sábado, 30 de julho de 2016

Juntos

"Há 39 anos que o Benfica não conquistava o 'tri'. Esta conquista traduz o percurso do Sport Lisboa e Benfica, que nos últimos 15 anos se transformou num dos mais modernos e inovadores clubes a nível mundial.
A época que agora acaba foi difícil e exigente, mas extremamente gratificante, e fica marcada pela capacidade de todo o grupo de trabalho do Sport Lisboa e Benfica. Sem o talento dos jogadores, a capacidade da equipa técnica, nada disto seria possível. Mas sem o suporte de todos quantos trabalham diariamente aqui no estádio e sem o apoio incondicional dos adeptos não o teríamos conseguido!
Os jogadores e a equipa técnica são os rostos visíveis deste sucesso, mas por trás deles há uma gigantesca equipa 'invisível' e milhões de adeptos sem cuja dedicação e empenho dificilmente teríamos chegado aqui. Para todos vocês o meu muito obrigado.
Este foi um campeonato ganho sem olhar para trás, um triunfo claro de uma equipa de 'centenas' de pessoas que mostrou estar à altura de vestir a camisola do nosso clube.
Aos milhões de adeptos espalhados pelo mundo e que são, sem dúvida, o nosso décimo segundo jogador é imperioso manifestar a gratidão de um clube que é deles e vive para eles.
Juntos jogámos, juntos lutámos e é também juntos que festejamos um título que é de todos.
Terminado o campeonato, consumado o 'tri' que perseguíamos há quase quatro décadas, é tempo de olharmos já para os desafios da nova época, onde estaremos com o mesmo espírito ganhador que é a matriz deste clube desde 1904. E no próximo ano precisamos outra vez de cada um de vocês.
A nossa força depende da 'união' que conseguimos demonstrar no nosso trabalho e no nosso apoio diário.
É a essa união que apelo já para a nova época, mas é com um enorme obrigado que quero terminar esta mensagem. Obrigado pelo sucesso desta época e pelo 'tri' que nos permitiram alcançar!"

Luís Filipe Vieira, in Mística

Maré vermelha

"Depois de um ano em que os adeptos pediram incessantemente 'dá-me o 35', a equipa fez a vontade ao universo benfiquista. Todos os títulos sabem bem, mas este teve algumas características que o tornam especial e invulgar. Uma pré-época com resultados abaixo do desejado e um início de competição com alguns percalços fizeram duvidar deste resultado final. Quando, em Novembro, estávamos a oito pontos da liderança e a cinco do segundo lugar, parecia impossível este final. Foi a vontade indómita de ganhar e o carácter de campeões que tornou possível esta época de sonho. Em bom rigor, foi sempre o sonho que alimentou as nossas mais bonitas conquistas, o que faz sentido quando se está num 'clube do sonho'.
A nossa época desportiva foi bem mais que o 35.º título de campeão nacional - tratou-se de época fantástica, com a conquista da Taça da Liga (sete em nove edições) e a chegada aos quartos-de-final da Liga dos Campeões (nenhum clube português fez melhor nos últimos 10 anos). Nestes últimos três anos ganhámos nove dos últimos 12 títulos que se disputaram em Portugal. Três vezes mais que os adversários todos juntos. Pode ainda não ser a hegemonia, mas já é esmagador. E já só pensamos (e preparamos) nos próximos. A 7 de Agosto lá estaremos,com o Sporting de Braga, para continuar na 'maré vermelha'.
Por que há coisas que nunca faltaram no Benfica ao longo da sua história de glórias: a ambição e o sonho."

Sílvio Cervan, in Mística

Benfica à letra

"O músico que recentemente encheu os Coliseus é benfiquista. E não o esconde, mesmo nas suas canções.

- No futebol e na música, prefere jogar à defesa ou ao ataque?
- Sempre ao ataque! A melhor defesa é o ataque (risos)

- O nome do Benfica surge mais do que uma vez nas letras das suas canções. Este clube é uma inspiração?
- É! Bem... tem dias, mas ultimamente tem sido de facto uma grande inspiração.

- Numa alusão à letra de Zorro, qual é o 'camisola 10' dos 'encarnados' com qual mais se identifica?
- Sem dúvida o camisola 10 desta última temporada, que é um jogador fantástico: Nico Gaitán.

- E a propósito da mesma canção, na vida valem sempre todos os golos, mesmo aqueles que se marcam com a mão?
(pausa) Todos contam, portanto, partindo desse princípio, valem todos, sim.

- O que recorda quando recua ao primeiro jogo que viu do Benfica ao vivo?
- Tenho ideia que foi em Portimão e foi uma emoção enorme. Na altura jogavam ainda o Chalana, o Carlos Manuel, o Diamantino, o Humberto Coelho, o Bastos Lopes, o Bento... Recordo-me que foi um deslumbramento estar a ver os jogadores do clube ao vivo. Foi uma sensação fantástica.

- Como é que celebrou estes três últimos campeonatos do Sport Lisboa e Benfica?
- Com muita alegria e muita esperança. Espero que sejam três de muitos, todos seguidos daqui para a frente. Quero que o Benfica ganhe sempre, todos os anos.

