consequência, para além de terem confundido o tempo com o espaço e confundido as circunstâncias, do ponto de vista histórico-ideológico, cometeram uma enorme injustiça para com os verdadeiros fundadores do COP.
Na realidade, como se pode confirmar no jornal “Os Sports Ilustrados” na sua edição de 4 de Maio de 1912, o Comité Olímpico Português foi fundado em 30 de Abril de 1912. E foi esta data que prevaleceu até 1978 ano em que a “Olympic Review” do Comité Olímpico Internacional (COI), na sua edição de julho, num relatório enviado de Portugal, afirma que o COP foi fundado a 26 de Outubro de 1909. O que aconteceu foi que os autores do relatório, por razões nunca esclarecidas, associaram a fundação do COP à da Sociedade Promotora da Educação Física Nacional (SPEFN) que consta no livro publicado pelo COP em 1942, intitulado “O Comité Internacional Olímpico – O Comité Olímpico Português e os Jogos Olímpicos Modernos”. Ao fazerem-no, para além de ignorarem as questões ideológicas e corporativas que, no cruzar do século XIX para o século XX, se colocavam entre a educação física e o desporto, também ignoraram que Francisco Nobre Guedes que, entre 1957 e 1968, presidiu ao COP, comemorou o cinquentenário da instituição em 1962 efeméride que até ficou registada em vária correspondência trocada entre o COP e entidades Nacionais e do COI. Acresce que a data foi assinalada com a produção de uma placa alusiva onde as datas de 1912-1962 ficaram expressivamente gravadas. E a dita placa, acompanhada de ofícios, até foi distribuída por diversas entidades portuguesas bem como do COI. Hoje, os originais dos ofícios podem ser consultados no arquivo histórico do COI em Lausana onde também está depositada a referida placa. 
A confusão desencadeada com a data do COP podia ter sido evitada. Orlando Azinhais, antigo atleta olímpico em Roma (1960) e técnico superior da Direcção Geral dos Desporto, em 1979, foi o primeiro a denunciar o erro que estava a ser cometido. Posteriormente, o jornalista Sequeira Andrade e Carlos Cardoso actual presidente da Confederação do Desporto de Portugal, instituição que alguns inteligentes do desporto nacional, para continuarmos a utilizar a terminologia de Orwell, querem “apagar”, em diversas ocasiões, também defenderam que a data estava errada mas, igualmente, sem qualquer êxito perante a vontade e o alto conhecimento dos doutos membros que passaram pelas direcções do COP. O que aconteceu foi que os argumentos não tiveram qualquer êxito pelo que o poder da autoridade burocrático-administrativa pontuou em detrimento do poder do conhecimento histórico-científico.
Quem se der ao trabalho de olhar para as várias versões dos estatutos do COP pode, facilmente, verificar que na versão registada no oitavo Cartório Notarial de Lisboa em 19 de Março de 1993 que alterou completamente a edição anterior, não figura nenhuma data alusiva à sua fundação. Tal alusão, enquanto sinal de força sobre o controlo do passado, só se veio a verificar na versão de 7 de Maio de 1998 dos estatutos onde, no Artigo 1.º (Denominação e Natureza Jurídica), passou a afirmar-se que: “O Comité Olímpico de Portugal (COP), fundado em vinte e seis de Outubro de mil novecentos e nove, é uma instituição de utilidade pública, …”. Tratou-se de uma medida de força, sem qualquer nexo, a fim de, através de um registo notarial, institucionalizar um passado que, ao tempo, já se sabia, claramente, nunca ter existido na medida em que, também era do conhecimento que nem sequer a SPEFN tinha sido constituída naquela data. Com tal medida, ingenuamente ou não, pensava-se que se acabava com as críticas e os comentários, mais ou menos humorísticos que, ciclicamente, surgiam na comunicação social em que o COP era acusado de celebrar o seu aniversário numa data errada. Todavia, o COP não teve de esperar muito tempo para perceber quanto estava enganado na medida em que o jornal A Bola, pouco mais de um ano depois, na sua edição de 3-7-1994, em grandes parangonas, imprimiu: ”COP festeja aniversário em data errada”. E, assim, os dirigentes do COP que estavam convencidos de que iam, “por decreto” alterar o passado começaram a perceber que a questão não estava arrumada.
Desde então, ao longo dos anos, para além de Orlando Azinhais, de Sequeira Andrade e Carlos Cardoso, foram várias as pessoas, tais como, entre outras, João Marreiros, Monge da Silva, José Pinto Correia que, através de escritos e comunicações, se encarregaram de recordar que a data da constituição do COP que constava nos seus estatutos não correspondia à verdade histórica. Da minha parte, sobre o assunto publiquei vários artigos em jornais e revistas como o Desporto Madeira, o Norte Desportivo, o Primeiro de Janeiro, no portal do Fórum Olímpico de Portugal e, mais recentemente, no jornal A Bola (on line). Também publiquei diversos livros na colecção “Estudos Olímpicos” da Faculdade de Motricidade Humana – Universidade de Lisboa, bem como noutras editoras como a “Prime Books” onde a questão da fundação do COP é tratada relativamente à sua datação mas, sobretudo, quanto à questão ideológica que determinou o processo de institucionalização do desporto e do Movimento Olímpico tanto em Portugal como à escala mundial. 
Aleluia, a 30 de Abril de 2016, o COP colocou no seu portal a seguinte notícia: “Assinalam-se hoje 104 anos de criação do Comité Olímpico Português fundado precisamente a 30 de Abril de 1912. As ligações de Portugal ao Movimento Olímpico Internacional remontam a 1906 com a nomeação de um português, António Lancastre, para o Comité Olímpico Internacional e continuaram através da Sociedade Promotora de Educação Física Nacional, criada em 1909. O primeiro presidente do Comité Olímpico Português foi Jayme Mauperrin dos Santos que faleceu em 1913. Seguiu-se como presidente Alfredo Ferreira dos Anjos, Conde de Fontalva”.
