sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Venha a vitória!

"Amanhã, às 18h15, a equipa de futebol tricampeã nacional entra em campo no estádio do Vitória Sport Club, em Guimarães. São três pontos que estão em jogo, mas é muito mais do que isso. Uma vitória do Minho significa menos um obstáculo perigoso no caminho. Ganhar ao Vitória SC é colocar uma pedra ainda mais pesada nas costas dos terceiro e quarto classificados:
- O SC Braga vai à Madeira testar o novo CD Nacional e o Sporting CP recebe o incómodo CD Feirense. Derrotar a equipa de Pedro Martins é pressionar o segundo classificado, FC Porto, que tem uma curta deslocação a Paços de Ferreira.
É isto que o SL Benfica precisa: ganhar e manter a pressão nos clubes que estão abaixo na classificação. O fim de 2016 e o início de 2017 trouxeram emoções na Taça da Liga - agora CTT - com jovens jogadores e aproveitarem as oportunidades, mas com o Vitória SC tudo será mais complicado. A receita é simples e a de sempre: fatos-de-macaco, porque as Festas terminaram a 1 de Janeiro. Depois dos mais de 80% de vitórias no ano civil de 2016 - números históricos para o clube -, o SL Benfica tem de continuar a trabalhar da mesma forma. Com respeito, eficácia e sem dar ouvidos ao ladrar e uivar constante que se ouve quando a caravana vermelha passa.
Um bom ano pessoal e desportivo é o que vos desejo. Com uma boa vitória para o campeonato, para que nunca percamos este saudável hábito de triunfar."

Ricardo Santos, in O Benfica

Todos pelo Tetra

"Tetra. Tetra. Tetra. Tetra!
Diga-se quatro vezes, ou as que forem necessárias, para que fique bem vincada a mãe de todas as prioridades do Benfica no ano que agora se inicia.
É verdade: queremos também outras coisas.
Queremos voltar ao Jamor, e erguer a Taça de Portugal. Queremos mais uma Taça da Liga. Queremos, depois, a Supertaça.
Queremos, se possível, repetir a brilhante participação da última Champions, ou inclusive (quem sabe?) melhorá-la.
Queremos, pelo menos, três Campeonatos nacionais nas cinco modalidades de pavilhão. E mais alguns troféus para acrescentar. Queremos, até, uma final europeia numa delas (Hóquei? Voleibol?), ou mesmo um título.
Queremos ver o Passivo reduzido - um dos desígnios da reconduzida Direcção, e uma necessidade face aos tempos que se avizinham.
Queremos potenciar ainda mais os frutos que a árvore do Seixal vai brotando. Queremos valorizar o nosso plantel, e aproveitar as boas oportunidades de mercado, mantendo a elevadíssima qualidade da equipa.
Queremos encher o Estádio a cada jornada, e queremos que mais sócios se juntem a esta grande família.
Tudo isto é muito. Mas tudo isto será pouco se, em Maio, não estivermos no Marquês. Até porque, se não formos nós a festejar, outros o irão fazer.
Será então, nessa noite de Primavera, que se avaliará, em larga medida, o 2017 do nosso Clube. E até lá, é em 19 jogos, 1710 minutos de futebol, e muitas horas de treino, que se define tudo.
Tetra. Repetimos uma vez mais. Repetiremos sempre. Todos os dias. Todas as horas. Todos os momentos. Até lá chegarmos.
É de História que se trata. E vamos certamente escrevê-la."