- Como faz quando a hora de um grande jogo do Benfica coincide com a de um concerto?
- Já me aconteceu várias vezes, mas está ainda recente na memória esse dia em que perdemos 2-1 no Estádio do Dragão. Estava em Torres Vedras (n.r.: no Teatro-Cine de Torres Vedras) e quando subi ao palco o Benfica estava a ganhar 1-0, com um golo do Lima. Quando saí de palco o Benfica tinha perdido por 2-1 e, para todos os efeitos, tinha perdido o campeonato...

- Concluiu uma ronda de 17 concertos com lotação esgotada (n.r.: nos Coliseus, em Fevereiro e Março), conseguindo até bater, em número, o recorde das 11 vitórias consecutivas fora de casa que o Benfica alcançou na última temporada. Conte lá como foi...
- (risos) Foi uma experiência fantástica, uma maratona que correu bem. Vamos voltar agora, em Setembro, para continuar essa maratona, e será até que o público nos queira ouvir.


SLB em público
O Benfica é citado por mais de uma vez nos temas do músico. Como é que reage o público nos concertos? 'Com desportivismo e com graça. Há quem goste, há quem ache piada e há quem não ache assim tanta piada, mas hoje em dia, salvo raras excepções, as pessoas vêem a coisa como devem ver. Com menos fanatismo, felizmente. O futebol é uma coisa de que gostamos e com a qual nos divertimos.'

Espectacular
Dos primeiros passos na música aos espectáculos repletos nos Coliseus de Lisboa e Porto.
Natural de Beja, este benfiquista de 40 anos entrou recentemente para a história musical portuguesa com uma marca atingida com Miguel Araújo no início do ano: juntos, a dupla conseguiu esgotar 17 noites nos Coliseus de Lisboa e Porto. Terá sido, até agora, o ponto mais alto de uma carreira musical que se iniciou com o LP O Mestre do Fado. Os primeiros passos, recorda, deu-os aos oito anos, com o estudo do clarinete. Mas foi em Lisboa, e já com o primeiro lugar num concurso local de jovens fadistas no currículo, que conheceu Mário Pacheco, juntando-se ao elenco do Clube do Fado. Também na capital acabaria por subir ao palco no musical Amália, de Filipe La Féria, onde desempenhou durante quatro anos o papel de Francisco Cruz (o primeiro marido de Amália). Alguns meses depois de ter cantado para quase 50 mil pessoas, António Zambujo regressa já em Setembro aos Coliseus, novamente com Miguel Araújo, para outra ronda de concertos. Nova 'goleada' à vista?"

Entrevista de Luís Inácio, a António Zambujo, in Mística

Rumo ao 36

"Sou do Benfica desde que me lembro de ter vida. Sou adepto, quando posso, gosto de ir aos jogos, não sou (muito) tendencioso, gosto de ver apenas o meu clube a jogar bem e a ganhar títulos, mas, dentro daquilo que é um benfiquista que vibra com o clube, tento ser o mais imparcial possível e reconhecer se o Benfica não merecer ganhar um jogo ou um título. Herdei esta paixão do meu pai, tal como o meu irmão mais velho, Duarte. Lá em casa brincamos e dizemos que quem gosta de futebol é do Benfica e quem não liga é do Sporting (a minha mãe e o meu irmão Tomás), o que no nosso caso é mesmo verdade. Muitas vezes abdico de ir ao estádio para ver um jogo em família. Nos dias de jogo, o jantar é limitado aos 15 minutos do intervalo, conta a vontade de quem não liga a futebol. Sempre foi assim, nunca mudou, e nunca irá mudar.
Como, por exemplo, esta noite, que cheguei de Zurique e fui directo a casa dos meus pais ver o Benfica, e o jantar foi à pressa. Grande vitória a jogar fora contra o Marítimo, com 10 jogadores desde os 37 minutos. O Benfica é mesmo isso. Como nós, milhares de famílias 'interrompem o jantar' para ver um jogo do Benfica. Milhares de famílias e amigos se juntam em dia de jogo, vibram, festejam e, quando não ganhamos, sofrem. O Benfica é mais do que um clube de futebol - é uma família gigante! E é bom fazer parte dela.
O Benfica foi tricampeão. Festejei, gritei até ficar rouco, usei a camisola do Benfica no trabalho, sorri até não conseguir mais. No próximo ano vou continuar a assistir aos jogos, a sofrer mais um bocadinho e a vibrar com este clube que amo. E, como no próximo, cá estarei nos anos que me restam viver.
Viva o Benfica!"

Lourenço Ortigão, in Mística

O guardador de memórias

"Joaquim Macarrão dedicou uma vida inteira ao Benfica. O seu contributo para a preservação e comunicação da nossa memória orgulha-nos a todos.