E a pergunta que surgiu foi a seguinte: Como é que foi possível o COP, a 14 de dezembro de 2015, ter comemorado o 106º aniversário e, a 30 de Abril de 2016, anunciar, no seu portal, que a instituição, nesse dia, comemorava o seu 104º aniversário? De qualquer maneira, o aspecto verdadeiramente positivo a considerar é que, finalmente, foi implicitamente admitido que, em 1978, se cometeu um enorme erro que, por teimosia, foi reafirmado em 1984 quando a instituição, com três anos de antecedência, comemorou o 75º aniversário e, em 2009, quando no mais completo desinteresse das entidades estatais, comemorou o seu centésimo aniversário. E o jornal A Bola, que ao longo dos anos acompanhou o processo, não deixou de noticiar: “Estado ignora a gala dos cem anos do COP”. (In: A Bola, 2009-11-25). E a cerimónia foi um desastre na medida em que, para além de não ter contado com a presença do Presidente da República e do Primeiro-ministro, não teve a dignidade que a efeméride exigia.
Apesar de tudo, temos de reconhecer que a missiva do portal do COP colocada no dia 30 de Abril de 2016 se tratou de uma arejada abertura de mentalidades, na medida em que teve a virtude de apresentar a data da fundação do COP como sendo a de 30 de Abril de 1912. Todavia, como “ não há bela sem senão”, a bem ver, o texto revela injustiça e falta de rigor. Injustiça na medida em que omite o nome do verdadeiro responsável pela institucionalização do Movimento Olímpico em Portugal que foi o Rei D. Carlos. Falta de rigor na medida em que António Lancastre não foi nomeado para o COI. António Lancastre foi indicado pelo Rei D. Carlos a Pierre de Coubertin para, depois, como ainda hoje acontece, ser cooptado pelos membros do COI e passar a representar os interesses da instituição em Portugal. Acresce que a afirmação de que “as ligações de Portugal ao Movimento Olímpico Internacional (…) continuaram através da Sociedade Promotora de Educação Física Nacional (SPEFN), criada em 1909” também carece de verdade histórica na medida em que a SPEFN constituída, fundamentalmente, por médicos, militares e professores de ginástica, nunca teve quaisquer relações com o COI desde logo porque os seus membros não estavam, minimamente, interessados no desporto e, menos ainda, nos Jogos Olímpicos, como se pode verificar pelas duas versões conhecidas dos seus estatutos. Antes pelo contrário, os prosélitos da educação física combatiam o desporto ao ponto de, por exemplo, mais tarde, o médico Weiss de Oliveira considerar o desporto “um dos maiores deboches sociais senão o maior”.
E foi, precisamente, devido ao total desinteresse e, até, acirrada oposição à prática desportiva desenvolvida pelos prosélitos da SPEFN que um grupo de desportistas, a 30 de abril de 1912, fundou o Comité Olímpico Português a fim de tornar possível a presença de uma Missão portuguesa nos JO de Estocolmo (1912). Por vontade da SPEFN nunca os portugueses teriam participado nos Jogos Olímpicos de Estocolmo. Por isso, não passa de um devaneio sem qualquer correspondência com aquilo que aconteceu afirmar que a SPEFN manteve relações com o COI. O Movimento Olímpico institucionalizou-se completamente à parte da educação física que o combatia. Traduziu-se na expressão de uma prática desportiva livre, popular e autêntica que se afirmava para além da disciplina elitista e paternalista das escolas de ginástica protagonizada pelos professores de ginástica, os médicos e os militares.
Apesar da abertura de espírito (não muita) revelada no portal do COP a 30 de Abril de 2016, lamentamos que esta nova realidade não tenha ficado definitivamente clarificada na revisão de 27 de Setembro de 2016 dos Estatutos da instituição quando, no seu preâmbulo, se diz: “As ligações de Portugal ao Movimento Olímpico remontam a 1906 com a nomeação de um português, António Lancastre, para o Comité Olímpico Internacional, e continuaram com a Sociedade Promotora de Educação Física Nacional, criada em 1909. Em 1912 foi criado o Comité Olímpico Português o qual a partir de 1993 passou a ter a actual designação de Comité Olímpico de Portugal”. Ora bem, o que acontece é que se insiste no “erro de palmatória” que é afirmar-se que António Lancastre foi “nomeado” para o COI quando não foi, e que a SPEFN deu continuidade ao Movimento Olímpico quando se sabe que aquela organização abominava o desporto. E, na lógica do jacobinismo da 1ª República que destruiu o Movimento Olímpico português (Cf. “1912 – Fundação do Comité Olímpico Português”, Pires, G., Prime Books, 2016) mantêm-se a injustiça de ignorar o Rei D. Carlos como o principal promotor do desporto português e responsável pela institucionalização no País do Movimento Olímpico.
Depois da falsa partida que foi o anúncio no portal do COP da sua fundação em 30 de Abril de 1912 os dirigentes fizeram marcha atrás. Em 22-12-2016 realizaram uma cerimónia a que já não chamaram de aniversário mas de Celebração Olímpica e, agora, no dia 8 de Novembro em 2017, vão repetir a cerimónia presumivelmente convencidos de que, para além dos resultados pessoais dos atletas, do empenho dos seus treinadores, do sacrifício das suas famílias, da organização dos clubes e federações, em matéria de Olimpismo, depois do vazio que foi o Ciclo Olímpico do Rio (2016), há alguma coisa a celebrar.
Não foi Orwell que o disse embora o pudesse ter dito: o gestor absurdo destrói aquilo que não consegue controlar debaixo do seu poder autocrático. Neste sentido, lamenta-se que se tenha feito marcha atrás ignorando a data de 30 de Abril de 1912, privando-se, deste modo, o COP de ter o seu próprio dia de aniversário.
No que me diz respeito, enquanto praticante de desportos náuticos, tenho a certeza de que “há mais marés do que marinheiros” pelo que o que menos interessa é controlar o passado porque se o passado interessa para alguma coisa é para ser, com verdade, respeitado e para que, no futuro, não se repitam os erros já antes cometidos. O que interessa é controlar o presente a partir de uma ideia de futuro que se deseja construir. Felizmente, já estão a surgir dirigentes que, para além da cultura de rebanho de que o País, ao cabo de tantos anos de Abril, ainda padece, em surdina, já começaram a dizer “não vou por aí”. Assim sendo, estou certo de que chegará o dia em que o poder do conhecimento histórico-científico acabará por se sobrepor ao poder da autoridade burocrático-administrativa que, tem privado o MO, nos mais diversos países do Mundo de, verdadeiramente, cumprirem o ideário de Pierre de Coubertin e o seu próprio destino."