Luís Fialho, in O Benfica

Centésima crónica

"É com enorme orgulho que vejo ser publicada a minha centésima crónica no jornal O Benfica, tarefa a que me tenho dedicado com paixão e zelo, sempre no que entendo ser a defesa do Sport Lisboa e Benfica.
Recuo trinta anos e recordo-me de um fim de tarde passado num café situado em Campo de Ourique. Entre os convivas constava um tal de Paulino Gomes Júnior, a quem o meu pai dedicava especial reverência. 'Este senhor escreveu a 'Ser Benfiquista' e foi director do jornal do Benfica muitos anos'.
Mais que a letra da famosa canção ao cargo exercício no jornal que me serviu de atestado de benfiquismo e garante de respeitabilidade merecidos pelo 'velhote' que acabara de ir à sua vida.
Não exagerei certamente ao afirmar que foi com o nosso jornal que aprendi a ler e me começou a despertar a curiosidade por conhecer tudo o que envolve o nosso Clube. As  secções 'Tome nota', que era uma espécie de agenda do fim-de-semana seguinte, «Cacharolete de notícias', dedicada a informações diversas, ou a tabelas com os resultados das equipas de todas modalidades e escalões, eram as que mais interesse me suscitavam, pois permitiam-me entender a grandiosidade do Benfica. O Sport Lisboa e Benfica é imenso e fascinante e percebi-o, graças ao nosso jornal, desde muito cedo. Mudam-se os tempos, perduram as vontades. 'O Benfica' continua a servir o nosso Clube, resistindo aos ciclos noticiosos vorazes, que exigem uma actualização permanente da informação. Servirá, no mínimo, de arquivo futuro. Aliás, sem O Benfica não teria sido capaz de escrever a biografia do Carlos Lisboa ou o 'Assim se fez glorioso'. Obrigado!"

João Tomaz, in O Benfica

Alguém faz um ponto de ordem?

"As eliminações de FC Porto e Sporting da final four da Taça da Liga, com ambos os clubes a clamarem contra a arbitragem, fizeram accionar os planos de contingência do futebol português e levaram a que o Conselho de Arbitragem (CA) da FPF convocasse uma reunião de emergência com os clubes para o início da próxima semana. Ao mesmo tempo, uma acção de intimidação ao árbitro Artur Soares Dias, nomeado para o Paços de Ferreira - FC Porto do próximo sábado, deixou a classe dos árbitros à beira de um ataque de nervos e está a provocar ondas de choque com consequências ainda por determinar. Estamos perante uma situação altamente preocupante, que não será bem avaliada através de uma qualquer óptica maniqueísta. Por um lado, há erros de árbitros evidentes e nomeações menos avisadas; por outro, há uma necessidade de explicar os insucessos sacudindo a água do capote para cima de arbitragem (FC Porto muito abaixo do exigível nos três jogos da Taça da Liga, acabando o grupo em último; e um Sporting de segundas linhas a mostrar pouquíssimo em Setúbal). Na síntese destas duas vertentes estará a explicação para o estado da nação.
E esta época até parecia começar tranquila, no Dragão e em Alvalade, depois da saída de Vítor Pereira da presidência do CA...
A 23 de Agosto, Pinto da Costa dizia que «a arbitragem vai ser discutida sempre que o Benfica não ganhar», enquanto que Bruno de Carvalho afirmava que «é evidente o esforço e o empenho dos árbitros de primeira categoria para, nas partidas a que foram chamados, fazerem boas exibições e actuarem de acordo com as regras»."

José Manuel Delgado, in A Bola

Lamento!

"Há muito tempo que não se via uma coisa assim; e nada justifica que se volte a ver o que muito se viu nos anos 80 e 90...