Possuía uma voz encorpada, de fazer inveja aos locutores de rádio. Fogoso na têmpera, sobressaía-lhe com frequência a rispidez na defesa do clube e das suas causas, uma qualidade tão própria do desportista aguerrido que orgulhosamente também foi. Durante mais de seis décadas personificou como poucos a dedicação a um intuito colectivo - o da protecção da nossa história -, antes da reforma e a saúde o terem levado, já bem para lá dos 80. Joaquim Macarrão foi, sem sombra de dúvida, o maior e mais respeitoso guardador de memórias que conheci. Homem de baixa estatura, mas demasiado grande para ser esquecido, sobretudo num tempo em que a bandeira do património cultural é no Benfica mais visível que nunca.
Joaquim habitava com uma alma única o seu posto de trabalho no velho Estádio da Luz, rodeado de memórias de todo o feitio, numa dependência do museu para lá da porta dos fundos, onde só entravam os da casa, incluindo os xilófagos e os ratos. Nesse espaço restrito, consultei várias vezes o arquivo de periódicos, o que me permitiu receber de Joaquim, e de outros ases que o visitavam, inolvidáveis lições de história. Julinho, Rosário e Francisco Calado eram algumas das aparições de carne e osso.
Joquim tinha a secretária marejada de escritos. Pedaços soltos de papel onde anotava tudo o que mexia com os factos do seu tempo. Lembrando um arqueólogo no seu trabalho minucioso, era comum irmos surpreendê-lo a vasculhar os calhamaços da Stadium, do semanário O Benfica ou de A Bola, entre outros.
Mergulhado neles, varria memórias de um ponta à outra, sem nunca se cansar. Fui descobri-lo, certo dia, na companhia de Julinho, a rever num jornal de 1943 o mirabolante 12-2 ao FC Porto. 'Do outro mundo!', declarou com um dedo indicador a martelar a notícia e o outro estendido na direcção do antigo artilheiro. 'Só este senhor meteu quatro!'
Fiquei ali a contemplá-lo longamente enquanto desfiava o resto da história na presença do herói. As palavras e os gestos. Os sorrisos e as rugas. Tudo nele semeava respeito e admiração. Porque o Benfica que havia nele era uma árvore nodosa e grande.

Oito épocas de encarnado
Discreto mas de obra feita
Aos 15 anos, Joaquim Macarrão representava já a equipa principal do Sport Benfica e Lagos, filial benfiquista na terra onde nasceu, a 5/5/1920.
Recomendado ao clube mãe, viria em 1937 para Lisboa, acumulando desde logo as funções de futebolista e funcionário.
Mas a carreira desportista viria a encerrá-la algo prematuramente, na época de 1944/45. Um plantel recheado de bons jogadores, aliado a insistentes problemas físicos - uma clavícula, uma costela e um joelho na lista de fracturas -, impediram-no de singrar, como gostaria, na equipa de honra.
O campeonato de 1938/39, que contou com a sua participação fugaz no primeiro team, ficou-lhe especialmente 'atravessado'.  Escreveria, a propósito: 'Não fui campeão nacional por nos terem roubado o título no Porto. Seria o 4.º campeonato seguido do nosso clube.' Nessa mesma época, integrou o 11 que bateu nos quartos de final o Nacional da Madeira, por 4-0, naquela que foi a primeira edição da Taça de Portugal.
Não obstante um contributo discreto, deixou expresso nos seus escritos o orgulho pela obra feita: 'Ajudei a vencer sete campeonatos entre as diferentes categorias e obtive 86 golos para o nosso glorioso clube'.
Despediu-se onde começou, na sua terra natal, frente ao Sport Lisboa e Lagos, a 26/2/1945.

Dedicação sem par
O expediente do serviço de sócios, os currículos dos atletas, a organização desportiva, a venda de bilhetes, os relatórios anuais do clube, as assembleias gerais, as eleições, as alterações de estatutos... Tudo isto num homem só, entre 1937 e 2003.
Foi, todavia, no trabalho com a memória que Joaquim deixou marca especial. 'Há muito que fazer a respeito de toda a problemática dos troféus, taças e outros objectos que estão em nosso poder', escreveria, em 2000, em carta dirigida ao clube.
'O meu maior desejo é ver a inauguração e como irá o novo museu funcionar'. Não veria. Morreu a 25/1/2008.
Acreditamos, porém, que lhe fizemos jus.
No Sport Lisboa e Saudade deixou igualmente obra feita. Em 1973, nas comemorações do 30.º aniversário desta secção, é-lhe reconhecida a 'assiduidade e disciplina' com a atribuição de uma estatueta. O jornal do clube classificava-o assim: 'Dos grandes animadores, dos grandes obreiros e dos grandes esforçados da obra realizada'.

1911, o primeiro 'conserto'
Entre a panóplia de objectos e documentação à guarda de Macarrão, encontrava-se os livros de facturas. Entre elas a referente ao primeiro acto de restauro de que há registo.

Aconteceu em 1920
O ano de nascimento de Joaquim Macarrão
- SLB dominante
O SLB vence pela 8.ª vez o Campeonato de Lisboa. Conquista também a sua primeira Taça de Honra.
- Adeus, Cândido
Cândido de Oliveira faz o último jogo oficial pelo SLB, para se tornar fundador e futebolista do Casa Pia AC.
Referência
Vítor Gonçalves assume o cargo de capitão da equipa de honra, que manteria durante grande parte dos anos 20. Uma referência de sempre."

Luís Lapão, in Mística