quarta-feira, 8 de novembro de 2017

A séria mensagem de Stephen Hawking na Web Summit

" “Apenas precisamos estar conscientes dos perigos, identificá-los e implementar a melhor prática e gestão e preparar as consequências da inteligência artificial com um avanço significativo”.
- Stephen Hawking, Web Summit 2017
“Apenas”.
Segundo a organização, nesta segunda edição do evento em Portugal, participam 59.115 pessoas de 170 países, entre os quais mais de 1.200 oradores, duas mil 'startups', 1.400 investidores e 2.500 jornalistas.
Uma conferência como a Web Summit tem um objectivo claro de criar “colisões” entre startups, investidores e outros, de modo a potenciar a partilha de informações e o estabelecimento de relações. Literalmente, “tropeçar” em alguém na fila para o café, ou procurá-los após uma conferência.
Seja porque “tropeça” no investidor “A” ou porque (de facto) se está perante uma gigante montra que pode possibilitar a entrada em mercados globais, a crença associada será, iminentemente, que o “crescimento” se fará num registo mais acelerado, imediato e a curto-prazo.
Em boa verdade, eventos desta natureza permitem aproveitar o conhecimento colectivo e a experiência de fundadores e empresários de excelência do mundo inteiro – por esta razão, há expectativas de que o acesso a esse know-how possa impulsionar um desempenho inicial mais forte, que conduza a um maior grau de “vendas” e a clientes em diferentes partes do globo.
Por estas mesmas razões, transporta em si mesmo a “fantasia” de uma espécie de golden card que, de repente, transforme o futuro (de forma positiva, claro), de quem vai à procura de uma oportunidade. 
Com este contexto, onde a “fantasia” do presente se concretiza num futuro (muito próximo), a plateia é “inundada” (entusiasticamente, pois todo o enquadramento pretende activar esse tipo de experiência sensorial) pelas diferentes formas que a potencialidade da inteligência artificial pode vir a assumir. 
Também neste contexto, poucos serão os que estão à espera ou “disponíveis” para ouvir falar de riscos, dificuldades, insucessos... excepto, os que são narrados nas histórias que terminam, invariavelmente, em cenários onde, “heroicamente” se ultrapassa tudo para terminar num (aparente – porque observado a curto prazo) sucesso.
A mensagem de Stephen Hawking comporta não só toda a potencialidade que a inteligência artificial pode trazer para a raça humana, no que respeita a um conjunto de inimagináveis (e desejáveis) progressos... Mas, igualmente, a responsabilidade necessária para gerir e antecipar todas as possíveis, e igualmente inimagináveis, consequências nefastas desse mesmo progresso...
Se, entenda-se bem... for colocada ao serviço dos (ou de) Homens... e não da humanidade. 
Questiono-me, de facto, quantos “ouviram”, em bom rigor, o alerta que foi lançado. 
Questiono-me quantos, passadas 1200 palestras, mais de 20 conferências, uns quantos sunset e night summits, e depois de expostos a miríade de estímulos diferentes (cognitivos e sociais, naquela que é uma das capitais turísticas mais desejadas – e ainda bem!)... recordarão a importância desta mensagem.
Tenho também, alguma curiosidade se a própria organização recolhe informação sobre o teor das palestras, no sentido de aferir a percentagem de comunicações que associa os avanços tecnológicos previstos com a resolução de questões tão fracturantes como a ausência de responsabilidade social comunitário, de igualdade entre povos, géneros e classes (entre tantas outras desigualdades), com a qual nos confrontamos numa base diária.
Note-se: a importância de eventos desta natureza é inquestionável.
Inquestionável em termos de retorno económico e visibilidade para o nosso país, inquestionável nas oportunidades que gera, seja pela partilha de conhecimentos e pelo estabelecimento de relações que proporciona, inquestionável porque se traduz, indubitavelmente, num acelerador de conhecimento e progresso.
Digamos apenas que, alguns de nós, perante tamanha euforia com uma aceleração desmesurada do dito “progresso”, possivelmente teríamos um sono mais descansado se este “apenas” fosse levado seriamente.
Seriamente, porque aprofundado com igual zelo e entusiasmo, decomposto num conjunto de acções que, sujeitos, organizações e países devessem actuar num movimento global e consciente que pudesse espelhar, inequivocamente, uma mensagem clara de que a Humanidade somos todos nós.
Progresso tecnológico sim, mas ancorado em empatia e sentido de comunidade – aqui sim, estaremos a falar de evolução."

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