Quanto mais vejo as imagens do que se passou após o final do V. Setúbal - Sporting desta quarta-feira mais me custa vê-las. Perante a fúria de muitos dos profissionais do Sporting, a questão já não é a de se saber se o árbitro errou ou não errou; a questão é saber onde é que isto vai parar?!
Vamos por partes: é ou não é penalty de Douglas sobre Edinho? Pelo que se vê nas imagens, parece, realmente, haver penalty! Além da (evitável) carga pelas costas, Douglas toca ainda na perna direita do adversário. Falta assinalada num centésimo de segundo... sem sofá e, sobretudo, sem televisão.
Pode o Sporting sentir-se prejudicado por algumas outras decisões da equipa de arbitragem?
Pode!
E o V. Setúbal?
Também!
Equivocou-se o árbitro quanto ao autor da falta? Parece que sim. Não foi realmente, Coates mas sim Douglas quem fez a falta sobre Edinho. E é verdade que se viu o árbitro mostrar o amarelo a Coates e não se viu que tivesse mostrado, como devia, a Douglas.
Mas esse equívoco é acessório, não é o essencial. O essencial, no caso, seria saber se foi ou não penalty. E pareceu ou não pareceu ser penalty?
Na minha opinião, pareceu penalty. Mas haverá seguramente quem ache que não é.
Como acontece muitas vezes num jogo de futebol.
Mas mesmo admitindo que não foi penalty, pode um penalty justificar tanta cabeça perdida?
Já agora, e se o mesmo lance tivesse acontecido na área do V. Setúbal, se Edinho fosse Bas Dost e Douglas fosse, por exemplo, Frederico Venâncio, e o árbitro não assinalasse castigo máximo? Teria o Sporting concordado com a decisão? Ou reagiria como reagiu?
Muito provavelmente, reagiria como reagiu.
O árbitro cometeu erros no jogo por ser inexperiente? Não. O árbitro cometeu erros porque os árbitros erram. E vão errar sempre. Os piores árbitros vão sempre cometer mais erros mas não é por serem melhores que alguns vão deixar de errar. Nem por terem imagens televisivas. Porque mesmo com a televisão, haverá sempre quem ache que o lance do Bonfim foi penalty e quem ache que não foi.
Os árbitros inexperientes erram mais. E, nesse sentido, deveria evitar-se nomear os mais inexperientes para os jogos mais mediáticos, mais exigentes, sempre susceptíveis de se tornarem mais polémicos, como era o caso, porque podem, esses árbitros, tornar-se também mais vulneráveis. E não merecem ficar marcados por um jogo assim.
Mas os árbitros experientes também se enganam.
O Sporting queixa-se da nomeação do árbitro por ser inexperiente mas já se queixou de áribitros muito experientes. Queixou-se de Jorge Sousa, na Luz, por exemplo, e Jorge Jesus é hoje só o mais experiente árbitro português!

O Sporting queixa-se dos árbitros. Ponto. Não é por serem experientes ou inexperientes. É pelos erros que eventualmente cometem. Queixa-se o Sporting e queixam-se todos os outros clubes. Sobretudo os grandes, claro. Quando perdem!
Como o FC Porto. Que se tem queixado muito e continua a queixar-se, por exemplo, muito da arbitragem do Sporting-FC Porto... da qual o Sporting, naturalmente, não se queixa.

O Sporting começou, porém, a época a elogiar os árbitros. E as alegadas mudanças na arbitragem. Tal como o FC Porto. E com o Benfica a protestar pelo empate em casa com o V. Setúbal.
Com a frustração, aumenta agora o Sporting o tom das críticas. Ao ponto de perder a cabeça como perdeu no Bonfim.
Aumenta igualmente o tom das críticas o FC Porto mas pelo menos Nuno Espírito Santo tem sido um exemplo de serenidade, criticando correctamente o que lhe parece criticável mas não deixando, como não deixou esta semana, de reconhecer como o FC Porto não esteve, por exemplo, nada bem nesta edição da Taça da Liga.
Voltando ainda ao caso do Bonfim, podia o Sporting ter até absoluta razão no lance da grande penalidade assinalada a favor do Vitória de Setúbal que seria sempre lamentável o comportamento que se viu a muitos dos profissionais da equipa. Nada o justifica. Nada pode justificar ter de rodear a equipa de arbitragem e agentes de polícia.
Embora às vezes pareça, isto não é o terceiro mundo!
Nem é, com todo o respeito, a América latina, onde num instante desata tudo ao estalo dentro dos campos de futebol.
Pareceu o futebol português muito o terceiro mundo nas décadas de 80 e 90, quando um só clube ganhava mais do que todos os outros juntos e, mesmo com todos os inquestionáveis méritos, já impunha comportamentos inaceitáveis.
Foi assim durante anos e anos, quando muito poucos faziam mesmo muito o que queriam nos campos de futebol, pressionando, perseguindo, ameaçando e agredindo.
Mas há muito que isso tinha acabado. Há muito que não se via uma coisa assim, com gente de cabeça completamente perdida e quase ultrapassar o limite do tolerável, do qualificável e do compreensível.
Entende-se naturalmente a frustração e os nervos à flor da pele. Entende-se uma reacção mais a quente, um gesto menos medido, uma palavra menos reflectida. Entende-se tudo isso porque o futebol é realmente um jogo de paixões, de emoções, do coração na boca.
Mas é lamentável a fúria; e mais ainda a fúria colectiva. E descontrolada.
Bem mais controlado, desta vez, pareceu sempre o presidente Bruno de Carvalho. Estranhamente para alguns. Ou talvez não.
Talvez possa Bruno de Carvalho estar aos poucos a reconhecer que o Sporting não tem estado tão bem como gostaria... apesar dos erros dos árbitros e não apenas por causa dos erros dos árbitros.
Reconhecê-lo poderá ajudá-lo a dar um passo em frente.
Porque será reconhecer que o Sporting tem grandes desequilíbrios no plantel, que não tem jogadores em quantidade e qualidade para conseguir outro rendimento nas diferenças competições e que não tem sido, também por isso, capaz de jogar mais vezes esta época o fantástico futebol que jogou a época passada.
Se o reconhecer, talvez Bruno de Carvalho fique mais do lado da solução. E não o problema."