12 factos e 9 soluções para o futebol português

"Factos
1. O momento actual do futebol português é mau.
2. Os árbitros têm cometido erros. Mais do que se esperava e desejava e isso não pode nem deve ser branqueado.
3. A videotecnologia surgiu a pedido das mesmas pessoas que agora a criticam ferozmente.
4. A videotecnologia é fundamental, deve continuar mas é justo reconhecer que o seu crescimento tem sido mais atribulado do que se pretendia e desejava.
5. Também por isso mas não só, o ruído exterior continua a atingir níveis inaceitáveis.
6. A sensação de impunidade sobre quem o promove e mantém também.
7. Os campeonatos de sucesso são constituídos por equipas que um dia tiveram a inteligência estratégica de abdicar dos seus interesses para servir os interesses maiores do futebol.
8. O nosso não é assim porque o fosso entre as equipas ditas grandes e todas as outras é enorme e tende a aumentar.
9. Esse fosso é cavado por quem escolhe alimentar uma visão tripartida da competição.
10. Essa visão serve muitos interesses e muitas pessoas mas prejudica muitas mais.
11. Esses interesses promovem cada vez mais conflito e instabilidade porque sobrevivem à custa de uma guerrilha feia e não de uma sã rivalidade.
12. Tudo isto resulta numa liga enfraquecida, cada vez mais distante das grandes competições internacionais e das receitas que elas proporcionam.

Soluções
1. Que se promova uma espécie de “Football Talks” nacional, onde todas as partes com responsabilidade directa/indirecta no jogo se sentem e reflictam, apresentem as suas ideias, aprovem medidas concretas e apliquem-nas tão breve quanto possível.
2. Que as mesmas partes assinem uma espécie de “compromisso de honra” onde se obriguem a manter, até ao fim da época, comportamento de respeito perante a competição e todos os seus agentes.
3. Que se redija um código de conduta, proposto e ratificado por todos, com um conjunto de valores e princípios a manter em todos os momentos, durante todas as épocas.
4. Que se continuem a introduzir alterações regulamentares no sentido de reforçar a punição aos agentes desportivos que tenham ou mantenham comportamentos inadequados, inflamatórios, provocatórios, ofensivos, injuriosos ou grosseiros.
5. Que exista coragem do estado português em apoiar a implementação das propostas sugeridas, em sede própria, pelo Presidente da FPF.
6. Que essas medidas visem, essencialmente, afastar dos estádios todos os que não vão ao estádio ver futebol.
7. Que FPF e Liga de Clubes criem comissões de trabalho com o objectivo de apresentar medidas que tornem o nosso campeonato num produto mais rentável. Que essas medidas tenham sempre em conta o todo e nunca a parte.
8. Que as mesmas estruturas criem condições económicas (redução de custo dos bilhetes, por exemplo) e sobretudo de segurança para que cada vez mais pessoas/famílias vão aos jogos assistir ao espectáculo chamado futebol.
9. Que as mesmas estruturas encontrem formas criativas de valorizar o jogo em si, de forma a torná-lo cada vez mais apetecível para jogadores de qualidade, aumentando assim o interesse competitivo e tudo o que ele atrai depois: maior mediatismo, mais patrocinadores, novos parceiros e, naturalmente, mais receitas.

