quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Chapecoense: o "outro lado" de uma catástrofe

" "É real?"; "A sério?"; "Aconteceu?"; "Como?"; "Sem chão"; "Confusão"; "Sensação de irrealidade"; "Pode ser que seja apenas um pesadelo"... Angústia, pesadelos, medo instalado, evitamento, fuga para a frente...
Estes são alguns dos pensamentos, das emoções ou comportamentos que com muita frequência se encontram associados a pessoas que sobrevivem ou testemunham de forma direta (ou indireta) um evento crítico de vida (catástrofes naturais, acidentes, lutos, entre outros).
E isto é, também, uma resposta "saudável" e normal de qualquer um de nós porque, de alguma forma, denota que somos ainda capazes de empatizar com o sofrimento (no caso, humano), seja ele próximo ou alheio.
O chamado "stress traumático" é uma resposta normal a um evento traumático que pode causar emoções de intensidade elevada, às vezes confusas e até paralisantes. Pode até ser responsável por alguns episódios de insónia, irritabilidade, tristeza ou ataques de ansiedade, mas, se persistirem no tempo, devemos procurar ajuda especializada.
Este tipo de fenómeno pode ser amplamente abrangente mesmo até a quem, não o presenciando de forma direta, acabou por aceder a um conjunto de informações (normalmente, visuais) via o usual "bombardeamento" de imagens nos media (felizmente, neste ultimo acidente de avião, a imprensa respeitou um pedido de algum resguardo face à imagem do cenário do acidente).
De facto, as imagens podem ser altamente traumáticas (e sim, há aqui um papel de responsabilidade social que a imprensa deveria chamar a si mais vezes...).
Por exemplo, em Portugal, a excessiva e abusiva projeção da trágica morte de Miklós Fehér resultou, indiretamente, num aumento exponencial de prescrições e solicitações de exames de natureza cardiológica que, nesse mesmo ano, quintiplicou! E este foi apenas um dos muitos efeitos colaterais na população...
De facto, sermos expostos a este tipo de eventos traumáticos (mesmo de forma indireta, via media) pode fazer disparar os nossos níveis de ansiedade, criando stress traumático.
Na realidade, e num ápice, todo o nosso sistema de crenças e certezas cai por terra, deixando-nos com uma sensação de impotência e grande vulnerabilidade num mundo "perigoso" onde não controlamos nada (o que, no que respeita a "não controlarmos nada"... até é verdade, pois apenas o nosso comportamento pode ser "controlado" e, às vezes, é bem dificil!).
Para além destas respostas individuais que, invariavelmente, nos empurram muitas vezes para uma reflexão pontual sobre a nossa vida, sobre o facto de que a devemos aproveitar mais e melhor, ou que devemos mudar "isto ou aquilo"... E pontual porque, passado algum tempo, já pouco recordamos do que prometemos a nós próprios nesse momento.
Assistimos também a um conjunto de movimentos de generosidade globais em prol das vítimas, que, muitas vezes, demonstram uma capacidade de superação sobrehumana, o que acontece quando nos agregamos genuinamente para ajudar alguém.
Senão vejamos: no incidente de 11 de Setembro, uma das empresas visadas com um enorme número de colaboradores atingidos, resolveu doar o produto da sua faturação a favor das famílias das vítimas e, articulando com fornecedores e clientes, num movimento global de entreajuda, em vez da faturação normal de 1 milhão de dólares, atingiram a quantia de 6 milhões, para efeitos de doação.
É um facto: este tipo de "eventos", mesmo que momentaneamente, transforma-nos fazendo-nos questionar como podemos ser "mais e melhor", como podemos "viver mais", "dar-nos mais" (aos cônjuges, à família e aos amigos).
Chegamos mesmo quase a acreditar que essa irá ser a nossa realidade... E depois...
Puff!!!
Lá voltamos (indivíduos, empresas e comunidade em geral) à "vidinha", ao "piloto automático"... Todos nós, sem excepção.
Até à próxima catástrofe...
E se pensássemos um pouco como podemos manter viva esta ideia de "sermos mais vida" (para nós e para os outros) no nosso dia-a-dia e não apenas quando surge uma "bandeira vermelha", que nos recorda da indelével fragilidade humana?
Julgo que a melhor homenagem que pode ser prestada a quem, de forma inesperada, nos deixa e deixa... sem chão... será, sem dúvida, não querendo "mudar o mundo", focarmo-nos em mudar "o nosso mundo", com pequenos e simples atos diários de generosidade connosco e com os outros!"

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