João Bonzinho, in A Bola

Parar e reflectir. Reflectir a sério

"O Governo não pode demitir-se da sua responsabilidade nesta matéria

Não posso dizer que esteja surpreendido. Há muito que se percebeu que o ambiente criado em torno das arbitragens conduziria, inevitavelmente, ao aumento de ameaças feitas a quem dirige jogos de futebol.
Não é de hoje, nem de ontem. Foi, ciclicamente, assim em muitos outros momentos.
O que mudou foram os meios de acesso que os tempos modernos facultam. Hoje está exponenciado, até ao limite do inimaginável, o acesso fácil e rápido a qualquer árbitro do país. A informação circula instantaneamente. Abundantemente. Excessivamente.
Toda a gente sabe quem são, onde vivem, onde trabalham, onde treinam e até mesmo, em que escolas estudam os seus filhos.
Emails, redes sociais, whatsapps, vibers, sms e afins são meros instrumentos ao dispor de quem tem por hobbie a difusão gratuita do pânico. São facilitadores de quem se entretém a ameaçar, amedrontar, fragilizar, perseguir, assustar.
A verdade é que, de há uns anos a esta parte, tem valido quase tudo: carros vandalizados, paredes pintadas, montras partidas, telefonemas a horas impróprias, dados pessoais divulgados na internet e até visitas de cortesia ao local de trabalho.
A culpa não pode morrer solteira e, quanto a mim, todos sem excepção têm a sua quota-parte de responsabilidade:
1 - Algumas arbitragens não têm sido felizes em momentos importantes das competições e isso é uma evidência que não pode nem deve ser branqueada. É algo que deve, inclusivamente, merecer reflexão profunda do sector. Há por ali pessoas muito sérias, competentes e capazes. Venham as medidas claras que mudem o rumo das coisas;
2 - O comportamento de alguns dirigentes tem ultrapassado os limites máximos da razoabilidade. Tem, sobretudo, contribuído para algumas reacções de ódio manifestadas por franja significativa de adeptos insatisfeitos;
3 - Parte da imprensa continua a ver nessa nuvem cinzenta uma excelente oportunidade de negócio, extravasando não raras vezes o seu dever de informar. Por muito que venda, fomentar o discurso de guerrilha e dar voz/protagonismo a quem quer poluir a opinião pública é prestar um mau serviço à classe e ao futebol.
4 - O Governo não pode demitir-se da sua responsabilidade nesta matéria, sobretudo quando em causa está, uma vez mais, a vida privada de cidadãos. Dos seus cidadãos. Já não se trata apenas de futebol.
5 - Os adeptos - em especial os que insultam  e ameaçam - são os menos culpados. Estão intoxicados, deixam-se manipular por algumas estratégias que, não raras vezes, só pretendem desviar atenções do essencial para o acessório.
Não tenho dúvidas. Este é, sem dúvida, o momento certo para reflexão profunda.
Depois do ruído que começou ligeiro e atingiu esta semana decibéis históricos, depois das incidências desportivas resvalarem, com tanta facilidade, para a segurança e integridade física de pessoas, não há que esperar mais.
Árbitros e a sua estrutura dirigente, responsáveis máximos do futebol, dirigentes desportivos, imprensa, Associações de Adeptos, Treinadores, Jogadores e a tutela deviam sentar-se, de imediato, à mesma mesa para discutir, de forma séria e definitiva, que cancro é este que parece metastizar-se ao segundo, rumo a uma morte anunciada.
E isso nós não queremos. Certo?"