P.S. Qualquer um faria este diagnóstico e muitos já sugeriram medidas idênticas. A diferença é que quem opina só pode fazer uma coisa: opinar. A distância entre a utopia e a realidade é quase sempre psicológica. Na verdade, quase tudo na vida está a um pequeno passo chamado... vontade. Haja coragem, pois então. De que é que estamos à espera?"

O bom Sp. Braga, que dá gosto ver

"Plano D do Benfica passou em Guimarães, será para ficar?

, em teoria, dois resultados menos normais no percurso do Sporting de Braga esta época. A derrota no Bonfim para a Liga e o desaire europeu caseiro perante o Ludogorets.
Os pontos desperdiçados pelos arsenalistas na Luz e, em casa, frente ao FC Porto, em fase ainda de consolidação de ideias, acabam por ser naturais. Já em velocidade de cruzeiro conseguiram arrancar um empate em casa dos encarnados na Taça da Liga, que os deixam em boa posição para estar na final four que irá ser organizada na Pedreira, e agora nova igualdade, quase com sabor a vitória, na visita aos leões.
Além dos resultados que certificam o momento da equipa de Abel Ferreira, há que sublinhar o bom futebol praticado. O gosto pela bola, o não querer perdê-la perante seja quem for, a aposta numa filosofia ofensiva capaz de conjugar equilíbrio e irreverência, mas também critério, acrescentado por alguns jovens, como Xadas e João Carlos Teixeira, sobretudo.
Neste percurso não perfeito, mas consistente, o treinador que lançou as bases para o seu próprio futuro ainda como interino no ano passado em Alvalade – não só no resultado e na exibição, mas também na vertente comunicacional que se seguiu a esse triunfo – tem gerido de forma exemplar um grupo equilibrado e com bastante qualidade.
Se tudo pareceu depressa de mais há um ano, na assimilação de ideias para esse jogo com o Sporting, esta temporada houve, pelo contrário, um crescimento às vezes demasiado lento, maturado, e que chegou mesmo a parecer em perigo em alguns momentos. O perfume do seu futebol sentiu-se de forma intensa na goleada ao Estoril e, apesar do cansaço de estar em várias frentes, tem aparecido em outros encontros.
Xadas e João Carlos Teixeira têm sido, como já se disse importantes, mas há ainda a recuperação de Danilo, jogadores no limiar da explosão como Fábio Martins e Dyego Sousa, a versatilidade de Fransérgio e as boas soluções encontradas na defesa para suprir saídas e lesões recorrentes. É um Braga que respira saúde, e promete crescer ainda mais para o que falta de campeonato.
O que há a lamentar é que a Abel não tenha sido dada a oportunidade, se calhar até também pelo próprio, de falar sobre mais uma excelente exibição, a merecer bem mais do que um ponto em Alvalade. Falar de bola teria sido, mais uma vez, muito bom.

Já o Benfica apresentou um plano D em Guimarães – o plano A tem sido o 4x4x2 tradicional, o B um 4x4x2 sem Pizzi e com Filipe Augusto e o C uma perspectiva mais europeísta, num 4x3x3 que contempla dois médios mais defensivos e Pizzi, mas menos um avançado, com Jonas no banco – e superou um desafio carregado de pressão, já depois de o FC Porto ter ganho ao Belenenses e alargado a vantagem à condição. O plano D manteve o 4x3x3, recuperou Jonas e, numa primeira fase do jogo, teve Krovinovic e Pizzi à frente de Fejsa. Samaris entrou para o lugar do 21 mais tarde, numa altura em que era preciso lutar mais pela recuperação da bola e travar o adversário.
Com o croata a contribuir sempre de forma simples para a construção, acrescentando também ele critério, o Benfica teve um pouco mais de controlo do encontro e acabou mesmo por chegar aos golos que facilitaram a sua missão, apesar de um ou outro erro na parte final. Também a presença de Jonas aproximou sectores, e manteve uma boa definição na frente de ataque, contrariando um pouco a ideia de que o brasileiro não renderá isolado no ataque.
Com a pausa na Liga, Rui Vitória tem nova oportunidade para trabalhar o sistema, que poderá ser útil fora de casa em alguns encontros, até como ensaio para o embate que se aproxima com o FC Porto no Dragão. Além da Liga dos Campeões, claro, embora aí o Benfica precise de muitos golos além de vitórias e Krovinovic não seja opção por não ter sido inscrito.
Será esta a fórmula para jogos de maior grau de dificuldade? É esperar pelos próximos jogos."

