"A Psicologia do Desporto é uma especialização que recorre ao conhecimento e competências na área da psicologia, para dar resposta a questões do bem-estar dos atletas, da sua performance óptima, dos aspetos sociais e desenvolvimentais da participação desportiva, bem como as questões sistémicas relacionadas com o contexto e as próprias organizações desportivas (American Psychological Association).
De uma forma geral, podemos encontrar psicólogos de diferentes áreas (Clínica, Social e das Organizações, Educacionais, entre outras), que optaram por enveredar por este ramo de especialização e intervenção
Os atletas (treinadores, árbitros, ou qualquer outro agente desportivo, para o efeito) recorrem, ainda muito frequentemente, a este tipo de "apoio" por se encontrarem a vivenciar um qualquer episódio crítico das suas vidas (pessoal ou desportivo).
Por esta razão, é ainda pouco frequente que seja uma procura na perspetiva de desenvolver as suas competências psico-emocionais para a optimização da sua performance desportiva.
Dadas as características altamente resilientes (capacidade de lidar com o sofrimento) que muitos atletas possuem ou, por outro lado a pouca consciência que possam ter do "avolumar" de emoções negativas, muitas vezes o pedido de ajuda surge já numa fase de grande alteração comportamental.
Abordemos 2 exemplos:
1. Michael Phelps
"Naquele ponto, não tinha absolutamente nada. Era estranho, estando no ponto mais alto da minha carreira e da minha vida - tendo acabado de vencer 8 medalhas olímpicas - e dizer: 'ok, para onde vou agora?' Não estava motivado e não fiz nada, literalmente nada, durante muito tempo." (Phelps, 2012, Details Magazine)
Phelps é, provavelmente, um dos casos mais mediáticos de um fenómeno comum em atletas que, de uma forma muito precoce, iniciam a sua ligação a uma modalidade e, igualmente muito rápido, atingem o topo da sua carreira: desmotivação e burnout emocional.
O processo de autoflagelação de Phelps começou a instalar-se, possivelmente de forma gradual e subtil, logo após os Jogos Olímpicos de Pequim, onde bateu o recorde de medalhas de ouro numa só edição (oito).
"Depois de 2008, mentalmente, estava terminado. Mas sabia que não podia parar de nadar, por isso forcei-me a fazer algo que não desejava. Durante quatro anos faltava a pelo menos um treino por semana. Pensava: 'Que se lixe. Fico a dormir. Falto sexta-feira e tenho um fim de semana prolongado...'" (Sports Illustrated, 2015)
A derrocada de Phelps passou pelos não menos comuns casos de abuso de substâncias (droga e álcool) e a instalação de um quadro depressivo que se arrastou durante um longo período.
A exposição mediática da sua prisão por condução sob o efeito de marijuana, viria a "empurrá-lo" para o primeiro passo da sua recuperação, dado o processo de internamento (para resolver a questão - adição - de abuso de substâncias) que iniciou nessa mesma data.
2. Andrés Iniesta
"As pessoas vêem os futebolistas como seres diferentes, como se fossemos intocáveis, como se nada nos acontecesse, mas somos iguais a todas as pessoas" (Iniesta, The Artist, 2016).
A instalação de um estado de humor alterado com consequências profundas na sua felicidade a jogar (logo, no seu rendimento), aconteceu após a morte do seu amigo Dani Jarque (26 anos, capitão do Espanyol), conforme o próprio atleta relata.
A reação a eventos desta natureza provavelmente merecia a dedicação de um (ou mais) artigo(s) completo(s). São, na realidade, eventos altamente traumáticos com consequências psico-emocionais muito evidentes, aliás, como o atleta tão bem descreve: "Existem momentos em que a tua mente está muito vulnerável. Sentes imensas dúvidas. Cada pessoa é diferente, casa caso. O que estou a tentar explicar é que podes passar de estar muito bem para muito mal, muito rapidamente (...) Parecia que nada estava bem (...) Estava em queda livre". (Iniesta, The Artist, 2016).
Iniesta e Phelps são, antes de mais, um fortíssimo contributo para a nossa consciência de que "Sim, é possível descer muito fundo... mas, também temos a capacidade de nos reerguer". E, com facto de terem dado visibilidade ao seu ciclo de "queda e ascensão", acabam por vir a poder inspirar outros que, não acreditando já na possibilidade de melhorar, possam, a partir deste seu mesmo gesto, procurar a ajuda certa.
Esta competência (de nos "reerguermos") está, na verdade, na essência de cada um de nós.
Contudo, e uma vez mais, o desfecho positivo destes dois casos resulta essencialmente de:
- O exercício da competência de saber pedir ajuda: muito frequentemente confundido com "fragilidade" mas que, na realidade, é uma das competências mais importantes do ser humano e que, na realidade, está mais frequentemente associada a níveis de confiança elevada;
- A identificação do tipo de ajuda mais adequada: no caso, de entre de todas as opções que possam existir, escolher alguém que cruze a expertise em Psicologia do Desporto e a experiência clínica (idealmente, alguém que exerça na área da Psicologia Clínica Desportiva), pois estamos a falar de casos que, quase sempre, abalam a estrutura de personalidade do individuo, e por último...
- Um forte compromisso com o próprio processo de "retorno à normalidade" do sujeito - envolver-se e co-responsabilizar-se pelo retorno aos seus níveis anteriores de bem-estar e performance.
Exemplos como estes (e outros) são e serão sempre altamente pedagógicos para o contexto em que se inserem, na medida em que, de uma forma ou outra, apontam um caminho, uma saída... às vezes, tão "perto" mas tão difícil de identificar."
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