Duarte Gomes, in A Bola

Crónica de uma morte anunciada

"Um grupo de malfeitores invadiu as instalações onde treinava o árbitro de futebol Artur Soares Dias, indigitado para dirigir o próximo jogo do Paços de Ferreira com o FC Porto, e ameaçou-o de morte, estendendo a ameaça aos elementos mais chegados da sua família.
Alguns dirão que se tratou, apenas, de uma forma mais teatral de pressão e de condicionamento do árbitro, por parte de uma claque organizada, que vive numa impunidade mais habitual em países terceiro-mundistas.
Soares Dias terá reconhecido os autores das ameaças como pertencentes a uma claque específica e certamente que os reconhecerá pessoalmente, se a polícia se interessar minimamente pelo caso e se preocupe, de facto, com este gravíssimo incidente de segurança pública.
Quem também não poderá continuar impávido e sereno é a Administração interna e o ministério público. Bem sei que lhes poderá parecer apenas uma guerra do futebol, mas será bom que as autoridades competentes metam na cabeça de que ou conseguem agir e fazer de Portugal um país que entende como fundamental a defesa dos seus cidadãos ou é melhor que se vão habituando à responsabilidade de uma futura morte anunciada."

Vítor Serpa, in A Bola

O último minuto

"Perder um jogo ou uma eliminatória no último minuto é uma sensação péssima. Nesta fase de grupos da Taça da Liga, o Vitória de Setúbal perdeu e venceu no último minuto. Na Póvoa de Varzim, perdeu no último lance do jogo, um livre lateral que resultou em golo, e esta semana venceu o Sporting com um penalty no último minuto. Duas sensações completamente opostas. Em ambas, o jogo acabou sem a bola vir ao centro do campo para o recomeço do jogo. Para uns é uma sensação de impotência, para outros uma alegria imensa. O jogo tem destas coisas, e como todos sabemos a maioria dos jogos decide-se na parte final. A concentração tem que ser total, mas o ideal é resolver tudo antes dos últimos minutos. Para mais quando o factor de desempate final é a idade dos jogadores.
Mas mais importante do que analisar isoladamente a parte final de um jogo, é fundamental perceber a nossa prestação durante todo o jogo. Na Póvoa falhámos várias possibilidades para marcar, inclusivamente bolas nos ferros, e fomos penalizados de forma dura. Em Setúbal fomos felizes, acreditámos que podíamos seguir em frente e acabámos por ter a sorte do jogo.
As decisões nos momentos finais acontecem em todas as competições e em todos os níveis, seja na Champions seja nas divisões inferiores. As razões são diversas, mas tornam-se comuns quando as equipas têm a dimensão de um grande clube. As análises também são diferentes consoante a dimensão das equipas, e como tal o nível de ruído torna-se mais elevado quando tal acontece com equipas de grande dimensão. Infelizmente, a questão é estrutural e pouco tem sido feito para alterá-la. Os concorrentes não têm o mesmo estatuto e como tal não lhes é tolerado o mesmo comportamento. Não é fácil estar em qualquer um dos lados. Mas devemos perceber que o sucesso de uma competição tem por base o equilíbrio entre os competidores.
Até ao último minuto."

José Couceiro, in A Bola

Benfica, Sporting, FC Porto, Seleção: o que fica do ano que passou

"O ano acabou de começar agorinha mesmo, enquanto estava ali a beber aquela taça de champanhe, pelo que ainda está fresco: tão fresco como o ano velho que já lá vai. Ora por isso ainda pode ser tempo de balanços. Parece-me aliás uma altura perfeitamente razoável para fazer um balanço que não prometo que seja melhor ou pior do que os outros: mas é o meu balanço e gosto muito dele por isso. Vamos lá, antes que se perca a oportunidade? Vamos lá, então.