O Benfica e as balelas

"No futebol, o pior cego é o que só vê a bola e bastaram dois jogos para se confirmar que o Benfica coabitava há demasiado tempo com, pelo menos, três premissas falsas. A primeira era que não havia alternativa ao 4x4x2 herdado de Jesus. A segunda era que a titularidade de Jonas implicava que ao brasileiro se acrescentasse sempre um outro avançado capaz de lhe servir de muleta. A última farsa era que o plantel tinha ficado tão amorrinhado com as saídas de Ederson, Semedo e Lindelof que era de todo impossível ao tetracampeão apresentar hoje uma equipa e um futebol decentes. Os últimos jogos com o United e o V. Guimarães, sem resultarem em exibições brilhantes, longe disso, serviram, pelo menos, para provar que aquela trilogia era sustentada por balelas ou meias verdades. Sentenças chochas que serviam, principalmente, para acobertar o facto de o Benfica andar há mais de dois anos a perder qualidades e a essência do seu futebol. Porque, mais do que um processo de cristalização (que muitas vezes acontece até em função de os adversários encontrarem os antídotos necessários), o que parecia estar a acontecer era um progressivo atrofiamento no jogar benfiquista. E que já não era apenas visível na organização ofensiva.
Para sermos inteiramente justos, importa reconhecer que Rui Vitória cumpriu minimamente a promessa de aproveitar a anterior paragem da liga para dar alguns retoques no jogar da sua equipa. Nada de muito resplandecente, até porque se mantiveram muitos dos problemas no seu processo ofensivo, mas o suficiente para que, por exemplo, frente ao Olhanense e ao Aves se descobrirem alguns movimentos e soluções diferentes. Mas a atrapalhação e os apertos sentidos frente ao Feirense (faltou-lhe convicção e a segurança no controlo da bola) provaram que os ganhos eram mesquinhos e insuficientes. Até, por isso, tornara-se ainda mais imperiosa a necessidade de cumprir a promessa (feita quando abriu o champanhe do último título) de apresentar um plano B. E a solução alternativa parece ser mesmo o 4x3x3 a que Jorge Jesus e Sérgio Conceição também já recorreram esta época para darem mais consistência às suas equipas nos jogos mais trabalhosos. Há uns anos valentes, o professor Neca, então treinador do Aves, dizia que o 4x3x3 era "a tática dos pobres", por considerar ser aquela distribuição das unidades que melhor permitia disfarçar as debilidades e as limitações de uma equipa, designadamente das mais modestas. Claro que era uma visão redutora e injusta para um sistema que permite um manancial raro de soluções quando dotado de dinamismo, bastando recordar que foi à custa do seu inovador 4x3x3 que Rinus Michels levou ao extremo da beleza poética o Ajax e a Holanda. Mas é impossível não relacionar o adágio do professor Neca com esta tentativa do Benfica de encapotar boa parte dos problemas para os quais não encontrou solução, sendo ainda importante recordar que Rui Vitória nunca havia sido, até chegar à Luz, um devoto do 4x4x2 clássico. O Benfica irá certamente continuar a privilegiar o desenho com dois avançados (até porque Seferovic e Jiménez têm de ser rentabilizados), mas o meio campo com três unidades, para além facilitar a solidez, também permite a incorporação constante dos laterais, movimentos naturais em perpendicular e desmarcações de rotura em velocidade. E tudo com uma simplicidade desarmante.
A utilização de Jonas no 4x3x3 não merece grandes explicações. Ele até pode ficar mais confortável com um cúmplice próximo, mas o melhor é que tem de jogar quando só há lugar para um. E o melhor é Jonas, que não devia ter ficado de fora em Manchester. E isto não tem tanto a ver o golo marcado em Guimarães, antes como a inteligência e a qualidade com que se movimentou para combinar com Samaris no segundo golo ou como voltou a baixar para dar o apoio que permitiu a Diogo Gonçalves isolar Sálvio no 0-3.
Finalmente, importa desmistificar a questão da qualidade do plantel, principalmente desde que Rúben Dias se afirmou como um central de futuro e dimensão internacional. E mesmo Douglas, que a atacar pede meças aos melhores, será uma óptima solução para a generalidade dos duelos. A prova de que há muita gente subaproveitada foi a forma impactante como Krovinovic se estreou na liga a titular, o que só pode ser uma surpresa para quem não viu os seus jogos no Rio Ave. O problema nunca foi a qualidade do plantel nem a variação de protagonistas. Mais, a charada mantém-se porque ainda não houve, por exemplo, a capacidade de integrar suficientemente talentos como os de Zivkovic e Rafa. E não venham dizer que o primeiro está gordo e que o ex-bracarense não se aplica nos treinos, como foi posto a correr. O primeiro estás às portas da selecção da Sérvia e ninguém percebeu porque saiu da equipa e acabou desterrado na bancada. E os técnicos que treinaram Ricardo Carvalho podem ajudar a explicar que há jogadores que treinam mal e depois se transfiguram. O que Rafa precisa é de mimo e que lhe corrijam a finalização. Alguém já pensou o que seria este Benfica, até em termos de futebol combinativo, se juntasse na mesma equipa Douglas, Grimaldo, Pizzi, Krovionovic, Zivkovic, Rafa (ou Gabriel Barbosa) e Jonas? Isso é que era um grande plano…

Cinco estrelas - Guardiola é singular
Depois de reinventar o futebol em Barcelona e arquitectar novas fórmulas em Munique, Guardiola está a transformar o City numa máquina de ganhar e bem jogar. Segue com 9 triunfos seguidos na Premier League (15 no total) e já bateu até os recordes do Arsenal "invencível" de 2004.

Quatro estrelas - De Bruyne vende ilusões
três épocas custou 74 milhões (o mais caro de sempre do City), mas foi dinheiro bem empregue num Kevin de Bruyne que perdeu peso, recuou no campo e se transformou num jogador total. É o cérebro, o ilusionista e a referência de um City cada vez mais mágico.

Três estrelas - Obrigado Pirlo
O ponto final da carreira de um fora de série como Andrea Pirlo tem de ser sempre registado. Era uma retirada há muito anunciada e que só foi antecipada porque o New York City foi eliminado na semifinal da Major League norte-americana. Aos 38 anos, e depois de 23 de uma recheada carreira, só nos resta dizer obrigado.

Duas estrelas - O eclipse de Griezmann
Depois de várias épocas a ameaçar sentar-se à mesa de CR7 e Messi, Griezmann é cada vez mais relacionado com a baixa de produção e a desorientação do A. Madrid. E Simeone já diz que não tem ninguém que lhe ganhe os jogos sozinho.

Uma estrela - A imperícia do CA
Por muito cansativas que sejam as queixas sobre as arbitragens, é impossível não dar razão a António Salvador nas setas dirigidas ao Conselho de Arbitragem. As nomeações de Carlos Xistra para todos jogos do S. Braga com os "grandes" e de Rui Costa para o VAR em Alvalade é, pelo menos, sinal de imperícia."

É claro que a culpa tem nome

"O jogo de Guimarães pode representar um marco para o Benfica, na medida em que o motivou a dar o passo que tardava - e tanto tardou que se calhar já comprometeu a época.

Estava a transformar-se em teimosia obstinada a recusa de Rui Vitória em aceitar que a ideia de jogo herdada do antecessor e que o ajudou a ganhar dois Campeonatos há muito dava evidentes sinais de saturação.
Quando foi contratado pelo Benfica, agiu com prudência e argúcia ao evitar rupturas bruscas e desnecessárias. Fez uma auscultação cuidada, verificou o que lhe agradava e seguiu em frente, sem sobressaltos. Além disto, os deuses acompanharam-no no período mais complicado da transição de Guimarães para a Luz, em que valeu quase tudo para o prejudicar e dar dele uma imagem de incapacidade face às exigências de um emblema de grande dimensão.
Venceu essa dura batalha e conseguiu silenciar a turba detractora pela seriedade e competência. Acomodou-se, porém. Não? Então facilitou, não tomando atenção que ao menor indicio de crise de exibições e resultados iria ser questionado precisamente por essa imprevidência de ao terceiro ano continuar a trabalhar sobre os alicerces de um edifício que não fora por si projectado. Não percebeu, ou não quis perceber, que falências estruturais visíveis a olho nu na sua área de intervenção reclamavam inadiáveis alterações no sentido de apresentar à nação benfiquista um projecto com a sua assinatura, e tradutor de mais ambicioso ciclo de conquistas desportivas.
Desconheço por que razão não o fez e intriga-me mais a sua aparente indiferença em esbanjar créditos que tanto lhe custaram amealhar com inatacável merecimento.

Admito que esteja a ser excessivo, mas, sinceramente, interrogo-me se a mudança há tanto reclamada e agora executada terá sido elevada à prática de Filipe Augusto não estivesse lesionado? Nada me move contra o jogador, mas, confesso, ainda não fui capaz de lhe descortinar nem metade dos atributos que Vitória lhe reconhece, nem eu, nem a maioria dos adeptos. E a falha nem será do treinador, talvez seja mais do jogador, o qual, se é assim tão prendado, pouco se tem esforçado para mostrar as suas amplas qualidades futebolísticas.
A questão central não tem a ver, obviamente, com Filipe Augusto, mas sim com o peso que é obrigado a carregar a partir do momento em que a sua utilização, e o que ela representa em termos de condicionalismos vários, passa a ser prejudicial à saúde anímica do próprio grupo. Porquê? Por gerar desigualdades de tratamento e de oportunidades de tratamento e de oportunidades, além de suscitar a discussão sobre as escolhas e, principalmente, sobre a estranha insistência de repetir equipa que fraqueja no jogo seguinte.
Trata-se de uma decisão bizarra que sólida argumentação técnica certamente suporta, embora castradora do entusiasmo dos que ficam de fora e querem entrar. Constitui também um convite à deterioração do espírito de convivência que se pretende salutar e forte num plantel de modo a manter no limite máximo os níveis competitivos de todos os atletas.
No entanto, depois de algumas tentativas recentes, parece ter sido dado ao voo da águia liberdade para mudar de rumo, não significando isso que Rui Vitória de repente abdica do modelo x para usar o modelo y. Aliás, não aplaudo tais rigores, nascidos e criados em velha escola lusa ainda com considerável falange de seguidores. Fico desconfiado quando um treinador se gaba de impor a sua táctica aos seus praticantes e oiço gente sábia recomendar o inverso.
O jogo de Guimarães pode representar um marco para o Benfica, na medida em que o motivou a dar o passo que tardava - e tanto tardou que se calhar já comprometeu a época. Veremos o que nos vai dizer o próximo FC Porto-Benfica, no primeiro dia de Dezembro.