Positivo Benfica:
A capacidade de se reconstruir em torno da prata da casa. Admirável trabalho de Rui Vitória, aliás. Cortou com boa parte da herança de Jorge Jesus e reestruturou a equipa com miúdos como Renato Sanches, Nelson Semedo, Lindelof, Gonçalo Guedes, André Horta, mais Grimaldo, Cervi, Pizzi, enfim. Pelo caminho foi campeão. Chapeau.

Negativo  Benfica:
Não é fácil apontar pecados a uma equipa que venceu a Liga, a Taça da Liga, a Supertaça, chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões e repetiu depois disso a presença os oitavos. Talvez a tendência para as lesões, o que não abona muito a favor do Benfica Lab. É pouco? É sim senhor, é um negativo pequenino. Mas o ano do Benfica foi admirável.

Positivo Sporting:
A recuperação do entusiasmo. Os adeptos voltaram a sonhar, voltaram a encher-se de ilusão, voltaram a sorrir e a chorar, a festejar e a magoar-se. Voltaram enfim e sentir o clube, e esse foi o primeiro passo para resgatar a grandeza do clube. Sucessivas casas superiores a 40 mil espectadores são a prova de que o Sporting ainda tem muito para dar.

Negativo Sporting:
O clima de constante guerrilha. A inclinação para o queixume, para o ataque gratuito, para a suspeição foi um valente tiro nos pés: nos dois pés, aliás, distraiu o clube do essencial e encheu de força o Benfica, que se uniu e fortaleceu a cada ataque vindo de Alvalade. Que o Sporting insista neste equívoco, não é estranho: é puro masoquismo.

Positivo FC Porto:
André Silva, Diogo Jota e Rui Pedro vieram juntar-se a Ruben Neves, José Sá, Sérgio Oliveira, André André. O FC Porto redescobriu o jogador português, mas fez mais do que isso: redescobriu o jogador português com sotaque do norte, sangue nas veias e Porto no coração. Foi à custa de jogadores assim que o clube deu a curva no destino há trinta anos.

Negativo FC Porto:
A saída de Antero Henrique não significou apenas a perda de um elemento valioso: significou acima de tudo a destruição de uma estrutura que esteve por detrás dos maiores sucessos do clube. Uma estrutura que foi elogiada pela UEFA, que foi cobiçada pelos grandes europeus e que construiu um modelo de sucesso. Difícil de entender, portanto.

Positivo Futebol Nacional:
Paris, claro. Portugal no topo do mundo, a bandeira linda e imparável, o peito cheio de orgulho deste sentimento lusitano. Em França cumpriu-se Portugal, e só isso já seria suficiente para tornar este ano de 2016 inesquecível. Só aquele grito, só aquele punho cerrado, só aquele sorriso já valeu pelo ano todo. Fomos heróis. Fomos portugueses.

Negativo Futebol Nacional:
Doze chicotadas psicológicas, doze exemplos de amadorismo. Já é tempo dos dirigentes assumirem responsabilidades pelo insucesso do treinador que escolheram: sim, que eles estão a falhar tanto ou mais que os treinadores. Se por cada treinador despedido houvesse um dirigente que se demitisse, o futebol seria um lugar bem mais maduro e ponderado. 

Positivo Futebol Internacional:
Cristiano Ronaldo, pois claro. Campeão europeu de clubes, campeão europeu de selecções, campeão mundial de clubes, mais uma Bola de Ouro e provavelmente mais um FIFA World Player. A capacidade de Ronaldo rivalizar com um Deus do futebol como Messi, e com o talento insensato do argentino, só merece uma reacção: um aplauso sentido. 

Negativo Futebol Internacional:
O Manchester United acabou o ano com seis vitórias seguidas, mas nem assim conseguiu entrar nos lugares europeus. Depois de gastar 185 milhões de euros em jogadores, aos quais se juntam 150 milhões do ano anterior, é certo que o Man. United se tornou um caso bicudo: um excelente exemplo do que é uma péssima gestão. Um clube sem norte.mo."

Benfiquismo (CCCXXXIX)

1906

Em cima: António Couto, Albano dos Santos Emílio de Carvalho, Manuel Mora, Cosme Damião, Fortunato Levy.
Em baixo: Carlos França, António Rosa Rodrigues, Daniel Queiroz dos Santos, Cândido Rodrigues e Silvestre da Silva