Finalmente, julgo ter-se feito o funeral dessa falsidade que, mesmo sem meio de prova, se habituou a condenar Jonas ao desterro de cada vez que se sugeriam as correcções tácticas que qualquer treinador com curso de fim de semana seria capaz de pôr em marcha.
Transformar o melhor jogador em problema irresolúvel a ver nele o grilhão que prende a equipa a equívocos e a conceitos desajustados não tem nem nunca teve o menor cabimento. É um erro. Melhor, era um erro! E é isso que incomoda: o tempo que se demorou a reflectir e a concluir que o caminho não era por ali... Se é que a situação ficou devidamente esclarecida. Se não, faça-se outro retiro...
Nenhuma estratégia justifica a exclusão de Jonas das equipas titulares nos jogos com o Manchester United. Os grandes jogadores fazem falta nos grandes palcos, mas Rui Vitória não teve isso em conta. Foi pena, não pensou como grande treinador. Como não tem pensado, aliás, nesta cruel participação na Liga dos Campeões: quatro jogos, quatro derrotas, zero pontos e a iminência de nem sequer fica na Liga Europa. Para um clube cabeça de série é frustrante; e a culpa tem nome, é claro."

Fernando Guerra, in A Bola

PS: Acho que existe alguma precipitação nesta analise às alterações do Modelo. O Benfica mudou para o 433 em Guimarães, tal como tinha feito nos jogos com o Man United... mas parece-me que até final da época, vamos jogar em 442 na maioria dos jogos... Nos próximos tempos, talvez em Moscovo e no Dragay vamos utilizar o 433, mas de resto...
Em relação ao Jonas, existe algumas variáveis que merecem destaque:
- em primeiro lugar, o facto de este ter sido o 3.º jogo com este esquema em pouco tempo, deu aos restantes jogadores 'automatismos'... por exemplo, o 2.º e o 3.º golo, são lances onde o Jonas 'leva' os Centrais, e o Samaris, o Digui e o Salvio, aproveitaram o espaço deixado em aberto...
- o sucesso do Jonas em Guimarães, não pode ser transportado para todos os jogos, bastava o Guimarães ter jogado com um 'autocarro' para a solução do Jonas como ponta-de-lança isolado, não ter recusado...!!!

O videoárbitro e a crítica da razão

"Por época, a Federação Portuguesa de Futebol paga cerca de um milhão de euros para termos uma competição profissional mais transparente, mais justa e menos sujeita à canalhice discursiva de alguns dirigentes e respectivos comissionistas.
Um milhão de euros, mais coisa menos coisa, é quanto custa ao cofre federativo o VAR (videoárbitro).
Pode questionar-se se o dinheiro, que é muito para a pequena e pobrezinha realidade portuguesa, seria melhor aproveitado no incentivo da formação ou no apoio a pequenos clubes que se distinguem na promoção e desenvolvimento do futebol. Mas admitamos que o objectivo é suficientemente válido para merecer tal esforço.
Se assim for, o mínimo que todos temos de exigir é que o VAR seja, então, utilizado para a função para a qual foi criado. A simples ideia de podermos ter um sistema de videoárbitro mais preparado para servir de apoio corporativo do que de apoio técnico a árbitros seria uma monstruosidade tão grande que acabaria por inviabilizar a utilidade (que continua a ser óbvia e determinante) das novas tecnologias no futebol.
É, pois, importante que os responsáveis do Conselho de Arbitragem tenham uma palavra de explicação pública para o que se demasiado mau se passou nesta última jornada. A convicção de que a arbitragem e os árbitros são melhor servidos no silêncio dos gabinetes é inaceitável nos tempos de hoje e contraria o essencial do objectivo a que se propõe o próprio serviço do videoárbitro. É urgente garantir a confiança no sistema e, não menos importante, a confiança nos homens que o controlam."

Vítor Serpa, in A Bola

Em Portugal só não se ouve quem realmente interessa

"O futebol português é horrível e não estou a falar do que se joga em campo.

Ruído, só se ouve ruído.
Não se ouvem os jogadores a falar dos golos e das suas melhores jogadas, nem os treinadores a explicar como ganharam ou surpreenderam os rivais. Muito menos os adeptos, a elogiar os seus heróis. Apenas ruído, nada mais do que ruído.
Dirigentes contra dirigentes, frames contra frames, críticas contra críticas. Mil gritos de o teu penálti é maior do que o meu. Mais mil de que o videoárbitro não serve para nada, de quem pensava, provavelmente, que servia para tudo.
Hoje em dia, é pior. Há redes sociais, há Facebook e Twitter. E o eco ganha proporções esmagadoras. Há o discurso, e os seguidores, verdadeiros mas sem querer pensar, ou falsos e parte da propaganda. Uma batalha ideológica, cega, que tantas vezes tem continuidade nas ruas. De todos os lados, entre todos os clubes, dependendo do momento.
O ruído é ainda maior, com o estalar da violência.
O futebol português é feio, horrível, e não é aquele que se joga em campo, apesar de por vezes também poder ser melhor. O futebol português, o que realmente interessa, não tem voz.
Só se ouve ruído, e sobre esse ruído só escreve quem quer.
Calem-se, ou joguem à bola!"

Afinal havia outro

"Nos últimos anos, foram-nos convencendo de uma verdade: Jonas não podia jogar sozinho no ataque. Umas vezes era dito que era porque lhe faltava presença física na área, outras porque era um desperdício tê-lo em terrenos tão avançados ou, ainda, pasme-se, porque o brasileiro não gostava. Este dogma foi ao ponto de inviabilizar qualquer sistema de jogo alternativo. Jonas é o jogador mais decisivo do Benfica, pelo que, com ele em campo, a equipa estava condenada a um meio-campo a quatro, com dois avançados, um mais móvel (Jonas) e uma referência mais fixa. Do que se viu contra o Vitória, afinal não tem de ser sempre assim.
Talvez a principal razão para ter Jonas mais avançado seja mesmo o faro pelo golo. As estatísticas confirmam-no: de acordo com o GoalPoint, o benfiquista é o segundo jogador a actuar em campeonatos europeus com mais remates enquadrados por jogo (2,6), só ultrapassado por um extraterrestre, Messi (3). E se olharmos para outros números, o registo do brasileiro impressiona, designadamente na comparação com Jiménez e Seferovic – muitos mais dribles eficazes, mais assistências para finalização, mais faltas sofridas, menos foras-de-jogo. E, claro está, um pecúlio impressionante – 99 golos em 128 partidas oficiais de vermelho.
A questão é, também, outra. Nos últimos jogos, Rui Vitória foi dando sinais de que, perante a má fase exibicional, andava a testar variações ao sistema dominante. Mas, até Guimarães, para lá do reforço do meio-campo, a opção seguida era sempre uma de duas: quando jogava Jonas não jogava Pizzi e vice-versa. O que tinha consequências, o Benfica equilibrava-se, melhorava na reacção à perda de bola, mas a criatividade dependia quase em exclusivo ou de Jonas ou de Pizzi, enquanto a dinâmica ofensiva ficava entregue às correrias verticais pelas alas (também à vez, Sálvio e Diogo Gonçalves). O Benfica foi ficando melhor a defender, mas o processo colectivo ofensivo ficava ainda aquém do desejado.
Em Guimarães mudou tudo e com resultados. Um meio-campo mais consistente, mas com os melhores em campo em simultâneo, o que torna tudo mais fácil. Com Jonas, Pizzi e a adição de Krovinovic – um craque em potência na forma como recebe, toca e pensa o jogo – a equipa fica mais equilibrada, capaz de controlar as partidas em posse e ganha criatividade à frente. Em alguns jogos, com a insistência na solução, o futebol só pode ficar mais ligado, com maior mobilidade e a capacidade para desmontar a organização defensiva adversária vai aumentar. Só falta mesmo acrescentar Zivkovic à equação.
Tudo isto serve para demonstrar que, se o Benfica iniciou a temporada com problemas de planeamento e excesso de lesões, há no plantel qualidade individual suficiente para superar os obstáculos, desde que sejam explorados sistemas alternativos àqueles em que se insistiu nos últimos anos. Afinal havia outro sistema e Jonas pode, mesmo, jogar sozinho na frente."

Reforma e confiança

"A FIFPro e a FIFA alcançaram um acordo histórico para a reforma do actual sistema de transferências. Não posso deixar de manifestar a minha satisfação por este entendimento, enquanto Presidente do Sindicato dos Jogadores e membro da Divisão Europa da FIFPro, que desempenhou um papel fundamental ao longo da negociação.
Destaco, em particular, num contexto de reformas que a FIFA e a UEFA iniciaram, o clima de diálogo e confiança. Sobre o conteúdo deste acordo, que será implementado em diferentes fases, destaco o reforço das garantias laborais do jogador nas situações de incumprimento salarial ou privação das condições de trabalho em igualdade com os restantes colegas de equipa. A redução do "enclausuramento" contratual em situações deste tipo reequilibra forças entre jogadores e clubes e agiliza a resolução de disputas, contribuindo para um futebol mais justo. Caminhamos, para uma afirmação do jogador de futebol enquanto trabalhador, que não pode ser abalada nem pelas especificidades do desporto, nem pelas exigências da competição.
O diálogo social continuará a ser efectivado em torno de questões laborais, de justiça social e direitos humanos, para a fixação de um standard mínimo de protecção susceptível de aplicação a nível global.
Quero, ainda, retirar ilações do acordo para a realidade portuguesa. Este foi o acordo que, enquanto representantes dos jogadores, pretendíamos?
Certamente que não. Mas um acordo é isto, um conjunto de cedências de todas as partes para um bem maior. Neste caso o futebol.
Talvez em Portugal possamos aprender que até os interesses mais antagónicos podem encontrar pontos de conversão, em benefício do objectivo comum que é o desenvolvimento do futebol e a confiança por parte de todos no sistema desportivo."